pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Editorial: Matéria do Estadão aproxima-se das teses de Adam Przeworski no que concerne à indução do voto e sobre o cálculo da democracia.
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domingo, 7 de abril de 2024

Editorial: Matéria do Estadão aproxima-se das teses de Adam Przeworski no que concerne à indução do voto e sobre o cálculo da democracia.



O cientista político polonês, Adam Przeworski, sempre aprofundou seus estudos acadêmicos em torno dos elementos que dão suporte ou sustentabilidade aos regimes democráticos. Na realidade, esta é sua grande linha de pesquisa. No início de sua carreira, escreveu um artigo emblemático acerca da indução do voto do cidadão, consoante uma série de variáveis, como o seu status social; os papéis desempenhados por ele dentro da estrutura social; suas expectativas, formulada numa equação onde estariam previstas suas ambições ou desejos pessoais e familiares; assim como as eventuais respostas ou não do aparelho de Estado a essas demandas. 

Se o cidadão tem uma microempresa; Mora num bairro periférico; Frequenta uma igreja evangélica; Não conta com  uma boa assistência de saúde; Anda  preocupado com os índices elevados de insegurança pública; Tem um filho homossexual, qual desses papéis, identidades ou condições seria mais determinante para que ele definisse seu voto neste ou naquele candidato? Ele, por exemplo, poderia inclinar-se a dá se voto a um candidato não evangélico, desde que acenasse para a abertura de melhores condições de crédito para o seu negócio? As possibilidades desse jogo aqui são inúmeras. 

A premissa aqui é a mesma, embora peçamos a permissão aos leitores e leitoras para as divagações possíveis ao apresentar o exemplo acima, não necessariamente utilizando os mesmos elementos empregados pelo cientista político polonês ao escrevê-lo, muito menos ainda com a mesma competência do autor, hoje professor da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos.    

Hoje, 07, o jornal o Estado de São Paulo traz um artigo, concordando com o blog por aqui, onde o autor observa que essa repentina conversão do presidente Lula num crente fervoroso, com fé e propósito para abrir o mar vermelho de sua popularidade, numa estratégia discursiva de corte eminentemente orientada para atingir um eleitorado de perfil evangélico, pode não surtir efeito algum. O artigo levanta, ao mínimo, três  questãos cruciais para se chegar a tal conclusão. Vamos a elas:  

Primeiro: Existem evangélicos e evangélicos. Embora isso parece óbvio, nunca é demais repetir. Eles não formam um núcleo coeso e há, claramente, uma incongruência de pauta evidente entre o PT e alguns desses grupos evangélicos, sobretudo os mais tradicionais, possivelmente com uma identificação bem mais próxima de outros segmentos políticos, conforme é o caso do bolsonarismo. Aqui a questão é irreconciliável. Como conciliar grupos feministas favoráveis ao aborto ou defensores de direitos de grupos LGBTQIA+ e núcleos evangélicos mais tradicionais? Ou seja, as agendas não batem e não se pode servir ou ser fiel a dois senhores, conforme ensina as sagradas escrituras. 

Segundo: A erosão da popularidade de Lula é um fenômeno que envolve múltiplos fatores, não se limitando unicamente aos segmentos evangélicos do eleitorado. Portanto, uma campanha publicitária focada quase que exclusivamente neste segmento do eleitorado tende, em princípio, a não atingir os objetivos esperados, que seria evitar essa sangria nos índices de aprovação do Governo. Segundo especula-se, a ênfase neste segmento do eleitorado é tanta que o Planalto já estaria preparando uma peça publicitária com o sugestivo slogan: "Fé no Brasil". 

Terceiro: E, por fim, mais não menos importante, o que nos fez fazer menção aos textos do cientista político polonês a partir da matéria do jornal, ou seja, que os evangélicos - segundo o jornal com informações produzidas pelo próprio PT - estão mais interessados num Estado que facilite o empreendedorismo, oferte uma educação e saúde de melhor qualidade. Seria uma questão bem pragmática, orientada pela matriz econômica e não pela fé,  uma eventual indução desses votos evangélicos para este ou aquele político ou partido. Neste sentido vale a pena aqui reconhecer uma recomendação da Deputada Federal Benedita da Silva, ainda no início da campanha presidencial de 2022, o que indica que os problemas não são recentes, no sentido de que o partido focasse na pauta econômica mais geral e não segmentasse esse nicho eleitoral. 

Ainda em torno deste último item, vamos fazer aqui um registro. A economia não vai muito bem, atingindo a parte mais sensível dos cidadãos, seja evangélico ou não: o bolso. O vilão da vez é o tradicional feijão com arroz, alimentação básica dos brasileiros de todas as religiões. Sobre essa equação entre economia e política ou entre democracia substantiva e democracia política, registramos, igualmente, o discurso recente do ex-Ministro da Casa Civil do primeiro Governo Lula, José Dirceu, quando enfatiza a importância das políticas sociais para impedir a erosão dos alicerces da democracia política no país. 

Ainda para fechar essa discussão, uma observação crucial sobre aquilo que tratamos aqui como cálculo da democracia, a partir das conclusões de Adam Przeworski, quando o polonês informa que, a partir da renda per capita da população daria para se prever o desmoronamento ou não do edifício democrático. Quando maior a renda per capita da população - evangélica ou não, acrescentamos - menores são essas chances.       

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