José Luiz Gomes
Num
desses encontros com o comendador Arnaldo, decidimos, em conjunto, escrever um
guia histórico, turístico e sentimental da cidade de João Pessoa. O projeto caminha muito
bem, porque, como já disse por aqui, Arnaldo, um jornalista com mais de 40
anos de batente, conhece cada palmo de Jampa, onde veio estudar ainda na
condição de um adolescente. Aqui estudou, aqui se formou, aqui trabalhou,
passando pelos principais jornais do Estado, pelo rádio e pela televisão.
Pessoense convicto, curtiu bastante a cidade. Não apenas como profissional de
imprensa, mas como um apaixonado pela cidade, suas ruas, suas pontes, seus
becos e vielas, suas pensões, suas praças, seus recantos, seus redutos boêmios,
seus botecos, suas casas de prazeres da carne. Como disse em outro momento, para
se conhecer bem uma cidade é preciso senti-la, passeá-la, tocá-la, comê-la.
Quem pode dizer que conhece o Recife sem ter comido uma rabada no Mercado de
São José? ou conhece Belo Horizonte sem ter degustado um jiló com fígado no
Mercado Central? Hoje esses points estão se constituindo em verdadeiras
“sínteses” dessas cidades.
Olinda, por exemplo, sem um conceito muito bem
definido para o mercado Eufrásio Barbosa, tornou-se uma cidade sem gosto, sem tempero, salvo
apenas pelas tapioqueiras do Alto da Sé. É uma cidade turística
onde os visitantes entram, visitam e vão embora sem dar uma passadinha pelo seu
mercado central. Há bons restaurantes, não resta a menor dúvida, mas nada que se compare ao aconchego de um Mercado Central e o Eufrásio Barbosa bem que poderia cumprir esse papel. Essa questão é tão séria que o conceito introduzido no Mercado do Rio Vermelho, em Salvador, está superando o tradicional Mercado Central, na cidade baixa. Assombração não há por ali, mas o fedor é perceptível, quando você sobe a escadaria para o pavimento superior. João
Pessoa tem uns tantos deles. Além do central, ali no bairro da Torre, você
poderá encontrar o do bairro de Mangabeira, de Tambaú, também conhecido como
mercado das frutas. Pequeno, mas um pequeno que satisfaz, com sua variedade de
frutas, carnes, frios e artesantos típicos da região.
Prometo aos leitores que
voltaremos a tratar desses mercados com mais atenção. No momento, vamos começar
pelo começo da cidade, quando ela ainda se chamava de Cidade Real de Nossa
Senhoras das Neves, fundada pelos idos de 1585. Jampa é a 3ª cidade mais antiga do Brasil. Já nasceu cidade, sem passar pela condição de vila ou aldeia. Foi fundada pela Cúpula da Fazenda Real, uma Capitania da Coroa, desmembrada da Capital de Itamaracá, que então controlava uma grande extensão de terra da Paraíba. João Pessoa é uma cidade que
expandiu-se para o litoral apenas a partir de 1940, como um projeto de
intervenção na Lagoa dos Irerês, hoje Parque Solon de Lucena. A partir dessa
intervenção urbanística, avenidas foram abertas em direção à orla, mais precisamente no sentido leste , em direção ao bairro de Tambaú. O historiador Gilvan de Brito assegura que a decisão de formar
um núcleo populacional às margem do Rio Sanhauá, em sua margem direita, atendeu a um objetido militar
dos mais notáveis, tornando João Pessoa uma fortaleza inexpugnável sob domínio
da Coroa Portuguesa. Inexpugnável assim nem tanto, pois a capital da Paraíba esteve sob domínio holandês durante um determinado período de sua História. Mas isso eu conto para vocês nas próximas crônicas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário