"Há dois episódios do passado que devem ser mencionados aqui, até mesmo para servir de lição a essas gerações do presente que estão, de fato, preocupadas com os rumos que o país poderá tomar diante desses rumores de sabres. O Deputado Pedro Aleixo era ligado a arena. Por ocasião da implantação do Ato Institucional nº 05 - uma espécie de golpe dentro do golpe - como ele se mostrasse em contraposição ao ato, os generais o questionaram se ele não teria confiança nos comandantes militares, ao que ele retrucou: eu não confio é no guarda da esquina. O outro episódio ocorreu num dos auditórios de uma instituição federal de pesquisa, aqui no Recife, onde palestrava o ex-governador Dr. Miguel Arraes de Alencar, cassado e preso durante o regime militar. Durante aqueles dias sombrios que antecederam à intervenção militar, ocorreu uma manifestação na Faculdade de Direito do Recife, classificada pelos militares como um grave distúrbio à ordem pública. Na realidade, tratou-se apenas de uma mobilização dos estudantes, que culminou com alguns arremessos de cadeiras pelas janelas, sem maiores consequências, conforme observou o ex-governador. Aqui estamos diante de dois exemplos sobre o quão se tornam complexas as interpretações que se possam fazer das declarações dos militares. No mesmo local onde houve a palestra de Hamilton Mourão, os jornais divulgaram que o Comandante do Exército, o general Eduardo Villas Bôas, mencionou as intervenções militares que já se tornaram recorrentes no país -atendendo a pedido de governantes- em apuros com os problemas de segurança pública. Sempre alertei que isso deveria ser evitado porque, além de não resolver o problema da violência, criariam um ambiente ou uma atmosfera nada compatível com a normalidade democrática, além de permitiriam aos militares um estudo do terreno."
(José Luiz Gomes, Cientista Político, em editorial publicado aqui no blog)
Nenhum comentário:
Postar um comentário