Em política convém tomar muito cuidado com os blefes. Comentado sobre uma possível participação de Michel Temer nas urdiduras que culminaram com os seu afastamento da Presidência da Câmara dos Deputados, o senhor Eduardo Cunha afirmou que, apesar de sua aparente solidariedade com o amigo, isso não o surpreenderia, uma vez, que o cidadão - dizia ele - por vezes manda matar o indivíduo e vai chorar no seu enterro. E olha que ele conhece bem essas manhas e artimanhas.
Ontem, sugeriu-se como uma das possibilidades, o seu envolvimento na decisão de Waldir Maranhão no sentido de suspender a sessão da Câmara dos Deputados que votou pelo afastamento da presidente Dilma Rousseff. Vingativo, ele poderia ter enxergado ali uma chance de se vingar dos seus algozes, que já não suportavam mais o seu odor. Suas fortes ligações com o interino aumentavam essas suspeitas. Logo em seguida, em nota, ele condenou veementemente a atitude do deputado maranhense, taxando-a de irresponsável e antirregimental. Poderia ser um blefe, mas os fatos que seguiram ao episódio - como um encontro do deputado Waldir Maranhão com o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, tendo o governador Flávio Dino (PCdoB) como testemunha - reforçam a tese de que ele não tinha nada a ver como isso.
A decisão de Waldir Maranhão, conforme comentamos ontem em editoral, causou um grande rebuliço no campo político e jurídico do país. Os golpistas de plantão nem se preocuparam com argumentos, tratando logo a questão de forma polarizada, baixando o nível e usando termos chulos para se referir ao parlamentar. Os dirigentes do PP, o seu partido, já haviam tomada a decisão de se reunirem para determinarem o seu desligamento da agremiação. No campo jurídico, foi bastante enfatizada a tese da "nulidade" da decisão, posto que tomada de forma monocrática, sem ouvir, sequer, o corpo técnico daquela Casa legislativa.
Waldir Maranhão sentou naquela cadeira por uma dessas ironias do destino. Seus pares informam que ele não reúne as menores condições de conduzir os trabalhos daquela Casa. Em sua primeira sessão, encerrou-a antes mesmo de começar os trabalhos. Trata-se de um deputado de baixa expressão, do chamado baixo clero. Mas, a rigor, talvez não seja o seu perfil o grande problema, uma vez que o nosso Legislativo se transformou num grande pandemônio, comandado por atores políticos comprometidos até o pescoço em denúncias de corrupção. Muito improvável que um ficha-limpa consiga ascender naquele labirinto mafioso. Infelizmente.
Não nego que, nesse imbróglio todo em que se transformou esse processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, toda notícia - mesmo que extemporânea - que possa trazer uma luz ou reflexão aos atores políticos nos deixam satisfeitos. Nossa reação à decisão de Waldir Maranhão foi muito positiva. Mas, por outro lado, observando a engrenagem dessa manobra golpista desde o início, não nos iludíamos quanto ao seu desfecho. A primeira indicação de que se tratava de uma Vitória de Pirro veio com a reação do presidente do Senado Federal, Renan Calheiros(PMDB), de dar prosseguimento ao processo, tratando a decisão da Câmara dos Deputados como uma espécie de "palhaçada" que atropelava o rito democrático do impeachment. Vencido pela pressão, hoje pela manhã, o senhor Waldir Maranhão revogou a decisão que havia tomado.
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