Nossas investigações sobre as relações sociais, políticas e econômicas estabelecidas entre a oligarquia industrial comandada pela família Lundgren e os operários e operárias de suas fábricas de tecido, em Paulista, nos renderam bons textos, inclusive um romance premiado. Ao longo desses estudos, muitos fatos foram sendo revelados, dentro daquilo que já imaginávamos, ou seja, as precárias condições às quais os operários e operárias eram submetidos, reproduzindo-se ali a trágica tríade colonialista na qual o país foi forjado, traduzida na exploração da mão-de-obra, nos grandes letifúndios e no coronelismo, nese caso, mantido sob a égide de uma milícia armada que espalhava terror na cidade.
Nada muito diferente daqueles tempos, embora ali tal processo já se desse no contexto da matriz econômica do processo de industrialização, da indústria têxtil mais especificamente. Simbolicamente, não sem motivos, a cidade em alguns textos é tratada como a "Fazenda dos Lundgren'. Os herdeiros do grupo fundado pelo comendador Herman Theodor Lundgren tiveram enormes dificuldades de lidar, ainda na década de trinta do século passado, sob o sígno do Estado Novo, com um movimento sindical incipiente, além da Legislação Trabalhista da Era Vargas, que instituía o salário minimo, além de regulamentar o horário de trabalho.
Até então, os horários de trabalho previam turnos de até doze horas seguidas. A folga semanal remunerada se constituiu num outro grande problema para os indutriais, que sempre davam um jeitinho de subtraí-la nos apontamentos das horas trabalhadas. O único momento em que eles não conseguiam manter esse controle rígido sobre os operários e operárias era por ocasião da presença das romarias do Frei Damião na cidade. Aí não havia jeito para conter a debandada de operários e operárias que acompanhavam o Frei Capuchinho em seus sermões e pregações pela cidade, sempre à procura de algum milagre.
A menção a este fato se dá em razão de uma matéria publicada na revista Veja, de autoria do Valmar Hupsel Filho, onde enfatiza-se a tecla da religiosidade inserida no discurso do preseiente Lula, por ocasião de sua visita de ontem à região, onde inaugurou a Adudora do Agreste, em Arcoverde. A tríade Fé, Deus e Milagre estiveram sempre presentes no discurso do presidente Lula, que chegou a perguntar o óbvio aos nordestinos, como se eles acreditavam em Deus. Concordamos com o autor da matéria no sentido de que se trata de uma estratégia que objetiva uma reaproximação de Lula com as ovelhas desgarradas do eleitorado evangélico, que o abandona em cada nova pesquisa de popularidade.
Voltamos a repetir, no entanto, que isso não será suficiente para estancar a sangria. O Governo Lula passa por um momento muito delicado, onde não faz sequer questão de acusar o tranco. Em todo caso...os milagres são possíveis. Como se não fossem suficientes as dificuldades externas, o Governo ainda tem que enfrentar os egos exaltados de alguns dos seus principais auxiliares, mesmo admitindo uma eventual candidatura presidencial em 2026. Seu principal aspirante à condição de ungida, mesmo para 2030, o atual Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já se encontra sob fogo amigo cruzado.
Durante o texto, fizemos questão de mencionar os termos trabalhadores e trabalhadoras não por uma questão de identitarismo, tão em voga neste momento, mas por um outro motivo, que igualmente, se impôs durante a série de escritos onde abordamos este tema. Surpreendentemente, as mulheres tiveram uma participação crucial em todos os movimentos reivindicativos e de protestos contra as precárias condições de trabalho nas fábricas de tecidos que os Lundgren mantinham na cidade. Desde a exigência de liberação de uma hora para realizarem as feiras aos sábados até os grandes movimentos grevistas que a companhia enfrentou.
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