pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Crônica: A levada da tinta
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domingo, 1 de julho de 2018

Crônica: A levada da tinta


Resultado de imagem para companhia de tecidos paulista em funcionamento
 
José Luiz Gomes 
 
A crônica de hoje é dedicada às nossas  reminiscência de infância, notadamente um hábito que mantínhamos com a galera, o de observar um riacho de águas coloridas que cruzava a cidade de Paulista, aqui na Região Metropolitana do Recife. Não cometo nenhum exagero em afirmar que nem Antoine de Saint Exupéry, em seus momentos de maior inspiração, poderia imaginar coisa do gênero. Já conto isso aqui para vocês.   

O Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, hoje Fundação Joaquim Nabuco, foi criado ali pelo final da década de 40. 49 para ser mais preciso, através de um ato do Poder Legislativo, acatando - não sem muita polêmica aqui e alhures - uma proposição do então Deputado Constituinte, Gilberto Freyre. À época, mesmo contando com poucos recursos e com deficiência de estrutura física, o IJNP reuniu, por assim dizer, creio que sem algum exagero, os melhores quadros técnicos aqui da província, liderado pelo autor de Casa Grande & Senzala. Se exagero houve, isso certamente não se aplicaria à área de antropologia, que reunia pesquisadores como Renê Ribeiro e Waldemar Valente. 
Para legitimar o Instituto, Gilberto Freyre precisou, digamos assim, cortar na pele, ou seja, empreender pesquisas pioneiras, com resultados que não agradaram setores da elite nordestina. Uma dessas pesquisas pioneiras foi Os Rios do Açúcar, que apontou os graves problemas ambientais provocados pela monocultura da cana-de-açúcar, cujas usinas jogavam seus resíduos nos rios que banhavam a região, poluindo suas águas e matando seus peixes. Isso na década de 50, tendo Gilberto Freyre origem na aristocracia açucareira do Estado. Essas pesquisas obtiveram reconhecimento internacional, levando o próprio Gilberto a tratar seu Instituto como uma pequena notável nos trópicos ou uma instituição de excelência na província. Muito desse capital simbólico institucional deve-se ao próprio Gilberto, em razão de sua capilaridade em países europeus, especialmente Portugal. Apesar de ter estudado nos Estados Unidos, lamentava que o IJNPS não tivesse alcançado a mesma repercussão naquele país. 

Freyre deixou a província para estudar nos Estados Unidos ainda um adolescente, com 17 anos de idade. Desejava tornar-se pastor, o que acabou não acontecendo. Talvez em razão dessa pesquisa, atribui-se a Gilberto Freyre mais um protagonismo, o de ter usado, pela primeira vez, o termo: meio ambiente sustentável. Quando, em 1979 criou o Museu do Homem do Nordeste, autores como Durval Muniz de Albuquerque, enxergam aí uma tentativa de reconciliação com a aristocracia açucareira ou acerto de contas com suas origens.

O que que era a Levada da Tinta, afinal? Ora, a pesquisa de Gilberto Freyre bem que poderia ser estendida a outras atividades industriais que igualmente poluíam as nossas reservas de água natural, como as atividades da Companhia de Tecidos Paulista, que fazia escoar, por um riacho - sabe-se lá onde isso iria desaguar - os resíduos de tinta, sem qualquer tratamento, utilizados para tingir os tecidos. Para nós, crianças inocentes, era apenas uma grande zoeira, tentando acertar a cor da água na próxima correnteza. Brincávamos com coisa muito séria.

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