Recebi o honroso convite do professor Dr. Evson Malaquias, do Centro de Educação, da UFPE,para prefaciar/apresentar o seu mais novo livro: "Sentidos, investimentos e afetos de O Globo acerca do assassinato de Vladimir Herzog em outubro de 1975", resultante de um projeto de pesquisa que buscar estudar o imaginario dos inimigos e das manifestações de junho de 2013. O trabalho é fruto de um esforço coletivo de uma equipe de pesquisadores composta por professores e alunos. É digno de nota e louvor essa arqueologia histórica da memória de eventos tão trágicos na história contemporanea, sobretudo quando ela teima em se repetir e os atores se metamorfoseam a todo instante para escapar do crivo da posteridade e do juizo dos historiadores. O tema, oportuno e de grande relevância, encontrou em Evson e sua equipe um estudioso preparado na interdisciplinaridade acadêmica.
O professor Malaquias agrega uma formação acadêmica multidisciplinar que conta com a História, a Ciência Política, a Sociologia Clínica de Henriquez e, de certa forma, Castoriadis, além dos clássicos da Antropologia Brasileira, e além disso, se muniu de um instrumento metodológico das ciências da comunicação. O resultado não poderia deixar de ser estimulante: a análise criteriosa do discurso de três dos principais jornais brasileiros (O GLOBO, O ESTADÃO e a FOLHA de SÃO PAULO) sobre a ditadura militar e o assassinato do jornalista judeu-yoguslavio Vladimir Herzog, então ligado ao Partido Comunista Brasileiro.
O estudo de Evson é tanto mais interessante porque ele conjuga- com felicidade - o melhor da Antropologia Histórica do Brasil (Roberto da Matta, Sérgio Buarque de Holanda, Marilena Chaui, José Murilo de Carvalho) com o instrumental analítico das ciências da comunicação,na análise dos discursos jornalísticos sobre o regime militar e seus perseguidos, sobretudo entre os jornalistas. Daí sai a tese de que a posição da mídia impressa e televisiva é guiada por uma "mentalidade" (para usar uma expressão dos franceses)messianica e naturalista, com uma pitaca do amoralismo familiar, típico do regime da Casa Grande (a familia patriarcal). Neste sentido, diz ele, as idéias-guias da "mentalidade" do brasileiro são as palavras-chaves: Deus, Natureza e Família. A desqualificação do discurso jornalistico dos desafetos e desinvestidos dos grandes jornais não têm família (brasileira), não são cristãos e nem fazem parte desta "maravilhosa" natureza pátria.
Torna-se assim fácil apagá-los e demoniza-los como ateus, comunistas, sem família e o ufanismo típico de um certo nacionalismo ingênuo que fetichiza as belezas naturais do país. O resultado é altamente esclarecedor: os jornalões da república brasileira não só coonestaram com o golpe militar-civil de 1964, como absorveram ou justificaram as violações dos direitos humanos cometidos pelos agentes do Estado militar. Com uma variação que vai de uma certa reserva liberal do Estado de São Paulo ao total adesismo da Rede Globo, beneficiária do regime militar, a posição da mídia impressa foi de cúmplice a omissão diante dos graves crimes perpetrados pelo regime. Tese exemplificada pela cobertura dada ao assassinato de Vladimir Herzog, em nas dependências do DOI/CODI em São Paulo. O jornal dos Marinho silenciou- acumplicidamente - em relação as inúmeras notas produzidas pelos sindicatos e entidades corporativas. Outros preferiram dar atenção ao turismo, as belezas naturais e as questões familiares comezinhas. Deixando no silêncio as questões politicas e de direitos humanos.
Essa pesquisa é tão mais oportuna porque a Rede GLOBO foi diretamente interpelado pelos movimentos de rua de 2013. E resolveu fazer UMA "MEA CULPA" por ter apoiado a ditadura militar. Logo ela que, reiteradamente, criminaliza os movimentos sociais, sobretudo quando algum profissional da imprensa é atingido por alguma bala ou projetil no meio da multidão. A pesquisa de Evson Malaquias e sua brilhante equipe não se encerrou. Ela continua. Brevemente teremos novos resultados atinentes aos movimentos de 2013 e sua cobertura criminalizante feita pelos meios de comunicação. Parabéns a toda equipe e, especialmente, ao professor Evson Malaquias.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE
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