pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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domingo, 23 de setembro de 2012

O Brasil em campo com Nelson Rodirgues

 
Mais uma obra de referência para a literatura esportiva. No ano do centenário de Nelson Rodrigues, a coletânea de crônicas organizada por sua filha, Sonia Rodrigues, “O Brasil em Campo” (Editora Nova Fronteira) é leitura obrigatória. Desde as crônicas organizadas por Ruy Castro, seu biógrafo, Nelson Rodrigues não tinha uma de suas maiores paixões, o futebol, tão bem explorado. São 71 crônicas sobre esporte, 58 delas nunca publicadas em livro.
 
Sinopse (da Editora):

“Nelson Rodrigues e o futebol. Pode parecer mera repetição, mais do mesmo, mas não é! Brasil em campo é uma antologia em que se conjugam ironia, versatilidade, repetição — com muito estilo — e belíssimos chutes a gol de um dos maiores cronistas esportivos do país!
E não é só isso. Nas crônicas aqui reunidas, percebe-se que, a partir do chute inicial, com belos e inesperados dribles na pauta de sua coluna, Nelson passa a bola para questões políticas, culturais e acaba chegando ao mais fundo da alma brasileira. Porque esse é seu espaço por excelência de discussão do humano e de suas verdades.
Mas Brasil em campo é ainda, sobretudo, o retrato de uma paixão. Paixão pessoal, coletiva, brasileira.
Talvez essa seja mesmo a palavra que grite mais alto nas páginas deste livro, como um torcedor em final de campeonato ou quando sente que seu time foi garfado pela arbitragem.
Paixão é o sentimento que todos os brasileiros devotam a esse esporte e com Nelson não foi diferente. Sabidamente apaixonado por futebol e pelo seu time, o Fluminense, Nelson elege esse esporte como nosso maior traço de união, fazendo dele uma verdadeira metáfora do Brasil e dos brasileiros”.
Na primeira crônica da antologia organizada por sua filha, um texto inédito de Nelson Rodrigues sobre a Seleção Brasileira na Copa de 1958, na Suécia:

No Brasil, o futebol é que faz o papel da ficção
Por Nelson Rodrigues (O Globo, s/d)

“Ontem, o Wilson Figueiredo faz-me o apelo dramático: — “Não misture o Brasil com o escrete!” Segundo o caro confrade, há todo um abismo entre a pátria e a seleção. Deixo o telefone numa amarga perplexidade. E das duas uma: — ou é o colega que não enxerga o óbvio ou sou eu que vejo uma relação. Falsa. Mas com uma pertinácia bovina reafirmo: — o escrete é o Brasil; é a pátria dando botinadas.

Confesso, porém, que sou um brasileiro obsessivo e repito: — um brasileiro delirante, que precisa ver o Brasil, por todas as partes. Há pouco, numa exposição em Bruxelas, premiaram uma das nossas marcas de fósforo. Pois bem. A partir de então, uma caixa de fósforos passou a ser, aos meus olhos, um símbolo nacional, dos mais válidos e incisivos. Era a pátria em palitos. De uma outra feita, houve um concurso de gado, em Uberaba. Selecionaram um dos animais e lhe enfiaram pelo pescoço uma fitinha, com uma medalha pendurada. E a vaca premiada foi, por um momento, o Brasil, a pátria viva.

Agora é a vez do escrete. E não importa que o Wilson Figueiredo proteste, com escândalo e irritação: — “Futebol é clube e não pátria!” Lá fora, quando se quer conhecer um povo, o sujeito recorre à ficção. Mas no Brasil, não. O nosso romance é ralo, é escasso de grandes símbolos nacionais. Quer-se um Tartarin e não temos um Tartarin, quer-se um Peer Gynt e não temos Peer Gynt, um Karamázov e não há um Karamázov. É verdade que temos um Paulo Francis, ressentido como um Raskólnikov de galinheiro. Mas o Paulo Francis ainda não está impresso.

Eis a verdade: — no Brasil, o futebol é que faz o papel da ficção. O sujeito quer um herói de botas e penacho? um supertipo? ou mau-caráter, em dimensão gigantesca? Encontraremos tudo isso e muito mais nos clássicos imortais ou nos amistosos caça-níqueis. Lembro-me de uma pelada a que assisti, faz tempo. Um dos adversários era o brioso Rosita Sofia. E o outro devia ser o Manufatura, ou Mavilis, sei lá. De repente, a coisa começou a crescer em campo. Tudo adquiriu um dramatismo inesperado e colossal.

E me doeu não ser um Camões, ou um Sófocles, ou um Tolstói. Eu via, ali, todo um material abundantíssimo para uma Guerra e paz.

E, no entanto, não há em toda a já vasta obra de Guimarães Rosa uma única e mísera pelada. Todo o seu monumento romanesco não inclui uma vaga e lírica botinada. Nada. O ficcionista ainda não desconfiou que os nossos descobridores, os nossos argonautas de cristal, os nossos lusíadas, os nossos mares — estão no futebol. Toda a experiência vital e romanesca do Guimarães Rosa vai se enriquecer quando ele descobrir o Maracanã.

Amigos, aí é que está: — o sujeito que quiser conhecer o Brasil terá de olhar o escrete. Não há nada mais Brasil do que Pelé. E repito: — todo o Brasil estava no goal que Pelé marcou, de cacetada, contra o País de Gales. Também a desgraça venta no futebol. Pior do que Canudos foi a vergonha épica de 50. No Maracanã inaugurado, o uruguaio Obdulio Varela venceu, no palavrão, o escrete e toda a nação.

A ressurreição nacional data de 58. Que era o brasileiro antes da Jules Rimet? Um humilhado, um ofendido. No seu amargo cotidiano, sofria desfeitas da mulher, da criada e, até, do caçula. Pois bem. A vitória de 58 mudou até as nossas reações domésticas. O brasileiro já entra em casa dando patadas. Agora é ele quem ofende, é ele quem humilha. E toda essa nova e triunfante disposição vital nós devemos ao escrete.

Eu queria dizer, ainda, que o Brasil também está no arremesso lateral de Djalma Santos, o negro. É um grave, um transcendente arremesso lateral. Amigos, imaginemos a cena. A bola está no chão. E vem Djalma Santos. Ele se curva. Apanha a bola e a carrega, a mãos ambas, como diria o Eça. Não é um esforço leve e frívolo. Não. Djalma Santos parece estar suspendendo um piano. Ele ergue a bola. Balança o corpo. E aí é que está o sortilégio: — o seu arremesso lateral é solene, forte, herói — como um tiro de meta. É uma bomba. Amigos, pode-se ligar a potencialidade manual de Djalma Santos à nossa epopeia industrial”.

Em outra crônica inédita, Nelson Rodrigues, como sempre, fala de outro personagem fundamental de suas histórias: o torcedor brasileiro.

Narciso às avessas, que cospe na própria imagem
Por Nelson Rodrigues (Revista Manchete Esportiva, 17/5/1958)

Hoje, o meu personagem da semana é uma das potências do futebol brasileiro. Refiro-me ao torcedor. Parece um pobre-diabo, indefeso e desarmado. Ilusão. Na verdade, a torcida pode salvar ou liquidar um time. É o craque que lida com a bola e a chuta. Mas acreditem: — o torcedor está por trás, dispondo.

Escrevi acima que o torcedor não é um desarmado e provo. De fato, ele possui uma arma irresistível: — o palpite errado. Empunhando o palpite, dá cutiladas medonhas. Vejam o primeiro jogo com os paraguaios. Vencemos de cinco e podia ter sido de dez. Fizemos do adversário gato e sapato. Ora, para uma primeira apresentação foi magnífico ou, mesmo, sublime. Mas quando saí do Maracanã, após o jogo, vejo, por toda parte, brasileiros amargos e deprimidos. Mais adiante, esbarro num amigo lúgubre. Faço espanto: — “Mas que cara de enterro é essa?” O amigo rosna: — “Estou decepcionado com o escrete!” Caio das nuvens, o que, segundo Machado de Assis, é melhor do que cair de um terceiro andar. Instantaneamente, vi tudo: — o meu amigo era ali, sem o saber, um símbolo pessoal e humano da torcida brasileira. Símbolo exato e definitivo.

Em qualquer outro país, uma vitória assim límpida e líquida do escrete nacional teria provocado uma justa euforia. Aqui, não. Aqui, a primeira providência do torcedor foi humilhar, desmoralizar o triunfo, retirar-lhe todo o dramatismo e toda a importância. Atribuía-se a vitória não a um mérito nosso, mas a um fracasso paraguaio. Os guaranis passavam a ser pernas de pau natos e hereditários. Dir-se-ia que, por uma prodigiosa inversão de valores, sofremos com a vitória e nos exaltamos com a derrota.

E, no entanto, vejam vocês: — o escrete visitante, que nos parecia de vira-latas, acabara de vencer e desclassificar a “Celeste” e bater a enfática Argentina. Mas, para cuspir na vitória brasileira, o nosso torcedor fingiu ignorar a real capacidade, a indiscutível classe do adversário. Veio o segundo jogo, no campo careca e esburacadíssimo do Pacaembu. Houve um empate, que teve para o Brasil o gosto de uma semiderrota. Desta vez, porém, nada 22 de choro, nada de vela. Por toda parte, só se viam caras incendiadas de satisfação.

Com o olho rútilo e o lábio trêmulo, o torcedor patrício lavava a alma: — “Eu não disse?” Os pernas de pau não eram mais os paraguaios, eram os brasileiros. E está-se vendo esta vergonha: — um escrete, que começou vencendo, já é vítima de uma negação frenética. Há gente torcendo para que ele apanhe de banho na Suécia.

Eis a verdade, amigos: — tratam do craque, tratam da equipe e esquecem o torcedor, que está justificando cuidados especiais. Que estímulo poderá ter um escrete que é negado mesmo na vitória? A seleção não tem saída. Se vence de cinco, se dá uma lavagem, o torcedor acha que o adversário não presta. Se empata, quem não presta somos nós. Durma-se com um barulho desses!

Há uma relação nítida e taxativa entre a torcida e a seleção. Um péssimo torcedor corresponde a um péssimo jogador. De resto, convém notar o seguinte: — o escrete brasileiro implica todos nós e cada um de nós. Afinal, ele traduz uma projeção de nossos defeitos e de nossas qualidades. Em 50, houve mais que o revés de onze sujeitos, houve o fracasso do homem brasileiro.

A propósito, eu me lembro de um amigo que vivia, pelas esquinas e pelos cafés, batendo no peito: — “Eu sou uma besta! Eu sou um cavalo!” Outras vezes, ia mais longe na sua autoconsagração, e bramava: — “Eu sou um quadrúpede de 28 patas!” Não lhe bastavam as quatro regulamentares; precisava acrescentar-lhe mais 24. Ora, o torcedor que nega o escrete está, como o meu amigo, xingando-se a si mesmo. E por isso, porque é um Narciso às avessas, que cospe na própria imagem, eu o promovo a meu personagem da semana.

sábado, 22 de setembro de 2012

Lula: seus passos nessas eleições significam que ele já jogou a toalha.


Os caminhos que o líder máximo do Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva vem trilhando nessas eleições municipais são elucidativos para entendermos o drama vivido pelo partido. Na semana passado, em encontro reservado com algumas lideranças da agremiação, Lula antecipou o tamanho da encrenca. O PT enfrenta dois grandes problemas nessas eleições. O primeiro diz respeito à fadiga de material e, o segundo, o julgamento do mensalão, variáveis com as quais, nos parece, o partido não teria calculado o tamanho do estrago que poderia causar às suas pretensões de continuar na gestão de cidades importantes ou ampliar seu número de prefeitos em relação ao pleito anterior, alicerçando os projetos de 2014. Não veio e possivelmente não virá ao Recife, mas foi até Manaus pedir votos para a senadora Vanessa (PCdoB), que enfrenta um dos seus urubus voando de costa, o ex-senador Arthur Virgílio. Manaus enfrenta uma eleição bastante equilibrada. Depois do fracasso do “esforço final” em São Paulo, Lula agora concentra esforços na região do ABC, um estratégico cinturão, fundamental para os planos do partido em manter-se no poder. Ter selado as pazes com Eduardo Campos é um indício claro de que Lula, pelo menos no momento, reconhece que não reúne as condições ideais para um embate aberto com o líder do PSB. Informe do Estadão, assegura sua presença em Juazeiro(BA) para pedir votos para Issac Carvalho(PCdoB), enquanto o que se esperava -  e seria natural - que ele pedisse votos para o candidato do PT, Joseph. Eu arrisco um palpite. Não se espantem se ele vier ao Recife... pedir votos para Geraldo Júlio. Pay Attention, PT!!!

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Manaus: Grazziotin empata com Arthur Virgílio

 
 
 
A duas semanas da eleição, o Ibope captou um empate na disputa pela prefeitura de Manaus. A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB) alcançou o ex-senador Arthur Virgílio (PSDB). Ambos têm agora 29% das intenções de voto.
Os pesquisadores do instituto foram ao meio-fio na segunda (17) e na terça-feira (18). Verificaram que Vanessa cresceu dez pontos desde a última sondagem, feita na semana passada, entre quinta (13) e sábado (15). Virgílio ficou estacionado.
A nova pesquisa veio à luz na noite passada. Na véspera, Lula voara até a capital amazonense para participar de um comício ao lado de Vanessa. O ex-soberano enxerga Virgílio com os olhos do fígado.
Ao discursar, Lula recordou que, em 2005, Virgílio ameaçara dar-lhe “uma surra.” Deixou claro que, em 2012, sua prioridade não é eleger Vanessa, mas derrotar o ex-líder tucano no Senado.
“O adversário de Vanessa parece que não gosta do cheiro do povo pobre”, disse. “Vanessa, se eu nunca tivesse te visto e alguém me pedisse para vim (sic) aqui e, eu soubesse que o teu adversário é quem é, eu não vou falar o nome em respeito a você, eu viria aqui te apoiar para derrotá-lo.”
E Virgílio: “Ele depreciou a candidata, pois deu mais importância a mim, querendo me derrotar. Não esperava outra coisa de um Lula rancoroso, que a ajudou com velhas manobras a tirar o meu mandato para chegar ao Senado.”
Lula tenta repetir agora o que fez em 2010, quando pegou em lanças para impedir que Virgílio retornasse ao Senado. Ajudou Vanessa a tomar a vaga do seu desafeto. Em ação que aguarda julgamento no TSE, o tucano acusa a rival de compra de votos. Ela nega.
O Ibope perscrutou a taxa de rejeição dos candidatos. A de Virgílio é maior que a de Vanessa. Disseram que jamais votariam nele 31% dos pesquisados. Declararam que não votam nela de jeito nenhum 21%.
Investigou-se também o cenário de segundo turno. Se a eleição fosse hoje, diz o Ibope, Vanessa prevaleceria sobre Virgílio: 43% a 39%. A margem de erro da pesquisa é de três pontos, para mais ou para menos.
 
(Publicado originalmente no blog do jornalista Josias de Souza, Portal UOL).

Carlos Nelson Coutinho: Morre o maior ensaísta marxista do Brasil. Uma perda e tanto.




Faleceu no dia de ontem, 20 de setembro, o maior ensaísta marxista brasileiro, Carlos Nelson Coutinho. O editor está preparando um texto em sua homenagem. Quando esteve no auditório do Mestrado em Ciência Política da UFPE, atendendo a um convite do amigo Michel Zaidan, causou um grande alvoroço entre os jovens estudantes, que lotaram o auditório para ouvir sua exposição sobre o marxismo, tema onde era insuperável, mérito reconhecido, inclusive, por intelectuais liberais. Depois da explanação, nos momentos de debate, um professor desencatando  teoria marxista, perguntou se o marxismo já não havia sido superado, uma vez que o homem, egoísta, estava se movendo dentro de uma perspectiva essencialmente instrumental, maximizando unicamente os seus interesses, bastante afastado dos projetos coletivos. Carlos respondeu então que uma pergunta precisava ser feita antes daquela: O que tornou os homens tão egoístas, se não o capitalismo? Uma indagação importante neste momento onde se discute tanto a sociedade de consumo.  

Daniel Coelho: Tsunami verde ou uma marolinha?


O caldeirão está fervendo e o garoto está inspirado, minha gente. Com a proximidade do dia das eleições, parece-nos que o fígado tornou-se o órgão de raciocínio dos jornalistas e colunistas. Nada que se afirme, neste momento, deixa de transparecer um certo posicionamento  ou tendência de externar uma opinião pessoal sobre o pleito, claramente favorável a este ou aquele candidato. Na Paraíba, por exemplo, os maiores críticos do IBOPE – que, por sinal, errou feio – são os partidários da candidatura da ex-secretária de Planejamento da Prefeitura de João Pessoa, Estelizabel Bezerra. No Recife, exageradamente, fala-se num tsunami verde capaz de “clorofilar” o Palácio do Campo das Princesas de preocupações quanto aos rumos da campanha de Geraldo Júlio. Naturalmente, um exagero. Evidente que a estratégia de campanha de Geraldo Júlio foi montada, conforme já discutimos, em torno de um enfrentamento com o PT. A subida de Daniel Coelho nas pesquisas, exigiu, por consequência, um reordenamento dessa estratégia, mas a situação  permanece sob controle. O governador Eduardo Campos não assinou nota em favor de Lula por temer a eventualidade de um segundo turno, onde precisaria do apoio do PT. O apoio do partido de Lula virá naturalmente, como tem se tornado uma prática, por imposição da Executiva Nacional. Num eventual segundo turno entre Daniel e Geraldo Júlio, a possibilidade de o PT apoiar o tucano de bico verde é remotíssima, a despeito das animosidades entre o partido e o PSB do governador Eduardo Campos. Nem o grupo mais ligado ao senador Humberto Costa abandonou o Palácio. É aqui onde se questiona as reais motivações e convicções dessa gente.

João Pessoa: o quadro está bastante embolado nessas eleições.


 
João Pessoa é uma das capitais onde as eleições estão emboladas. Acompanhamos atentamente tudo o que ocorre no cenário político daquela cidade, através das redes sociais e contatos diretos com alguns amigos, jornalistas, políticos e blogueiros. O cenário da disputa da capital muda constantemente, não raro, pregando algumas peças. Ora o candidato do PSDB, senador Cícero Lucena aparece bem posicionado, liderando as pesquisas, ora é o candidato do PT, Luciano Cartaxo, ora afirmam que uma velha raposa da política local, o ex-governador José Maranhão esboçou uma reação. Maranhão é um ator político conhecido do eleitorado de João Pessoa, o que não surpreenderia. Sempre manteve um bom percentual de votos na capital, o que se constitui um trunfo. Conforme já comentamos antes, quem não aparece bem – às vezes nem aparece, não é IBOPE? – é a candidata do governador, Estelizabel Bezerra ou, simplesmente, Estela Bezerra, por recomendação dos marqueteiros que cuidam de sua campanha. Certamente será uma das eleições mais disputadas entre as capitais do país. Hoje o governador Ricardo Coutinho acusou o atual prefeito, Luciano Agra, de estar apoiando o nome de Luciano Cartaxo, do PT. Ele aparece numa reunião entre servidores municipais e o candidato petista. Quem acompanha o Blog do Jolugue já conhece muito bem essa história. Agra, apesar de sua densidade eleitoral, foi preterido nas prévias do PSB e abandonou a legenda. Manteve a diplomacia até hoje. É um gentleman. Estelizabel foi um nome tirado do colete, não sabe por qual das quantas, levando o editor do Blog do Jolugue a afirmar que ela enfrentaria dificuldades na disputa. Mais um acerto em nossa contabilidade positiva. Luciano Agra não tem nenhuma obrigação com o PSB. Está na dele e tem o direito de manifestar suas preferências que, certamente, não recariam, por razões óbvias, sobr o nome de Estela. Esse arranjo político com o PT até nos surpreende, uma vez que o PT em João Pessoa, como de resto, é bastante dividido. Julgou-se que o PT apoiaria Estela, por um indicativo decidido pela Direção Nacional da Legenda, consoante acordos firmados em São Paulo, entre Lula e Eduardo Campos. Ali a agremiação deu uma prova de maturidade e independência, decidindo, em convenção, o lançamento de um candidato próprio. Na reta final da campanha, parece-nos que o gorvernador Ricardo Coutinho está vendo chifre em cabeça de cavalo. A verdade é que Estela não está se entendendo muito bem com o eleitorado da capital. Afinal, conforme afirmamos desde o início, eleição não é concurso de bumbum, onde a gente dá nota 10 sem ver a cara nem as propsotas. Os candidatos devem ser escolhidos mediante a análise fria de uma série de variáveis. 

 

 

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Charge!Paixão!

Paixão

Garanhuns: Silvino Duarte renuncia em favor de Izaías Régis


Depois de cometer algumas “lambanças” em relação ao pleito de Garanhuns, o PSB começou a acertar o passo na terrinha da garoa, apoiando o candidato do PTB, deputado estadual Izaías Régis. O lançamento da candidatura de Antonio João Dourado, prefeito de Lajedo, decidida ao apagar das luzes dos prazos estipulados pela Justiça Eleitoral pelos estrategistas do Campo das Princesas, mostrou-se um equívoco desde o início. João Dourado passou a ter uma rejeição estupenda, tornando-se inviável sua permanência no pleito. Diante das circunstâncias, o governador Eduardo Campos selou a paz com o PTB do senador Armando Monteiro e fechou com a candidatura de Izaías Régis. O pleito não está definido, não temos o dom da premonição, mas somente um grande tsunami tira a vitória de Izaías Régis naquela terrinha de friozinho gostoso. Agora nos vem a notícia de que o candidato do PSDB, Silvino Duarte, renunciou à sua candidatura para apoiar o deputado Izaías Régis. A avaliação da atual gestão da cidade não é das melhores e Izaías Régis, num estilo bem palaciano, vem prometendo implantar uma gestão bastante inovadora na cidade, aplicando-lhes um “choque de gestão”. 

Geraldo Júlio: Ele pode liquidar a fatura no primeiro turno.


A nova pesquisa realizada pelo Instituto Opinião e divulgada pelo Blog do Magno Martins caiu como pétulas de rosas no Palácio do Campo das Princesas. Pelos números apresentados pelo Instituto, que fez uma análise estatística dos números, Geraldo Júlio já reuniria as condições de liquidar a fatura ainda no primeiro turno. Em política tudo é possível e há de se considerar, inclusive, a ascendência do candidato do PSDB, Daniel Coelho, fato também confirmado nessa última rodada de pesquisa do Instituto. Em todo caso, tudo parece caminhar dentro das expectativas dos coordenadores de campanha do socialista. Diante do quadro desfavorável enfrentado pelo PT nessas eleições, Lula, que não é nada bobo, tratou logo de selar a paz com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Num eventual segundo turno, onde o PT não estiver em litígio com o PSB, a recomendação é a de que a agremiação apóie o candidato dos socialistas, de acordo com costuras entre os grãos-mestre das duas legendas. Aqui, se houver um segundo turno sem a presença de Humberto, é quase certo que o partido desarme-se. A possibilidade de um apoio ao PSDB, embora exista, é muito remota.

Fernando Haddad: O quadro eleitoral ainda é complicado em São Paulo


 
Ao fazermos um comentário no, dia de ontem, sobre as eleições paulistas, informávamos sobre o clima de otimismo do PT diante de uma possível reação nas pesquisas do candidato Fernando Haddad. Como política é (prefiro são) como as nuvens, como aconselhava uma velha raposa da política mineira, logo esse otimismo foi convertido em apreensão pelo staff de campanha do ex-ministro da Educação do Governo Lula. O Instituto Datafolha veio à boca do palco para informar que não há o que comemorar. Apesar do impulso do último final de semana, Haddad perdeu alguns pontinhos e aparece com 15% das intenções de voto, enquanto seu principal oponente, José Serra, pontua em torno de 21%, mantendo-se com certa estabilidade. Na realidade, no cenário de hoje, o que Haddad disputa é quem vai para o segundo turno com Celso Russomanno. Na verdade, numa análise objetiva dos números, sem a emoção dos petistas, não havia mesmo o que comemorar. O levantamento do Vox Populi, a pedido do PT, indicou uma ligeira vantagem de Haddad sobre Serra, não superior a um ponto percentual, ou seja, Haddad aparecia com 18% enquanto Serra pontuava com 17% das intenções de voto. Se consideramos a margem de erro, algo em torno de 3%, Haddad poderia, inclusive, como sugere o resultado do Datafolha, ainda não ter superado Serra. Na praça paulista o PT trava sua batalha campal, conforme já informamos. Pretende-se ali, salvar a jóia da coroa do partido. Desbancar o PSDB do seu ninho mais emplumado, já faz algum tempo, tornou-se uma idéia fixa para Lula. As circunstâncias da “fadiga de material” estão ajudando o PT nessa empreitada. O que eles não contavam (ops) era com o elemento novo no imaginário coletivo do eleitor paulista, hoje muito mais identificado com Celso Russomanno. Como afirmou o jornalista Josias de Sousa, no seu blog do portal Portal UOl, um ex-azarão, posto que favorito para vencer o pleito paulista, no momento, apesar dos problemas já apontados pelo editor do Blog do Jolugue. Um outro fato que pode ser identificado com a pesquisa do Instituto Datafolha, é preciso entender, entretanto, que ela possivelmente foi realizada antes do “impulso” do Centro de Tradições, é que é dúbio concluir que a entrada de Marta Suplicy na campanha opere o milagre da reversão do quadro. Conforme já afirmamos, o Planalto fez uma aposta demasiada na capacidade de transferência de votos da senadora.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Flagrante Tumblr!!!




Pintor verdadeiro, ave da Mata Atlântica.

Le Monde Diplomatique: Os mistérios do Partido Comunista Chinês

“Depois do 18º Congresso”... Qualquer solicitação de encontro com os dirigentes do Partido Comunista Chinês (PCC) suscita essa resposta. Mesmo os mais eloquentes escolhem a discrição, enquanto esperam o oráculo do congresso, em outubro. O que acontece no lado oeste da Cidade Proibida, atrás dos muros vermelhos?
por Martine Bulard
(Estudantes formam a bandeira do Partido Comunista Chinês durante a celebração de seu 90° aniversário)
 
No bairro de Weigongcun, na ampla calçada que liga Renmin Daxue – a Universidade do Povo, uma das mais velhas de Pequim – à estação de metrô com o mesmo nome, a municipalidade instalou um terminal eletrônico, com tela tátil e sistema interativo, que permite se localizar na cidade. Ao lado desse terminal, telas vermelhas onde desfilam textos do Partido Comunista Chinês (PCC), foice e martelo bem visíveis, com fotos de trabalhadores merecedores e de dirigentes-modelo. A última palavra em tecnologia para se localizar na política comunista? Parece pouco provável que os grupos de estudantes, frequentemente ligados nas novidades da moda – neste mês de junho, short sexy ou minissaia para as meninas, camisa ajustada ou camiseta com inscrições em inglês para os meninos –, captem a mensagem. Assim vai a China, onde a modernidade mais recente convive com os métodos mais arcaicos.
O 18º Congresso do PCC, que será realizado “no segundo semestre de 2012”, segundo o comunicado oficial, reflete esse paradoxo. O partido único que dirige a China desde 1949 imaginou um sistema de renovação das direções centrais. Os mais altos responsáveis pela organização e o Estado (o secretário-geral, que também é presidente da República, o primeiro-ministro e o presidente da Assembleia Nacional Popular) devem se contentar com dois mandatos e não podem governar mais de dez anos. A idade-limite para os membros das instâncias nacionais (comitê central, escritório político, comitê permanente) foi fixada em 68 anos.
O ano de 2012 vai, então, ver uma das maiores mudanças de dirigentes jamais operada num país que se diz comunista. Dos nove membros do Comitê Permanente do Escritório Político (CPEP),1 o coração do povo chinês, sete serão substituídos; 60% a 65% dos titulares das cadeiras do Comitê Central deverão também ceder seu lugar. Sob quais critérios serão designados os promovidos? Boca de siri. Lembrando o clima do tempo da Cidade Proibida, a sucessão no seio do PCC se prepara no maior segredo, empregando obscuros jogos de poder, intrigas maquiavélicas, alianças e golpes baixos.
A mais de 2 mil quilômetros dali, em Cantão, Yuehui (vamos chamá-la assim para evitar que ela tenha problemas), short jeans, corpete de seda, cabelos longos e maquiagem bem estudada, parece com todos os jovens vindos de classes médias, tranquilos na vida, confortáveis nas discussões. Mesmo que seus amigos se recusem a falar de política, Yuehui hesita, mas depois se solta com boa vontade.
Mãe professora, pai funcionário público, ela termina seu mestrado em Direito na prestigiosa Universidade Sun Yat-sen, onde a encontramos. Como seus pais, ela é comunista. “O partido constitui uma espécie de fraternidade, uma rede para ser bem-sucedido”, explica logo de início. “Um pouco como uma associação profissional.” Digamos que isso representa uma garantia que vai ajudá-la a encontrar um bom emprego, com promoção assegurada. Depois de uma pausa, ela precisa, enrubescendo: “Eu sonhava me tornar comunista desde a adolescência”. Como a maioria dos jovens chineses, ela era membro da organização da juventude. “Quando fui escolhida pela direção do partido porque era uma excelente aluna, fiquei muito feliz. Foi como uma recompensa. Uma festa.”
Cinco anos depois, o entusiasmo desapareceu. “Se tivesse de fazer tudo de novo, eu não faria. Isso me criou muitas obrigações. Tenho de ir a inúmeras reuniões, o que toma tempo.” As organizações de base, normalmente em repouso, foram muito solicitadas nesses últimos meses por causa da deflagração engendrada pela destituição de um dirigente conhecido, Bo Xilai, o que trouxe luz às divisões no seio do PCC. “Mas principalmente”, continua Yuehui, “eu tenho de seguir as respostas dadas pelo partido. Não sou livre para dizer o que penso. Isso me pesa, pois tenho uma grande independência de espírito.”
Claro, formalmente ninguém proíbe que ela se afaste do discurso oficial. Mas ela seria então obrigada a se explicar e enfrentar os “camaradas” encarregados de convencê-la e de trazê-la de volta para o bom caminho.
Devolver a carteirinha e virar a página? Impossível. Isso revelaria um tipo de renegação política. Talvez ela pudesse se distanciar se abandonasse seu bairro: bastaria não dar mais sinal de vida. Mas, se ela se tornar funcionária pública ou trabalhar numa empresa estatal, não escapará das diretivas. Como explica um veterano que lamenta a situação: “Não somos obrigados a acreditar: vamos às reuniões, fechamos o olho e continuamos...”.
De fato, é mais difícil sair do partido do que entrar. Em geral, é o secretário (da escola, do bairro, da empresa, da cidade) quem seleciona os que ele estima dignos de unir-se. Se, por acaso, perde-se a etapa do colégio ou da faculdade e se considera útil para a carreira poder empunhar a foice e o martelo, pode-se preencher uma solicitação de adesão, com a condição de ser apadrinhado e aceitar diversas investigações sobre sua atividade profissional assim como sua vida pessoal.
Acesso precioso
No total, entre 2007 e 2012, mais de 10 milhões de pessoas juntaram-se ao PCC. Essa estrutura conta oficialmente com 80,6 milhões de membros – quase o equivalente à população alemã. Um quarto deles tem menos de 35 anos, e a metade, entre 36 e 60, segundo as estatísticas oficiais. Paradoxo: enquanto os dirigentes comunistas (locais, sobretudo) nunca foram tão abertamente criticados pela população, nunca houve tantos candidatos à adesão. É porque a carteirinha representa um acesso precioso para os jovens (pelo menos para os que não são ricos) e uma garantia de tranquilidade para o partido, que espera assim melhor controlar a sociedade.
Os filhos e filhas de comunistas têm vaga garantida, assim como os intelectuais e os jovens diplomados, antes chamados “pequenos burgueses”, enquanto hoje se estende para eles o tapete vermelho. Trata-se de construir o “partido da excelência”, segundo expressão muitas vezes ouvida. Partido e Estado sendo uma coisa só, o país precisa de pessoal formado. A constituição da elite privilegia o recrutamento nas universidades chinesas ou estrangeiras – um percurso cada vez mais realizado. Mas isso não dispensa as escolas do partido.
Quando se ocupam cargos importantes, na província ou na escola central, a passagem pelos bancos dessa instituição política suprema é obrigatória. Os novos mandarins vão se iniciar nos refinamentos do marxismo à chinesa e nas sutilezas da política do momento, ao mesmo tempo que adquirem competências de alto nível em matéria de administração pública. Nos mesmos locais coexistem às vezes, como em Xangai, a escola vermelha nascida com a Revolução e a escola administrativa nascida com as reformas dos anos 1980, equivalente à Escola Nacional de Administração (ENA) francesa.2 Os professores chineses e estrangeiros mais reputados são convidados a dar aula ali; a escola de Cantão se vangloria de ter feito vir os maiores economistas norte-americanos. As demonstrações em PowerPoint que seduzem todo tecnocrata que se preze são abundantes. O acesso à internet é livre. Nenhum livro estrangeiro, nem mesmo o mais crítico, é proibido. Enfim, quando se trata de formar sua elite dirigente, o partido aposta alto.
Apesar de nossas solicitações, não foi possível ultrapassar as portas da escola central de Pequim, dirigida por Xi Jinping, o futuro número um do país. Mas dois jornalistas do China Daily, Chen Xia e Yuan Fang,3 mergulharam nesse universo particular onde está reunida a cúpula comunista, vinda de prefeituras, províncias e de Pequim. Na primeira semana, os alunos, apartados do mundo – “até mesmo os secretários e os motoristas devem esperar do lado de fora da escola”, observam os autores –, passam por “testes para avaliar seu nível de conhecimento teórico – incluindo as bases do marxismo”. Depois eles são divididos em grupos que assistirão a cursos sobre assuntos diversos: história do partido, religiões, questões das minorias, luta contra a corrupção, prevenção do HIV/aids... Todos se encontram para discussões nas quais cada um é convidado a dar sua opinião na maior liberdade. Mas a hierarquia permanece: os alunos de baixo escalão (prefeitura) não estudam, nem comem, nem dormem com os que já exercem funções na província ou na capital.
Na escola, escrevem Chen e Yuan, existe uma classe especial, composta de executivos com idade entre 45 e 50 anos que formarão a “futura coluna vertebral do governo” e que, em geral, assistem aos cursos durante um ano. Se os três primeiros meses são consagrados à leitura dos clássicos, como O capital, de Karl Marx, ou o Anti-Dühring, de Friedrich Engels, os pensionistas recebem uma formação aprofundada sobre todas as questões governamentais: sistema legislativo, elaboração de orçamento, controle das finanças, política estrangeira, administração, direção e gestão de pessoal, mas também erradicação da corrupção, métodos de administração de conflitos... Vemos assim uma profissionalização muito avançada dos dirigentes.
Prêmio à docilidade
A escola também serve de corredor de seleção. O muito poderoso departamento da organização central, que tem o controle dos negócios do partido, das nominações aos cargos do governo, das mídias (com o departamento de propaganda), das universidades e das empresas estatais, “envia frequentemente emissários que assistem aos cursos e participam das discussões”, precisam os dois jornalistas, “a fim de identificar os melhores estudantes da turma para uma futura promoção. Um professor nos revelou que, um dia, um estudante que tinha sido suspenso por mau comportamento em sala de aula [...] viu sua carreira política chegar ao fim”. Equivale a dizer que os aspirantes a altas responsabilidades devem pensar duas vezes antes de esboçar uma opinião crítica.
“Isso não mudou; ainda se premia a docilidade”, suspira coberto pelo anonimato um executivo do PCC em atividade que aceitou nos encontrar, há alguns meses, em Pequim. Ele lembra que oficialmente os critérios para avançar na carreira são definidos: não menos que setenta itens,4 entre os quais o nível de estudos, o tempo de casa e, quando se exerce uma função de responsabilidade, os resultados obtidos, por exemplo, em matéria de investimentos ou qualidade do ar. Sem esquecer a famosa “estabilidade”: qualquer problema à ordem pública que tenha um eco nacional provoca notas baixas e freia a carreira. Na ausência de transparência, o arbitrário domina... e a reprodução de uma elite formatada se perpetua.
“Depois da abertura e até o meio dos anos 1990, uma pessoa que estava abaixo na escala podia crescer se tivesse um trabalho. Hoje, não é mais possível”, garante Yang Jisheng, economista e ex-diretor da agência de imprensa Xinhua (Nova China) para questões internas. Num grande café um pouco envelhecido, para além da quarta avenida periférica ao sul de Pequim, ele nos conta a aventura do livro Análise das classes sociais na China,5 publicado em Hong Kong (e, portanto, difundido debaixo do pano), depois no continente, onde foi proibido duas vezes antes da edição atualizada de 2011. O autor, ainda comunista, nunca se preocupou, mesmo que tenha posto o dedo na ferida de uma das falhas do sistema: a constituição de uma classe de herdeiros.
Segundo ele, “não há mais mobilidade social. Essencialmente, as vagas são reservadas para os filhos dos altos funcionários, que são mais bem-educados. Para a geração que nasceu após as reformas, pode-se dizer que há uma reprodução das camadas sociais: os filhos dos altos funcionários do partido e/ou da função pública vão se tornar altos funcionários; os filhos dos ricos vão se tornar ricos; os filhos dos pobres vão continuar pobres”. O que poderia parecer banal no Ocidente é com frequência vivido como algo insuportável num país que se reclama do “poder do povo” e do “socialismo”, ainda que no estilo chinês.
De fato, os “filhos de príncipes” – os filhos dos dirigentes históricos do partido (taizi dang) – ocupam cargos no seio do aparelho (um quarto dos membros atuais do escritório político), mas estão principalmente na chefia de grandes grupos públicos ou semipúblicos. Diz-se que estão em competição com os dirigentes vindos de famílias mais modestas, que fizeram carreira na organização da juventude, os tuanpai, representados pelo atual presidente Hu Jintao e seu primeiro-ministro, Wen Jiabao. O futuro presidente, Xi, filho do antigo braço direito de Zhou Enlai, pertence à primeira categoria, enquanto Li Keqiang, pretendente ao posto de primeiro-ministro, faz parte da segunda.6
Uma luta de classes no seio do PCC? Se existem correntes de pensamento – não oficialmente reconhecidas –, as diferenças não parecem mais sobrepor às origens dos chefes de cada fila. Antes de ser expulso da cena pública, Bo, então patrão da cidade-província de Chongqing (32,6 milhões de habitantes) e filho de um dos dirigentes históricos da Revolução, era o pregador dos direitos sociais para os operários-camponeses (mingong)e o inimigo declarado dos promotores, mas também o campeão de processos expeditivos, que pouco se importavam com os direitos humanos. A 1,5 mil quilômetros dali, o chefe do Guangdong, onde se introduziram as grandes empresas exportadoras, Wang Yang, que não nasceu com a foice e o martelo debaixo do braço, se tornou o apóstolo do liberalismo econômico ao pregar a abertura política e as liberdades públicas. Vemos assim como é perigoso analisar a sociedade chinesa com as referências políticas do Ocidente: reformador ou conservador, direita ou esquerda – ainda que alguns, entre os quais encontramos tanto nostálgicos de Mao Zedong quanto intelectuais defensores dos direitos sociais, gostem de se qualificar como “nova esquerda”.
As diferenças podem até ser resolvidas pela violência (simbólica), como no caso Bo. Tendo adquirido uma reputação de destruidor da corrupção, o secretário comunista de Chongqing, acusado de corrupção e nostalgia maoísta, foi pura e simplesmente destituído por Pequim. “O risco de um retorno da Revolução Cultural existe”, insistiu o primeiro-ministro Wen.
Fim da nostalgia
Essa versão oficial é frequentemente questionada nas discussões privadas. Desde que o partido estabeleceu o ato de acusação – e não uma justiça independente –, fica difícil desembaraçar a verdade da mentira. No entanto, a corrupção está tão profundamente entranhada na China que não é inimaginável que o dirigente de Chongqing pudesse substituir um clã por outro para seu próprio lucro. Mesmo assim, é incontestável que ele recolocou em voga os “cantos vermelhos”. Mas daí a concluir que ele queria retornar aos piores momentos do maoísmoe dos guardas vermelhos seria um passo grande demais. “Isso não faz o menor sentido”, afirma Yan Lieshan, um dos redatores-chefes do jornal de Cantão Nanfang Zhoumo. Esse sexagenário aposentado, mas ainda ativo, que nos recebe no espaço de um grupo de imprensa conhecido por suas investigações minuciosas, afirma: “Alguns comportamentos podem lembrar a época da Revolução Cultural. Mas, desde então, a população aprendeu; ela está mais educada, com o espírito mais aberto. Não pode haver um passo atrás”.
Historiador da arquitetura da Universidade Sun Yat-sen e especialista nas representações ligadas à Revolução Cultural, o professor Feng Yuan, nascido na época da loucura maoísta, em 1964, não tem claramente o hábito das meias palavras: “Pode haver nostálgicos entre os mais antigos. Mas é algo marginal. Por outro lado, para os jovens, as referências a Mao refletem duas realidades: o descontentamento que não encontra um caminho para se expressar nem se resolver, com a impressão de que ontem a sociedade era mais igualitária e menos rude; e a insuficiência do olhar crítico sobre esse período”. O julgamento oficial sobre Mao Zedong e seu reino se resume sempre à fórmula lapidar: 70% bom, 30% ruim, e os estudos críticos têm dificuldade para se espremer num caminho. Feng sabe bem disso, pois acabam de proibir um de seus artigos sobre esse período numa obra que recupera seus cursos. E entende-se que ele reclama um trabalho histórico integrado, preservado de qualquer instrumentalização – mesmo que seja pela boa causa...
O escândalo Bo não teria, certamente, tomado a proporção que tomou se os debates fossem livres e as correntes reconhecidas, como, inclusive, tinha sido prometido pelo presidente Hu no começo de seu segundo mandato. O compromisso foi esquecido, mas o enfrentamento ideológico no seio do aparelho não é menos explosivo. Ele repousa essencialmente no papel do Estado (e do partido), assim como no conteúdo das reformas sociais e políticas.
E o socialismo de mercado à chinesa nisso tudo? “É uma aplicação criativa do marxismo em via de desenvolvimento”, pode-se ler na brochura oficial O que você sabe sobre o Partido Comunista Chinês?.Claro, nenhum comunista retoma para si esse pensamento fossilizado. Mas o problema continua lá. Especialista em relações sociais na empresa, o professor He, que navega entre Cantão e Nova York, reconhece que “entre o capitalismo norte-americano e o chinês não há realmente diferença”; mas na China, diz ele “tentamos melhorar a vida dos operários e dos camponeses – é congênito”. Isso não é flagrante e, de qualquer forma, é um pouco curto para definir o socialismo. Sem dúvida, isso explica a valorização de uma ideologia de substituição: o confucionismo.
Liu Jinxiang, ex-prefeito-adjunto de Cantão encarregado das finanças, concorda. “Se por socialismo entendemos mais igualdade, então a Suécia é mais socialista que a China. Aqui, muitos aspectos da velha sociedade perduram. As pessoas não sabem mais muito bem para onde ir. Não temos mais critérios. Não temos mais modelo. Como qualificar nosso sistema? Economia de mercado, socialismo, capitalismo de Estado... nenhum desses conceitos permite realmente defini-lo. É por isso que reina tamanha confusão sobre a direção a seguir. Devemos dar início a um grande trabalho teórico. Podemos considerar que estamos na fase do capitalismo de Estado como um meio para construir uma sociedade socialista, onde cada indivíduo teria mais espaço.” O objetivo é louvável, mas não vemos mais nos trabalhos preparatórios do congresso do PCC o menor esboço de uma mudança de planos.

Martine Bulard é redatora-chefe adjunta de Le Monde Diplomatique (França).

Ilustração: China Daily / Reuters

 
1 Depois do congresso, o CPEP pode contar não mais com nove, mas com onze membros.
2 Ler Emilie Tran, “École du parti et formation des élites dirigeantes en Chine” [Escola do partido e formação das elites dirigentes na China], Cahiers Internationaux de Sociologie, n.122, Paris, 2007.
3 Chen Xia e Yuan Fang, “Inside the Central Party school” [Por dentro da escola do Partido Central], China Daily, Pequim, 5 maio 2011. Disponível em: www.china.org.cn.
4 Cf. Richard McGregor, The party [O partido], HarperCollins, Nova York, 2010.
5 Somente em chinês.

31 de Agosto de 2012

Haddad supera Serra na disputa pelas eleições paulistas


Haddad, finalmente, de acordo com pesquisas internas encomendadas ao Instituto Vox Populi, ultrapassou José Serra na corrida pela prefeitura de São Paulo. Pelo Vox, o candidato petista aparece com 18%, enquanto José Serra mantém estáveis 17%. Não há muito o que comemorar. O PT torcia por uma subida mais acentuada de Haddad, sobretudo depois dos últimos impulsos motivados pela adesão de Marta Suplicy à sua campanha. Conforme afirmamos, é bastante temerável acreditar que piamente na capacidade de transferência de votos da senadora. Celso Russomanno segue firme na dianteira e nem toma conhecimento dos adversários. Neste contexto, a luta fratricida deve-se dar mesmo sobre o seu oponente no segundo turno, se Serra ou Haddad. Em certos aspectos, ao propor um grupo de “menudos” para disputar eleições na capital paulista e em torno do seu cinturão, Lula acertou, pois parecia antever a “fadiga de material”, algo preocupando muita gente nessa campanha, inclusive próceres petistas. Ele só não poderia prever que o “novo”, nas eleições paulistas, pode estar sendo mais identificado com o candidato Celso Russomanno.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

CAFÉ FILOSÓFICO - O QUE PODEM OS AFETOS? 04/07


PMDB vai bem em Petrolina e começa a esboçar uma reação em Olinda.


Petrolina é uma cidade importante onde o PMDB disputa com reais chances de êxito. O atual prefeito, Júlio Lóssio, disputa a reeleição ancorado numa administração bem avaliada pela população, com alguns programas muito bem-sucedidos, inclusive em áreas estratégicas, como educação.  O PSB aposta todas as fichas numa possível reação do filho do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Filho. Uma derrota ali representa mais uma refrega para o Campo das Princesas e, muito em particular, para o ministro Fernando Bezerra. Isso não seria o fim do mundo. Afinal, como o PSB está se tornando um partido catch all, dependendo de algumas variáveis, não seria surpresa se Eduardo, num futuro, viesse a compor com o Júlio Lóssio. Afinal, em Pernambuco, o principal nome da agremiação, Jarbas Vasconcelos, já saboreia bolo de rolo com o governador nas sombras do baobá do Campo das Princesas. Coisas menos prováveis já ocorreram na política pernambucana. Outra cidade importante onde o PMDB esboça uma reação é em Olinda, com Izabel Urquiza. Quando resolveu desmontar o palanque em Recife, Raul Henry colocou à disposição da companheira de agremiação alguns nomes do seus staff político, entre os quais, o professor Pierre Lucena, que cuida dos programas televisivos da candidata. Em razão da “fadiga” de Renildo Calheiro, as últimas pesquisas indicam uma subida acentuada da candidata do PMDB. A aliança montada por Renildo é bastante ampla e conta com o apoio de alguns caciques da política pernambucana, mas sua administração não é muito bem avaliada pela população do município. Izabel, uma funcionária da Caixa Econômica, é verde em disputas, mas pode surpreender.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Veja: Matéria sobre as confissões de Marcos Valério é frágil.


 
A matéria da revista Veja desta semana está rendendo panos para as mangas. Muita tinta já foi gasta sobre o assunto, repercutiu bastante nas redes sociais e os partidos de oposição já se movimentam no sentido de propor uma representação contra o ex-presidente da República. Na realidade, Marcos Valério não concedeu nenhuma entrevista à revista, que fez uma compilação de possíveis confissões do operador do Mensalão a amigos e parentes. Como preservo muito a liberdade de opinião, publicações como a Veja ocupam o mesmo espaço em nosso blog que semanários de corte mais progressista. Não há nada de novo na matéria, entretanto. Durante algumas semanas, por ocasião da eclosão da crise do Mensalão, uma das maiores preocupações da revista foi a de envolver o ex-presidente no esquema. Algumas de suas capas já afirmaram o que, supostamente como fato inédito, ela traz nesta edição, ou seja, a de que Lula sabia do esquema. A matéria é frágil e “requentada”. Nestas condições, portanto, exige-se cautela, conforme sugerem alguns próceres mais ponderados da oposição como o senador Aécio Neves e Roberto Freire. Apesar de calejada em jornalismo, a revista comete alguns equívocos sim. Um dos mais recentes foi o “atropelo” jurídico ao investigar a atuação, em Brasília, do ex-ministro José Dirceu, onde a publicação teria extrapolado o seu papel. Canja de galinha, galera!

A fadiga do poder e o julgamento do mensalão estão prejudicando o PT nessas eleições.


Além da fadiga do exercício do poder, o julgamento do Mensalão, certamente, está trazendo alguns prejuízos para o PT nessas eleições municipais. Hoje o partido aposta todas as fichas nas eleições paulistas, com o objetivo de eleger o ex-ministro, Fernando Haddad, prefeito da capital. Entregaram mais um ministério ao PT paulista, trazendo Marta de volta à campanha, numa avaliação equivocada sobre a sua capacidade de transferir votos para o candidato. As eleições paulistas, no entendimento de grãos-petistas, pode salvar a jóia da coroa, ou, no mínimo, atenuar o vexame. para completar o enredo, uma possível condenação de José Dirceu sairá antes das eleições. O quadro ainda não está definido e Haddad esboça uma reação, apesar da folgada dianteira do candidato do minúsculo PRB, segundo dizem, com o apoio da Igreja Universal. O candidato nega, mas o principal executivo da Record já esteve no Planalto pedindo a Dilma que não se envolvesse no confronto. Dilma, naturalmente, retrucou e ontem esteve no mega comício pró-Haddad, em São Paulo. O que pode reverter o quadro, na realidade, como já afirmamos, são as ponderações e a maturidade do eleitorado paulista que, acreditamos, não colocaria no Edifício Matarazzo alguém com o perfil do deputado Celso Russomanno. Apesar do desgaste do PT, o ex-ministro da Educação é um homem limpo, que honra sua vida pública. I hope so, galera!!!

Flagrante Tumblr!!!



Still life with plants and fruit
William Bowyer

domingo, 16 de setembro de 2012

Eduardo e Lula juntos: de olho nas aleições de 2014.


 
Com muita antecedência, escrevemos um artigo que antecipava as dificuldades que o PT enfrentaria nas eleições municipais do Recife em 2012. Nem  sempre acertamos, mas o saldo é positivo em nosso favor. O artigo causou enorme polêmica, com algumas nuances que preferimos não comentar. Em nossas postagens já antecipamos que o PT não vira o jogo em praças estratégicas para o partido, como Recife, Salvador, Fortaleza e Belo Horizonte. Em Salvador teremos a volta do neto do “demônio” Toinho Malvadeza, cacique daquelas terras por longas datas. Em Fortaleza, quem teve a oportunidade de ler o Blog do Jolugue hoje, pode verificar a “imagem” do candidato petista junto aos eleitores, numa pesquisa realizada pelo portal O Povo, conveniado com o Datafolha. Em Belo Horizonte, Márcio Lacerda dispara nas pesquisas e nem toma conhecimento do candidato Patrus Ananias. Alí, inclusive, o Planalto fez um péssimo negócio, ao firmar uma parceria com o PMDB, onde teria ficado acertado a entrega do Ministério dos Transportes ao partido. No Recife, então, as coisas apenas se complicam para o PT. Durante debate na Rádio Jornal, ontem, o senador Humberto Costa tentou jogar no colo de Geraldo Júlio a herança maldita do PT no Recife, associando o partido à gestão de João da Costa, numa manobra equivocada sob todos os aspectos. É claro que o partido participou da gestão, mas em nenhuma hipótese, pode-se creditar oa partido os equívocos cometidos. Ao contrário, Geraldo poderia até argumentar nesse sentido, quando o vice Milton Coelho substituiu João da Costa, conseguiu imprimir um rítimo novo à gestão. Como já afirmamos, no Recife, a cúpula petista jogou a toalha. O convite a Eduardo Campos para o comício de Fernando Haddad, em São Paulo, é uma sinalização clara de que Lula pegou sua boia, ciente das dificuldades inevitáveis que enfrentará com o naufrágio da agremiação. Entre mortos e feridos, salva-se o apoio do PSB ao projeto do casal presidencial Lula/Dilma, de olho nas eleições majoritárias de 2014.Lula é maior do que o PT.

Estela pretende reurbanizar o Bairro São José respeitando as necessiades dos moradores

 



A candidata a prefeita de João Pessoa, Estela Bezerra (PSB) afirmou que entra de peito aberto no Bairro de São José, em caminhada na manhã deste sábado (15), por conhecer e andar pelo bairro desde os 19 anos, conhecendo as necessidades e a realidade da região. “Eu sou a única candidata que apresenta no guia e no programa de governo o compromisso de urbanizar inteiramente o Bairro de São José, construindo 1048 casas para as pessoas que moram nas áreas que alagam durante o período de chuva, respeitando as casas e os comércios que funcionam bem e que não têm problema de infraestrutura”, disse.
Ela também garantiu três pontes de acesso ao bairro de Manaíra e que é preciso fazer um reforma total no sistema de esgoto. “Não adianta dizer que vem limpar, que vem desobstruir, o esgotamento sanitário está acima do nível das casas, ele precisa ser refeito. Não é uma obra rápida, vamos começar o governo em 2013 e passar no mínimo três anos procurando resolver esse problema”, afirmou.
A dona de casa Maria José da Silva mora no Bairro de São José há 11 anos e já perdeu diversas vezes os móveis e eletrodomésticos por causa das enchentes. “Ninguém veio aqui resolver o problema desse rio, espero até hoje”, disse. Entretanto, ela acredita que Estela será uma ótima prefeita. “Claro que ela vai resolver esses problemas, ela é mulher e a sensibilidade dela vai fazer com que ela resolva esses problemas”, afirmou.
Durante a caminhada, a população recebeu um informativo específico com as propostas de Estela para o Bairro São José, contendo um texto que ela fala diretamente para os moradores sobre a verba de mais de R$ 200 milhões, disponível para a urbanização do bairro. “Meu compromisso é não perder o maior recurso que João Pessoa conquistou. Meu compromisso é realizar a proposta aprovada por vocês, uma proposta que traga dignidade e mantenha a comunidade unida”, garantiu Estela.
As principais propostas da candidata no São José incluem a construção de um Centro de Referência em Educação Infantil (CREI), uma escola padrão com quadra poliesportiva, quarenta pontos de comércio, praça, parque linear e ciclovia, tornando a área atrativa para lazer e atividades do dia a dia.

Fonte: assessoria com www.politicapb.com.br

sábado, 15 de setembro de 2012

Em artigo, Numeriano protesta contra exclusão do debate da Rádio Jornal

Em artigo, Numeriano protesta contra exclusão do debate na Rádio Jornal


Flora Matos/ JC Imagem
O Império do Mal

Na manhã de hoje, dia 15, fomos expulsos do estúdio da Rádio Jornal do Commercio, na metade do debate que a emissora promovia com os candidatos "mais bem colocados" (um eufemismo politicamente hipócrita que as empresas estão usando para, na prática, cercear o direito de opinião e expressão). Estávamos lá, mais uma vez, por força de uma liminar concedida em primeira instância pela Justiça Eleitoral. Estávamos lá mas sabíamos que os donos da voz e da imagem (ou seja, os proprietários da empresa) estavam lutando, na segunda instância do TRE, para cassar a liminar. Conseguiram, é claro, baseados na mesma interpretação estúpida e reacionária de um desembargador que usou o argumento (falseado), alegando que o candidato do PCB, Roberto Numeriano, não poderia participar do debate porque seu partido não tem representação parlamentar em nível federal. Ocorre que essa decisão do mau Direito (e do Direito mal), assim como a do advogado da OAB que cassou a liminar, sub-repticiamente "esquece" que se trata de uma coligação de partidos, na qual esses entes deixam de existir individualmente para constituírem um novo ente que, enquanto durar o pleito, estará sob as regras e leis do pleito de modo absoluto, unificado na forma de frente ou outro nome que o individualize.

Faz tempo que a política está sendo judicializada por gente togada cheia de presunção, reacionária à crítica (sobretudo se esta for de esquerda), mas sempre muito próxima de palácios executivos. Faz tempo que a política está sendo reduzida a um jogo podre, autoritário, sob o domínio de grupos econômicos que, não contentes em submeter a cidadania social e política (por meio do domínio das máquinas públicas), cria nos laboratórios do mal que são esses grupos de marketing político seres estranhos - que aceitam mentiras ditas em seus nomes, que se submetem a imperadores e suas mistificações políticas e ideológicas.

Estou na política desde os 21 anos (não cai de gabinetes refrigerados supostamente competentes). Fiz carreira profissional como jornalista, professor de jornalismo e servidor público. Desde 84, ainda sob a ditadura militar, combati pela democracia, pelo voto direto para a Presidência, contra a censura etc. Mas nunca imaginei que, no Recife (uma terra de tradição libertária com nomes de vulto como Frei Caneca, Tobias Barreto e José Mariano), eu sofreria uma humilhação pública quando debatia, com os demais candidatos. Pois fui, de modo ostensivo, "convidado" a sair do estúdio por um funcionário que parecia estar especialmente incomodado com nossa presença (o dito cujo, que nem recordo o nome, deve possuir metade das ações do Grupo JCPM para tentar nos intimidar daquele jeito). Disse para ele ficar calmo, pois estava ali por força de um direito que me foi concedido, e que, como esse direito foi cassado (por essas venalidades a que se presta o Direito com suas tantas brechas que dão espaço, em geral, para decidir conforme o poder de quem manda), eu iria embora.

Quando saía, me lembrei do governador Miguel Arraes, que, tenho certeza, se ali estivesse como meu adversário, certamente, em solidariedade, sairia dessa "festa pobre que os homens armaram só pra me convencer". E lembrei, a seguir, do imperador de Pernambuco, o governador Eduardo Campos, que, certamente, do alto do seu Império do Mal, esfregou as mãos diante dessa arbitrariedade das "tecnicalidades jurídicas". Afinal, com a voz cerceada e amordaçada, sou menos um para criticar publicamente, sem rabo preso com esquemas ou papas na língua, as magias desse grande embuste social, político e econômico que é Pernambuco e seu governo, o Império do Mal. Certamente, se fosse um espaço público, eu jamais sairia (a não ser que me arrastassem preso). Trata-se de uma empresa privada, como qualquer outra que tem concessão pública (ou seja, minha e sua) para funcionar. Trata-se de uma empresa que usufrui de um direito e garantia fundamental pelo qual o meu Partido, o PCB, que tem 90 anos de história, lutou, sobretudo depois do golpe militar de 64. Centenas de militantes do PCB foram mortos, desaparecidos, torturados e perseguidos para conquistar um regime democrático. Hoje, o poder do capital privado impõe quem você deve ouvir. Discrimina, fascista e autoritariamente, quem merece cobertura igualitária, quem deve ficar no limbo político, quem vai ficar "invisível" na campanha.

Não bastasse isso, continuo recebendo denúncias sobre pesquisas eleitorais (feitas por dois grandes e famosos institutos), cujas perguntas por telefone são assim: "Se a eleição para prefeito fosse hoje, o senhor votaria em quais desses quatro candidatos mais bem colocados em pesquisas anteriores?" E então o "pesquisador" relaciona os nomes de Geraldo Júlio, Humberto Costa, Daniel Coelho e José Mendonça. É fato que temos baixa intenção de voto, mas é preciso denunciar as fraudes político-ideológicas e o poder arbitrário, seja na área jurídica, nas empresas privadas e por parte de políticos que, não contentes em governar imperialmente pernambuco, querem criar na prefeitura um feudo do qual nós, que dizemos não e combatemos esse Império do Mal, seremos vassalos. Sou o cidadão Numeriano. Sou um pernambucano livre. Sou da Frente de Esquerda PCB-PSOL. Vou lutar até o fim (pois, acho, "ainda existem juízes em Berlim") para ter meu espaço de candidato na Rádio Jornal. Também vou entrar com outro pedido de liminar para ter direito de participar do debate na TV Jornal. Não aceito que o poder econômico dos grupos privados (seja de quem for, possua ou não impérios de comunicação de mentalidade política provinciana), o poder das venalidades jurídicas e o poder de grupos políticos que estão transformando Pernambuco numa ditadura de arrabalde, queiram me transformar num vassalo. O Recife tem dono, o dono é o povo.

Roberto Numeriano é candidato da Frente de Esquerda PCB-PSOL à Prefeitura do Recife.

PS: Atenção: em reiteradas notas, no resto do debate do qual fui expulso, a emissora divulgou que cassou a liminar por questão de solidariedade aos outros candidatos não convidados (Edna Costa, Jair Pedro e Esteves Jacinto). Disparate puro. É o mesmo que dizer que "decidimos cassar a voz do Numeriano porque os outros já foram cassados antes". Poderiam ter poupado a si próprios desse argumento falacioso.
 
(Publicado originalmente no Blog de Jamildo, Jornal do Commércio)
 

Editorial em defesa de Michel Zaidan bomba nas redes sociais.


 
O editor do Blog do Jolugue gostaria de agradecer às centenas de pessoas que compartilharam o nosso editorial em defesa do professor Michel Zaidan. Foram muitas as manifestações de solidariedade, envolvendo pessoas que o admiram, ex-alun@s e conterrâneos seus da cidade de Garanhuns, onde o mestre nasceu. Quando usadas para uma boa causa, as redes sociais cumprem um papel importantíssimo, como já afirmamos, denunciando arbítrios, crimes de homofobia, matança de animais, práticas de assédio moral, autoritarismo de toda a natureza, cerceamento da liberdade de expressão, violações contra os direitos humanos, exploração infantil, além de outras atitudes igualmente execráveis. Com tolerância, ética, respeito e responsabilidade, temos nos pautados nas redes sociais, sempre se posicionando sobre os mais diversos temas. Jamais fomos acusados de violarmos alguns desses princípios. Jamais nos permitimos que a bílis superasse o bom senso ou respondemos a alguém usando de expedientes escusos. Aqui, as réplicas se dão no campo das ideias e dos argumentos. Não há agressões vis de nenhuma natureza. Logo depois do edital, aumentaram consideravelmente os acessos ao artigo do professor Michel, que deu origem à polêmica, num aviso claro aos poderosos de plantão, que, estrategicamente, convém tratar com respeito e tolerância as pessoas que discordam de suas gestão ou de suas opiniões. Afinal, a liberdade de expressão é um direito assegurado pela Constituição. Direito, aliás, muito respeitado pela presidente Dilma Rousseff. Um aviso aos mal-informados do Governo. Os comentários que mais nos comoveram vieram da terrinha da garoa, de nossa querida Garanhuns. Dalí se manifestaram pessoas que conheceram os seus pais, estudaram com ele nos tradicionais colégios locais e passaram a admirar o mestre pelos seus posicionamentos corojosos em defesa da res pública. O aviso está dado.


Pacto pela Vida? Afinal foi Ratton ou Geraldo quem fez?


Essa contrapropaganda em torno do “foi Geraldo quem fez”, com o objetivo de arranhar a imagem do candidato do PSB, vem assumindo um contorno de irresponsabilidade, em alguns casos, em outros, um mascaramento da realidade. Nunca se negou a participação do sociólogo José Luiz Ratton nas discussões em torno do Pacto pela Vida, uma das políticas públicas mais exitosas no combate à violência, elogiada pelas maiores autoridades no assunto, que apontam Pernambuco como um exemplo a ser seguido nesse ponto nevrálgico da gestão pública em todo o Brasil. Não bastassem os números que lhes são favoráveis – O Estado fez “escola”, exportando seu modelo para outras praças da federação. Outro dia publicamos um artigo sobre o assunto, informando que as ações policiais eram feitas às cegas, sem o menor planejamento ou estatísticas seguras sobre as modalidades e locais de ocorrências de delitos. Um trabalho de conclusão de curso na área de arquitetura, apontando as ruas mais violentas do Recife – pegou as nossas autoridades de segurança de “calças curtas”. Foi mais ou menos essa a situação em que o Governo Eduardo Campos encontrou o Estado. Ratton colaborou na realização de pesquisas sobre o assunto, como um dos assessores especiais do governador Eduardo Campos. Agora, a execução do Pacto pela Vida, foi um trabalho acompanhado detidamente por Geraldo Júlio e, em certa medida, pelo próprio governador Eduardo Campos, uma atitude apontada pelo chefe de Polícia Civil á época, como fundamental para o êxito do programa. Geraldo, como se sabe, foi uma espécie de regente da orquestra de perfil técnico que se instalou no Campo das Princesas com o objetivo de conceber e executar políticas públicas para o Estado, transformando "demandas políticas", num dizer de Eduardo, também à epoca, em política públicas tocadas com alguns elementos da iniciativa privada.  

O jogo pesado da realpolitik


O jogo da realpolitik é realmente do mais puro fisiologismo. Para engajar-se na campanha de Haddad, em São Paulo, a senadora Marta Suplicy, comenta-se, teria exigido um ministério, de imediato. A possibilidade de participar de um “futuro” Governo Haddad não foi suficiente para convencê-la. Em Belo Horizonte, Lula também teria prometido o Ministério dos Transportes ao PMDB em troca do apoio do candidato petista Patrus Ananias. Em São Paulo, Fernando Haddad esboçou uma reação, embora deva-se considerar a ascensão do azarão Celso Russomanno, com o apoio explícito da Igreja Universal. Haddad encontra-se empatado com Serra, mas é imprevisível o resultado de um segundo turno entre ele e Celso Russomanno. Nas duas praças, em síntese, o Planalto não fez um bom negócio. No caso de São Paulo, em nenhuma hipótese, pode-se creditar ao apoio de Marta à reação de Haddad. Em Belo Horizonte, em todas as pesquisas, Márcio Lacerda, o candidato de Aécio Neves, nem toma conhecimento de Patrus Ananias.