pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : maio 2025
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sábado, 31 de maio de 2025

Resenha: A Irmandade da Boa Morte - ensaios.


O ensaio, assim como o conto, trata-se de um gênero que provoca muitas polêmicas. O que na realidade é um ensaio? Apesar de sempre consultar as teorias a respeito do assunto, o bom senso nos guiam na identificação daqueles textos que permanecem perenes ao longo dos anos, que não se esgotam pelas novas informações do dia seguinte. É esta a premissa que nos orientam na produção de textos com este perfil. Alguns textos publicados aqui pelo blog, por exemplo, permanecem perenes ao longo dos anos, como aqueles onde abordamos as mudanças no mundo do trabalho - que já foi um tema do nosso interesse no passado - assim como uma série de textos que publicamos sobre os novos regimes de governos autocráticos, a partir de livros distópicos, como 1984, de George Orwell, onde nos apropriamos das formulações do escritor inglês sobre regimes autoritários para analisarmos as novas autocracias ou as chamadas democracias iliberais. 

Esta é a nossa primeira experiência com o gênero, ao revolvermos reuni-los num único livro.  Há alguns anos atrás, realizamos uma pesquisa ainda no escopo do guarda-chuva institucional sobre relações étnico-raciais, onde mantivemos contato com a Irmandade da Boa Morte, uma entidade religiosa que realiza um festejo prestigiado internacionalmente, sempre nos meses de agosto, na cidade de Cachoeira, localizado na região do Recôncavo Baiano. O evento, realizado em conjunto por religiões de matriz africana e a Igreja Católica, reúne turistas do mundo inteiro. A cidade, repletas de templos católicos, prédios históricos é banhada pelo Rio Paraguaçu, um rio genuinamente baiano.  

O último livro do escritor Itamar Vieira, Salvar o Fogo, é ambientando num casarão histórico da cidade. A experiência foi muito positiva, uma vez que estabelecemos contatos com pessoas importantes, que nos repassaram informações cruciais sobre a origem da entidade, assim como sobre a integração das religiões de matriz africana com os ritos da Igreja Católica. Alias, a Igreja Católica, na realidade, foi quem criou a Irmandade na cidade de Cachoeira. Quando os negros fugiram de Salvador, em razão das perseguições, foi na cidade de Cachoeira e junto à Igreja Católica que eles receberam guarida e proteção. Há quem sugira que Luiza Mahin, mãe do abolicionista Luiz Gama, esteve no epicentro desses acontecimentos, mas a historiografia - pelo menos a oficial - não deixou nenhum registro que pudesse confirmar tal hipótese. Nas horas de folga, ainda sentimos o gosto dos petiscos locais, da rica culinária baiana, apreciados com uma cerveja gelada, ao pôr do sol, nas margens do Paraguaçu. Curioso que o suco de jenipapo, uma fruta hoje rara em alguns estados da região Nordeste, ainda pode ser encontrado com abundância na região do Recôncavo Baiano. 

O livro tem vários ensaios, a começar pelo primeiro que escrevemos, quando fizemos algumas intervenções, a partir de uma entrevista de um dirigente institucional, sobre os embates entre o sociólogo Gilberto Freyre e a ditadura do Estado Novo no que concerne ao direito à cidade. Sugerimos no texto que as propostas do Estado Novo sobre as intervenções urbanas no Recife podem ser classificadas como, possivelmente, a primeira inciativa de caráter higienista sobre o traçado das intervenções urbanas da cidade, que passaram a ser ditadas, a partir de um determinado momento, num conluio firmado entre o poder público e o capital. Curioso que essa lógica esta acima das ideologias, atingindo tanto gestões conservadoras quanto as ditas progressistas. Aliás, o higienismo é uma unha e carne do Estado Novo em sua primeira fase. Até um presídio que eles construíram em Pernambuco recebia o nome de Brasil Novo. Seus algozes ameaçam prender o cronista Rubem Braga neste presídio em razão de sua ácidas críticas, produzidas a partir da Folha do Povo. Mas isso já é uma outra história. 

O professor da London School  Economics, Ulrick Becker, ainda como professor de universidades alemães, fez uma espécie de pós-doutoramento sobre a realidade da economia informal no Brasil. Numa visita ao país, teceu loas à nossa forma de organização do mercado informal, algo que ele classificou como um modelo que poderia ser reproduzido para todo o Ocidente. Seria a Brasilianização do Ocidente, termo cunhado por ele à época. Por outro lado, apontou alguns entraves, enfatizando que tal fenômeno somente seria possível no Brasil, uma vez estávamos diante de um país com características específicas, adaptável à nova realidade da economia naquele período, num ambiente de democracia racial, onde seria possível congregar, num mesmo espaço de comércio ambulante, negros, mestiços, brancos, mulheres, homens, crianças, evangélicos, católicos, praticante de religiões de matriz africana. O que seria praticamente inviável na Europa. Isso numa época em que a economia informal se apresentava como o grande contraponto aos empregos formais, de carteira assinada, antes do surgimento do UBER, do IFOOD e sua legião de "empreendedores". Colegas do próprio Ulrick fizeram ponderações críticas sobre o entusiasmo do alemão sobre a nossa democracia racial e é este um dos pontos que discutimos num desses ensaios. Ao tomar conhecimento do artigo do professor alemão, dizem, Gilberto Freyre se revirou na tumba.   

Editorial: João Campos será o novo Presidente Nacional do PSB.

 



Na iminência de ser eleito o próximo Presidente Nacional do PSB, o prefeito do Recife, João Campos, tem ocupado grande espaço nas mídias nacionais, onde se pronuncia sobre os mais diversos assuntos, inclusive os temas políticos. Talvez atropelando algumas etapas, o atual Presidente Nacional do Partido Socialista, Carlos Siqueira, insiste na tese de projetar João Campos como uma liderança nacional já neste momento. Nas últimas eleições, o prefeito do Recife andou cumprindo esta etapa de nacionalização do seu nome, apoiando nomes ligados ao projeto de eleição de Lula em algumas praças do país. 

Diálogo, compreensão e resultados são três palavras que se inserem no dimensão política do atual gestor do Recife. Compreender o momento político, onde o Estado já não acompanha a velocidade das mídias sociais e abrir o diálogo com segmentos com os quais as plataformas de centro-esquerda já não conseguem interagir, como os segmentos do agronegócio, dos neopentecostais, do novo mundo do trabalho. Realmente é preciso compreender essa nova realidade social, cultural, política e econômica. Uma das grandes críticas que se faz ao PT é exatamente o fato de ter perdido este bonde da História. É um receituário antigo, já superado pelos novos tempos. A plataforma de alguns candidatos à Presidência Nacional do PT poderia ser resumida no Manifesto Comunista, de 1848. O Governo Lula "trisca" e pouco tempo depois aparece nas redes sociais um novo vídeo do Nikolas Ferreira com a capacidade de atingir 200 milhões de visualizações em poucas horas. 

João vem cumprindo um figurino previsto. Tão previsível que se tem como certa sua candidatura ao Governo do Estado de Pernambuco em 2026, onde deverá bater chapa com a atual governadora do estado, Raquel Lyra. Arrancado às pressas dos bancos universitários para manter o legado da família na política pernambucana, João Campos segue a mesma trajetória do pai, o ex-governador Eduardo Campos. A Presidência da República está nos seus planos, assim como esteve nos planos do seu pai. Por enquanto, no campo de centro-esquerda, apoiando um eventual projeto de reeleição de Lula em 2026, tendo, preferencialmente, o nome de Geraldo Alckmin como vice.   

Editorial: Golpe? Que golpe? O negacionismo golpista durante as audiências de testemunhas no STF.


As contas públicas brasileiras passam por um momento bastante delicado, se consideramos as previsões pessimistas do próprio condutor do leme, o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Condutor do leme é força de expressão, uma vez que suas diretrizes entram constantemente em rota de colisão dentro do próprio Governo. Caso a "gambiarra" do IOF não seja bem-sucedida, a alternativa seria raspar o tacho à procura de dinheiro para custear a máquina, o que implicaria em mexer em programas como o Minha Casa, Minha Vida, Farmácia Popular, entre outros. Este governo já começou se endividando e não parou mais de contrair dívidas. O déficit público apenas se avoluma desde então, solenemente ignorado pela ala ideológica e política, que enxerga na gastança a única possibilidade de sobrevivência política. 

No dia de ontem, 30, o Instituto Atlas\Intel divulgou mais uma pesquisa sobre a avaliação do Governo Lula 3. Os números continuam desfavoráveis ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Houve um tempo em que, se ele fizesse analogias que envolvessem Deus, Sertão e Lula, seria aplaudido, apontado como um exímio comunicador de massas. Hoje isso é encarado como blasfêmia, heresia, pecado. Nada tem dado certo neste terceiro governo, que já começou sob um signo negativo, acossado por uma tentativa de golpe de Estado, num pântano de instabilidade institucional e com uma frágil base de apoio no Legislativo. 

E, por falar em golpe de Estado, as testemunhas ouvidas durante as audiências no STF parecem ter combinado o discurso do negativismo do golpe. Golpe? Que golpe? Nunca ouvi falar. Uma narrativa bastante ajustada ou demasiadamente ajustada. A imprensa está noticiando que o ex-presidente Jair Bolsonaro poderia ter mantido uma conversa com o senador Hamilton Mourão antes de sua audiência no Supremo Tribunal Federal. O teor da conversa seria no sentido de o militar atenuar sua narrativa em relação ao assunto. Se isso de fato ocorreu, sugere-se aqui a ocorrência de um equívoco. 

sexta-feira, 30 de maio de 2025

Charge! Kleber Alves via Correio Braziliense.

 


Editorial: A ABIN teria monitorado Eduardo Campos?


Eduardo Campos deixou a vida pública ainda jovem, 49 anos, com um futuro promissor pela frente. Desde a época de estudante da UFPE, segundo os amigos mais próximos, já alimentava o sonho de se tornar Presidente da República. Muito ligado a Lula e ao PT, quando assumiu a condição de pré-candidato a presidente, imprimiu um novo rumo à sua plataforma política o que, em última análise, impôs um distanciamento da legenda petista. Era o momento do antipetismo. Num daqueles cozidos oferecidos por Jarbas Vasconcelos ao ex-desafeto político - Jarbas tinha uma indisposição política com o avô de Eduardo Campos, Miguel Arraes -  logo em seguida o anfitrião concedeu uma entrevista à imprensa sacramentando esta tendência, antes mesmo que o próprio Eduardo se manifestasse a respeito. 

Logo em seguida, vieram as alianças com atores políticos com perfil de centro-direita, o que consolidou tal tendência. Havia notórias indisposições do ex-governador com a ex-presidente Dilma Rousseff. Houve um encontro onde o ex-governador precisou corrigir, durante uma reunião de governadores, uma fala da então presidente Dilma, depois de um posicionamento considerado indevido por ele. Politicamente, não havia outra alternativa para Eduardo Campos naquela momento, que não encampar o antipetismo, a despeito das boas relações anteriores com o partido, mais particularmente com o presidente Lula, que chegou a carrear à época 25% dos recursos do PAC apenas para Pernambuco. 

Num podcast recente, realizado pelo blog do Magno, transmitido de Brasília, com a presença do Presidente Nacional do PSB, Carlos Siqueira, este afirmou que, movida por ciúmes, a ex-presidente Dilma Rousseff poderia ter usado os serviços da ABIN, determinado que um dos seus agentes monitorasse os passos do "galego", que era o apelido pelo qual Dilma se referia ao ex-governador. A declaração alcançou grande repercussão, embora por motivações distintas. Voltou-se a se especular sobre a morte do ex-governador, acidente aéreo envolto em mistérios até hoje. O irmão do ex-governador, Antonio Campos, manifestou-se, a através do blog que divulgou a notícia, publicando uma nota onde afirma estar convencido sobre a possibilidade de uma atentado. 

Pelo andar da carruagem política, algo sugere que talvez precisemos rever nossa escala de republicanismo no país. Em situações de estado de exceção o uso dos aparelhos de segurança e inteligência do Estado pelo governante de turno é absolutamente previsível, orgânico. Durante a vigência do Estado Novo, por exemplo, a linha sucessória do Palácio do Campo das Princesas passava, necessariamente, pela Sorbonne da Rua da Aurora, como se referia o jornalista Aníbal Fernandes ao Departamento de Ordem Política e Social, tamanho seu papel na estrutura de poder à época. Estranhíssimo que num governo de perfil democrático e republicano tais expedientes possam ter sido empregados.   

quinta-feira, 29 de maio de 2025

Editorial: "Intimidades geram filhos e aborrecimentos."


Ontem, 28, igualmente em razão de inaugurações de obras hídricas decorrentes do projeto de transposição do Rio São Francisco, o presidente Lula esteve na cidade de Cachoeira dos Índios. A princípio, estranhou-se a ausência do deputado Hugo Motta, Presidente da Câmara dos Deputados, ao evento, ausência justificada em razão dos compromissos de trabalho em Brasília. Analisando o processo mais nitidamente, verificou-se, na realidade, a ausência de parlamentares ligados aos partidos do Centrão, alguns deles, em tese, integrante da fluída base de apoio do presidente da República. A política é feita de gestos e, por consequência, a presença de um parlamentar num evento pode significar muita coisa. Curiosamente, o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, que tenta costurar apoios para o seu projeto de ocupar a cadeira do Palácio Redenção, esteve presente ao evento. 

Hugo Motta tem sido muito criticado pela Oposição em razão dessas intimidades com o Executivo e com o Poder Judiciário. Há situações onde a presença se impõe, como há situações em que a liturgia do cargo recomenda distância regulamentar. Esse negócio de churrasquinhos e convescotes nem sempre produzem efeitos positivos, principalmente quando o sujeito ocupa cargos estratégicos. Brasília se tornou um caldeirão de indisposições políticas. As mudanças relativas ao IOF é a bola da vez. Os congressistas dizem que, em nenhum momento, foram consultados pelo Executivo. Articulação zero. Até o eterno aliado Davi Alcolumbre andou reclamando do Governo. O Governo Lula 3 passa por um momento delicado, onde as mudanças de nomes não se traduzem em resultados melhores. Seja na Comunicação, na Articulação Política ou seja na Fazenda, como já se especula e discutimos mais cedo. 

Não há um outro presidente do país mais citado do que o ex-presidente Jânio Quadros quando o assunto é folclore político. É atribuída a Jânio Quadros uma expressão que se tornou bastaste popular: intimidades geram filhos e aborrecimentos. A expressão teria sido usada durante uma entrevista onde um estudante começou a tratá-lo cerimoniosamente como Vossa Excelência e, com o desenrolar da entrevista, passou a tratá-lo como tu. Foi interrompido e advertido pelo ex-presidente. É isso. Quando essas intimidades vão bem, geram filhos. Quando vão mal, aborrecimentos. 

Editorial: As previsões preocupantes de Fernando Haddad sobre os rumo das contas públicas no país.


A situação do ministro Fernando Haddad não é muito confortável no Governo Lula 3 neste momento. Esta última proposta de aumento do IOF causou um verdadeiro tsunami no Palácio do Planalto. O anúncio foi feito à noite, desmentido nas primeiras horas do dia seguinte, mas, mesmo assim, expôs as vísceras de um jogo de intrigas palacianos, onde se configura, conforme inúmeros comentaristas políticos, a ausência de uma centralização de gestão. E de comunicação também, possivelmente como reflexo da primeira situação. A área de comunicação, por exemplo, queixa-se que tomou conhecimento da proposta de aumentar o IOF pelos jornais. O Governo Lula 3 já anda às turras com o escândalos das fraudes no INSS, conforme assinalamos antes, impossível de ser atirada no colo dos adversários. 

Tudo o que o Governo não precisava neste momento seria uma nova crise semelhante a que ocorreu por ocasião da proposta de a Receita Federal acompanhar as transações realizadas pelo popular Pix. Há quem esteja sugerindo a existência de sondagens no sentido de sua substituição na pasta. O nome especulado para substitui-lo seria o do presidente do BNDES, Aloísio Mercadante. Mercadante não teria motivo algum para deixar a Presidência do BNDES, cargo com remuneração e vantagens superiores ao de um Ministro de Estado, sem as dores de cabeça e cobranças do cargo de Ministro da Fazenda. A Folha de hoje, 29,traz uma matéria sobre as preocupações de Fernando Haddad sobre o rumo da economia brasileira. O ministro sugere que, caso não haja a sensibilidade para o aumento do IOF, corremos um sério risco de problemas  com as contas públicas. 

Mudanças no Ministério da Fazenda apresenta, de início, dois problemas. O nome escolhido teria que adaptar-se às injunções de um grupo que orbita próximo ao morubixaba, influente, que sugere estar mais preocupado com o poder do que com as contas públicas. A outra questão diz respeito à lâmina enferrujada, contaminada com o bacilo do tétano utilizada para cortar a bananeira e extrair a seiva para estancar a sangria.  Um mal de origem que não tem marqueteiro que resolva. Apertem os cintos, pois tudo leva a crer que teremos problemas, pois estamos navegando sobre águas turbulentas. 

Editorial: Os palanques de Lula no estado de Pernambuco.


Lula esteve em Pernambuco no dia de ontem, 28, mais precisamente na cidade de Salgueiro, inaugurando obras do sistema de irrigação do Rio São Francisco. A comitiva do presidente foi formado pelos auxiliares da Casa Civil, Rui Costa, da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos,  e pelo Ministro da Integração de Desenvolvimento Regional, Waldez Góes. Junta-se a este grupo, naturalmente, os políticos locais. Como o presidente desembarcou em Juazeiro do Norte, dois cearenses estiveram presentes, o prefeito de Barbalha, Guilherme Saraiva, e o governador do Estado do Ceará, Elmano de Freitas. De Pernambuco, os deputados Pedro Campos, Túlio Gadelha e a senadora Teresa Leitão, além do prefeito do Recife, João Campos, e a governadora do Estado, Raquel Lyra. Clima festivo, de inaugurações, de colher dividendos eleitorais. Num desses momentos de fala, o presidente Lula empolgou-se e chegou a afirmar que aquele lá de cima teria deixada as coisas como estavam no sertão porque sabia que um dia ele seria presidente da República.  

Mais tarde, o ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes e principal liderança do PL no estado de Pernambuco, Anderson Ferreira, pontuou que a obra já teria sido iniciada durante o Governo Bolsonaro. Por enquanto, Lula tem dois palanques eleitorais no estado de Pernambuco. Por razões óbvias, os gestores João Campos e Raquel Lyra mantiveram uma trégua. Há quem acredite que os dois palanques permaneça até as eleições presidenciais de 2026. Este enrosco político são comuns em todos os estados da federação. Na Paraíba, por exemplo, o prefeito da capital, Cícero Lucena, do Progressistas, trabalha com a hipótese de reunir, em torno de uma eventual candidatura, o apoio do socialista João Azevedo. Embora aliados, Lucena hoje integra a União Progressista, que não tem nada a ver com os socialistas. 

Na atual conjuntura, não se recomendaria uma nova candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Exceto se as nuvens mudarem significativamente nos próximos meses. Mas, pelo andar da carruagem, as nuvens que surgem no horizonte são turvas e cinzentas. O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sugere que possamos ter problemas com as contas públicas caso não se viabilize o aumento do IOF, demonizado pela mídia e pelo mercado. Por outro lado, o Governo Lula 3 continua com a sua sanha de gastos, pouco se importando com as consequências mais adiante. Pelo raciocínio dessa ala do Governo, sem gastos seria o cometimento de um suicídio político. Repararam na camisa de linho vermelho de Lula? Alguém reparou até nos sapatos da grife Zegna, ao preço de R$7,500 o par. 

Charge! Thiago via Jornal do Commércio.

 


quarta-feira, 28 de maio de 2025

Charge! Renato Aroeira via Facebook.

 


Editorial: Lula libera R$ 700 milhões para as universidades.



Lula já teve um relacionamento melhor com as universidades públicas brasileiras. As IFES mantinham uma relação tão orgânica com o petismo que, durante o Governo Bolsonarista tornou-se alvo de ataques da extrema-direita sistematicamente. Uma trincheira do pensamento progressista que precisava ser silenciada pelo obscurantismo que se prenunciava num governo que flertava com o autoritarismo. Neste terceiro governo Lula os professores - que chegaram a ter aumentos diferenciados no passado - entraram numa greve em luta pela recomposição dos seus salários. Vamos ser francos por aqui. As conquistas durante a paralisação foram bastante pontuais, nada que significasse a volta das atividades plenas, sem algum percalço, como ficaria evidente logo em seguida.  

Até recentemente, aqui em Pernambuco, reitores das universidades públicas realizaram uma série de encontros para tratar do problema de verbas de custeio dessas instituições. Relatos afirmavam que estava sendo impraticável tocar as atividades do órgão diante das dificuldades encontradas. Hoje o Governo Lula anuncia, com grande pompa, a liberação de um montante de R$ 700 milhões para as universidades públicas. Não é pouca coisa, pode tirar as IFES do sufoco, mas está muito aquém do montante que foi retido na LOA, acima dos R$ 31,5 bilhões. 

Como, a partir de uma diretriz de comunicação institucional estabelecida pela Secom, toda grande obra do Governo deve ser anunciada pelo próprio presidente Lula, salvo melhor juízo, já haveria um agendamento do presidente com os reitores, onde a boa nova será comunicada. Os tempos realmente são outros. 

Editorial: A federação do PT



Hoje o dia está repleto de assuntos políticos interessantes sobre essas discussões tratadas aqui cotidianamente. Há as indisposições da Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, com os senadores na Comissão de Infraestrutura do Senado Federal; o anúncio pomposo da liberação de R$ 700 milhões para as universidades, quando o corte no orçamento chegou a R$ 31,5 bilhões; o óleo esquentando na frigideira de segmentos do PT para uma eventual fritura do Ministro Fernando Haddad, que se encontra literalmente de mãos atadas, pois, se aumenta impostos é um problema, se propõe cortes é um problema ainda maior num governo de perfil eminentemente gastador. Neste ambiente politico turvo, vamos tratar de uma proposta aventada pelo líder do Governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães, no sentido de formação de uma federação do PT envolvendo também os partidos PSB e PDT. 

Na realidade, já existe uma frente formada pelo PT, PV e PCdoB. Curioso que, ouvido ontem num podcast de um blog local, o atual Presidente Nacional do PSB, Carlos Siqueira, assegurou que, no momento, pretendem acompanhar um eventual projeto de reeleição de Lula, mas não quer saber dessa conversa de federação com o PT. O motivo é simples. O PT não abdicaria da prerrogativa histórica de sempre ser a liderança de qualquer coalizão ou a cabeça de chapa do passado. Num dos momentos da entrevista, Carlos Siqueira tocou num ponto que tem sido levantado aqui pelo blog, ou seja, a ausência de alternativas ao nome do presidente Lula no que concerne às eleições presidenciais de 2026. O partido insiste no nome de Geraldo Alckmin como vice em 2026. 

Há alguns anos atrás, quando ainda estávamos no batente da repartição, escrevemos um artigo inspirado sobre a senhora Marina Silva. Marina Silva tem uma trajetória política e pessoal honrosa e inatacável. Infelizmente, as circunstâncias políticas a colocaram num redemoinho complicado, que congrega governo fraco, de um lado, e pressões fortes do outro lado, movida por inúmeros interesses, não necessariamente de natureza republicana. Nos corredores de Brasília já se especula sobre o provável afastamento do presidente do IBAMA e, quem sabe, da própria ministra Marina Silva. O que ocorreu ontem no Senado Federal é mais uma evidência do diálogo que está se tornando irreconciliável entre Governo e Oposição. Isso não é bom. 

terça-feira, 27 de maio de 2025

Editorial: Eduardo Bolsonaro para a presidência em 2026?


No dia de ontem, 27, tivemos a oportunidade de acompanhar uma longa entrevista concedida pelo deputado federal, Eduardo Bolsonaro, que se encontra licenciado do cargo, morando nos Estados Unidos. Acionado pela PGR, o STF abre inquérito contra o parlamentar, que estaria urdindo, nos Estados Unidos, contra as instituições brasileiras. Não vamos entrar nesta seara jurídica, que não é a nossa praia, mas alguns componentes políticos entraram na equação desta briga de foice entre Governo e Oposição, sobretudo no que concerne às eventuais movimentações de peças no tabuleiro do xadrez político das eleições presidenciais de 2026. Aliás, essas movimentações estão aceleradas. Caboclo que não ficar atento pode perder o bonde.  

O ex-presidente Jair Bolsonaro já disse que não abre mão de sua candidatura, como legítima representante dos segmentos de direita, para ninguém. Há, inclusive algumas indisposições já perceptíveis entre ele e velhos aliados, a exemplo do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, cortejado frequentemente por setores conservadores. Tarcísio de Freitas tornou-se o nome mais palatável da Faria Lima e adjacências. No terreno político, ele conta hoje com o apoio de dois jogadores de peso no cenário político brasileiro, caso do ex-presidente Michel Temer e do Presidente Nacional do PSD, Gilberto Kassab. O PSD, na realidade, trabalha dois nomes para a disputa, mas, se e somente se, Tarcísio de Freitas não topar deixar o certo pelo duvidoso. Sua reeleição em São Paulo é dada como favas contadas. 

Gilberto Kassab, por seu turno, já teria manifestado o desejo de ocupar sua cadeira no Palácio Bandeirantes. Ratinho Junior e Eduardo Leite, embora estejam eventualmente no tabuleiro, são peças que podem ser perfeitamente substituídas consoantes os arranjos entre ele e Michel Temer, principalmente se o lance envolver sua habilitação a suceder Tarcísio de Freitas em São Paulo. É neste introito que entra o nome de Eduardo Bolsonaro, agora com um enrosco no STF, o que contingenciou o ex-presidente Jair Bolsonaro a sinalizar com uma eventual candidatura do filho à Presidência da República em 2026. Por enquanto, o PL não quer saber dessa conversa de federação, o que já levou Kassab a sugerir que os segmentos de centro-direita terão duas candidaturas. No atual contexto, uma pode ser a de Eduardo Bolsonaro. 

Editorial: As indisposições de Lula.


Não deixa de ser curioso que os assuntos que mais repercutiram na redes sociais no dia ontem, 27 - talvez possamos abrir aqui uma exceção para o IOF - sejam exatamente aqueles que tratam de especulações, suposições e coisas do gênero. O mal-estar de Lula, o tapa desferido contra Macron e as fofocas sobre a visita da primeira-dama do Brasil à Franca. O problema de Lula era uma crise de labirintite e ele já se encontra recuperado, embora haja outras indisposições maiores sobre quais a possibilidade de recuperação não seja assim tão simples, a exemplo de mais uma dessas propostas de ampliar a arrecadação através do aumento de impostos. Desta vez, ao menos, parecem ter voltado atrás em tempo hábil, antes que o estrago produzido fosse maior.  

Por outro lado isso demonstra a falta de unidade na gestão, discussão que já se tornou rotineira entre os cronistas políticos sobre este terceiro Governo Lula. Há um governo de H, de J, um governo de R, de  G e de L.  Isso não pode dá certo. Isso não tem como dá certo. Mas vamos em frente para não melindrar. O Governo, através possivelmente da SECOM, criou uma peça publicitária denominada "Estamos com Janja". Sugere-se, até mesmo pelas avaliações internas, que a peça não foi bem-sucedida. Mesmo com o reforço efetivo de sua equipe de mídia social e os recursos investidos neste setor, os resultados ainda não apareceram. Daí se entender a volta dessas discussões sobre regulação. 

O PL da Fake News sofreu duras críticas da Oposição e continua em processo de aprimoramento, segundo sugere-se. Possivelmente, não haverá como construir algum consenso entre Governo e Oposição sobre o assunto. Esta ausência de espírito público, acirrando os embates acerca de temas tão cruciais, estão nos atirando nas cordas da barbárie e do autoritarismo. Alguns entes federados já perderam o controle do seu aparato de segurança pública e o modelo que surge no horizonte sobre a regulação das redes sociais é o modelo chinês. É o momento de baixarmos a bola e serenarmos os ânimos, em defesa de nossas instituições democráticas. O flerte é arriscado.  

Charge! Thiago via Jornal do Commércio.

 


segunda-feira, 26 de maio de 2025

Editorial: O equilíbrio instável de Raul Henry na cena política pernambucana.



Raul Henry assume o comando do MDB pernambucano num momento bastante delicado do partido. Historicamente, houve um tempo em que a agremiação partidária emedebista era controlada por oligarquias políticas regionais, que, agiam com relativa autonomia em relação às deliberações da legenda no plano nacional. Na realidade, este perfil ainda existe, embora a conjuntura hoje seja um pouco diferente. Nas últimas eleições presidenciais, por exemplo, a despeito de a direção nacional da legenda ter referendado o nome da senadora Simone Tebet como candidata à Presidência da República, algumas dessas oligarquias emprestaram o seu apoio ao nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi assim no Maranhão, com os Sarney, em Alagoas, com os Calheiros, e no Pará, com a família Barbalho. Dizem até que um dos herdeiros do clã Barbalho possa até compor a chapa de uma eventual reeleição de Lula, possibilidade hoje cada vez mais remota, a julgar pelo bom senso.  

Essas oligarquias sequer prestigiaram o lançamento da candidatura de Simone Tebet. O cenário das eleições presidenciais de 2026 não será mais o mesmo, sobretudo em razão dessa tendência de formação de federações, que podem ser lida, já na largada, na formação de uma grande frente antipetista. A próxima federação deve ser formada pelo MDB, o PSD e o Republicanos. Apesar das boas relações do Ministro de Portos e Aeroportos,  Sílvio Costa Filho,  com a gestão de João Campos(PSB), ainda um grande aliado do Planalto,  numa avaliação mais objetiva, a tendência da federação formada pelo MDB, o PSD e o de apoiar um nome de centro-direita, numa contraposição a uma candidatura do Planalto. E se Kassab convencer a  futura federação a apoiar o nome de Raquel Lyra, filiada ao seu partido, o PSD. 

Essas dinâmicas são complicadas. Talvez a centrífuga, em última análise, atire João Campos para fora de uma aliança com o Planalto, algo que já ocorreu em período relativamente recente, por ocasião de sua primeira eleição para a Prefeitura da Cidade do Recife, quando conduziu uma campanha marcada pelo antipetismo. Os socialistas, por exemplo, cobram muito do Planalto uma participação maior no Governo Lula 3, quando a reforma ministerial praticamente já expirou. Outra questão é a manutenção de Geraldo Alckmin como vice, quando se sabe que, sem Tarcísio de Freitas concorrendo à reeleição, Alckmin é franco favorito à cadeira do Palácio Bandeirantes. Na atual conjuntura...  

Editorial: Uma segunda-feira sem lei. Crime e corrupção.


Uma segunda-feira que começa num clima bastante agitado e preocupante, se considerarmos a guerra entre facções do crime organizado que estão ocorrendo em estados como o Rio de Janeiro, Bahia e Ceará. A situação começa a sair do controle efetivo do aparelho de Estado, o que representa um retrocesso civilizatório que está nos conduzindo uma estado de barbárie. Na Bahia, por exemplo, uma comunidade inteira foi expulsa de uma localidade por determinação de uma facção do crime organizado. No Rio de Janeiro, logo após a morte do líder do Terceiro Comando Puro, o TH da Maré, iniciou-se uma verdadeira guerra entre o Comando Vermelho e o Terceiro Comando Puro, movida pela ocupação de território de atuação. Na realidade, a morte de TH não foi o fato determinante, uma vez que as animosidades e a briga por ocupação de território entre as duas facções no Rio de Janeiro é antiga. 

Esta facção que determinou a desocupação da área referida na Bahia é nova pelas informações que dispomos, indicando que o crime organizado cresce assustadoramente no estado. Sempre que se reporta ao assunto, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, assegura que se trata de um problema nacional. É um problema nacional, mas não sabemos se tais argumentos atendem às expectativas dos cidadãos e cidadãs do seu estado. Possivelmente indicador de sua impotência para enfrentar o problema. O Rio de Janeiro já é um caso perdido. O Ceará caminha para a mesma situação deplorável, com seus gestores externando as mesmas dificuldades em enfrentar a situação. 

Agora a pouco ficamos sabendo que uma revista de circulação nacional retirou uma matéria do seu site que tratava do envolvimento de instituições financeiras, leia-se bancos, no engendramento das fraudes no INSS. Os próprios órgãos de investigações de Estado teriam advertido sobre a temeridade de se aprofundar tais investigações no que concerne a essas instituições. Em alguns casos,  é como se houvesse uma institucionalização dos empréstimos consignados não autorizados. Há a possibilidade de os bancos emitirem esses cartões e procederam os empréstimos sem autorização dos aposentados. Não há dúvidas de que estamos diante de um escândalo gigantesco, conforme advertimos desde o início.  E a CPMI, se vier, só depois dos festejos juninos. 

Charge! Kleber Alves via Correio Braziliense.

 


domingo, 25 de maio de 2025

Editorial: Kleber Mendonça e Wagner Moura são premiados em Cannes. É a potência do cinema pernambucano.



A 78° edição do Festival de Cinema de Cannes concedeu o prêmio de melhor ator a Wagner Moura e de melhor diretor ao cineasta pernambucano Kleber Mendonça. Nesta imersão em cinema a qual nos submetemos durante a pandemia, o cinema pernambucano era recorrentemente citado durante as aulas. Pernambuco se transformou numa grande Escola de Cinema. Aguardamos com muita ansiedade a leitura do livro A Potência do Cinema Pernambucano, de Diego Medeiros, lançado recentemente, que ainda não tivemos a oportunidade de ler. Pernambuco tem realizado algumas películas fora da curva, que estão ditando tendências na esfera cinematográfica, recebendo, com louvor, o reconhecimento da crítica, a exemplo de O Agente Secreto, Kleber Mendonça.  

Algumas dessas produções contam com o inestimável apoio do aparelho de Estado, através de fundos como o Funcultura, mas há exemplos de outras produções que não contam com esses recursos, como o caso que observamos recentemente da produção de um documentário envolvendo os relatos de um cobrador de ônibus, que está sendo realizado por um cabeleireiro de Camaragibe, salvo melhor juízo, o que significa dizer que essa febre de produção cinematográfica atinge também a Região Metropolitana do Recife e o interior do estado. O Funcultura cumpre um papel estratégico neste aspecto. Na época em que estive participando da comissão do projeto, observamos que os recursos foram reduzidos individualmente para os produtores com o objetivo nobre de atender o maior número possível deles, uma vez que, naqueles tempo de obscurantismo cultural a que o país esteve submetido,  não haveria a contrapartida da ANCINE naquele ano.  

No final, felicitar o Kleber Mendonça, que, durante anos, dirigiu a Coordenadoria de Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, responsável pela marca criada do Cinema da Fundação, que se tornou sinônimo de cinema cult. O Cinema da Fundação, sob a sua coordenação, tornou-se uma marca reconhecida nacionalmente, como um espaço de exibição de películas de excelente qualidade. Salvo melhor juízo, Kleber Mendonça fez sua formação de cinema na Inglaterra. Como Jean-Luc Godard, em uma de suas fases, flertou até com o Maoismo, às vezes pensamos que o Kleber tem lá suas simpatias por Ken Louch. 

sábado, 24 de maio de 2025

Editorial: Depoimentos sigilosos que não são assim tão sigilosos.



É curioso como os depoimentos das testemunhas dos indiciados na tentativa de golpe do 08 de janeiro estão chegando à imprensa. Salvo melhor juízo, o próprio STF antecipou-se em informar que não teria ocorrido nenhum bate-boca entre integrantes daquela Corte e uma das testemunhas arroladas pela defesa do Almirante Almir Garnier. As oitivas não estão sendo transmitidas pela TV Justiça, mas, mesmo assim, o teor das narrativas ou versões das testemunhas saem no dia seguinte em praticamente todos os órgãos de imprensa. Ontem até a última flor do Lácio entrou nas discussões quando uma das testemunha se utilizou de metáforas para se referir a uma eventual possibilidade de a Marinha coordenar um golpe de Estado no país. Segundo dizem, quase foi "fritado", numa advertência do magistrado para que ele se ativesse às questões técnicas. 

Na realidade, só iremos saber o que, de fato, ocorreu em termos de planejamento de mais um golpe de Estado num futuro próximo, quem sabe com a ajuda espiritual de um pesquisador da envergadura acadêmica de René Armando Dreifuss, quem melhor descreveu o que ocorreu em relação ao golpe militar de 1964, golpe que envolveu intensos planejamento entre militares e a classe dominante, tratado no seu texto como um golpe de classe. Isso só seria possível através de uma sessão de psicografia. Na realidade, o que acontece é que ninguém quer se comprometer, tampouco comprometer os colegas de farda.  

Há uma fala gravada de um dos militares conspiradores onde se evidencia o seu desprezo pelas instituições democráticas do país, numa evidência cabal de seu despreparo. Não há dúvidas de que há, no escopo da caserna, militares susceptíveis às aventuras golpistas. Quando confrontados com a Justiça, no entanto, todos são honrosos defensores dos princípios constitucionais. 

Charge! Kleber Alves via Correio Braziliense.

 


Editorial: MDB de Pernambuco elege seu novo presidente.


Hoje, 24, o MDB pernambucano está realizando uma eleição interna para escolher o seu próximo presidente. Não conhecemos outro momento em que o partido realizasse a escolha do seu novo dirigente num clima de tanta animosidade entre as chapas concorrentes. De um lado, Jarbas Filho, filho do ex-governador Jarbas Vasconcelos, figura de proa da legenda desde os tempos em que o partido fazia oposição ao regime militar. Jarbas Filho, juntamente com o senador Fernando Dueire, forma uma ala do partido que tende a integrar-se ao Governo de Raquel Lyra. Do outro lado, o Secretário de Articulação Política do Gestão Municipal, Raul Henry, que deve sua carreira política ao padrinho Jarbas Vasconcelos. 

Raul tem sido muito comedido em torno dessa polêmica, sobretudo em razão do seu respeito ao ex-governador. Não vamos entrar aqui nas entranhas que dividem essas duas chapas, pois as indisposições partiram para o plano pessoal. Jarbas Vasconcelos e Raul Henry, criador e criatura, sequer se cumprimentaram na chegada do ex-governador na cabine de votação. A eleição de hoje define os rumos do partido em relação as eleições majoritárias de 2026. Mesmo depois das eleições, conforme prevê Raul Henry, a possibilidade construção de uma unidade será sensivelmente difícil. 

O MDB articula uma federação com o Republicanos, o que, geralmente, produzem seus efeitos nas composições partidárias nas quadras estaduais, ditando rumos que nem sempre coincidem com os projetos nacionais da nova federação. O MDB não escapa a esta condição. Nessas arranjos está em jogo as eleições para o Senado Federal, onde há muitos candidatos para poucas vagas nas chapas em processo de formação. Está difícil encontrar espaço para tantos nomes. A União Progressista já afirmou que, depois da musculatura política formada, deseja dois nomes na majoritária com quem vier a compor.  

Editorial: A entrevista de Antonio Rueda à Veja.


Na atual conjuntura da política nacional, não seria nada surpreendente se os cientistas políticos estivessem atentos às nuvens dessa tendência de formação de federação dos grêmios políticos nacionais. Em alguns casos, com o do PSDB, podemos falar de uma fusão, num primeiro momento, e uma posterior federalização, possivelmente com a União Progressista, conforme já enfatizou o seu líder Marconi Perillo. E, por falar em federação, repercute bastante uma entrevista recente concedida pelo Presidente Nacional da União Progressista, o pernambucano Antonio Rueda, à revista Veja. A chamada deste editorial bem que poderia ser: Até tu Rueda? Em razão de sua elogiada postura com relação à composição com a base governista. Rueda era elogiado pelo Planalto por sua fidelidade ao Governo, na condição de Presidente Nacional do então União Brasil. Não compareceu ao evento de lançamento da pré-candidatura de Ronaldo Caiado à Presidência da República. 

As coisas mudaram muito desde então. Na entrevista à revista ele observa aquilo que já foi dito aos quatro cantos do mundo: A federação deve apoiar um nome de centro-direita para as eleições do próximo ano. Convém frisar que este nome pode não ser, necessariamente, o do governador de Goiás, Ronaldo Caiado. A movimentação de direita está há anos luz de distância da movimentação dos grupos de esquerda, conforme enfatizamos no dia de ontem. A única semelhança entre ambos os movimentos talvez seja mesmo a resistência de suas principais lideranças em discutirem alternativas que não sejam as suas, a exemplo de Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. 

No campo de direita, os movimentos correm à revelia. Já se fala em ranhuras na relação entre Tarcísio de Freitas e a família Bolsonaro. Até recentemente, o Secretário de Segurança de São Paulo, Guilherme Derrite, pediu desfiliação do PL, argumentando dificuldades de viabilizar pela legenda os seus projetos políticos. Derrite é pré-candidato ao Senado Federal por São Paulo. O Movimento Brasil, liderado pelo ex-presidente Michel Temer continua com suas articulações, independentemente dos humores da família Bolsonaro. No campo de esquerda, o assunto sequer é aventado, mesmo em se sabendo das enormes dificuldades que o presidente Lula enfrenta neste momento, sendo aconselhado a não tentar um quarto mandato. 

sexta-feira, 23 de maio de 2025

Resenha: Eu vim aqui para ser louco.



Precisamente em 3 de junho de 2024 foi comemorado o centenário da morte do escritor tcheco Franz Kafka. O escritor que denunciou a angústia humana morreu angustiado, sem poder se alimentar, vítima de uma tuberculose na garganta. Kafka embalou as nossas leituras ainda na adolescência. Era a primeira stand para a qual nos dirigíamos quando chegávamos à antiga Livro 7, livraria localizada na 7 de setembro, aqui no Recife, que possuía um espaço exclusivamente dedicado ao escritor. Em nossa modesta biblioteca temos um bom acervo dedicado ao artista da fome, ainda constituído desde este período. Algumas dessas obras são raras, hoje quase impossível de ser encontrada até em sebos tradicionais. 

Até recentemente foram lançados os três volumes de uma biografia sobre o autor de O Processo, escrita pelo filósofo alemão Reiner Stach. Reiner é um dos maiores especialistas em Kafka, mas se perde na tentativa de encontrar elementos novos à biografia do autor de A Metamorfose. Nada que Max Brod, amigo e confidente deste os tempos em que estudavam direito juntos, já não tenha antecipado. Pouca gente enfatiza isso, mas Max Brod foi um grande escritor, porém eclipsado pelo biografado. Max Brod ficaria mais conhecido como aquele que permitiu que o mundo conhecesse a obra do escritor tcheco.  

É incrível como há estudos sobre Kafka, mesmo diante de uma obra repleta de inconclusões. Há uma grande polêmica em torno desta dispersão de sua escrita, mas não seria este o momento de adentrarmos neste assunto. Até O Processo, um dos seus textos mais exaltado, é um livro composto pela junção de artigos que, em tese, consegue atingir a unidade tão somente por um grande esforço do autor e, naturalmente, a tolerância dos seus leitores. Outro dia ficamos impressionados com a grande atenção dada pelos ensaístas marxista brasileiro a Kafka, inclusive o maior entre eles, Carlos Nelson Coutinho. 
Possivelmente já comentamos isto por aqui em outros momentos.  

Há uma grande curiosidade sobre quais teriam sido os escritores que poderiam ter exercido alguma influência sobre Franz Kafka. Depois, claro, da relação dele com o pai e a namorada Milena, cujas cartas mereceram recentemente um compêndio de páginas de gente ligada à psicanálise. Para aqueles que gostam da literatura de Kafka e pretendem explorar o universo da angustia humana, também recomendaríamos  o escritor norueguês Knut Hamsun, autor de A Fome. Mas já antecipo que é preciso ter muito estômago para ler A Fome. Para aqueles que desejam saber o que Kafka tinha na estante - e lia, naturalmente - Robert Walser, autor de O Ajudante, único texto do autor traduzido para o português. 

Walser era uma espécie de escritor para escritores. Explorou vários gêneros e se saiu bem em todos. Há uma história interessante sobre Walser, que eventualmente exploramos em alguns de nossos textos. Olsen foi internado, contra a sua vontade, num hospital para tratamento de distúrbios mentais. Em protesto, parou de escrever. Melhor que o tivessem deixado em paz. Não seria improvável que tal condição de saúde de Walser tenha instigado Kafka a se aproximar de seus textos. As pessoas do hospital que sabiam que ele escrevia - e bem - e costumavam perguntar porque ele havia parado de escrever,  ele respondia: Eu vim aqui para ser louco. O mesmo título com o qual nomeamos este livro de crônicas. 

Crônicas sobre literatura, para sermos mais precisos. A ideia surgiu quando líamos um texto do escritor alagoano, Graciliano Ramos, ainda no início de sua carreira, quando ele escrevia crônicas para os jornais do estado. Graciliano costumava analisar livros recém-lançados, sugerindo queimar uma gordura aqui e ali, evitar tantos adjetivos, afinando o violino da escrita dos iniciantes. Era um livro que ele jamais aprovaria a sua publicação, exigente como ele era. Nunca ficou satisfeito com o resultado do seu primeiro romance, Caetés, mesmo depois dos elogios do crítico Antonio Candido. Foi educado com Antonio Candido, mas disse que mantinha suas reservas em relação ao texto. 

O livro faz uma viagem pela Paris de Ernest Hemingway e, naturalmente por Praga. Assim como todo escritor que se preze, Kafka escrevia nu e morava numa casa bem próxima ao centro de Praga. Há uma estátua em sua homenagem na cidade que nem os comunistas ousaram derrubá-la por ocasião da Primavera de Praga. Algumas dessas crônicas, por outro lado, fazem referência a situações vividas por escritores brasileiros, no seu cotidiano, quando, por exemplo, Graciliano Ramos resolve reprovar o texto de Sagarana, de Guimarães Rosa, e prestigiar o pernambucano Osman Lins, indicando-o vencedor daquele certame, possivelmente, o primeiro concurso literário de vulto do país, organizado pelo editora José Olympio. O alagoano ficou com a consciência pesada.  

Editorial: As novas pesquisas sobre a popularidade do Governo Lula.



Medidas de contenção de liberação de viagens de servidores públicos, aliadas ao período de restrições associado à pandemia da Covid-19, fizeram o governo passado economizar bilhões em recursos públicos. A ressalva que se faz aqui é em relação às políticas públicas do Governo Bolsonaro, que, em certa medida estavam relacionadas ao torniquete que se aplicou em relação a alguns órgãos públicos, a exemplo do IBAMA, da FUNAI, ICMbio, entre outros. Em todo caso, medidas de contenção dos gastos públicos são sempre bem-vindas. Foram bilhões economizados em tempos de crise - que, a rigor, ainda não foram superados - que podem fazer uma diferença enorme na contenção do déficit público, no equilíbrio das contas públicas. 

Neste sentido, o Governo Lula 3 não tem dado bons exemplos de austeridade. A coluna do jornalista Cláudio Humberto do dia de ontem, 23, traz uma estimativa dos gastos do Governo Lula 3 com diárias e passagens, chegando à conclusão de que se trata do governo que mais gastou com viagens em todos os tempos. Superou todos os governos anteriores. São R$ 5,1 bilhões. E este montante não inclui o próprio Lula e os Ministros de Estado. Aguarda-se para as próximas horas uma nova pesquisa do Instituto Genial\Quaest sobre a avaliação do governo. Antes mesmo de a pesquisa ser divulgada, os ventos que sopram não são favoráveis, se considerarmos por exemplo, a pesquisa do IPESPE divulgada no dia de ontem. 

Não há como se livrar do escândalo relativo ao roubo do INSS. Isso macularia a imagem do governo mais honesto do mundo. O dano é irreparável em quaisquer circunstâncias, mesmo que se responsabilize os governos anteriores sobre a leniência ou incompetência para evitar os desmandos com os recursos dos aposentados e pensionistas. O Governo Lula 3, que já não estava muito bem em termos de avaliação, dificilmente conseguirá contornar este problema. Nem com seiva de bananeiras se estanca essa sangria. Isso ficou visível num debate recente entre o senador Jaques Wagner, líder do Governo no Senado Federal,  e o senador Rogério Marinho, representante da Oposição, promovido pela Globo News. Jaques Wagner passou a ideia de nem ele mesmo acreditava no que estava afirmando. É a pior situação possível num debate. 

Charge! Aroeira via Facebook.

 


quinta-feira, 22 de maio de 2025

Editorial: As contradições nos depoimentos dos militares sobre a tentativa de golpe de Estado.



Está tudo muito confuso em relação aos depoimentos das testemunhas militares sobre os episódios de mais uma tentativa de golpe de Estado no país. Supõe-se, em princípio, que o espírito de corpo na tropa esteja sendo a razão dessas contradições. Os militares convocados como testemunhas não estão querendo comprometer os companheiros de farda que, por ventura, apoiavam o intento de ruptura institucional. Um general presta um depoimento à Polícia Federal e se contradiz na oitiva realizada no STF. Um outro confirma tudo o que ocorreu na famosa reunião que reunia a cúpula militar para as tratativas de uma eventual tentativa de golpe de Estado. Hoje, dia 22, um militar graduado pediu para que o seu nome fosse retirado da lista de testemunhas. 

No início da semana, contrariando uma sequência de decisões, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal decidiu não aceitar a denúncia contra dois militares. As denúncias envolvendo os demais foram aceitas. General ouvido no dia de hoje, 22, comandante à época do QG de Brasília, negou que tivesse proibido a PMDF de entrar no recinto do quartel. Ponderou que havia a necessidade de um trabalho coordenado. Oficiais da PM do Distrito Federal, no olho do furacão desde o início, por razões óbvias, foram envolvidas naqueles episódios voluntária ou involuntariamente. Não sabemos se houve algum relaxamento de prisão, mas toda a cúpula foi presa por determinação do STF. 

O cerco contra os golpistas está se fechando. Não se pode brincar com isto. Pelos áudios que vazaram recentemente do celular de um dos envolvidos, o projeto golpista previa tempos sombrios para o país, que, aliás, não seria de surpreender. Já havia um monte de guardas da esquina com disposição para se transformarem num Johnny Abbes Garcia, o temido chefe do serviço de inteligência da ditadura de Rafael Trujillo. 

Resenha: Severino Bucho-Azul



Numa daquelas tardes enfadonhas de repartições públicas, adentrou à nossa sala um companheiro de trabalho. Exultante, ele nos relatou que havia vencido um concurso literário com um livro de literatura infanto-juvenil. Cumprimentei-o pela premiação, mas nada muito além disso. Ele, aliás, modestamente, preferia ser conhecido por outras áreas de conhecimento com as quais  se identificava melhor, num arranjo que o filósofo francês Michel Foucault talvez classificasse como lugar de sujeito. Alguns anos depois, lendo e pesquisando bastante sobre literatura deste gênero, constatamos que o companheiro trabalho possuía uma expressiva produção literária sobre o assunto, merecedor de um reconhecimento institucional maior dentro e fora da repartição. Osman Lins também enfrentou situação semelhante. Era um excelente escritor que, para o banco onde trabalhava, não passava de um simples escriturário. Já consagrado nacionalmente, alguns anos depois o banco o convidaria para uma exposição, talvez com o propósito de reparar o equívoco. Ele se recusou. 

Ele já havia falecido e nós já não tivemos a oportunidade de nos redimir em razão da pouca atenção com uma pessoa que poderia, inclusive, nos fornecer elementos importantes sobre este gênero literário. Sujeito bom, afável, de trânsito fácil, possivelmente sensível a um pleito desta natureza. Infelizmente, penso que não apenas eu não conhecia esta capacidade do rapaz. São vários livros publicados sobre literatura infantil. Há alguns anos escrevemos no nosso primeiro conto infantil. Confessamos nossas dificuldades até hoje com este gênero literário, o que não deve ser um sentimento apenas deste escriba. Conto é um gênero difícil, suscitando até hoje muitas teorias sobre o assunto. 

Quanto mais o estudamos, mais dúvidas aparecem. Finalmente saiu o Severino Bucho-Azul, selecionado num concurso do gênero, o que nos deixou com a certeza, ao menos, de termos cumprido os requisitos. Depois, resolvemos transformar o conto num texto de literatura infanto-juvenil, onde pudéssemos repassar para um público maior a história de Severino Bucho-Azul, um cidadão que alimentava o imaginário fértil do pessoal da vila onde morávamos, em virtude de ser o principal suspeito de virar lobisomem nas noites de lua cheia. Embora no passado tenha integrado o temido grupo de milicianos mantidos pela companhia, Severino, aposentado, morava nos arrabaldes da vila, num enorme sítio, repletos de pés de cajueiros, mangas rosas e espadas, o que atraia os meninos do local, independentemente da suspeita que pesava sobre ele. 

Vestia inseparavelmente uma camisa, em qualquer situação do dia, com o propósito de esconder uma enorme cicatriz no abdômen, como resultado de um atentado que quase o levou a óbito. As pessoas da vila relatavam vários episódios que comprovavam a sua existência, assim como as atrocidades por ele cometidas. Em noites de lua cheia a vila era tomada por um verdadeiro pavor entre os moradores. Parte dessa narrativa também se encontra no nosso primeiro romance, Menino de Vila Operária, onde relatamos a formação de um grupo de caça ao sujeito, formado por corajosos peladeiros do local. Em breve no nosso perfil da plataforma Amazon. Pré-vendas pelo Zap 81986844557. 

Editorial: Hugo Motta desdenha da pressão da Oposição.


Na Paraíba já existe até mesmo carros circulando com adesivos de Hugo Motta como candidato ao Governo do Estado nas eleições de 2026. Há uma especulação danada em torno do assunto, seja entre alas governistas, seja entre alas oposicionistas, uma vez que, definida uma candidatura do atual Presidente da Câmara dos Deputados, os arranjos políticos locais mudam substantivamente. Há até nomes contadíssimos que já afirmaram que renunciariam a candidatura em nome de Motta. Há políticos que juram que ele será candidato e já trabalham em suas articulações políticas com esta possibilidade concreta. Outros acreditam que ainda não chegou a vez do jovem político de Patos colocar como horizonte a ocupação da cadeira do Palácio Redenção. 

E, por falar em Palácio da Redenção, há no nosso livro de crônicas sobre Jampa, uma sobre a histórica Praça dos Três Poderes ou apenas Praça João Pessoa, com uma "sacada" daquelas do comendador Arnaldo, que faz uma analogia com as prostitutas que circulam nas imediações daquele logradouro. Mas, voltemos ao Motta. O rapaz ainda é muito jovem e o futuro a Deus pertence. Sobre a possibilidade de uma candidatura ao Governo do Estado, ele desconversa, embora seja um nome com amplas viabilidades de costuras à direita e à esquerda do espectro político paraibano, fenômeno que contribuiu, igualmente, para a sua eleição para a Câmara dos Deputados. 

A Oposição, no entanto, já perdeu o encanto com o político paraibano. Consideram que ele hoje faça o jogo do Executivo e do Judiciário. Ele já disse que a fila é grande para uma CPI do INSS, ao tempo em que acrescenta ser desnecessário os ajustes em termos do PL do Anistia, uma vez que o STF deve declarar sua inconstitucionalidade. Mesmo conhecendo os entraves políticos e jurídicos do PL, a Oposição não aceita os argumentos do Presidente da Câmara dos Deputados. 

Editorial: O espião que saiu do Rio.


O Espião que Saiu do Frio foi um romance escrito em 1963, no auge da Guerra Fria. Escrito por John Le Carré, é considerado o maior romance de espionagem já escrito até hoje. Uma das características dos escritores de romances policiais é a sua prolixidade, embora não tenham o reconhecimento no campo literário, que considera o gênero romance policial uma espécie de subliteratura. Até recentemente lemos a biografia de Georges Simenon, forjado nas redações de jornais, que se tornaria um dos grandes mestres do gênero, capaz de escrever um desses romances em apenas 13 dias. Sentava numa praça ou numa calçada da Sacre Coeur e voltava para o apartamento com o romance praticamente construído. Simenon começou publicando contos nos jornais belgas, mas sua carreira apenas deslanchou quando ele chegou à França, onde fechou contratos fora da curva com editoras locais. Simenon se apaixonou por uma brasileira que trabalhava naquele país, com quem manteve um romance tórrido, mas isso já é tema para as nossas próximas conversas. 

Este assunto veio à tona quando saiu uma notícia dando conta de uma matéria do The New York Times, possivelmente a partir das conclusões dos relatórios da CIA, onde se informa sobre o processo de "limpeza" dos espiões russos que tinham como missão se infiltrarem nos Estados Unidos. Eles estabilizavam suas condições de cidadãos "normais" no Brasil, depois viajavam para a terra de Tio Sam, onde iniciavam os trabalhos para o SVR(Serviço de Inteligência Estrangeira). Com o desmonte da antiga União Soviética, os serviços de inteligência do país foram desmembrados, ficando o FSB, responsável pela segurança interna, enquanto o SVR ficou responsável pela espionagem no estrangeiro. 

Na época da antiga União Soviética a temida KGB era o serviço de espionagem mais eficiente do mundo, digna de proezas que deixaram o Mossad no jardim da infância. Hoje, as coisas mudaram muito no mundo da espionagem. O Mossad israelense aparece no topo da lista, seguido da CIA, dos serviços secretos de sua majestade e ali, pela rabeira,  os serviços secretos da França e da Federação Russa. Assinalando sempre que há muita subjetividade nessas análises. 

quarta-feira, 21 de maio de 2025

Editorial: A república das fofocas.


O Brasil realmente não é um país para amadores. Nós temos uma comissão de ética que julga orientada pela ideologia. Aos amigos tudo, inclusive a transgressão da ética. Agora mesmo estamos diante de uma relativização do delito. Fulano e Beltrano cometem os mesmos delitos, mas o que vale para Fulano não vale para Beltrano. É como se alguns tivessem a licença para roubarem e outros não. Outro dia a quebra de protocolo de uma primeira-dama causou o maior frisson. O pior veio depois, com os fuxicos e as intrigas sobre quem teria vazados os diálogos indiscretos, especulando-se sobre o nome A ou B, atenuando-se a caça às bruxas depois que os serviços de inteligência identificaram o indiscreto. 

Agora, depois que vazaram os diálogos sinceros de dois ex-auxiliares da Presidência da República, hoje sai a notícia de que um deles foi demitido, uma vez que afirma nos diálogos que preferia até mesmo votar no barbudo do que na madame. Um país desses não pode dá certo. Lá atrás, Sergio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre, cada um ao seu modo, já nos alertavam para este problema. Neste momento, passamos por uma fase de banalização da corrupção. As maracutaias com os recursos públicos se tornaram tão recorrentes que passaram a integrar o nosso cotidiano, sem motivar aquelas indignações de outrora. 

É nestas horas que sentimos a falta da inteligência do pensamento e dos traços de um Millôr Fernandes, de um Sérgio Porto, de um Nelson Rodrigues, que encontravam inspiração para os seus trabalhos quando o trem ainda não tinha descarrilado como agora. Ficamos aqui a imaginar como esses gênios poderiam descrever esta situação pela qual o país está passando neste momento. 

Resenha: As mulheres do Clube do Cupim.



Há muitas questões polêmicas envolvendo o Clube do Cupim, inclusive este romance que, escrito ainda em 2023,  precisamos proceder algumas mudanças no texto, por recomendação do editor, para não comprometer um dos maiores nomes da literatura brasileira, que, no início de sua carreira, assumiu posições explicitamente misóginas. Curioso que o inserimos no texto de forma bastante contextualizada, fazendo as maiores ressalvas em torno desta postura, que, a rigor, em princípio, não combinava com ele. Uma dessas atitudes involuntárias que a gente toma na vida, movidos pelo ambiente cultural de uma sociedade marcada a ferro e fogo pelo patriarcado. Geralmente, a gente nem se dá conta. 

Salvo melhor juízo, não há grandes estudos sobre este Clube do Cupim, que funcionou aqui no Recife, no bojo da luta antiescravagista. Há bons artigos escritos sobre o assunto, mas nenhuma grande investigação, daí as polêmicas e discrepâncias até mesmo entre esses artigos escritos sobre o Clube. Num livro organizado sobre a escravidão por Leonardo Dantas Silva, há um artigo bastante interessante sobre este Clube. Recomendamos a leitura porque se trata de um livro que conta com o "selo" de seriedade, competência e honestidade intelectual do historiador. O texto que consta no livro, inclusive, diverge bastante do artigo no qual nos baseamos para conduzir o enredo do romance, mas não podemos deixar de reconhecer seus méritos. 

Como se tratava de um clube clandestino, sugere-se que haja escassez de documentos acerca da dinâmica do seu funcionamento, a composição dos seus membros, entre outras questões. Mesmo clandestino, personalidades que participavam da luta antiescravagista institucional integravam o Clube, a exemplo de Joaquim Nabuco e José Mariano. O Clube do Cupim cumpria a missão de resgatar e transferir escravos do estado de Pernambuco para o Ceará, uma vez que, graças à bravura de Chico da Matilde, o Dragão do Mar, aquele estado libertou seus escravos institucionalmente antes da assinatura da Lei Áurea. 

À época, havia uma espécie de filial do Clube do Cupim funcionando na cidade de Goiana, cidade localizada na Zona da Mata Norte do Estado. O clube era liderado na cidade pelo sapateiro Batista, que, numa dessas empreitadas, conseguiu libertar centenas de escravos de um engenho local. Suspeitamos que o tal Batista seja um dos poucos líderes identificados do antigo Quilombo do Catucá, que se localizava naquela cidade. Se não se tratar do mesmo sujeito, ficamos com a cota da imaginação. Na realidade, o Quilombo do Catucá se estendia por quase toda a Região Metropolitana do Recife. Foi o segundo maior quilombo do Brasil, ficando abaixo apenas do Quilombo dos Palmares, em Alagoas. 

O Clube do Cupim montava uma verdadeira operação de guerra para retirar esses escravos dos engenhos, acolhê-los e encaminhá-los ao Ceará, através de uma rede contato bastante afiada para descascar esses "abacaxis". Um dos aspectos mais interessantes do Clube é que ele era formado por homens brancos, bem situados, pode-se dizer da elite, mas também por pessoas simples, do povo, talvez ex-escravizados, e surpreendentemente, por mulheres. Chamou a nossa atenção a participação dessas mulheres, contadas num artigo em número de quatro, que participavam dos "ritos", assinavam atas, e, principalmente exerciam um papel estratégico na viabilização dos trabalhos do Clube. Essas mulheres são as protagonistas deste romance. Pré-vendas pelo Zap 81986844557.