No dia 21 de julho, o Núcleo de Estudos Eleitorais,
Partidários e da Democracia convidou o prof. Atenágoras Duarte
(UFPE/Campus do Agreste) para fazer uma ampla análise sobre a política
econômica do governo Dilma, no âmbito do seminário "O governo Dilma -
uma avaliação". A questão central desse debate era: houve ruptura ou
continuidade da política econômica de FHC nos governos petistas de Lula e
Dilma. Segundo o palestrante, a continuidade poderia ser demonstrada
através do tripé: juros altos, superavit primário alto e metas de
inflação, além do câmbio flutuante. Esta política, também conhecida pelo
nome de "fundamentalismo fiscal", foi praticada pela equipe econômica
do ex-presidente sob a alegação de que era necessário aumentar a
poupança pública e a poupança privada, já que o país estava sem
capacidade de investimento, pelo famoso "déficit fiscal" das contas
públicas. A idéia seria promover, por meio de um duro ajuste fiscal, um
enxugamento das despesas do Estado para tornar atrativo o país para
investidores estrangeiros e nacionais. 0 remédio utilizado é bem
conhecido: desregumentação do mercado financeiro (abolindo todo e
qualquer controle do fluxo de capitais), privatização de ativos públicos
(com preço subavaliado e com a ajuda de recursos públicos) e abertura
da economia brasileira à livre entrada de bens, serviços e capitais. Era
o chamado "Consenso de Washington", receituário do Banco Mundial e do
FMI para a América Latina.
É bom lembrar que, apesar desse fundamentalismo, do câmbio flutuante e da apreciação do real, não conseguimos evitar a grande crise cambial de 1998-9 que obrigou Lula a escrever a "Carta aos brasileiros", comprometendo-se a manter os contratos e compromissos financeiros do país, caso fosse eleito. Naturalmente, ele fez mais do que isso: estabeleceu alianças políticos com o centro e tornou o seu discurso de campanha mais conciliador.
Os analistas econômicos sabem da enorme diferença de cenário econômico entre as gestões de Lula e de Dilma, apesar de muitas notórias continuidades. O famoso "céu de brigadeiro" da economia internacional, o preço das commodities em elevação, o ritmo de crescimento da atividade econômica no mundo, a parceria com a China, os países árabes etc. O Brasil se beneficiou muito desse ambiente favorável e acumulou divisas, a ponto de emprestar dinheiro ao FMI. A situação começa a mudar, com a crise econômica mundial, no primeiro mandato da Presidente Dilma. 0 preço das commodities cai e a uma desaceleração do ritmo de crescimento mundial, com um impacto direto no Brasil. É quando entra em cena o "neo-desenvolvimentismo" da Presidenta, como forma de preservação da economia brasileira em relação à crise mundial.
Em que consistiu essa política econômica? - Na expansão do gasto público e no endividamento público, como forma de estímulo à atividade econômica e ao consumo das famílias. É a época de ouro da "nova classe média" brasileira, incluída no mercado de bens e serviços via o acesso subsidiado pelo crédito farto e barato aos bens de consumo duráveis. É a época das cotas, do Pro-Uni, da minha casa-minha-vida, da expansão FIES, da PEC das domésticas. Tudo isso conjugado com a redução do IPI para a chamada linha branca, com graves reflexos federativos. Somado a isto, vieram os gastos com a realização da Copa do Mundo no país, e a eclosão das manifestações de rua. Revolta das classes médias tradicionais contra as novas classes médias? - Crise de Representação parlamentar? - Crítica à prioridade dos gastos públicos no Brasil? - Denúncias generalizadas de corrupção. Reforma Política. Mas que Reforma?
Aí vem a eleição presidencial e o cenário já é de uma
crise econômica no país. Inflação em alta, déficit das contas públicas,
baixo crescimento econômico, desequilíbrio das balança de pagamentos,
elevação da dívida pública etc. E a mudança da agenda econômica do
governo, priorizando o ajuste fiscal: aumento de impostos, retirada de
direitos, aumento da taxa de juros, restrição do crédito, desemprego,
queda da renda real etc. A oposição acusa o governo de "estelionato
eleitoral", vender uma coisa e entregar outra. E o agravante da crise
política, da crise de governabilidade, da baixa aprovação popular etc.
A crise brasileira foi uma crise anunciada. Ela estava
prevista para acontecer, quando as virtualidades do
"neo-desenvolvimentismo" tivessem se esgotado. Como se esgotaram e
deixaram de herança o déficit das contas públicas e a necessidade, para
uns, de uma volta ao fundamentalismo fiscal, com perda de direitos,
aumento da carga tributária, escassez de crédito, crescimento negativo,
desvalorização do real etc. O que complicou a equação econômica do
governo Dilma foi a crise política, alimentada pelos processos da
operação "Lava-Jato", que atingiu 10% do Congresso, incluindo seus
dois principais dirigentes. Um problema que já era crônico, de obtenção
de uma maioria estável no Parlamento, tornou-se uma guerra declarada de
alguns partidos (incluindo parte da base aliada) contra o Poder
Executivo. E ainda a acusação de politização do Polícia Federal e do
Poder Judiciário. Era só o que faltava, para engrossar o caldo da
fervura política: crise econômica e crise de governabilidade. E um
ambiente golpista disseminado entre os formadores de opinião.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da UFPE e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da UFPE e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE
De fato, os benefícios do 'neo-desenvolvimentismo' ainda estão para frutificar. Nesse tipo de política, se investe pesado em infraestrutura para colher dividendos daí a 10, 20, 30 anos ou mais. Estamos colhendo hoje o que JK e outros plantaram. Não há erro em investir pesado nisso. E nem nos projetos sociais como o MCMV, PROUNI e outros em que Lula e Dilma investiram. Mas em uma situação de instabilidade mundial (já que nenhum país é autógeno, ou seja, independente do contexto mundial), e de agitação permanente interna, fica difícil sim fazer face a tais instabilidades. O ataque à Petrobras e às maiores empreiteiras do país, realizado pela via judicial (tá virando moda) não prejudicou só essas empresas, mas sim a economia como um todo. Havemos de suplantar. Quem duvida, entre no Portal Brasil e veja tudo o que está sendo inaugurado ou em vias de inauguração em um presente próximo.
ResponderExcluirCorrigindo: futuro próximo (minha mania de me adiantar ao tempo me fez escrever 'presente próximo' rsrs)
ResponderExcluirBom dia, Apelido disponível: Sala Fério: Muito grato por seus comentários e participação no blog. Volte sempre. Nenhum reparo a fazer em relação às suas lúcidas observações. Um forte abraço!
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