pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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quinta-feira, 10 de julho de 2025

Editorial: A crise das universidades públicas brasileiras.

UFPE se mantém entre as 10 melhores universidades do Brasil | Tribuna  Online | Seu portal de Notícias


Há poucos dias foi publicado um ranking sobre o desempenho das universidades públicas brasileira. As notícias não são boas, uma vez que os indicadores apontam para a queda de desempenho dessas instituições de ensino superior. Neste quesito, a UFPE sempre esteve bem posicionada, colocando-se entre as melhores do país. Há poucos meses, o Governo Lula 3 anunciou, com grande estardalhaço, a liberação de R$ 9 bilhões para as universidades públicas e institutos de pesquisa. Lá atrás, porém, estima-se que tenha ocorrido cortes da ordem 33 bilhões do orçamento destinada àquelas instituições, o que indicava, de imediato, que a conta não fechava. No dia de ontem estávamos acompanhando, com tristeza, um vídeo do reitor da Universidade Federal de Pernambuco, Alfredo Gomes, onde ele informa sobre a necessidade de cortar gastos, encerrar contratos e interromper novos editais de pesquisa, tudo isso imposto por um déficit de 23,9 milhões no orçamento da Instituição. 

A UFPE, para manter suas atividades plenamente, precisaria de um orçamento da ordem de 202,3 milhões, e hoje só conta com 178,8 milhões. Devo toda a minha formação àquela Instituição de ensino superior. Da graduação à pós-graduação. Bons momentos de minha vida foram passados ali, acompanhando aulas no CAC, no CFCH, no CE, apresentando trabalhos, pesquisando, almoçando no antigo Restaurante Universitário, saboreando o Tropical, da Cantina do Daniel, acompanhando as performances do almirante Guimarães no Bar da Tripa, às sextas-feiras, namorando naquela pracinha que fica nas proximidades do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas. Batendo uma pelada nos campos do Departamento de Educação Física, onde, numa manhã, em disputa da turma de Humanas com a turma de Exatas, fizemos um gol épico, driblando três adversários e atirando do meio de campo um chute certeiro, que caiu como uma folha seca, sem defesa para o goleiro adversário, recordando dos bons tempos do Monte Castelo Futebol Clube. Portanto, é com imenso pesar que acompanhamos esta situação. 

Pelo que conseguimos observar nos grupos sociais que acompanhamos, a crise parece ser generalizada entre as IFES e os Institutos Federais. Há comentários neste sentido envolvendo outras IFES. Aqui em Pernambuco, quando ocorreram seminários para tratar desses problemas, salvo melhor juízo, todas as universidades federais do estado estavam juntas. Por outro lado, os maus exemplos com o uso dos recursos públicos, seja pelo desvio de finalidades, seja pela criação de novas despesas, como a ampliação do número de parlamentares e cargos, contrastam com esta situação enfrentada pelas nossas universidades públicas brasileiras.  O momento é muito difícil, principalmente quando se sabe que o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, aponta para as dificuldades das contas públicos nos próximos anos, inclusive em áreas estratégicas como educação e saúde. O que estamos observando neste momento pode ser apenas a ponta do iceberg. 

quarta-feira, 9 de julho de 2025

Resenha do romance Nas Marés de Malunguinho.

 



Há alguns anos, quando ainda estávamos no batente de sala de aula, fomos conhecer uma experiência inovadora em educação pública municipal  desenvolvida numa cidade do litoral cearense. Fomos com um grupo de quarenta alunos, num programa de uma disciplina da universidade, sob nossa coordenação. A proposta surgiu em sala de aula, quando discutíamos exatamente tal experiência, algo que motivou grande interesse da turma. Fizemos o contato com o prefeito da cidade e a recepção da proposta foi a melhor possível, com a prefeitura local se propondo a atender todas as nossas necessidades de logística, alimentação e acomodação. Sair um pouco do conforto da sala de aula para expor o alunado a situações reais enfrentadas no cotidiano de experiências concretas fora sempre uma tônica do nosso trabalho. 

Nem sempre nos deparávamos com situações agradáveis, mas sempre era algo que agregava valor à formação do alunado. Nessas pesquisas, encontramos algumas experiências curiosas, como um projeto desenvolvido no município de Jaboatão dos Guararapes, por um prefeito do MDB, na década de 80, surpreendentemente inspirado no modelo de educação implantado em Cuba após a Revolução. Ao longo das décadas seguintes, percebemos existir ali no município um ambiente favorável às políticas educacionais inovadoras, independentemente das questiúnculas políticas ou ideológicas, o que se traduz em algo alvissareiro. Em outros momentos, por exemplo, conhecemos a realidade menos turística da cidade de Gravatá, que, em sua periferia, concentra localidades habitadas por pessoas empobrecidas que enfrentam grandes dificuldades sociais, assistidas por ONGs, cujos membros eram nossos alunos. 

À exceção de experiências positivas como a desta cidade do Ceará, nos deparávamos com alguns contextos preocupantes, como o caso de uma cidade do interior do estado de Pernambuco, onde havia uma grande exploração da mão de obra infantil e as crianças da cidade, ao invés de brincarem e atenderem às exigências da frequência à escola, eram submetidas ao trabalho de descascar as castanhas de caju, atividades que corrompiam sua digitais físicas e humanas. A seiva da castanha apagava as digitais dos seus dedos. Hoje, já não acompanhamos o que ocorre em termos de políticas educacionais na cidade do Ceará, Aracati, mas  aquela experiência passada nos deixaram boas lembranças até hoje. Ainda somos daqueles que ficam felizes com a felicidade dos outros, e neste, caso, os nossos alunos e alunas ficaram muito felizes com a experiência. Para completar esta felicidade, que também ninguém é de ferro, ainda existia o atrativo da antiga  Vila de Pescadores de Canoa Quebrada, uma das praias mais belas do litoral brasileiro. 

Desde então, estabelecer este link entre a teoria de sala de aula com as experiências reais desenvolvidas nas comunidades tornou-se um marca de nosso trabalho. Quando líamos uma matéria, publicada por uma revista de circulação nacional aqui em Pernambuco, mas precisamente na cidade de Goiana, cidade da Zona da Mata Norte do Estado, não tivemos qualquer dúvida de que estávamos diante de uma realidade que precisávamos conhecer. O que deu ensejo à matéria, realizada por duas abnegadas jornalistas, foi o relançamento das obras do sociólogo Pernambucano, Josué de Castro, por ocasião do primeiro Governo Lula. A motivação da matéria era a de identificar quem seriam esses homens caranguejos da atualidade, como eles viviam, em que condições se encontravam tantos anos depois da publicação dos textos do sociólogo.  

Ali encontraram o Seu Jipe, ou José do Nascimento, um cidadão dedicado à captura do caranguejo Uçá. As repórteres fizeram uma verdadeira imersão na comunidade, onde passaram uma semana, relatando aquela realidade, de homens e mulheres sofridas, numa cadeia produtiva mantida exclusivamente pela pesca, captura de crustáceos e retirada de  mariscos, esta última atividade mais afeita às mulheres. A conclusão da matéria é que, passados tantos anos da publicação da obra Geografia da Fome, os problemas enfrentados pelos moradores da Comunidade Quilombola de São Lourenço não eram distintos daqueles descritos pelo sociólogo pernambucano.  Outro dia discutíamos aqui um elenco de livros que todos os brasileiros precisavam ler, independentemente de sua formação acadêmica. A Geografia da Fome é um deles, pois diz muito sobre as nossas seculares desigualdades sociais, principalmente sobre o seu componente político subjacente, víscera exposta no livro, conforme apontava o professor Manuel Correia de Andrade.   

Desde então, nossas frequências à comunidade se tornaram recorrentes, a cada semestre letivo. Criava-se uma grande expectativa sobre essa aula entre os alunos novatos da Instituição. Até mesmo alunos e alunas de outros cursos demonstravam interesse em acompanharmos no nosso trabalho. Fazíamos uma campanha de donativos para a comunidade, de crianças criadas com leite de caranguejo, nos mesmos moldes descritos pelo poema Homens e Caranguejos, concebido por Josué de Castro, ao observar as precárias condições de vida das comunidades ribeirinhas dos bairros alagados do Recife. Outro dia, curiosamente, encontramos uma dissertação de mestrado acerca da experiência do sociólogo com a literatura. Preferimos o sociólogo. 

Fizemos grandes amigos na comunidade, a exemplo da professora Carminha, Serginho da Burra, o seu Jipe, ou José do Nascimento, Dona Sebastiana, Dona Lourdes, entre outros tantos. A lista é enorme. Os problemas da comunidade quilombola ainda permanecem. Mesmo obtendo o reconhecimento como uma comunidade quilombola, ainda se mantém os problemas relativos à inserção produtiva dos moradores locais, os problemas ambientais - em razão dos projetos de criação de camarão em cativeiro - problemas relativos à intolerância religiosa entre evangélicos e praticantes de religiões de matriz africana -, organização e empoderamento das marisqueiras locais. Consideramos pertinentes deixar essas questões registradas em algum local, até mesmo como homenagem aos moradores da comunidade. 

Passamos a estudar a formação daquela comunidade e descobrimos coisas interessantes. Num passado remoto, ali ficava o epicentro do Quilombo do Catucá, que foi um dos maiores quilombos do Brasil, ficando abaixo apenas do localizado na Serra da Barriga, em Alagoas, que recebia o nome de Palmares. Era um quilombo gigantesco, seja em número de pessoas, seja no que concerne à extensão geográfica, pois incorporava parte do Recife, e algumas cidades da Região Metropolitana, como Paulista, Abreu e Lima, Itamaracá e Goiana. Segundo os estudos do historiador Marcus Carvalho, o Quilombo do Catucá era um quilombo móvel e tinha a sua origem numa região conhecida hoje como Cova da Onça, no Curado III. Na cidade de Goiana, o quilombo ficaria localizado entre os distritos de São Lourenço e Tejucupapo. Como se tratava de um quilombo móvel, conforme assinala o professor, não surpreende o fato de encontrarmos três localizações distintas, inclusive uma delas no Engenho Pitanga, no município de Abreu e Lima, onde, inclusive, as homenagens mais efetivas ao líder quilombola são realizadas, numa festividade conhecida como Kipupa Malunguinho.  

O quilombo foi liderado por Malunguinho, que se tornou uma entidade dos cultos de Jurema Sagrada, sempre muito festejado numa determinada época do ano, nas Matas do Catucá, na cidade e Abreu e Lima. Na realidade, Malunguinho, como afirmamos no romance, na mata é Rei. Trata-se de uma entidade venerada por todos os cultos de religiões de matriz africana e ameríndia da localidade. É o grande protetor daquelas matas. Há um fato curioso de ancestralidade, ou seja, como essa entidade sagrada interferiu diretamente sobre um grande problema que a comunidade enfrentou, quando da instalação de uma fazenda de criação de camarão em cativeiro nos manguezais locais, mas deixamos tal desfecho para a leitura dos nossos leitores. Segundo o professor Marcus Carvalho, haveria controvérsias sobre o próprio nome ou a entidade Malunguinho. O nome poderia ter origem na forma como os negros que vinham do continente africano para serem escravizados no país tratavam os companheiros, todos conhecidos como malungos. Por outro lado, existem registros, passíveis de comprovação, de recompensas oferecidas pela sua captura no estado. Imagina-se, igualmente, tratamos aqui de uma hipótese, que o quilombo poderia ser dirigido por um colegiado de líderes, todos conhecidos como Maluguinhos. 

Escritos nos estertores da experiência autoritária que o país quase sucumbiu recentemente, com seus reflexos nas instituições públicas, resolvemos emprestar ao romance este ambiente institucionalmente turvo, conferindo ao texto - com o perdão do leitores pela pretensão -  um espírito kafkiano, marcado pelos assédios institucionais, pela aplicação dos torniquetes que se tornaram rotineiros entre as instituições públicas brasileiras que se dedicavam ao trabalho, às investigações e ao desenvolvimento de políticas públicas  que não se coadunavam com as perspectivas políticas que se tentou imprimir ao país naquele momento, a exemplo das comunidades quilombolas, indígenas, minorias LGBTQIA+, além de uma tendência misógina observada na gestão pública desde 2016.  O país vive, desde o processo de colonização portuguesa, tão admirado por aquele sociólogo, sob um encilhamento caracterizado pelo racismo estrutural, pele desigualdade social e pelo flerte autoritário. Há uma grande permeabilidade a essas práticas no país. O livro já está disponível em nosso perfil da plataforma da Amazon, podendo ser acessado pelo link que aparece na foto. 


Editorial: 3,7 bilhões em emendas pagas nesses seis primeiros meses do ano.

Após crise do IOF, Gleisi e Haddad se reúnem com Hugo Motta


O Governo Lula 3 já pagou em emendas parlamentares, apenas neste primeiro semestre, o montante de R$ 3,7 bilhões, de acordo com levantamento divulgado na coluna do jornalista Cláudio Humberto. Estima-se que horas antes da votação do IOF, quando o Governo sofreu uma dura derrota no Congresso, as liberações atingiram quase um bilhão de reais. Difícil estabelecer por aqui a parte deste montante que está sendo desviado de suas finalidades republicanos, através de escabrosos expedientes, algo que vem sendo recorrentemente apontado pelas investigações da Polícia Federal, como no caso do parlamentar cearense, fato ocorrido no dia de ontem, 08, onde suspeita-se de uma quadrilha organizada, envolvendo agentes públicos e privados, atuando de forma mancomunada para se locupletar de recursos públicos, através de emendas e licitações fraudulentas.  

A Policia Federal realizou buscas no gabinete do deputado, em Brasília, e em sua residência, no Ceará, em mais um daqueles casos rumorosos que reacendem as indisposições entre os Três Poderes da República. Os parlamentares, mesmo os da fluida base de sustentação do Governo, exigem o pagamento dessas emendas e, simplesmente, não se comprometem em votar em pautas do interesse do Planalto. São emendas, cargos, ministérios que não adiantam de nada quando se está em jogo a dinâmica da governabilidade. Como afirmou o senador Veneziano Vital, durante uma entrevista concedida no dia de ontem num podcast de um blog local, o Governo sempre soube dessa má vontade. 

O Ministro do Supremo Tribunal, Flávio Dino, mantém uma cruzada com o objetivo de construção de consensos mínimos entre os poderes, que permitam o equilíbrio, a eficácia e, principalmente, o rigor na liberação e aplicação dessas emendas, com mecanismos eficazes de prestação de conta. A má vontade é tão grande que os gestores acabam queimando reuniões convocadas. O ônus é pesado para todo o país. Excetuando-se os casos de malversação de recursos públicos, que, infelizmente são recorrentes,  há aquelas situações onde a retenção dessas emendas, pela ausência desses mecanismos de controle, estão deixando de cumprir sua finalidades republicanas, como no caso das IFES, algumas delas com enormes dificuldades. No dia de ontem, acompanhamos o vídeo com um dos reitores de uma universidade federal pernambucana alegando dificuldades financeiras, impondo a necessidade de cortes para preservar as atividades essenciais do órgão. O mais paradoxal é que o parlamento que não dá bons exemplos é o mesmo que exige cortes de verbas para educação e saúde.    

terça-feira, 8 de julho de 2025

Charge! Aroeira via Brasil 247

 


Charge! Thiago Lucas via Jornal do Commércio.

 


Editorial: Direita reage ao avanço do PT sobre narrativa entre pobres e ricos.



Geralmente, as respostas da direita são rápidas e costumam fazer um grande estrago na opinião público, como são os casos recentes do escândalo do INSS ou, mais anterior ainda, as mudanças nas regras do PIX. Hoje percebemos que já começou a circular nas redes sociais um vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira, onde ele tenta desconstruir a narrativa encetada pela comunicação institucional do Governo Lula 3, onde aponta-se que o aumento do IOF iria atingir exatamente uma camada de privilegiados, que moram na cobertura, no andar de cima e que não querem pagar impostos. O aumento do IOF, neste caso, seria uma questão de justiça social. 

A campanha estava sendo preparada para ser lançada daqui há alguns meses, mas, diante dos aperreios do Governo, foi antecipada, ganhou as redes sociais e pode ganhar as ruas, uma vez que a militância - que dormia um sono prolongado há alguns anos - parece ter despertado. Já existem alguns analistas estabelecendo alguma comparações entre essa mobilização atual e aquelas ocorridas em junho de 2013, denominadas de Jornadas de Junho. É preciso ficar bem atento, porque foi exatamente neste momento que a extrema direita ganhou as ruas e, aquilo que começou como um protesto contra o aumento do bilhete de transporte público, culminou com o impeachment da presidente Dilma Rousseff. 

Movimentos de extrema direita assumiram o protagonismo daquelas mobilizações populares. O vídeo do Nikolas Ferriera é estranhamento longo, com várias momentos de "didatismo" utilizado, onde o deputado tenta evidenciar as eventuais contradições da narrativa encetada pelo Governo Lula 3. Hoje, igualmente, a coluna do jornalista Cláudio Humberto observa que a oposição pretende encaminhar um requerimento de convocação ao Ministro da Comunicação Institucional, Sidônio Palmeira, para que ele esclareça questões relativas ao "engajamento" de influencer com o propósito de aumentar o alcance da peça publicitária nas redes sociais.  

Editorial: Trump afirma que Bolsonaro é vítima de caça às bruxas.



Através de uma de suas redes sociais, o presidente norte-americano, Donald Trump, se manifestou em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, afirmando que o amigo é vitima de uma perseguição, de uma caça às bruxas. Os bolsonaristas comemoraram bastante as declarações do presidente americano, naturalmente. O presidente Lula é que não gostou nenhum pouco da opinião de Donald Trump, o que considerou uma interferência indevida sobre um assunto brasileiro, que ninguém está acima da lei, principalmente quando se atenta contra o Estado Democrático de Direito. De há muito que os bolsonaristas brasileiros provocam o presidente norte-americano no sentido de que ele seja mais contundente em relação à defesa do amigo brasileiro. 

Até recentemente, Donald Trump andou se estranhado com um dos seus principais assessores, financiadores de campanha, o empresário Elon Musk, que também anda às turras com o judiciário brasileiro no tocante às eventuais regulações das rede sociais. Na realidade, os eufemismos que estão sendo utilizados para se referir à regulação das redes sociais são muitos, mas todos convergem para o mesmo termo. São arestas que poderiam ser evitadas através da diplomacia, mas existe alguns interesses geopolíticos em jogo, como uma velha prática dos americanos em interferirem sobre o que ocorre na política no continente latino-americano. 

O presidente norte-americano, na realidade, deu mais uma oportunidade para o presidente Lula surfar na onda do nós contra eles, algo que deu um alento nas redes sociais petistas e que está sendo muito bem explorado pela comunicação institucional, algo que vem incomodando a oposição, que já pensa em convocar o marqueteiro Sidônio Palmeira para dá explicações na Câmara dos Deputados. Caso a convocação seja homologada, penso que seja a primeira vez que o Ministro da Secom será convocado. Enquanto encerrávamos este editorial, tomamos conhecimento de um vídeo do deputado Nikolas Ferreira, onde ele tenta refutar a narrativa do Governo em defesa dos mais pobres e em favor da taxação dos super ricos. Geralmente, como se sabe, esses vídeos alcançam grande repercussão. Diferentemente dos momentos anteriores, o vídeo é longo. 

segunda-feira, 7 de julho de 2025

Serraria, Brejo Paraibano. O Rota Cultural Caminhos do Frio também passa por aqui.

 


Editorial: Cida Ramos afirma que o PT quer ser protagonista na Paraíba.


Diferentemente do que ocorre em Pernambuco, quando os diferentes órgãos de imprensa já estabeleceram que, nas eleições estaduais de 2026, teremos um clássico da política, caracterizado pela disputa entre a governadora Raquel Lyra(PSD-PE) e o prefeito João Campos(PSB-PE), no estado vizinho da Paraíba as coisas estão bastante emboladas. Tem gente afirmando que já conta com o apoio de Lula; tem gente que poderia contar com o apoio de forças do campo progressista do estado, a exemplo do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, mas não abre mão de continuar no PP, partido que anda pulando fora da base de sustentação política do Governo Lula 3 no plano nacional. 

No dia de ontem, 07, os militantes do PT elegeram a deputada Cida Ramos para conduzir os destinos da legenda no estado pelos próximos anos, numa demonstração de sua "organicidade" desde as eleições passadas, o que parece ter sido ignorado pela cúpula do partido a nível nacional, conforme antecipamos por aqui, optando por impor uma candidatura sem qualquer chance de êxito, mas azeitada na burocracia. Em seus primeiros pronunciamentos depois de eleita, a deputada afirmou seu desejo de que o partido faça uso de sua expertise de gestão e habilite-se a apresentar postulante ao Palácio Redenção. 

A diretriz basilar é o apoio à reeleição de Lula para o quarto mandato, algo que vem animando o petista depois das últimas manifestações dos pobres contra os ricos. Alguns analistas já estão fazendo algumas comparações com essas mobilizações de rua às Jornadas de Junho, que começaram com protestos contra o aumento da tarifa de transportes e inseriram, posteriormente, uma série de pautas bem mais robustas. Não se animem muito não, porque as Jornadas de Junho, posteriormente foram incorporadas por grupos de extrema direita. Muito feliz com vitória de Cida. Parabéns, deputada. 

Editorial: Carlos Vera é o novo Presidente Estadual do PT.


Os arranjos políticos do PT no estado estão complicados. No dia de ontem, 07, muito mais do que uma vitória do deputado federal Carlos Vera, tivemos uma vitória de uma tendência do posicionamento do partido no estado. Uma tendência de composições, aliancista, bastante diferente do que estava propondo, por exemplo, a candidatura do senhor Fernando Ferro, que desejava a reafirmação identitária do partido no estado, buscando trilhar um caminho próprio,  sua autonomia, apresentando nomes para o referendo popular, menos dependente dos socialistas. Ferro tem razão. O Eduardismo subordinou o PT aos seus interesses no estado. A eleição do senador Humberto Costa, por exemplo, se deu no bojo dessa aliança. A ala que controla a executiva municipal está integrada à gestão do prefeito João Campos, que deverá disputar o Governo do Estado, em 2026. 

A tendência mais provável hoje é que a ala do senador Humberto Costa, vencedora da eleição de ontem, consolide a aliança com os socialistas, de olho numa das vagas ao Senado Federal. Talvez nunca tenhamos presenciado um arranjo tão complicado no que concerne à composição dessas chapas ao Senado Federal. Já se fala numa provável formação de uma nova federação envolvendo o MDB e o Republicanos. Faz parte de uma articulação do ex-presidente Michel Temer, que objetiva construir uma candidatura ao Palácio do Planalto, provavelmente a do governador Tarcísio de Freitas. No estado,  os dois partidos estão com João Campos, que, provavelmente deverá montar o palanque de Lula no Estado. 

Como se não bastasse a encrenca da federação União Progressista, onde o União está com João Campos e os Progressistas estão com a governadora Raquel Lyra. E ambos os partidos, no plano nacional, praticamente estão deixando a base de apoio de Lula, como afirmou recentemente Antonio Rueda, Presidente Nacional da federação. A possibilidade de a federação fechar algum acordo com o Planalto em 2026 são remotíssimas. O senador Ciro Nogueira, inclusive, vem sendo cotado para a vice na chapa de Tarcísio de Freitas. Ciro Nogueira é um dos políticos hoje que mais se identificam com o desembarque da base aliada ao Governo Lula 3. No final, nossos cumprimentos a Carlos Vera pela vitória, desejando que ele tenha a lucidez e paciência necessária para costurar as alianças do PT no próximo pleito.  A Fernando Ferro, nossas congratulações pela disputa, mantendo posições coerentes, identificadas com a sua trajetória de militância. 

Charge! Renato Aroeira via Brasil 247

 


domingo, 6 de julho de 2025

Editorial: O xadrez político das eleições estaduais de 2026 em Pernambuco: Nova federação para complicar ainda mais os arranjos políticos no estado.



Ontem comentávamos por aqui acerca de um jantar, realizado em Lisboa, em homenagem ao ex-presidente Michel Temer, por ocasião de um evento organizado pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Jantares e almoços com a presença do ex-presidente sempre constam no menu as articulações políticas. Desta vez não foi diferente. Esteve em jogo, conforme divulgado pela revista Carta Capital, as negociações em torno da formação de uma nova federação, desta vez envolvendo os partidos MDB e o Republicanos. Conforme afirmamos no final daquela postagem, os arranjos celebrados no plano nacional estão produzindo alguns complicadores no estado de Pernambuco, como de resto, possivelmente, em outras praças da Federação. 

A cada nova aliança formada entre essas legendas, mais os problemas se avolumam na quadra política local. Como se já não fossem suficientes os problemas produzidos pela federação entre o Podemos e o PSDB, que acabou sendo desfeita já depois dos estragos produzidos, veio a aliança formada entre Progressistas e o União Brasil, onde uma ala perfila ao lado da governadora Raquel Lyra(PSD-PE) a outra segue firme com o prefeito João Campos(PSB-PE), agora é a vez de formação de uma eventual federação entre o MDB e o Republicanos, que deve colocar mais lenha nesta fogueira de vaidades e disputas pelas duas vagas ao Senado Federal, reservadas nas eleições de outubro. 

Definições claras apenas para a disputa da cadeira do Palácio do Campo das Princesas, onde se tem como certas as candidaturas da governadora Raquel Lyra e do prefeito João Campos. Para o Senado Federal, o quadro continua completamente embolado. Concretizada a federação entre o MDB e o Republicanos, provavelmente eles trabalharão o nome de um candidato presidencial para as eleições de 2026, provavelmente Tarcísio de Freitas, hoje filiado ao Republicanos. O MDB e o Republicanos, aqui na província, estão ao lado do prefeito João Campos, do PSB,. um aliado do Planalto, que, provavelmente, deve apoiar o projeto de reeleição de Lula, hoje bastante animado depois dos resultados positivos da campanha dos pobres contra os ricos. 

Até recentemente, Raul Henry, Secretario de Articulação da Prefeitura do Recife, empreendeu todos os esforços para manter o comando da legenda sob seu controle, o que significa dizer mantê-la ao lado da base de sustentação do prefeito João Campos no estado. Filiado ao Republicanos, hoje, um dos nomes mais cotados na bolsa de apostas da disputa ao Senado Federal é o do Ministro de Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho. Em declarações recentes, o senador Humberto Costa considera mais provável uma aliança com João Campos do que com Raquel Lyra. A reeleição de Humberto Costa é a prioridade número um do Planalto no estado. O PT não vai negociar, mas cobrar o apoio de Lula ao nome dele numa dessas chapas. 

Festival Caminhos do Frio.



Entre os dias 18 e 24 o Festival Caminhos do Frio chega à cidade de Bananeiras, na região do Brejo Paraibano. O comendador Arnaldo nos pediu para dar uma força aqui pelo site, mas, a rigor, nem precisava. Ana Carolina e Nando Reis estarão entre as atrações que se apresentarão na cidade, que, neste época do ano, recebe milhares de turistas para apreciar sua gastronomia, curtir seus encantos naturais, conhecer seu sítio histórico e tomar um chocolate quente sob um friozinho que pode chegar aos 12,6 graus no período, como já foi registrado numa ocasião. Localizada a 130 km da capital João Pessoa, na microrregião do Brejo Paraibano, a cidade de Bananeiras já se prepara para realizar um dos encontros do  Festival Caminhos do Frio concorridos do Estado. 

Atrativos não faltam e a cidade já conta com uma excelente infraestrutura gastronômica e de hospedagem. Bananeiras está para a Paraíba, assim com Gravatá está para Pernambuco. Neste período, no friozinho da Serra da Borborema, além das festividades, os turistas poderão saborear os melhores pratos da gastronomia rural, preparados pelos restaurantes e hotéis da cidade para o festival gastronômico, que coincide com o Circuito do Frio paraibano. Vá preparado para curtir bastante os atrativos da cidade, como as trilhas rurais, as cachoeiras, a visita aos engenhos, como o Goiamunduba, que produz a cachaça Rainha desde 1877. Neste período, a cidade fica repleta de turistas, sobretudo do Rio Grande do Norte, atraídos pelos encantos da cidade. 

As reservas nos hotéis precisam se feitas com bastante antecedência, evitando a possibilidade de transtornos. Bananeiras, no passado, já foi a maior produtora de café do estado, constituindo-se num polo exportador do produto para todo o país. Hoje, sua economia se concentra na pecuária, no turismo, nos investimentos imobiliários e na produção de bananas, produto muito bem adaptado ao clima da região. No sábado, não perca por nada a oportunidade de conhecer a feira de Solânea, que integra a programação do Festival. Para este editor, não existe nada mais fascinante do que a região do Brejo Paraibano, onde desfrutamos de bons momentos ao lado da esposa e dos filhos. 

sábado, 5 de julho de 2025

Editorial: Jantar em homenagem a Temer se transforma em articulação por nova federação.



Curiosamente, alguns ministros do Governo Lula 3, do MDB, estiveram presentes num jantar em homenagem ao ex-presidente Michel Temer. Eles vão alegar, coerentemente, que não poderiam recusar um convite formulado por um dos nomes mais proeminentes do partido. Por outro lado, há outros indicadores subjacentes. Até recentemente, rebento de uma das raposas mais cevadas do partido admitiu que, sem uma federação, o partido vai para a série "B" da política. Republicanos e MDB já conversam há algum tempo sobre a formação de uma possível federação. Pelo andar da carruagem política, a ideia inicial de Lula em propor uma chapa com aquele grêmio partidário, com o propósito de concorrer à reeleição em 2026, é algo fadado ao fracasso. 

Esse namoro com o Republicanos é mais um indicador de que o nome do atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, continua fortalecido na corrida às eleições presidenciais de 2026, quando se sabe que o próprio Michel Temer e Gilberto Kassab estão afinando este violino. É quase certo que MDB e Republicanos fechem um acordo em torno deste assunto, ampliando sensivelmente a representação parlamentar de ambos os partidos na Câmara e no Senado Federal. Isso, naturalmente, produzindo suas consequências em torno das políticas aliancistas nas quadras estaduais, a exemplo de Pernambuco, onde um dos nomes mais cotados para concorrer ao Senado Federal já está praticamente fechado com o prefeito João Campos, do PSB, que deverá ter o apoio de Lula para concorrer ao Palácio do Campo das Princesas.  

Até recentemente, o PSB praticamente fechou uma federação com o Cidadania. Não quis conversa com o PT, que deve permanecer com o seu cercadinho ideológico, ou seja, o PV e o PCdoB. Superada a contenda depois das audiências de conciliação no STF sobre a questão do aumento de impostos do IOF, sabe-se lá como Lula irá se comportar em relação à sua base aliada. Votaram contra o Governo na Câmara e chegaram a pedir ao STF que mantivesse a decisão tomada pela Legislativo em relação ao assunto, indicando uma absoluta dissonância de entendimento. 

Charge! Thiago Lucas via Jornal do Commércio.

 


Editorial: Começa a ganhar corpo a ideia de um semipresidencialismo no país.



Há alguns anos atrás, quando queríamos nos referir à crise de governabilidade no país, recorríamos sempre ao conceito de presidencialismo de coalizão, um conceito atribuído ao historiador e cientista político Luiz Felipe de Alencastro. Cabe a Alencastro, quando pouco, a popularização do conceito no país. Ao longo do tempo, o conceito deixou de dar conta da complexidade - e também das dificuldades - em se tornou a relação entre o Executivo e o Legislativo no país. Temos qualquer coisa, menos um presidencialismo de coalizão, onde, mesmo aos trancos e barrancos, ainda era possível construir alguma possibilidade de governabilidade, por vezes, quando do mensalão, por exemplo, de forma pouco republicana. Hoje, não mais. Se por, por um lado, o parlamento ganhou mais autonomia e relação ao orçamento, por outro lado, sua capacidade de legislar ficou comprometida. 

A declaração recente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, onde ele afirma que precisa recorrer ao STF se deseja governar é um atestado da falência do modelo de gestão governamental no país. É o próprio Supremo Tribunal Federal que tem esboçado, através de discursos dos seus membros, a necessidade de se encontrar uma outra alternativa de governo, como propôs recentemente o Ministro Gilmar Mendes, durante encontro em Lisboa, Portugal, onde aventou a proposta de um semipresidencialismo. A corda está muito esticada entre os Três Poderes da República. Na medida em que o Judiciário atende aos pleitos do Executivo, amplia as arestas junto ao Poder Legislativo, para alguns esvaziados, sempre que as suas decisões soberanas são revogadas. Nenhum poder pode ser muleta do outro. Cada qual no seu quadrado. 

Revoltado com a revogação do decreto do aumento do IOF pela Câmara dos Deputados e o Senado Federal, o Governo Lula 3 antecipou uma campanha publicitária que estava prevista para dar suporte de opinião pública em relação a isenção de imposto de renda para quem ganha até cinco salários mínimos. A campanha, literalmente, tirou o PT das cordas nas redes sociais, injetando um fôlego novo na militância, que já ganhou entusiasmo para convocar uma mobilização para Paulista, assim como fazem, com regularidade, os bolsonaristas. Curioso é que a campanha é do marqueteiro Otávio Antunes e não da Secom, como se poderia imaginar a princípio. 

Charge! Kleber Alves via Correio Braziliense.

 


sexta-feira, 4 de julho de 2025

Charge! Aroeira via Brasil 247

 


Editorial: "PobresXRicos" indica recuperação de popularidade do Governo Lula.


Há pouco líamos um texto onde a articulista questionava a insistência da Secom em dar prioridade, em suas campanhas de comunicação institucional, às redes sociais. O Governo Lula 3 apanha feio nas redes desde algum tempo. Desde 2013, para sermos mais precisos, quando a direita ou extrema direita ganhou as ruas, assumindo o protagonismo de um movimento de protestos que começou contra o aumento da tarifa de transporte público. Trata-se, na realidade de um projeto de poder meticulosamente pensado, planejado e executado, inclusive com a utilização de métodos sórdidos, que consiste na disseminação de fake news com o propósito de desacreditar seus opositores ou adversários. 

Entende-se a preocupação de Sidônio Palmeira, sobretudo quando se sabe que o Governo - seja ele qual for - quase sempre chega atrasado na comunicação de suas realizações. Não acompanha a velocidade e, consequentemente, não consegue desmentir a onde de boatos em tempo hábil, que se espalha feito rastilhos de pólvoras pelas big techs. Desta vez, no entanto, no caso do IOF, o tiro parece ter saído pela culatra para a Oposição. Juridicamente, o Ministro Alexandre de Moraes tornou sem efeito todas as decisões tomadas em relação ao IOF, aguardando-se uma reunião de conciliação entre Executivo e Legislativo, onde se espera que se construa algum consenso em torno do assunto.  

Do ponto de vista político, a campanha de taxação dos super ricos encetada pelo Secom e pelas redes sociais petistas, vingou e já anda incomodando os parlamentares em relação aos seus eventuais efeitos nas próximas eleições. Até as ruas sugere-se que o Governo está recuperando, se considerarmos as mobilizações do MTST na sede do Banco Itaú, na Faria Lima. Pesquisas internas confirmam que a popularidade do Governo Lula esboçou uma reação positiva com esta campanha. Já existe até lista de assinaturas circulando nas redes sociais em apoio à taxação dos super ricos.  

P.S.: Contexto Político: Na realidade, a campanha BBB do PT foi criada pelo marqueteiro Otávio Antunes. A previsão é que a campanha pudesse ser lançada daqui há alguns meses, ancorada na promessa de campanha do partido de isentar de imposto de renda que ganha até cinco mil reais. A derrubada do IOF antecipou a campanha, que está alcançando grande repercussão nas redes sociais, bem acima das expectativas e da performance do PT naquela arena. Desconhecemos se existe alguma relação entre Otávio Antunes e Sidônio Palmeira. 

Editorial: Direita devolve Lula aos braços dos pobres.

Crédito da Foto: Instagram do Diário de Pernambuco. 

A política tem algumas coisas curiosas. Lula é criticado por alguns setores mais autênticos - ou seriam radicais? - da esquerda por fazer, segundo esses críticos,  o jogo da direita. Isso dentro e fora do PT, uma vez que alguns dos postulantes à direção nacional da legenda, que terá eleição no próximo domingo, também defendem uma inflexão à esquerda do partido. Lula carrega essa pecha desde os momentos mais cruciais de sua atuação sindical, quando o então Ministro-Chefe da Casa Civil dos Governos Militares, o general Golbery do Couto e Silva, espécie de estrategista político do regime,  argumentava que os conservadores não teriam o que temer em relação aos  posicionamentos políticos do petista. Lula não era comunista, segundo avalizava o militar. Segundo esses setores, Lula foi usado pelas hostes conservadores para impedir a eleição de Leonel Brizola, este sim, alguém que poderia abalar as estruturas do sistema. Os radicais de esquerda tratam Lula como uma "cria" de Golbery. É preciso esclarecer aqui que esses candidatos que concorrem à direção nacional da legenda defendendo uma inflexão à esquerda não chegam a dizer que Lula fez o jogo da direita, mas são críticos dessa conciliação conservadora. 

Por outro lado, eleito para um terceiro mandato nas circunstâncias em que foi eleito, exigia-se um Lula ainda mais moderado, fazendo um governo de conciliação, ampliando seus vínculos com setores conservadores da direita, excluindo-se tão somente os extremistas. Na realidade, tal condição até se impunha, uma vez que a direita venceu as últimas eleições no país. Lula até tentou, seja do ponto de vista da articulação com o Congresso, seja no tocante à gestão da máquina, onde integrantes do governo anterior continuaram exercendo cargos de confiança no Estado ou exercendo funções de conselheiros em estatais, caso da Eletrobras, com excelentes jetons, diga-se de passagem. Um deles foi indicado até para secretário-executivo de um ministério. 

Nos últimos meses esse distanciamento foi se ampliando, com derrotas sucessivas no Congresso, chegando ao limite da recusa de um convite a um membro de um partido da base aliada para assumir um ministério no Governo. Hoje, a dita base aliada- formada por partidos de centro-direita, a exemplo do União Brasil e PP - está completamente desmobilizada. Numa entrevista recente, o presidente nacional da federação União Progressista afirmou que um apoio da legenda ao projeto de reeleição de Lula é uma condição remotíssima. Até recentemente, Antonio Rueda era elogiado no Planalto por sua lealdade. O outro nome forte dessa federação, o senador Ciro Nogueira, segundo os escaninhos da política na capital federal, estaria na bolsa de apostas para integrar a chapa com o governador Tarcísio de Freitas à Presidência da República, na condição de candidato a vice.   

Acabamos de saber que o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, acaba de suspender as decisões do Executivo e do Legislativo no tocante ao aumento de impostos do IOF. O estrago, no entanto, já está feito. Aquilo que antes tratávamos aqui como indisposições e instabilidade institucional, hoje pode ser tratado como uma guerra declarada entre o Executivo e o Legislativo, antecipando, inclusive, a plataforma discursiva que poderá ser usada nas eleições de 2026. Já tem gente até erguendo a bandeira branca, incomodado com essa narrativa de que estão defendendo os interesses dos ricos, em detrimento dos mais humildes. O Planalto tem apostado todas as suas fichas de publicidade institucional nas redes sociais. Alguém andou sugerindo que isso poderia ser um equívoco. De fato pode, mas, no momento, o Governo surfa numa narrativa que vem obtendo aderência junto ao público, ou seja, apresentando Lula como uma espécie de Robin Hood, aquele que tirava dos ricos para dá para os pobres.  

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Charge! Renato Aroeira via Brasil 247

 


Charge! Thiago via Jornal do Commércio.

 


Editorial: Veta, Lula.


A polêmica em torno do aumento do IOF, como se diz na canção do compositor Chico Buarque de Holanda, pode ser a gota d'água que faltava para o copo transbordar no que concerne à relação entre os Três Poderes da República. Esta relação não tem sido harmoniosa faz algum tempo, mas, aos trancos e barrancos, eles vão sobrevivendo às inúmeras escaramuças armadas ao longo do tempo. Nesta questão do decreto do IOF, se o que resta da vaselina política não for devidamente empregada, podemos amargar alguns atropelos irreversíveis, como uma ruptura definitiva. Membros da Suprema Corte, sentindo o peso do ônus de uma decisão como esta, depois de sua judicialização, aconselham que o diálogo e a construção de um consenso seria o caminho mais prudente. 

Ontem ficamos sabendo que o nome de Nikolas Ferreira estaria sendo estimulado a assumir a relatoria da CPMI do INSS só para contrariar e colocar mais lenha na fogueira. Caberia, na realidade, ao PL indicar o relator, mas, convenhamos, haveria outros nomes menos inflamados ou polêmicos. Com Omar Aziz na direção dos trabalhos, talvez não passemos sequer do estágio das preliminares durante as sessões. É possível que entre em pauta o PL da Anistia, o que seria mais um petardo atirado contra o Planalto. Entendendo a complexidade do problema, sugere-se que Davi Alcolumbre esteja pensando em limitar o números de atores com prerrogativas para recorrer ao STF sempre que o Congresso toma uma decisão polêmica, a exemplo desta última do IOF. O PSOL, através do deputado Guilherme Boulos, também recorreu da decisão junto ao STF. Em entrevistas concedidas depois do episódio, o presidente Lula tem se mostrado enigmático. Ora afirma que não pode governar sem recorrer ao Supremo Tribunal Federal, ora afirma que isso não significa, necessariamente, que ele cortou o diálogo com o Congresso. 

Há uma campanha nas redes sociais, provavelmente encetada pelos hostes petistas, para que ele vete o aumento do número de deputados, projeto aprovado recentemente pela Câmara dos Deputados, contrariando a narrativa de corte de gastos e controle das contas públicas que o Legislativo cobra do Executivo. Para ser coerente com a narrativa dos próprios congressistas, Lula teria que vetar. Acreditamos que ele deverá vetar. Sugere-se que cruzamos a linha do diálogo e entramos na fase das escaramuças entre ambos os Poderes. Segundo especulou-se no dia de ontem, o2, o Ministro Alexandre de Moraes, antes de tomar uma decisão sobre o IOF, estaria propenso a jogar água nesta fervura entre Executivo e Legislativo, ou seja, tentaria construir um consenso sobre o assunto. 

quarta-feira, 2 de julho de 2025

Charge! Renato Aroeira via Brasil 247

 


Resenha do romance Tramas do Silêncio.



O romance reconstitui, historicamente, a decadência da industrialização têxtil no país, a partir de uma experiência observada na cidade-fábrica de Paulista, localizada na região Metropolitana do Recife, em Pernambuco. Durante o seu apogeu, o município ostentou a condição de maior polo têxtil da América Latina, situação que o coloca como um indicador seguro para entendermos como este ciclo de industrialização se deu em todo o Brasil, pois as indústrias do Grupo Lundgren, em Paulista, se constituíam numa espécie de termômetro ou parâmetro seguro para avaliarmos o que ocorria neste setor da economia no país como um todo. Este é o terceiro dos romances tratando deste assunto, abarcando o ciclo da industrialização têxtil no município desde às suas origens, com o romance Menino de Vila Operária; apogeu, com o romance Memórias de uma Cidade Tecida; e, finalmente, Tramas do Silêncio.   

Além de abordar o processo de decadência da indústria têxtil no município, o romance envereda pelas consequências daí decorrentes, uma vez que tudo, absolutamente tudo no município girava em torno dessa indústria, a Companhia de Tecidos Paulista. Como ficaria a cidade com o encerramento de suas atividades? O que fazer com o espólio de construções históricas do período? Qual a memória a ser preservada? A da oligarquia industrial – representada pelo clã da família Lundgren - ou a memória da luta dos trabalhadores e trabalhadoras por sua emancipação? A indústria fechou suas portas na década de 80 do século passado, mas, já na década de 60, refletia a crise no setor têxtil que se observava no plano nacional, de onde não haveria mais retorno, exceto pelo interregno da fase do Milagre Econômico Brasileiro, decorrente da fase inicial desenvolvimentista da ditadura militar implantada no país com o Golpe Civil-Militar de 1964. Milagre que durou muito pouco, pois o santo era de barro. O que perdurou por longos 21 anos foram os danos políticos e institucionais daí decorrentes, como a supressão de direitos, liberdades civis e a perseguição aos adversários, com seus reflexos no município, elementos que são, igualmente, tratados no romance. 

O texto está dividido em três partes. Na primeira parte abordamos os problemas enfrentados pela indústria têxtil naquele período histórico específico, envolvendo, inclusive, as sucessivas greves ali verificadas, aguçando, até o limite do possível, o conflito entre capital e trabalho. A greve de 1962 é a mais emblemática entre elas, pois ocorre num ambiente político extremamente favorável à classe trabalhadora, significando conquistas importantes, embora não duradouras, pois, logo em seguida, dois anos depois, ocorreu o Golpe Civil-Militar de 1964. Naquela oportunidade perdida para que o país pudesse encontrar o seu verdadeiro rumo, tínhamos na Presidência da República João Goulart e no Ministério do Trabalho, Almino Afonso. No Governo do Estado de Pernambuco, Dr. Miguel Arraes, que proibiu a sua Polícia Militar de reprimir as manifestações legítimas dos trabalhadores. 

A segunda parte enfoca as consequências da queda das atividades da indústria têxtil no município, pois existia um padrão de interdependência bastante acentuado entre esta indústria e os moradores locais, uma relação que extrapolava o caráter estritamente produtivo, atingido outras esferas, como a moradia - existia uma vila operária – assim como os roçados da companhia, que produziam alimentos para a população local. Naquele momento histórico específico, o município entrou numa fase de orfandade produtiva, talvez uma anomia social daí decorrente, pois a cadeia produtiva havia sido rompida. No seu período áureo, estima-se que a indústria têxtil do município chegou a empregar 20 mil trabalhadores em suas duas fábricas de tecidos.  O cinema, o Clube dos "assustados", os festejos tradicionais, a exemplo do Natal, período em que as chaminés ficavam iluminada e com uma grande estrela, algo que permaneceu na memória dos moradores locais durante décadas. 

Há uma discussão bastante interessante no texto sobre o papel das mulheres em todos os movimentos de contraposição entre capital e trabalho no município. Curiosíssimo este aspecto, uma vez que, ouvida pelo antropólogo José Sérgio Leite Lopes, uma fiandeira daquele período explica essa movimentação mais ativa das mulheres por uma razão aparentemente numérica. Afirma que sempre as mulheres foram maioria entre os empregados da companhia, uma explicação que não nos convenceu totalmente, principalmente quando se sabe que, mesmo o sindicato local sob intervenção, elas se dirigiam ao sindicato da Várzea para acompanharem as movimentações da categoria. Há até um fato emblemático aqui. Elas peitaram os coronéis para a liberação de uma hora nos seus turnos aos sábados para realizarem a feira.  

Na terceira e última parte, abordamos o quadro de ebulição política que exista no país naquele momento, no início da década de 60, de muita agitação política, sindical e estudantil, em torno das reformas de base que país reclamava, que envolvia questões relativas à reforma agraria, educação de adultos, entre outras, e como tal momento se refletia no município. Historicamente, como se sabe, tais reformas foram abortadas pelo golpe de classe articulado pelas forças conservadoras consorciadas com os militares, produzindo longos dias de trevas para o país. Como esses acontecimentos se refletiram entre os moradores do município, que registra casos de torturados, mortos e desaparecidos no período? Um dos casos mais emblemáticos neste aspecto é o que ficaria conhecido como o Massacre da Granja São Bento, onde seis guerrilheiros da VPR foram mortos, entre eles a paraguaia Soledad Barrett, de quem reproduzimos no texto seu último poema, que ela dedicou a sua mãe. 

Editorial: Por onde anda os bons exemplos de austeridade com o dinheiro público?



Nas redes sociais, estimulada por uma campanha do Planalto em favor do aumento de impostos do IOF, decreto do Executivo já derrotado pela Câmara dos Deputados, desencadeia-se uma verdadeira guerra entre pobres e ricos, com a participação efetiva da militância petista. O que ocorre, na realidade, é que ninguém deseja dá bons exemplos de austeridade com os recursos públicos. A mesma Câmara que cobra do Executivo o controle dos gastos, reduzindo a carga tributária, é a mesma Câmara que cria novos gastos, ora estuporando em emendas parlamentares, ora ampliando o número de parlamentares. Nesta conta sequer entrar as maracutaias verificadas pela Operação Overclean, da Polícia Federal, onde essas emendas estariam sendo utilizadas com outros propósitos, nenhum pouco do interesse público.  

Na última operação realizada no estado da Bahia, prefeitos de duas cidades foram afastados dos seus cargos. São espantosamente curiosos os mecanismos operacionais de um cidadão conhecido, que, com interlocuções privilegiados em Brasília, opera praticamente em todo o país, reproduzindo o modus operandi de desvio de finalidade dessas emendas. O mecanismo é tão azeitado que prepostos seus são indicados para cargo de confiança em determinadas prefeituras apenas para cumprir essa missão, fato já verificado em Belo Horizonte. No dia de ontem, um parlamentar considerou não haver nenhum problema em liberar milhões de emendas para uma entidade onde a sua família teria interesses, pois realizava negócios com o órgão.  

O STF, prudentemente, através do Ministro Flávio Dino, vem fazendo o possível para conter essa sangria de recursos públicos liberados sem controle, sem mecanismos de fiscalização seguros, culminando em situações como a mostrada na foto acima. É uma confusão sem tamanho, pois há um mal de origem que atende pelo nome de orçamento secreto. Na medida em que o STF retém, cria arestas com o Legislativo e trava o Executivo. O ambiente está se tornando tão turvo e delicado que já há sinalização da Corte de que o diálogo seria o melhor caminho pera dirimir essa questão do decreto do IOF. 

terça-feira, 1 de julho de 2025

Charge! Renato Aroeira via Brasil 247

 


Editorial: Lula na frigideira do Centrão

Cláudio de Oliveira\Folha de São Paulo. 


Jorge Messias, Ministro-Chefe da AGU, confirma que o Governo Lula vai mesmo recorrer ao STF em relação ao decreto que aumenta o IOF, recentemente rejeitado pelo Congresso. Pelo andar da carruagem política, podemos concluir que as armas estão afiadas entre Governo e Oposição, numa batalha que se estenderá até as eleições de outubro. Lula já se encontra definitivamente na frigideira do Centrão. Os ingredientes da fritura, por outro lado, não são nada agradáveis para parcelas da sociedade brasileira, uma vez que atendem a interesses patrimonialistas espúrios, ditados pela Faria Lima, replicado por setores da mídia, mancomunados com seus prepostos no Congresso. Equipe de cozinheiros afinados, que preparam esse prato há séculos, sempre com os mesmos ingredientes. Fernando Haddad tem razão ao afirmar que a proposta incomoda porque atinge o andar de cima da pirâmide, aquela que não pode ser incomodada, que nunca abdicou um milímetro de seus interesses.  

Já temos uma CPMI do INSS praticamente definida e eles tentarão criar embaraços em relação à proposta de antecipar a devolução dos recursos desviados irregularmente do INSS, como deseja o Governo Lula. Segundo o jornalista Josias de Souza, do Portal UOL, Lula pulou da frigideira quase no ponto. É verdade. O Centrão prefere as carnes mal passadas, daqueles cortes que sangram ao serem cortados. O arsenal disponível por essa gente para desgastar determinados atores é incomensurável. Já se especula, por exemplo, articulações no sentido de negociar a entrada de um senador conhecido, hoje um dos mais ilustres representantes do Centrão, na composição da chapa que deverá ser encabeçada pelo governador Tarcísio de Freitas. 

Resta saber como Lula irá agir a partir de agora, uma vez que ele havia dado provas de que sua intenção ou primeira opção seria a conversa, o diálogo, a negociação com o Legislativo. Até ocorrer o tsunami do IOF, podia-se dizer que ele estava em lua de mel com David Alcolumbre, Presidente do Senado Federal.  Há indícios que comprovam que, um pouco antes da votação, foram liberados mais de um bilhão em emendas parlamentares.  Fala-se em estimativas um pouco menores, mas a verdade é que ocorreram tais liberações, em montantes expressivos, com o intuito de cumprir o acordado com o Congresso. Nem assim as coisas funcionaram.   

Charge! Kleber Sales via Correio Braziliense.

 


Editorial: Ato esvaziado na Paulista preocupa bolsonaristas.



Como se diz popularmente, depois de um certo período, possivelmente a partir de 2013, grupos conservadores de direita ou extrema direita começaram a fazer barba, cabelo e bigode na política brasileira. Ganharam as ruas, as redes sociais e a representação parlamentar. Continuam bem nas redes sociais, na oposição ao Governo Lula 3 no Congresso, mas emitem sinais de ressaca no que concerne às ruas. Há um consenso entre os próprios bolsonaristas de que a última concentração realizada na Paulista esteve esvaziada, bem aquém das últimas manifestações organizadas. O declínio de público nessas manifestações, aliás, vem se verificando desde algum tempo, seja nas mobilizações programadas para a praia de Copacabana, seja na própria av. Paulista, indicando uma tendência. 

O jornal Folha de São Paulo do dia de hoje, 01, traz uma matéria onde informa uma espécie de caça às bruxas, ou seja, eles estariam procurando identificar os culpados pelo fiasco. Os bolsonaristas tinham uma grande expectativa em relação a este ato, uma vez, ao que se sugere, seria o primeiro de uma serie de mobilizações no sentido de protestar contra o andamento do julgamento dos envolvidos nos atos antidemocráticos do 08 de janeiro ou na tentativa de golpe de Estado. Difícil identificar as razões objetivas dessa "saturação", principalmente quando se sabe que este declínio não esta sendo capitalizado pelo outro lado. As manifestações convocadas pela esquerda ou pelas forças do campo progressista também enfrentam o mesmo problema. 

No mais, aquilo que já se esperava. Um Jair Bolsonaro pedindo para que seus apoiadores continuem apoiando os projetos políticos do grupo, principalmente fortalecendo-o na representação parlamentar, onde está sendo montada a trincheira de luta contra os outros poderes da República. Um Tarcísio de Freitas cauteloso, modulando o discurso, batendo forte contra o PT, mas poupando os ministros da Corte, como quem não deseja se queimar logo na largada.