pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Eduardo Saron: Investir na diversidade pode ser a resposta para a crise da cultura no Brasil
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sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Eduardo Saron: Investir na diversidade pode ser a resposta para a crise da cultura no Brasil

                                          


Eduardo Saron: Investir na diversidade pode ser a resposta para a crise da cultura no Brasil
O diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron (Itaú Cultural / Divulgação)

 
Nesta segunda (28), o diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron, falou à imprensa sobre a 18ª edição do programa Rumos, edital bienal de fomento à cultura cujo objetivo é financiar projetos culturais de todos os estados brasileiros – e que abre inscrições nesta terça (29).
Para o diretor, investir na diversidade e atrair artistas de fora da região sudeste para a gestão de projetos culturais grandes como o Rumos – que atrai cerca de 15 mil inscritos por edição – “pode ser uma resposta à crise da cultura no Brasil”.
Embora exista há duas décadas, só nos últimos seis anos o projeto tem apostado de fato na diversidade, uma postura que, segundo Saron, foi cobrada tanto pelo público quanto pela imprensa. 
Hoje, o foco do edital são as regiões do país que, em geral, têm “menos voz” em projetos culturais de âmbito nacional, como o Norte e o Nordeste, mas outras formas de diversidade além da regional também permeiam o projeto – a de gênero, a racial e a étnica são algumas delas.
As “diversidades” devem aparecer “diluídas” na forma de uma comissão composta de mulheres, negros, LGBTs e outros grupos vulneráveis, e principalmente por meio do esforço para reunir projetos sobre e de autoria desses grupos. “Se a arte é diversa, assumir essa diversidade é essencial”, diz Saron.
Rui Moreira, ex-bailarino do Grupo Corpo e parte da comissão de seleção do Rumos, vê o foco na diversidade como “a única forma de olhar a cultura no Brasil”: “A dimensão continental do país demanda essa visibilidade. É um ato de soberania”, aponta.
Segundo ele, quanto mais as pessoas se identificam com a arte, mais percebem a importância da cultura em suas vidas, como algo não só da esfera do lazer, mas da necessidade. Isso, diz, só é possível se o público notar que sua cultura regional tem representação em nível nacional. “Em momentos de extrema desvalorização da arte, ter esse apoio das pessoas é fundamental.”
A atriz e produtora acreana Karla Martins, que também faz parte da comissão, concorda. Para ela, sem levar em conta a diversidade, fica “impossível incentivar a cultura no país”.
“Só o Acre tem 22 municípios, mas apenas quatro com acesso de avião. O resto, só via rios. A cultura, que é extremamente rica, fica restrita em lugares como estes, pois é difícil a entrada do Ministério da Cultura e de outros editais e prêmios”, diz, citando a cultura indígena como uma das mais afetadas pelo “isolamento cultural”: “Roraima, por exemplo, tem muita cultura, mas poucos recursos para mostrá-la em nível nacional”, coloca.
Excluídos do Rumos desde 2012, estados do Norte e do Nordeste, como o Piauí e o Amazonas, agora terão “atenção especial” do edital: “Não se trata de privilegiar, mas de trazer oportunidades iguais àquelas que o Sudeste tem”, justifica a atriz.
“Outros ‘Brasis'”
A diversidade regional no Rumos, segundo Saron, deve ser alcançada por uma série de viagens da comissão avaliadora do edital, formada por integrantes do Itaú Cultural e artistas do país inteiro. Durante a seleção, os avaliadores passarão por 17 capitais do Brasil, para ouvir produtores culturais e artistas locais em discussões gratuitas e abertas ao público sobre a situação cultural de seus estados. “Não ligamos tanto para o Sudeste, que já tem representação. Achamos importante revelar estes outros ‘Brasis’”, diz Saron.
Com um orçamento de aproximadamente 15 milhões de reais, o Rumos investe em projetos que variam entre a criação, a pesquisa e a documentação – entre os contemplados já estiveram desde um documentário sobre Wilson das Neves até a Orquestra de Violinos dos índios Chiquitano, por exemplo. Diferente de edições anteriores, agora não haverá limite de orçamento para cada projeto: segundo o diretor, “o mais importante é a força da proposta, e não o orçamento”.
No fim do processo de seleção, que vai de agosto a maio do ano seguinte, apenas 100 projetos são aceitos pelo Rumos. “A ideia não é que os projetos sejam uma propaganda do Itaú. Queremos uma parceria mais do que um patrocínio”, coloca o Saron.
No entanto, uma das exigências já na inscrição é a “maleabilidade” do artista em relação a mudanças em seu projeto: “O proponente precisa estar aberto para alterações para viabilizar o próprio projeto”, diz. 
Apesar da dualidade entre a menor liberdade do artista e a garantia de um financiamento para o projeto cultural, Saron garante que o objetivo do edital é apenas “viabilizar a cultura em tempos de crise”: “O Rumos pode ser uma resposta à carência que o Brasil vive hoje em relação às artes.”

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