pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Editorial: O novo xerife da Polícia Federal.
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quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Editorial: O novo xerife da Polícia Federal.


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Primeiro, vamos dar uma notícia boa. Em 2009, o jornal francês Le Monde Diplomatique, em meio às dificuldades que poderiam comprometer a sua circulação, pediu o apoio dos seus leitores. Nos anos que se passaram, esse apoio veio de forma efetiva, traduzida em assinaturas, doações, compra dos exemplares em banca, o que aumentou sensivelmente a circulação do jornal. Reconheça-se os bons resultados obtidos pelo Diplomatique, uma vez que essa tarefa de contar com o apoio decisivo dos leitores não é assim tão simples. Alguns blogs, revistas e sites brasileiros enfrentam enormes dificuldades de se manterem no ar, em razão do torniquete aplicado pelo governo implantado no país depois do golpe institucional  de 2016. São sites progressistas, vinculados aos movimentos de esquerda, críticos da ruptura democrática, que, naturalmente, não gozam da simpatia dos governos de turno, notadamente quando esses governos apresentam um perfil reacionário, conservador e ultraliberal.

Depois de silenciar alguns desses veículos, gradativamente, vão se ampliando os tentáculos autoritários na sociedade, conforme observa o cientista político Rodrigo Lentz, em artigo publicado na edição brasileira daquele jornal, neste mês de novembro. Neste momento, convém observar, com bastante cuidado, como as "coisas" vão se encaixando. Lentz observou, por exemplo, que os generais que passaram a ocupar funções públicas na gestão deste Governo são de uma mesma "escola", todos eles identificados com a Doutrina de Segurança Nacional. Todos eles passaram pela Escola Superior de Guerra. Possuem uma concepção expressa nos poderes militar, econômico, político, psicossocial e de ciência e tecnologia, tendo como missão proteger os Objetivos Nacionais Permanentes(ONP). Não menos importante, é observar as calorosas recepções ao militar da reserva, Jair Bolsonaro, em festividades militares de formatura de oficiais, observa o articulista. Numa sociedade onde, numa escala de propensão autoritária que vai de 0 a 10, ficamos com a nota 8 e as Forças Armadas é considerada a instituição mais respeitada do país, é de ficar com a orelha em pé.

É esta percepção mais aguçada e articulada que nos permitem dimensionar o tamanho da encrenca em que estamos metidos. Por aqui pelo Nordeste, caro Lentz, vejo alguns movimentos que nos permitem suspeitar, por exemplo, de uma reedição da Aliança para o Progresso da década de 60, quando agentes da CIA chegavam ao país disfarçados de bons samaritanos para prepararem o terreno do que se sucederia em 1964. Claro que as "quarteladas" das décadas de 50/60 ficaram no passado. Tudo hoje é mais sutil e sofisticado. Para apear uma presidente eleita e legítima do poder, foi utilizado um instrumento previsto pela própria democracia representativa: o impeachment. No Uruguai este mesmo expediente foi utilizado 24 vezes contra o ex-presidente Fernando Lugo, até que um deles foi aprovado. Nessas novas "conformações autoritárias" os instrumentos jurídicos ganharam uma força maior do que as baionetas. O exemplo mais emblemático é a prevalência do judiciário corporativo, quando os crimes cometidos por militares contra civis, em serviço de policiamento urbano, passam a ser de competência de tribunas militares. Logo, até a Maria da Penha dos militares será julgada por tribunais castrenses. 

Quando assumiu o Ministério da Justiça, o ministro Torquato Jardim teve muita dificuldade em mexer no comando da Polícia Federal, muito em razão dos holofotes da Operação Lava Jato. Deu-se um tempo e, mais recentemente, numa manobra que, dizem, urdida pelo presidente Michel Temer, o ministro Eliseu Padilha e o morubixaba maranhense José Sarney, eis que saiu a nomeação do Delegado Fernando Segóvia para o comando da PF. Um jornalista observou que, no dia de ontem, ele interrompeu uma entrevista sob o argumento de que iria ter um encontro com o ministro. Não se pode afastar o componente politico da indicação da superintendência daquele órgão, em nenhuma hipótese ou circunstância. O que preocupa neste último arranjo, no entanto, são as motivações desse grupo, todos, direta ou indiretamente, encrencados com os rolos da Lava Jato.

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