Tenho lido muitos comentários sobre a liminar concedida pelo STF que afastou Eduardo Cunha da presidência da Câmara dos Deputados. Há uma convergência de pensamento entre esses comentadores. Todos se alinham com a tese de que Cunha já teria cumprido o seu papel nesse script golpista, ou seja, materializar a aceitação do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Cumprido esse papel, ele tornou-se um ator político descartável. A medida tomada pelo ministro Teori Zavascki, como já se esperava, foi aprovada por unanimidade pelos seus pares. O STF, pelo que ele faz ou pelo que ele deixa de fazer - ou pelo tempo que o faz - tornou-se o órgão mais importante a ser observado pelos analistas sociais que se debruçam sobre o entendimento dessa engrenagem golpista ora em curso no Brasil. Para um bom entendedor, meia palavra basta. Não vamos aqui entrar nos detalhes, porque se eles cassam sem motivos uma presidente eleita com 45 milhões de votos, imagina o que não podem fazer com um pobre editor de blog.
No dia de hoje, em artigo publicado aqui no blog - deixo o link com vocês no rodapé da página - o cientista político Michel Zaidan Filho levanta duas questões importantes: a primeira dela diz respeito à possibilidade do pedido de nulidade do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, tese hoje defendida por inúmeros juristas. Não creio que possamos ser muito felizes por aqui, mas abre-se uma janela jurídica neste sentido e não estamos em condições de desprezá-la. A essa altura do campeonato, como informa Zaidan, o senhor José Eduardo Cardozo já deve estar se debruçando sobre o tema. Uma outra observação do analista político diz respeito ao comportamento do senhor Eduardo Cunha depois de cassado.
Encurralado, Cunha seria capaz de tudo. Por vários momentos, ele já mostrou que seria um jogador capaz de usar as cartas que esconde sob as mangas, em caso de necessidade. Se ele resolver abrir o bico, tem muitas coisas a revelar. Usava e abusava desse expediente para chantagear seus pares na Câmara dos Deputados. Por que não faria agora, depois de abandonado? É mais um concorrente a homem-bomba, capaz de abalar os já frágeis alicerces de nossa mal-entendida democracia. Possivelmente com um potencial maior que o senador Delcídio do Amaral. Ele já disse que irá recorrer para ficar no cargo, mas, assim como Dilma Rousseff, será difícil interromper os planos dos golpistas.
É bom que se diga que o afastamento de Eduardo Cunha atende a propósitos bem específicos. Ele não sai em razão da indignação de milhões de brasileiros, cansados de vê-lo citado como réu em inúmeros processos de corrupção, tampouco em razão dos seus pares, insatisfeito com o seu currículo e a sua conduta à frente da Câmara dos Deputados. Ele sai em razão de um "jogo". Um jogo que está sendo jogado por jogadores habilidosos, que previam conduzi-lo ao chuveiro no momento certo. Tanto é assim que dormia em banho maria os pedidos de seu afastamento no STF. Essa turma pensa em tudo. Daí o nosso pessimismo quanto ao êxito na reversão do impeachment da presidente Dilma Rousseff, mesmo com as janelas jurídicas escancaradas.
Afinal, o problema nunca foi jurídico. Uma conhecida raposa da política pernambucana costumava enfatizar uma máxima: "Aos amigos, tudo. Aos inimigos, os rigores da lei". Num país que pede para não ser levado a sério, as leis passaram a ser aplicadas de acordos com as "conveniências" políticas. Não fosse assim, a presidente Dilma Rousseff jamais deveria ser vítima de um processo de impeachment sem uma fundamentação jurídica que o sustente. Infelizmente, chegamos a este ponto.
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