pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Editorial: Os homens que tentaram mudar a face da desigualdade social no Brasil
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quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Editorial: Os homens que tentaram mudar a face da desigualdade social no Brasil



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Se ainda não leu, recomendo mais uma vez a leitura do artigo do professor Durval Muniz de Albuquerque, aqui publicado. O texto de Durval ajuda a entender sobre como é complexa a tarefa de construir a cidadania numa sociedade marcada por traços tão evidentes de relações de dependência, estabelecidos entra a classe senhorial e a raia miúda, completamente dependente dos seus favores, tanto mais atendida quanto mais subserviente. Há ali, nas entrelinhas, algumas observações sobre os métodos sórdidos utilizados por essa elite senhorial para isolar, suprimir - e até eliminar simbólica ou fisicamente - quem ousa enfrentá-la, criticá-la, apontar seus equívocos e privilégios desmedidos, de corte nada republicanos. O cardápio é amplo, mas a calúnia e a difamação se constituem na primeira etapa desse processo, algo assim bem conhecido por este editor.  

A leitura do novo livro do professor Jessé de Souza, ao observar que as políticas públicas de corte inclusivo da era petista contrariaram bastante a nossa elite tacanha, mesquinha, preconceituosa e escravista, nos remeteu à lembrança de alguns nomes que estiveram diretamente envolvidos com este governo, sendo protagonistas dessas políticas públicas de natureza inclusiva, responsável pela retirada de 35 milhões de brasileiros da extrema pobreza, um salto qualitativo que, se tivesse continuidade, mudaria completamente a face de nossa democracia substantiva, uma medida salutar, capaz, logo em seguida, de produzir seus efeitos positivo no arcabouço de nossa democracia institucional. Não é nosso propósito aqui cometer alguma injustiça. Portanto, pedimos desculpas antecipadas pelas ausências que, porventura, possam ocorrer nessa galeria que passo a mencionar. Os nomes, como disse, estiveram diretamente envolvidos nessas políticas redistributivas da era petista, sem a menção a outros grandes brasileiros que, num passado recente, manifestaram a mesma preocupação.

O primeiro da lista é o economista Marcelo Neri, cuja dissertação de mestrado costumo debater com nossos alunos. À época, se lembro bem, Marcelo Neri foi muito criticado por apresentar uma abordagem nova no estudo sobre a pobreza. No entanto, noves fora as polêmicas, sua dissertação obteve o primeiro prêmio da ANPOCS naquele ano. Posteriormente, Marcelo Neri se especializaria no estudo sobre a nova classe média, tornando-se o maior especialista brasileiro no assunto. Como agente público, Neri tornou-se um dos maiores responsáveis pelo concepção e implementação das políticas públicas de inclusão da era petista. No segundo governo Dilma Rousseff(PT), pouco tempo depois que ela assumiu, para a surpresa de muitos, Neri pediu afastamento do IPEA e voltou a dar aulas na Fundação Getúlio Vargas. Não houve nenhum desentendimento entre ambos, mas acreditamos que ele tenha percebido que as circunstâncias políticas que se apresentavam já não permitiriam dar continuidade à ampliação dos projetos de inclusão social que caracterizaram o governo petista. Dilma já se encontrava enredada naquela fase caótica, onde passou a fazer concessões demasiadas aos seus algozes, descaracterizando completamente o perfil de um governo petista.

Um outro nome dessa lista é o professor Roberto Mangabeira Unger, que chegou a ser ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, no Governo Lula. Mangabeira é um grande visionário. Foi professor de Harvard aos 24 anos de idade - feito que muito o orgulha - e produz boas reflexões sobre o Brasil, sempre alinhavadas com setores políticos do centro para a esquerda. Já esteve com Leonel Brizola, com Lula, com Ciro Gomes. Na esteira de Celso Furtado, desenvolvia naquela secretaria um projeto conhecido como Projeto Nordeste. Quando a região apresentava altos índices de crescimento, preocupava ao professor o fato de que esse crescimento poderia não ser bem assimilado por uma população com baixas taxas de escolaridade. Na outra ponta, concluía que o Brasil precisava formar uma contra-elite, ou seja, permitir o acesso ao ensino superior de jovens de origem simples, com sensibilidade social, com uma mentalidade bem distinta de nossa elite acadêmica, forjada nos estratos de classe média ou da elite. Aqui, no Governo Lula, promoveu-se o maior programa de inclusão universitária de jovens pobres do Brasil. Uma verdadeira revolução se considerarmos o fato de que 83% dos pais desses jovens não tiveram acesso ao ensino superior, conforme pesquisa da Fundação Joaquim Nabuco.  

Não sei de procede, mas um blogueiro informou que quem puxou o sociólogo Jessé de Souza para o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas- IPEA - foi Roberto Mangabeira Unger. Jessé passou pouco tempo naquele órgão, de 2015 a 2016, quando começaram as tessituras golpistas que acabaram apeando a presidente Dilma Rousseff do poder. Mesmo assim, conseguiu coordenar pesquisas de amplitude nacional sobre classe e desigualdade social. 

Márcio Pochmann também foi diretor do IPEA e, durante sua gestão, responsável por grandes inovações naquele órgão. Pochmann era uma espécie de menudo de Lula, ou seja, um grupo que formava uma nova geração dentro do PT, com o objetivo de substituir aqueles petistas mais antigos, caídos em desgraça, sob a acusação de envolvimentos em atos ilícitos na condução dos negócios públicos. A princípio, o projeto de Lula era, de fato, construir um projeto político que envolveria um, digamos assim, pré-sal eleitoral, formado por cidades paulistas com potencial acima de um milhão de eleitores, nada desprezível para alimentar ambições de poder no plano nacional. O projeto não deu muito certo e Pochmann, possivelmente, deve ter voltado à sala de aula. Pochmann tentou, sem sucesso, ser prefeito da cidade de Campinas. 

Não poderia deixar de mencionar nessa galeria o ex-ministro da Educação, Fernando Haddad. A passagem do professor Fernando Haddad pelo MEC foi uma das mais avançadas em termos de conquistas que visavam atender às demandas dos estratos sociais mais fragilizados. Como sempre afirmo, num país que, historicamente, nunca reconheceu o direito de cidadania dos menos favorecidos, uma verdadeira revolução. Em sua gestão na Prefeitura de São Paulo, a "marca" Haddad também ficaria evidenciada, como no programa de assistência e integração dos dependentes de crack; nas "cotas' à rapaziada LGBTT no programa Minha Casa, Minha Vida; na correção dos valores do IPTU, sobretaxando os mais ricos; na democratização do uso do espaço físico da Avenida Paulista.

P.S.: Contexto Político: Na realidade, quando do Governo Dilma Rousseff, o economista Marcelo Neri já ocupava a presidência da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.



  

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