pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Crônica: O suicídio do Sabiá
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segunda-feira, 9 de julho de 2018

Crônica: O suicídio do Sabiá

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José Luiz Gomes
 
 
 
Rubem Braga ficaria conhecido como um cronista lírico, um escritor das borboletas e passarinhos. Foi assim que ele foi legitimado no campo literário, Pierre Bourdieu. Ele mesmo, ao escolher suas crônicas para publicação, optava por aquelas mais suaves, poéticas, carregadas de lirismo. Sua crônica mais conhecida, Um Pé de Milho, é uma bela história de um sortudo lavrador da rua Júlio de Castilhos, que, ao acordar - encontra um pé de milho que resolveu nascer num canteiro mal cuidado do seu quintal e consegue, assim, livrar-se da rotina enfadonha de uma máquina de escrever. Para quem escreveu 15 mil crônicas nessas mesmas máquinas de escrever há aqui, naturalmente, uma licença poética do Sabiá. 

O Rubem Braga combativo e engajado politicamente, preocupado com as questões sociais e as injustiças, obviamente é coisa de acadêmicos como Carlos Ribeiro, que fez seu doutorado em literatura em torno desse tema. A crônica de hoje faz alusão a um período em que o cronista Rubem Braga esteve aqui no Recife, trabalhando no Diário de Pernambuco. O próprio Carlos Ribeiro admite ser o Recife o palco principal, o campo de operações de um escritor que "abandona", temporariamente, o lirismo e engaja-se na luta social, como redator-chefe do Hora do Povo, um jornal ligado ao Partido Comunista Brasileiro.
 
Os desencontros aqui na província não foram poucos. Há uma espécie de silenciamento sobre esse período na vida do escritor capixaba. Segundo comenta-se, nem ele mesmo costumava falar sobre o assunto. Em apenas um mês, foi ameaçado de prisão três vezes. Há quem diga que nesse período ele arribou, temendo ser enviado para Brasil Novo, um presidio bastante temido na capital, da época do Estado Novo. Esses percalços também se refletiram em sua atuação profissional. A princípio depois de transferido do Rio de Janeiro, assumiu a editoria de polícia do Diário de Pernambuco. Depois, não há nada de muito confirmado sobre isso - gente do próprio jornal tergiversaram ao tratar do assunto - ele se "esconderia" na seção Fatos Diversos, onde se escrevia sobre tudo, não sendo possível identificar o que, de fato, foi produzido pelo escritor.  
 
Aqui, o Sabiá suicidou-se. Já explico. Há uma suposição de que ele tenha escrito alguns textos narrativos de pernambucanos que atentaram contra a própria vida, desistidos de viver. Uma possível matéria do jornal Folha de São Paulo informa que ele teria sido o primeiro a narrar esses fatos em jornais. Também aqui nada de muito concreto, exceto a propagação da informação através do escritor Alberto da Cunha Melo, que não pode confirmar suas fontes. É falecido. De qualquer maneira, na condição de um escritor lírico ou de um militante engajado, preocupado com as violações de direitos humanos perpetradas pelo Estado Novo, se, de fato, essas narrativas foram escritas por ele, o Sabiá cometeu suicídio.  
 
 



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