pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Michel Zaidan Filho: Quanto pior, pior
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terça-feira, 28 de julho de 2015

Michel Zaidan Filho: Quanto pior, pior





O repórter do JC perguntou o que achava da atitude do ex- presidente Fernando Henrique Cardozso em rejeitar o convite de Lula para uma conversa sobre a crise política que ora atravessamos no país. Repliquei que, em outros países, existe uma espécie de um Conselho da República, que reúne notáveis e velhos políticos, que se reúnem em situações como essas para discutir os problemas e ver o que é o melhor para o país, independentemente de partidos, ideologias ou interesses particulares. Infelizmente, no Brasil, não existe algo semelhante. Quando se instala uma crise política, como a atual, ela parece o fim dos tempos. Há algo de messiânico e apocalíptico na cultura política brasileira. Ou seja, uma crença de que quanto pior, melhor. Do caos, sai a luz. Da desorganização, sai uma nova forma de organização do universo. 

Esta tese - muito a gosto dos pescadores de águas turvas e candidatos a messias politico - é um enorme equívoco. Quanto pior, pior. A política brasileira mais parece um abismo sem fim e a profundidade da queda acarreta mais malefícios à sociedade. Que FHC critique o caráter privado, esquivo, quase clandestino do encontro pretendido por Lula, alegando que se parece com um "conchavo" e o que tiver ser feito, tem de ser feito, no fundo é uma aposta irresponsável pelo pior, achando ele e os seus que o PSDB (e os brasileiros) teria algo a ganhar com o afastamento da Presidente Dilma do cargo. Primeiro, o beneficiado é o PMDB e o vice-presidente da República, Michel Temer. Segundo, esses acontecimentos são imprevisíveis na cena política brasileira. Ninguém - com certeza - pode prever a dimensão, o desfecho ou vulto que as coisas poderiam tomar, caso se concretizasse a aposta do PSDB. 

Acima de tudo, é irresponsável, pouco sensato, despojado de magnanimidade e interesse público desejar o aprofundamento de uma crise política, apenas por vingança, retaliação ou interesses partidários. Além do que, a crise não é só política, embora a política influencie a crise econômica. Ela é também econômica e parece se aprofundar cada vez mais por conta das especulações, intrigas e manobras dos partidos da oposição a Dilma. Não se dão conta os oposicionistas que suas manobras conspirativas não abalam só o prestígio ou a popularidade da atual titular da Presidência da República brasileira.  Prejudicam sobretudo ao país, aos brasileiros. Parte da crise econômica é de responsabilidade da instabilidade política, da crise de governabilidade no Congresso, da baixa popularidade da Dilma e dos boatos em torno de seu eventual impedimento, em razão dos processos nos tribunais superiores.
                           Nada disso faz bem ao Brasil e os brasileiros. Espera-se que as instituições judiciais e policiais funcionem com absoluta normalidade, sem pré-julgamento de suas ações. Aguarda-se um julgamento técnico das contas da Presidente e o pronunciamento do Congresso Nacional, livre de paixões ou espírito de facção. O que tiver de ser feito, será. Mas torcemos pelo melhor para o Brasil. Quanto melhor, melhor e não o contrário.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da UFPE e coordenador no Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE

2 comentários:

  1. Professor Michel lúcido como sempre!

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  2. Bom dia, Ciel Rodrigues. Grato pelos comentários e volte sempre. Lúcido, consequente e aniversariante do dia. Um forte abraço!

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