pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Editorial: Ao mestre com carinho.
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segunda-feira, 1 de abril de 2024

Editorial: Ao mestre com carinho.

 



Afora referências sobre a família Lundgren, que montaram um império industrial nas cidades de Paulista e Rio Tinto, nos Estados de Pernambuco e Paraíba, respectivamente, um dos textos mais procurados pelos internautas que interagem com o blog é um opúsculo escrito pelo sociólogo Gilberto Freyre sobre reforma agrária, atendendo a um pedido do amigo Marco Maciel, em plena Ditadura Militar de 1964. As relações do sociólogo com os militares, como se sabe, eram bastante cordiais. Depois de uma palestra na Escola Superior de Guerra, a conferência proferida por Gilberto à época se tornaria num livro, recentemente reeditado pelo Exército, com o título: Nação e Exército.  

Curisoamente, Gilberto é bastante ponderado neste texto, não fazendo, como se poderia imaginar a princípio, uma apologia à participação dos militares na política, colocando reflexões importantes sobre o assunto, inclusive no tocante ao poder militar e o poder civil. Um fato curioso que descobrimos com essas pesquisas é que Gilberto Freyre era quem mais enviava livros para o  Ministro-Chefe da Casa Civil do Governo Militar, o general Golbery do Coutro e Silva, a quem tratava carinhosamente como um ilustre brasileiro e companheiro de estudos. Como se sabe, O "bruxo", como ficaria conhecido Golbery, era um aficionado de livros de geopolítica.  

Na famosa biblioteca do "bruxo' foram encontrados vários livros autografados pelo sociólogo. Valeria a pena uma pesquisa mais aprofundada sobre o conteúdo tratado nesses livros enviados pelo sociólogo ao general. Surpreende o fato de que, nas biografias escritas sobre o sociólogo, não haver qualquer referência sobre tal relação entre ambos. Até recentemente, ficamos sabendo, por exemplo, que um livro didático de História do Brasil havia sido substituído, nas escolas militares, por uma apostila, que trata o que houve no Brasil em 1964 como uma revolução, assim como não entra no mérito da abolição do Estado Democrático de Direito, muito menos nos flagrantes de violações dos direitos humanos no período. 

Ontem também líamos um artigo onde o articulista trata de uma questão que ainda suscita muitas interrogações: O impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Como se sabe, ao criar a Comissão da Verdade, a ex-presidente reabriu as feridas sobre os horrores praticados durante a Ditadura Militar no país. O articulista se perguntava sobre qual teria sido o papel dos militares nesse processo? Logo em seguida, tivemos um governo de transição que iniciou o processo de abertura da caserna para a política, processo consolidado no Governo Jair Bolsonaro, onde estima-se que não menos de seis mil militares passaram a ocupar espaço na máquina pública, em todos os níveis, algo sem precedentes.  

É com pesar que afirmamos isso por aqui, mas, infelizmente, não teremos um ajuste de contas com o passado doloroso que algumas famílias viveram durante a vigência da Ditadura Militar no país, famílias que tiveram seus filhos mortos ou desaparecidos nos estertores dos centros de tortura.  Mesmo num Governo de corte progressista, apoiado por forças populares da sociedade civil, como é o caso do Governo Lula, isso não foi possível. Ele já afirmou que não pretende remoer o passado, numa alusão ao fato de ter proibido quaisquer manifestações de protestos encetadas por órgãos públicos. 

O Ministério dos Direitos Humanos, coordenado pelo sociólogo Sílvio Almeida, já teria uma exposição em preparação para o período. O ex-Ministro da Justiça, Flávio Dino, hoje no STF, depois de uma visita ao Chile, inspirado em modelo daquele país, já havia definido que montaríamos um Museu da Memória com o propósito de lembrar para não se repetir a memória daquele período sombrio imposto ao país depois do Golpe Civil-militar de 1964. Mesmo diante de um governo de corte progressista, infelizmente, a conclusão é a de que estamos diante de um retrocesso. 

Em tais circunstâncias, é quase impossível que tenhamos uma revisão da Lei de Anistia, como se previa no início utópico do Terceiro Governo Lula. Há de se perguntar, por exemplo, qual seria a destino dos militares sabidamente envolvidos nas tessituras golpistas do 08 de janeiro? A decisão de Lula caiu muito mal em vários segmentos da sociedade civil e até mesmo entre parlamentares de sua base de apoio orgânica. No final, mesmo que a contragosto, haveremos de concordar com uma velha raposa da política paulista, o ex-presidente Jânio Quadros, quando afirmava que o Brasil era uma espécie de hímen complacente.    

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