A prefeita Raquel Lyra assumiu a prefeitura de Caruaru com uma responsabilidade imensa: diminuir sensivelmente os índices de violência da Princesa do Agreste. No último domingo, o jornal Folha de São Paulo traz uma matéria sobre o processo crescente de "migração" da violência dos perímetros urbanos para o interior, colocando Caruaru como um exemplo emblemático deste fenômeno. Quando se toma aquela referência de mortes violentas por cada cem mil habitantes, o índice de Caruaru chega a 64, o que é maior do que o Estado de Pernambuco e o Estado de São Paulo, colocando-a no trágica posição de uma das cidades mais violentas do país. Como se sabe, este é um parâmetro utilizado pelas melhores organizações que se dedicam ao estudo da violência em todo o mundo. Não raro, por vezes, esses indicadores trazem algumas "surpresas" ao apontar, por exemplo, que a bucólica vila de João Pessoa aparece como uma das cidades mais violentas do planeta, ou mesmo a praiana Itapissuma - onde se pode comer a melhor caldeirada do Brasil - é a 10ª cidade mais violenta do país, em razão dos assassinatos frequentes de presidiários que deixam as unidades prisionais da cidade vizinha, Itamaracá.
É uma pena que uma cidade como Caruaru tenha chegado a este estágio. A princípio, não se trata de um problema que possa ser atribuído às gestões que antecederam a prefeita Raquel Lyra(PSDB). Trata-se de uma fenômeno mais complexo, ensejando, quem sabe, um estudo mais aprofundado do assunto, até mesmo para se propor algum enfrentamento baseado em dados confiáveis. De imediato, pode se concluir que a migração da violência dos perímetros urbanos para os perímetros rurais, como sugere a reportagem do jornal, não se trata de um fenômeno localizado. Grosso modo, o que se sabe de concreto é que as quadrilhas organizadas que se dedicam ao comércio de entorpecentes invadiram a cidade, acarretando disputas entre os grupos, tendo como resultado a morte de desafetos. Logo em seguida, surgem as "milícias" para "proteger" os cidadãos e os comerciantes, extorquindo-os, e impondo a ordem, o que significa, igualmente, a eliminação física, notadamente de jovens infratores. Não menos importante, não podemos deixar de mencionar a "contaminação" do aparelho de segurança do Estado, que, em casos mais graves - como já ocorre no Rio de Janeiro - os chefes do tráfico estariam indicando os comandantes de batalhão, como observou o ministro da Justiça, Torquato Jardim. Temos aqui os ingredientes para acabar com o sossego dos gestores e dos cidadãos de bem. A prefeita Raquel Lyra não tem poupado esforços para enfrentar o problema, elaborando planos de segurança, criando secretaria para cuidar dessa questão, conversando com o governador para que ele faça a sua parte.
Na realidade, o quadro da violência pública no Estado é caótico. Há uma "intermitência" que ainda não foi devidamente identificada e, como tal, não pode ser enfrentada. As medidas até aqui adotadas não foram suficientes para diminuírem esses índices. Ninguém se entende sobre o assunto, vários gestores da área já foram substituídos, verbas reservadas, homens contratados, viaturas adquiridas e os índices mensurados dos CVLI não diminuem. Quando a oposição é instigada a propor um debate consequente, observa-se aquele cenário de guerra que se viu na ALEPE entre situacionistas e oposicionistas. Aguarda-se para o próximo dia 24, no Sindicato dos Policiais Civis do Estado, um debate mais substantivo, consequente, de corte republicano sobre o assunto, envolvendo atores como o presidente do sindicato daquela entidade, Áureo Cisneiros, o cientista político e professor titular da Universidade Federal de Pernambuco, Michel Zaidan Filho, o delegado Marcelo Barros e o deputado Marcelo Freixo. O debate será mediado pelo jornalista Hugo Esteves.
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