O debate no nosso blog sobre a TV Revolta continua quente, mas, por aqui, a TV Revolta parece ter "esfriado" um pouco suas críticas ao PT. Não se enganem, porém. A TV Revolta é uma TV reaça, conservadora, de orientação anti-petista. Ontem, ao abrir a caixa-preta dos seus patrocinadores, fica evidente a tecitura armada entre o capital internacional consorciado com o capital nacional e setores ultra-conservadores. Quem desejar conhecer esses grupos, podem acessar a página da TV Revolta. Eles foram citados no contexto de uma resposta dos seus idealizadores a algumas críticas dirigidas pelos petistas. Como afirmou o diretor do Facebook no Brasil, Leonardo Tristão, essa será as eleições das redes sociais. O PT sempre foi muito competente por aqui. Seu pessoal deve estar afiando as garras para enfrentar as manobras dessa TV Revolta que, como disse um comentarista no blog, parece ter feito um pacto com o diabo para crescer tão assustadoramente. Com o Diabo nós não sabemos. Com a direita, certamente. Sua Fanpage já conta com mais de três milhões de curtidas. Até bem pouco tempo não passava de 200 curtidas. Já fomos informado que a contra-ofensiva já estaria em curso.
segunda-feira, 19 de maio de 2014
domingo, 18 de maio de 2014
O capitalismo não pode gerar liberdade para todos, igualdade nem para poucos e fraternidade de jeito nenhum
Por habanero
José Paulo Netto é um dos maiores intelectuais marxistas do país. Isso, as pessoas minimamente bem informadas sobre este campo, já sabem. Pensador decisivo da formulação teórica no campo do Serviço Social, o alcance de seu trabalho e de sua influência já extrapolou as fronteiras daquela área. Zé Paulo, como gostamos de chamá-lo, tem sido ao longo das últimas décadas um dos pontos de referência da esquerda que quer pensar e tem acolhido com extraordinária generosidade o amplo leque de matizes e subcolorações que ela comporta. Em suas muito concorridas aulas de pós-graduação – trata-se de um professor emérito em franca atividade – encontram-se olhares atentos de bons representantes de uma diversidade de siglas políticas e de movimentos da busca da mudança do mundo. A energia que empresta às suas convicções teóricas, adensada por sua erudição, ganha especial sentido para os que testemunham a humanidade calorosa com que trata os jovens em início de caminhada.
Esta entrevista tem também o sentido de homenagear outro grande mestre, professor, pensador e figura humana marcante para tantas e tantos de nós: o professor Carlos Nelson Coutinho, com quem Zé Paulo conviveu por frutíferas décadas. O entrevistado começou falando do amigo e o citando encerrou. A Carlos Nelson a revista Habanero dedica esta entrevista.
A atualidade do pensamento vinculado à superação do capitalismo, o significado dos processos sociais e políticos atuais, o lugar dos movimentos de “minorias” e do movimento ambientalista e sua relação com a luta de classes, o papel da militância partidária no mundo de hoje e, por todos, a possibilidade de um futuro humano emancipado, são alguns dos temas tratados com extraordinárias lucidez, atualidade e coerência por nosso entrevistado. Seu conhecido rigor teórico, exige advertir que a eventual brevidade com que alguns assuntos são tratados decorre das limitações temporais e técnicas e não do desconhecimento de que são apenas parte do debate. Mas seus entrevistadores – editores desta revista, que contaram com a valiosa colaboração do amigo Victor Neves – se perguntam: quantos poderiam ter dito tanto em tão pouco tempo?
(Publicado originalmente na Revista Habanero)
Tijolaço: Cantanhede antecipa subida de Dilma nas pesquisas
18 de maio de 2014 | 12:10 Autor: Fernando Brito
“Depois de estancar a queda, pois, Dilma deve voltar a subir. Na marra. Não significa, porém, que a eleição será fácil.”
Perdida, no penúltimo parágrafo do artigo da indefectível Eliane Cantanhêde, esta frase “premonitória” não deve ser desprezada como informação.
Afinal, a “colunista da massa cheirosa” – como dicou conhecida ao definir assim a “massa” de um encontro do PSDB é pessoa que vive próxima aos círculos de poder e, até por razões familiares – do “marquetismo” eleitoral.
O que ela fala traduz, provavelmente, menos uma esperança do lado “dilmista” e mais uma resignação “tucana”.
Claro que Cantanhêde doura esta pílula com afirmações de um inacreditável “beneficiamento” de Dilma na mídia, como se apanhar todo dia hora e minuto fosse positivo para imagem de alguém.
Quando eu passar para o outro lado, vou contar essa ao Brizola, que há de rir muito…
Objetivamente, porém, essa é a lógica – deus me livre de dizer que as pesquisas hão de seguir a lógica – de uma soma de fatores, que , aqui, eu chamei de “Rubicão” a ser atravessado pela Presidenta.
1- O período de aceleração da inflação no início do ano, sobretudo no grupo alimentos, este ano com o auxílio de uma das mais inclementes secas da história recente do Brasil, com o auxílio importante do transporte público, que ficara com reajustes represados desde os protestos de junho de 2013.
2. As pressões do capital internacional, que começou o ano colocando o Brasil na lista dos “Cinco Frágeis” e exercendo uma forte pressão sobre o câmbio, que chegou a R$ 2,43 por dólar, para chegar, hoje, a uma relativa estabilidade em algo ligeiramente superior a R$ 2,20. Pressão cambial que fazia, também, pressão financeira extremamente alta, ao elevar os juros internos, que passavam a embutir o risco de ter de compensá-la aos “investidores”;
3. O período de pressões e chantagens da base político-parlamentar, que começa a ser reduzir à medida em que os barcos eleitorais estão mais definidos e só têm um mês de águas revoltas, até as convenções partidárias.
4. A campanha midiática, que encontrou a cereja de seu bolo no episódio Petrobras, causando um impacto significativo na imagem de austeridade que Dilma, aliás com toda a razão, construíra.
Este “mix” de problemas, entretanto e tardiamente, teve o condão de despertar o Governo de uma passividade que o matava em silêncio e fazer com que recobrasse o enfrentamento político em dois pontos que lhe são vitais: a característica nacional-popular e a transformação real que desde o segundo mandato de Lula vem se operando nas políticas públicas do neoliberalismo, estagnadoras e/ou recessivas, com os baixos níveis de investimento e uma ascensão social das grandes massas, quando muito, apenas em níveis “vegetativos”.
É, por tudo isso, reconhecer que na frases que reproduzi – e apenas nelas – Cantanhêde tem razão.
Não apenas Dilma deve voltar a subir e só isso abalará o que, desde a última leva de pesquisas, a direita deixou de dar como favas contadas: que a piora dos índices de Dilma fosse, ela própria, um elemento de realimentação de futuras quedas.
Subir – , no patamar em que as pesquisas – apesar de tudo – ainda a colocam hoje, é uma situação em que só se discute se será o suficiente para liquidar a fatura já no primeiro turno – mas também que a eleição não será fácil.
Nunca foi e, agora, quando as pressões contra a esquerda se tornam maiores em toda a América Latina se tornam maiores, não é que iria ser.
Publicado originalmente no site O Tijolaço, escrito por Fernando Brito
"Ideias de Kollontai reacendem necessidade de uma saída do horror capitalista", diz pesquisadora.
“Ideias de Kollontai reacendem necessidade de uma saída do horror capitalista”, diz pesquisadora
Por Redaçãomaio 13, 2014 13:28

Em entrevista à Fórum, Diana Assunção fala sobre o livro “Mulher, Estado e Revolução”, de Wendy Goldman, que aborda os avanços da luta das mulheres após a revolução de 1917 na Rússia
Por Marcelo Hailer
Diana Assunção, que assina o prólogo do livro “Mulher, Estado e Revolução”, de Wendy Goldman,que estará no Brasil na próxima semana, recém-lançado pela edições Iskra em parceria com a Boitempo, acredita que a obra dialoga diretamente com o cenário político atual do Brasil. O livro, que recebeu o prêmio Berkshire Conference, examina as mudanças sociais pelas quais passou a sociedade da União Soviética nas duas décadas após a revolução de 1917, com foco nas mulheres.
“Em um momento em que nosso país entrou em consonância com as revoltas internacionais da classe trabalhadora e da juventude, após o que ficou conhecido como ‘jornadas de junho’ e as atuais ondas de greve, como a dos garis do Rio de Janeiro, acredito que trazer o livro ao público brasileiro é um enorme aporte para a luta das mulheres”, avalia Assunção, que é também autora dos livros A precarização tem rosto de mulher, que trata da greve das trabalhadoras terceirizadas da USP, e Lutadoras – Histórias de mulheres que fizeram história.
Assunção conversou com a Revista Fórum sobre a importância da publicação de Goldman no Brasil e o legado das feministas bolcheviques. As propostas de Alexandra Kollontai (foto acima), principal dirigente bolchevique da Revolução Russa, também estão no centro do debate proposto pela obra.
Kollontai defendia a ideia da construção de uma nova mulher, uma nova moral e o “amor-camarada”, que existiria para além das relações matrimoniais. Para Assunção, as ideias da dirigente bolchevique são “uma das tentativas de refletir como deve se dar as relações humanas numa sociedade sem exploradores e explorados”. “Que homens e mulheres possam pensar, por eles próprios, como são as relações afetivas sem o jugo capitalista é o mais avançado que uma sociedade comunista pode oferecer”, afirma a ativista. Confira a entrevista a seguir.
Fórum – Qual a importância da tradução de “Mulher, Estado e Revolução” no Brasil?
Diana Assunção - Em um momento em que nosso país entrou em consonância com as revoltas internacionais da classe trabalhadora e da juventude, após o que ficou conhecido como “jornadas de junho” e as atuais ondas de greves, como a dos garis do Rio de Janeiro, acredito que trazer o livro ao público brasileiro é um enorme aporte para a luta das mulheres. Temos visto já há alguns anos uma efervescência nos temas relacionados à luta dos setores oprimidos da sociedade, como as mulheres, e em cada debate podemos ver que existem diferentes estratégias sobre como encarar estas questões. O que a obra traz, de forma inédita e completamente distinta da biografia feminista existente no país até hoje, é uma visão concreta e contundente dos reais avanços que a Revolução Russa de 1917 trouxe no âmbito dos direitos das mulheres. Demonstra, com dados científicos, que estes avanços não estavam descolados de uma luta superior pelo fim da sociedade de exploração na qual vivemos hoje.
Diana Assunção - Em um momento em que nosso país entrou em consonância com as revoltas internacionais da classe trabalhadora e da juventude, após o que ficou conhecido como “jornadas de junho” e as atuais ondas de greves, como a dos garis do Rio de Janeiro, acredito que trazer o livro ao público brasileiro é um enorme aporte para a luta das mulheres. Temos visto já há alguns anos uma efervescência nos temas relacionados à luta dos setores oprimidos da sociedade, como as mulheres, e em cada debate podemos ver que existem diferentes estratégias sobre como encarar estas questões. O que a obra traz, de forma inédita e completamente distinta da biografia feminista existente no país até hoje, é uma visão concreta e contundente dos reais avanços que a Revolução Russa de 1917 trouxe no âmbito dos direitos das mulheres. Demonstra, com dados científicos, que estes avanços não estavam descolados de uma luta superior pelo fim da sociedade de exploração na qual vivemos hoje.
O livro permite compreender que foi justamente a classe operária tomando o poder que avançou nos direitos mais elementares das mulheres, legalizando o aborto e o divórcio, acabando com a perseguição a homossexuais e prostitutas, socializando as tarefas domésticas para livrar as mulheres da chamada “dupla jornada” de trabalho. Colocava que, ainda assim, era preciso conquistar não somente a igualdade perante a lei, mas perante a vida. Este era o pensamento bolchevique. Em meio à guerra civil, os bolcheviques defendendo a manutenção do Estado Operário em transição para lutar pela revolução a nível mundial, estavam também debatendo como a família seria organizada, como as crianças seriam criadas, como as mulheres podem estar nos cargos de poder do Estado Operário avançando contra toda a alienação do trabalho doméstico. Na história da democracia burguesa não nada que tenha avançado tanto nos direitos das mulheres.
Por isso, este é um livro militante, não é um livro para ficar nas bibliotecas, mas um livro para mostrar para a juventude de hoje, às mulheres e às novas gerações da classe trabalhadora, que os operários e operárias russas, que tomaram o céu por assalto, chegaram muito perto de destruir as amarras da opressão e permitir a beleza da vida, sem exploração e violência.
Fórum – A impressão que temos é que a ideia senso comum em torno da revolução vermelha e da consequente proposta de sociedade comunista se perdeu. Por exemplo, pouco se diz a respeito da proposta de união livre, a construção de uma nova moral, da criação socializada das crianças etc. Em sua opinião, por que tais propostas caíram no esquecimento?
Assunção - A década de 1990 foi uma década que podemos chamar de “restauração burguesa”, ou seja, um período de avanço neoliberal contra a classe trabalhadora e todas as suas conquistas, que teve seu correspondente também no campo ideológico. Buscou apagar da memória e da história a ideia de que é possível existir uma revolução operária triunfante, se apoiando no que ficou conhecido como “socialismo real”, tratando dos ex-Estados Operários burocratizados do Leste Europeu e da própria Rússia. A burguesia internacional, com o apoio de muitos intelectuais, inclusive que se diziam de esquerda, disseminaram a ideia de que a classe operária não existia mais, que se tratava do “fim da história”.
Assunção - A década de 1990 foi uma década que podemos chamar de “restauração burguesa”, ou seja, um período de avanço neoliberal contra a classe trabalhadora e todas as suas conquistas, que teve seu correspondente também no campo ideológico. Buscou apagar da memória e da história a ideia de que é possível existir uma revolução operária triunfante, se apoiando no que ficou conhecido como “socialismo real”, tratando dos ex-Estados Operários burocratizados do Leste Europeu e da própria Rússia. A burguesia internacional, com o apoio de muitos intelectuais, inclusive que se diziam de esquerda, disseminaram a ideia de que a classe operária não existia mais, que se tratava do “fim da história”.
Esta operação ideológica e o ataque concreto à classe trabalhadora, que lhe imprimiu uma “derrota moral”, deixando de se ver como classe, são responsáveis também para que se perca o ideal da revolução, ao mesmo tempo que a propaganda stalinista busca colocar um sinal de igual entre o stalinismo e o bolchevismo. O livro de Wendy Goldman é bastante preciso neste sentido e demonstra todo o retrocesso que foi levado adiante a partir da burocratização do estado operário na Rússia com Stalin à frente. No âmbito das questões da mulher, imprimiu um retrocesso, proibindo o aborto e chamando as mulheres a “voltarem pro lar”, reconstituindo um papel de mãe e esposa, que nada tinha a ver com os ideias libertários dos bolcheviques.
Aqui não se tratava de opções táticas, mas de uma diferença estratégica muito profunda entre Stalin e a Oposição de Esquerda de Leon Trotsky, uma vez que o primeiro defendia que a tomada do poder já significava que 90% da revolução estava consumada. Já Trotsky e a Oposição de Esquerda diziam que a tomada do poder era apenas o começo do processo revolucionário. Para Trotsky, era necessário levar adiante uma “revolução dentro da revolução” para conseguir alcançar uma sociedade verdadeiramente comunista, o que só poderia se dar a nível internacional, por isso uma revolução na Rússia, por mais gloriosa que fosse, tratava-se apenas do começo. Estas ideias são parte da Teoria da Revolução Permanente, que consideramos mais atual do que nunca pra responder a situação de crise capitalista em que vivemos, onde a burguesia demonstra que não pode proporcionar mais do que opressão e miséria para toda a população.
Neste sentido, as propostas mais interessantes que os bolcheviques também trouxeram à tona, como a união livre, a construção de uma nova moral e a socialização das crianças ficaram secundarizadas frente a um debate de estratégias para a revolução proletária – ao mesmo tempo que vale ressaltar que nenhuma obra havia trazido tamanha pesquisa de detalhes sobre os debates em torno destas propostas. Esse é um dos grandes trunfos desta publicação.
Fórum – Os textos de Alexandra Kollontai, principalmente o “Amor-camarada”, propõem, a partir de uma crítica estrutural, um amor que não mais aconteça apenas dentro do casamento, mas sim nas relações sociais e de forma liberta e solidária. A proposta de Kollontai ainda é uma utopia a ser buscada?
Assunção - A proposta de Alexandra Kollontai é uma das tentativas de refletir como devem se dar as relações humanas, numa sociedade sem exploradores e explorados. Que homens e mulheres possam pensar, por eles próprios, como são as relações afetivas sem o jugo capitalista é o mais avançado que uma sociedade comunista pode oferecer. Isso é impossível no capitalismo, onde todas as relações são atravessadas por dinheiro e posse. Por isso é interessante o pensamento de Kollontai, que foi uma forte organizadora das mulheres trabalhadoras a partir do Partido Bolchevique.
Assunção - A proposta de Alexandra Kollontai é uma das tentativas de refletir como devem se dar as relações humanas, numa sociedade sem exploradores e explorados. Que homens e mulheres possam pensar, por eles próprios, como são as relações afetivas sem o jugo capitalista é o mais avançado que uma sociedade comunista pode oferecer. Isso é impossível no capitalismo, onde todas as relações são atravessadas por dinheiro e posse. Por isso é interessante o pensamento de Kollontai, que foi uma forte organizadora das mulheres trabalhadoras a partir do Partido Bolchevique.
Neste sentido não considero que se trata de uma utopia, mas uma possibilidade concreta da revolução. Ainda assim é preciso destacar que Kollontai teve uma série de posições políticas oscilantes, em especial após se colocar ao lado de Stalin durante o período de burocratização, chegando a dizer que, enquanto todas as conquistas das mulheres retrocediam, ali vivia a “mulher emancipada”.
Mas, independente do posicionamento de Kollontai, as ideias que levou adiante durante os primeiros anos da Revolução Russa somente reacendem, hoje, a necessidade de debater firmemente uma saída para o horror capitalista. Cada vez mais vemos o aumento de assassinatos e estupros de mulheres, inclusive por seus próprios companheiros, num mundo onde o amor tem como objetivo a posse do outro e não o conjunto da comunidade.
Fórum – Podemos dizer que a ascensão de Stalin é a grande responsável pelo enterro da proposta revolucionária de sociedade?
Assunção - A burocratização era produto das contradições (dificuldades concretas) da revolução internacional e do próprio atraso da Rússia. Era neste cenário que Stalin deu passos contundentes no processo de burocratização do Estado Operário. A Revolução dirigida exemplarmente por Lenin e Trotsky foi uma experiência sem igual na história da humanidade. Mostrou o quanto a classe operária, com sua força, audácia e criatividade, é capaz de construir outra sociedade, se enfrentando com todos os ataques das potências internacionais que estavam em jogo.
Assunção - A burocratização era produto das contradições (dificuldades concretas) da revolução internacional e do próprio atraso da Rússia. Era neste cenário que Stalin deu passos contundentes no processo de burocratização do Estado Operário. A Revolução dirigida exemplarmente por Lenin e Trotsky foi uma experiência sem igual na história da humanidade. Mostrou o quanto a classe operária, com sua força, audácia e criatividade, é capaz de construir outra sociedade, se enfrentando com todos os ataques das potências internacionais que estavam em jogo.
Mas principalmente porque Stalin dirigiu uma burocracia, ou seja, uma casta de dirigentes que queriam viver justamente numa sociedade intermediária, que não era nem o capitalismo nem o comunismo, mas um período de transição onde eles poderiam gozar de vários privilégios e parar o processo revolucionário. Por isso defendiam firmemente a “revolução em um só país”, dizendo que tendo feito uma revolução na Rússia, já era suficiente, ou seja, 90% do comunismo estava garantido. Trotsky e toda a Oposição de Esquerda, que foi duramente perseguida e reprimida – inclusive assassinada, como no caso de Trotsky – diziam o contrário, que a Revolução Russa poderia abrir espaço pra revolução internacional inclusive se contribuísse para que países mais avançados conseguissem fazer também sua revolução em perspectiva internacionalista.
Fórum – Qual é o legado das feministas revolucionárias?
Assunção - As feministas revolucionárias, diferentemente das burguesas e até mesmo das pequeno-burguesas e radicais, têm como legado serem mulheres que romperam com toda a ideologia machista burguesa para lutarem pela emancipação das mulheres e do conjunto da sociedade, ligadas à única classe que pode dar uma resposta estratégica: a classe trabalhadora. Os movimentos feministas dos últimos 40 anos em sua maioria foram cooptados, ou se dignaram a aceitar uma igualdade de direitos por dentro do regime capitalista. Com meia-dúzia de mulheres no poder – como Dilma Rousseff –, alguns direitos e políticas públicas, muitas feministas se dizem satisfeitas, e falam de emancipação por dentro da sociedade capitalista. Outras inclusive se dedicam a debater o machismo dentro da classe operária, dos sindicatos e da esquerda.
Assunção - As feministas revolucionárias, diferentemente das burguesas e até mesmo das pequeno-burguesas e radicais, têm como legado serem mulheres que romperam com toda a ideologia machista burguesa para lutarem pela emancipação das mulheres e do conjunto da sociedade, ligadas à única classe que pode dar uma resposta estratégica: a classe trabalhadora. Os movimentos feministas dos últimos 40 anos em sua maioria foram cooptados, ou se dignaram a aceitar uma igualdade de direitos por dentro do regime capitalista. Com meia-dúzia de mulheres no poder – como Dilma Rousseff –, alguns direitos e políticas públicas, muitas feministas se dizem satisfeitas, e falam de emancipação por dentro da sociedade capitalista. Outras inclusive se dedicam a debater o machismo dentro da classe operária, dos sindicatos e da esquerda.
O que esquecem – ou querem esquecer – é que, por um lado, para aquelas que se consideram emancipadas no capitalismo, não há igualdade em um mundo baseado na desigualdade, ou seja, na exploração. Por outro lado, para aquelas que se dedicam a combater [o machismo] na classe operária, colocam um sinal de igual entre direita e esquerda, perdendo inclusive os contornos de classe, não levando em consideração justamente que a direita é ideologicamente machista. A esquerda é composta por pessoas que podem ser machistas, uma vez que continuamos vivendo numa sociedade capitalista, mas que se propõem lutar para mudar a sociedade. Neste processo, [essas pessoas de esquerda] enfrentarão as contradições para avançar, afinal, “não é possível se emancipar quem oprime o outro”. Por isso, as feministas revolucionárias que carregam a tradição bolchevique lutam para que a classe operária tome pra si a demanda das mulheres, com todas as contradições que carregam, que nada mais é do que a ideologia burguesa atuando para dividir esta classe, entre homens e mulheres, brancos e negros, homossexuais e heterossexuais.
Mas a estratégia revolucionária coloca para as mulheres a necessidade de escolher uma só classe, que deve ser a classe operária, uma classe que não tem nada a perder e que, como sujeito dirigente da revolução, pode fornecer a milhões de oprimidos de todo o mundo a possibilidade de uma vida sem opressão e exploração.
Fórum – E o que devemos a elas?
Assunção - Devemos às revolucionárias bolcheviques, que tomaram o céu por assalto, tirar as lições da grandiosa experiência da Revolução Russa e completar sua obra no Brasil e no mundo inteiro!
Assunção - Devemos às revolucionárias bolcheviques, que tomaram o céu por assalto, tirar as lições da grandiosa experiência da Revolução Russa e completar sua obra no Brasil e no mundo inteiro!
(Publicado originalmente na Revista Fórum)
Aliança PSB/REDE: Na realidade, uma grande disenteria política.
Marina Silva saiu das urnas nas eleições de 2010 com um grande capital político. Quando, depois dos problemas com a viabilização do seu próprio partido, resolveu aliar-se com o candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, igualmente, alguns analistas observaram na união um grande fato político, capaz interferir substantivamente no quadro geral das eleições de 2014. A expectativa é que Marina transferisse seu capital político para o pernambucano. Isso, naturalmente, não poderia ocorrer de forma automática, tratar-se-ia de um processo gradativo. A questão que se coloca, no entanto, é que, pelo andar da carruagem política, esse fato não vem ocorrendo. Os mais otimistas, sobretudo do PSB, acreditam que isso poderá ocorrer a partir do horário eleitoral. Temos cá nossas dúvidas. A editoria de política do JC de hoje, 18/05, traz uma matéria sobre o assunto. Embora trate-se de uma aliança que poderia, de fato, proporcionar alguns ingredientes novos no contexto da competição eleitoral das eleições presidenciais de 2014, por enquanto, como afirmou um morubixaba petista, a chapa de açaí com tapioca vem provocando é uma verdadeira disenteria política. O grau de atritos entre ambos é evidente, além de outros aspectos conjunturais que depõem contra o êxito dessa união. Nos principais colégios eleitorais, por exemplo, Marina e sua Rede defendem uma candidatura própria, contrariando acordos políticos celebrados entre o pernambucano e o senador Aécio Neves. São Paulo e Minas são um bom exemplo disso; Eduardo tenta abrir uma frente de diálogo com os ruralistas, que temem as posições ambientalistas da ex-ministra do meio-ambiente, mesmo com sua versão canhestra; O figurino da "Nova Política" não cabe em ambos. Essa história de emendar o bigode com raposas da velha política, representantes das grandes oligarquias brasileira, é conversa para boi maranhão dormir; Programaticamente, conforme já foi posto, é um samba do crioulo doido. Os problemas vão desde as questões ambientais até religiosas, obrigando o pernambucano a fazer um contorcionismo enorme para não desagradar o "rebanho". No dia de hoje, por exemplo, aparece do lado de figuras representativas do movimento LGBT, afirmando que sempre esteve do lado deles. Amanhã, certamente, vai ter que se explicar para a irmã. Aliás, não apenas para a irmã. As entidades representativas do LGBT já estão postando nas redes sociais que o "Galeguinho" nunca esteve do seu lado. Pernambuco é o Estado onde mais se cometem crimes contra esses grupos. Não sei se esse dado confere. Tenho dúvidas sobre essas estatísticas. Não seria o Estado de Alagoas o mais, digamos assim, intolerante?
O silêncio ao redor
Intelectuais que sempre fizeram o contraponto progressista reagem agora entre a indiferença e a prostração. Jorge Furtado, pergunta: quando o Brasil foi melhor?

A impressão de que o governo fala sozinho, cercado por um jogral ensurdecedor, ora raivoso, ora repetitivo, mas de qualquer forma onipresente, não é fortuita.
É isso mesmo, se a percepção se basear apenas na emissão veiculada pelos jornais, tevês e emissoras de rádio que ecoam o monólogo do ‘Brasil aos cacos’.
Mas já foi diferente? Em 1989, talvez, quando o Jornal Nacional editou o famoso debate final da campanha, às vésperas do voto? Ou em 2002, quando George Soros assegurava, com exclusividade para a Folha, que era Serra ou o caos?
Talvez em 2006, sob o cerco do ‘mensalão’? Ou então em 2010, quando a Folha se lambuzou na ficha falsa da Dilma e Serra convocou Malafaia como procônsul para assuntos relativos a moral e aos bons costumes?
Então o que mudou para que o ar pareça tão mais carregado, a ponto de ser necessário, às vezes, cortar com faca o noticiário para enxergar além da derrocada iminente que se anuncia?
Algumas coisas.
Vivemos uma transição de ciclo econômico.
Em parte pela reversão do quadro internacional, em parte pelo esgotamento de suas dinâmicas internas, o desenvolvimento brasileiro terá que se repensar para retomar uma trajetória de longo curso.
Trata-se de recompor as condições de financiamento da economia. E depurar prioridades em direção à maior eficiência logística e melhor qualidade de vida.
Não é café pequeno.
A expectativa provoca arrepios nas carteiras graúdas.
Não será mais possível, por exemplo, prosseguir apenas com o impulso das exportações de commodities, cujos preços triplicaram no mundo desde 2003 --os do petróleo quadruplicaram, mas os agrícolas cresceram mais de 50%.
Tampouco a liquidez internacional promete ser tão generosa a ponto de dissipar as contradições internas em um jorro de crédito apaziguador que tudo sanciona.
Os donos do dinheiro precificam as ameaças incrustradas nesse duplo esgotamento, que escancara a natureza paralisante da hegemonia rentista sobre o país.
Dispostos a não ceder, operam a plenos decibéis para sufocar a evidência de que seu privilégio entrou na alça de mira de uma encruzilhada histórica.
Aconteceu antes, em 32 e 53 – quase como uma revolução burguesa à revelia das elites; foi resolvido com o patrocínio do capital estrangeiro em 55; reprimido em 64; ordenado ditatorialmente nos anos 70 e terceirizado aos livres mercados nos anos 90.
A seta do tempo ensaia um novo estirão.
O desafio, antes de mais nada, é de natureza política.
A coerência macroeconômica da travessia será dada por quem reunir força e consentimento para assumir a hegemonia do processo.
Não por acaso, na abertura do 14º Encontro dos Blogueiros e Ativistas Digitais, nesta 6ª feira, Lula resumiu tudo isso em uma frase:
‘Sem reforma política não faremos nada neste país’.
E ela terá que ser construída pela rua. ‘Por uma Constituinte exclusiva’, adicionou o ex-presidente da República: ‘Porque o Congresso que está aí pode mudar uma vírgula aqui, outra ali. Mas não a fará’.
Não é um capricho ideológico.
Trata-se de dar consequência institucional às demandas e protagonistas que iniciaram a longa viagem à procura de um outro país, a partir das greves metalúrgicas do ABC paulista, nos anos 70/80.
E que agregaram mais 60 milhões de brasileiros pobres a esse percurso desde 2003.
Um passaporte da travessia consiste em regenerar a base industrial brasileira.
E tampouco aqui é contabilidade.
Para a economia gerar empregos e salários de qualidade, ademais de receita fiscal compatível com as urgências sociais e logísticas, é vital recuperar o principal polo irradiador de produtividade em um sistema econômico.
O pressuposto para um aggiornamento industrial é juro baixo, câmbio desvalorizado e controle de capitais.
Grosso modo, esse é o tripé que afronta o outro, da alta finança, baseado em arrocho fiscal, câmbio livre e juro alto.
Todo o círculo de interesses que orbita em torno do cassino está mergulhado até o pescoço na guerra preventiva contra o risco de uma reciclagem subjacente à eleição de outubro.
Essa é uma singularidade que distingue e radicaliza a presente disputa sucessória --feita em condições internacionais adversas-- a ponto de tornar o ar quase irrespirável.
Por trás dos ganidos emitidos pelo colunismo isento (ideológicos são os blogueiros) há um cachorro grande a soprar seu bafo sobre o cangote da sociedade.
O capital rentista.
Ele lucrou, limpo, acima da inflação, 18,5% em média, ao ano, no segundo governo FHC.
Faturou 11,5%, em média, no segundo governo Lula.
E, já impaciente, entre 3,5% e 5% agora, sob a gestão Dilma.
Estamos falando de massas de forças nada modestas.
Diferentes modalidades de fundos financeiros somaram um giro acumulado de R$ 2,4 trilhões no Brasil em 2012.
O valor equivale a mais da metade do PIB em direitos sobre a riqueza real --sem triscar o pé no chão da fábrica.
Não é um país à parte. Mas se avoca mordomias equivalentes às desfrutadas pelas tropas de ocupação.
Entre elas, rendimentos sempre superiores à variação do PIB, portanto, em detrimento de fatias alheias. E taxas de retorno inexcedíveis -- dividendos permanentes de dois dígitos, por exemplo-- a impor um padrão de retorno incompatível com a urgência do novo ciclo de investimento que o Brasil reclama.
Não se mantém uma tensão desse calibre sem legiões armadas.
Pelotões de estrategistas, exércitos de consultores, artilharias acadêmicas, bancadas legislativas, cavalarias midiáticas e aliados internacionais operam a seu serviço.
O conjunto entrou em prontidão máxima.
Um pedaço da hegemonia que vai ditar o novo arranjo macroeconômico será decidido nas eleições de outubro.
O embate escorre do noticiário especializado (isento como uma nota de três reais) para os espaços onde os cifrões são traduzidos em duelos entre o bem e o mal, entre corruptos e salvadores da pátria, intervencionistas e liberais, desgoverno e eficiência.
Daí são mastigados para o varejo do martelete conservador.
Nesse ambiente de beligerância em que o governo parece falar sozinho, a explosão de demandas que buscam carona na visibilidade da Copa do Mundo, apenas reafirma uma transição de ciclo, incapaz de ser equacionado por impulsos corporativos ou bandeiras avulsas, ainda que justas (leia mais sobre esse tema no blog do Emir).
‘Não vai ter Copa’ figura como o arremedo de uma unidade tão frágil quanto a aritmética subjacente à ideia de que os males do país se resolvem com os R$ 8 bilhões financiados às arenas do torneio --que serão pagos, ressalte-se.
No evento da sexta-feira, em São Paulo, Lula lembrou aos blogueiros que desde que começaram as obras da Copa, em 2010, o governo investiu R$ 825 bi em saúde e educação.
E, todavia, a escola pública e o SUS persistem com as lacunas sabidas.
O buraco é mais amplo.
O Brasil se confronta com o desafio de realizar grandes reformas que lhe permitam erguer as linhas de passagem entre o inadiável e o viável num novo ciclo de crescimento.
Menos que isso é dar à edição conservadora suprimentos para martelar a ideia de uma sociedade em decomposição.
Durante muito tempo a percolação desse veneno teve na comunicação do governo um filtro complacente.
Agora se sabe que essa inércia escavou também um corredor contagioso no ambiente cultural, a ponto de tornar adicionalmente opressivo o ar desta sucessão presidencial.
Um pequeno exemplo ilustra os demais.
Em entrevista recente à televisão portuguesa, o cantor Ney Matogrosso esboçou um cenário de terra arrasada para descrever o Brasil. https://www.youtube.com/watch?v=DqJ0kF1_oL0. De sobremesa, soltou agudos de visceral rejeição à política, aos políticos e ao PT.
O problema não é um cantor deblaterar contra o governo.
O problema é a ausência de contraponto ao redor, num momento em que interesses graúdos se empenham em vender a tese de que a melhor saída para o Brasil é andar para trás.
Em diferentes capítulos da história do país, o prestígio de seus intelectuais e artistas foi decisivo no repto ao cerco asfixiante com o qual o conservadorismo tentava, como agora, legitimar, ou impor, a receita de arrocho subjacente as suas propostas para os impasses nacionais.
Antes tarde do que nunca, o PT e suas maiores lideranças correm contra o tempo para corrigir o gigantesco erro político que foi subestimar o papel de uma mídia plural na luta pela ampliação da democracia brasileira .
Passa da hora de acordar também para a necessidade de reativar o diálogo com círculos intelectuais e artísticos, cujo protagonismo foi igualmente subestimado por uma concepção mecânica e economicista de desenvolvimento.
O sequestro da opinião pública pelo denuncismo conservador --que radicalizou um clima de indiferença e prostração semeado pelo próprio recuo do PT no ambiente intelectual -- evidencia o tamanho do equívoco cometido.
Leia, abaixo, a manifestação do cineasta Jorge Furtado (diretor do recém lançado ‘Mercado de Notícias’ e Urso de Prata em Berlim, em 1990, com ‘Ilha das Flores’) sobre esses acontecimentos, que marcam e vão marcar o ar pesado da disputa eleitoral de 2014.
'A mim não enrolam' , diz o diretor gaúcho que questiona em seu blog a tese de que o Brasil nunca esteve tão mal: pior em relação a quando e, sobretudo, para quem, argui. http://casacinepoa.com.br/)
O desafio do campo progressista é expandir essa argúcia solitária.
A íntegra do texto de Jorge Furtado:
"Fico triste ao ver artistas brasileiros, meus colegas, tão mal informados.
Imagino que, com suas agendas cheias, não tenham muito tempo para procurar diferentes fontes para a mesma informação, tempo para ouvir e ler outras versões dos acontecimentos, isso antes de falar sobre eles em entrevistas, amplificando equívocos com leituras rasas e impressionistas das manchetes de telejornais e revistas ou, pior, reproduzindo comentários de colunistas que escrevem suas manchetes em caixa alta, seguidas de ponto de exclamação.
Fico triste ao ler artistas dizendo que não dá mais para viver no Brasil, como se as coisas estivessem piorando, e muito, para a maioria. Dizer que não dá mais para viver no Brasil logo agora, agora que milhões de pessoas conquistaram alguns direitos mínimos, emprego, casa própria, luz elétrica, acesso às universidades e até, muitas vezes, a um prato de comida, não fica bem na boca de um artista, menos ainda de um artista popular, artista que este mesmo povo ama e admira.
Em que as coisas estão piorando? E piorando para quem? Quem disse? Qual a fonte da sua informação?
Fico triste ao ouvir artistas que parecem sentir orgulho em dizer que odeiam política, que julgam as mudanças que aconteceram no Brasil nos últimos 12 anos insignificantes, ou ainda, ruins, acham que o país mudou sim, mas foi para pior.
Artistas dizendo que pioramos tanto que não há mais jeito da coisa "voltar ao 'normal '", como se normal talvez fosse ter os pobres desempregados ou abrindo portas pelo salário mínimo de 60 dólares, pobres longe dos aeroportos, das lojas de automóvel e das universidades, se "normal" fosse a casa grande e a senzala, ou a ditadura militar. Quando o Brasil foi normal? Quando o Brasil foi melhor? E melhor para quem?
A mim, não enrolam. Desde que eu nasci (1959) o Brasil não foi melhor do que é que hoje. Há quem fale muito bem dos anos 50, antes da inflação explodir com a construção de Brasília, antes que o golpe civil-militar, adiado em 1954 pelo revólver de Getúlio, se desse em 1964 e nos mergulhasse na mais longa ditadura militar das américas. Pode ser, mas nos anos 50 a população era muito menor, muito mais rural e a pobreza era extrema em muitos lugares. Vivia-se bem na zona sul carioca e nos jardins paulistas, gaúchos e mineiros. No sertão, nas favelas, nos cortiços, vivia-se muito mal.
A desigualdade social brasileira continua um escândalo, a violência é um terror diário, 50 mil mortos a tiros por ano, somos campeões mundiais de assassinatos, sendo a maioria de meninos negros das periferias, nossos hospitais e escolas públicos são para lá de carentes, o Brasil nos dá motivos diários de vergonha e tristeza, quem não sabe? Mas, estamos piorando? Tem certeza? Quem lhe disse? Qual sua fonte? E piorando para quem?"
(Publicado originalmente no portal Carta Maior)
Michel Zaidan Filho: Nas mãos de Deus
Nunca houve um divórcio tão perfeito entre o mundo da fantasia organizada dos governantes deste país e a realidade das ruas. Enquanto os ministros de estado, o governador em exercício e o ex-governador de Pernambuco apareciam se confraternizando, bebendo champagne e dando declarações de que tudo estava na maior harmonia, de que a população está muito satisfeito com a Copa, com o custo de vida, com a prestação dos serviços públicos etc., aqui fora (do reino da fantasia) o mundo real pegava fogo. Fomos surpreendidos em plena mesa redonda, na UFPE, com a presença de integrantes do governo do estado, com a notícia da suspensão das atividades letivas em função do caos social que se instalou no estado de Pernambuco, com a paralisação das polícias civil e militar. Num minuto, a imagem de um estado governado pela paz e a concórdia mudou através das imagens divulgadas pelas redes de Televisão do Brasil inteiro, de saques a mão armada, em plena luz do dia e arrastões de multidões desenfreadas nas lojas de eletrodomésticos e supermercados da região metropolitana do Recife. 0 que dizer desse descompasso entre a fala oficial e as ruas?
Em primeiro lugar, que o famoso "pacto pela vida" expôs a sua fragilidade social. É um pacto pela segurança jurídica e militar de cidadãos-consumidores (privados) e o comércio de um modo geral. Naturalmente a segurança vai muito mais além da proteção dos bens de consumo privados e da rede de lojas que os vende através de módicas e longas prestações. Um conceito ampliado de segurança teria a ver com certeza com o déficit de cidadania republicana da maioria das pessoas, não só dos cidadãos consumidores. Segurança envolve educação, saúde, transporte público, saneamento e esgotamento sanitário, renda e emprego, lazer e respeito ao direito das minorias. Só um governo preocupado exclusivamente em proteger bens e a vida dos cidadãos consumidores do país, se empenharia em garantir segurança para o comércio e os automóveis, condomínios etc. O problema da segurança é o problema dos direitos que a maioria da população não tem, chama-se exclusão social. Não podemos dividir a sociedade em duas metades: a que tem acesso irrestrito a bens e produtos - inclusive através do crédito - e aquela outra parte que não tem, mas que ter (como todo mundo), em função da persuasiva propaganda da televisão que diz: ser cidadão é ter uma televisão LED, ser cidadão é ter uma fogão de 8 bocas, ser cidadão é ter um carro importado e morar à beira-mar de Boa Viagem.
Em segundo lugar, está o modelo de inclusão social patrocinado pelo "neo-desenvolvimentismo" de Dilma Rousseff, a chamada nova classe média dos 18 milhões de novos consumidores e o "american way life" difundido pelo PT no Brasil. Ao invés de investimentos maciços na qualidade de vida do cidadão brasileiro, como aliás foi prometido pela Presidente depois da manifestações de junho de 2013, foi o discurso de que a realização da Copa do Mundo vai redimir o país da miséria, por certo com o apoio das tropas federais nas capitais-sede do Mundial de Futebol. Esse modelo de inclusão social pode ser muito bom para as montadoras internacionais de carros no Brasil e a indústria de bens de consumo duráveis eletro-eletrônicos. Mas para que não pode comprá-los por que não tem crédito, emprego, renda ou alguma garantia para oferecer, é péssimo. Causa uma espécie de frustração ou complexo de inferioridade social muito grande. Na primeira oportunidade, esses marginalizados pela cidadania do consumo vão querer usufruir de todos esses bens. É um direito que eles têm.
Em terceiro lugar, entregar a uma corporação policial o monopólio legal da violência para que ela possa chantagear a sociedade, quando lhe convém é um imenso risco. Quem vai garantir que isso não se repita daqui a trinta, quarenta ou cinquenta dias? - Quando a corporação (detentora do poder de polícia) ameaça e faz a paralisação é uma senha explícita para que os que querem consumir e não podem, avancem sobre as gôndolas dos supermercados e os showroons das lojas de eletrodomésticos para o saque, o aresto, a predação etc. Quem é mais criminoso. neste caso?
E não venha se dizer que tudo isso não passa da inveja e o preconceito da classe média tradicional em relação aos novos cidadãos-consumidores criados pelo "neo-desenvolvimentismo" de Dilma. Há muita gente boa que não apoia nem os saques nem a paralisação da polícia, mas que também não comunga com esse modelo de inclusão social. E isto porque acha muito importante aperfeiçoar a rede de serviços públicos (o SUS, a escola pública, o transporte público etc.) que o estado brasileiro tem e que anda sucateada pelo descaso dessas mesmas autoridades que estão comemorando, com champagne, a proximidade dos jogos da Copa do Mundo em nosso país.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco
PSB X PSDB: Em Pernambuco vão mesmo para o pau. Eduardo deverá lançar nome em Minas Gerais.
O PSB está prestes a romper acordos mantidos com o PSDB em algumas praças. Os indícios são cada vez mais evidentes. O jogo é simples. Quando resolveram celebrar os acordos - alguns deles não combinados com Marina - Aécio e Eduardo, cada qual, se imagina cruzando o rubicão rumo ao segundo turno com a presidente Dilma Rousseff, de preferência contando com o apoio do outro. Uma situação onde a Teoria dos Jogos até que poderia oferecer subsídios para análise. Aécio Neves vem se consolidando como o nome mais provável a disputar a Presidência da República com Dilma na eventualidade de ela não liquidar a fatura já no primeiro turno. Pouco provável que a polarização entre PSDB/PT seja quebrada. Essa situação vem provocando muitas inquietações no staff do candidato socialista, Eduardo Campos.Nas alterosas, sua penetração é irrisória. Justamente num dos colégios eleitorais mais importantes do país. Os acordos celebrados entre ambos preconizam que o PSDB pernambucano apoiaria o nome de Paulo Câmara, ao passo em que o PSB apoiaria, em Minas, a candidatura de Pimenta da Veiga, do PSDB. O pernambucano calculou os riscos, mas encontra-se numa situação imperiosa. Seus assessores já teriam informado que, diante das circunstâncias, melhor correr os riscos. Eduardo Campos já teria comunicado essa possibilidade a gente próxima ao senador mineiro, que prefere aguardar os rumos dos acontecimentos. Caso se confirme a candidatura do PSB ao Governo mineiro, o nome mais provável é o do Deputado Júlio Delgado, embora a Rede preferisse outro nome. Aqui em Pernambuco, tudo indica que a porca vai torcer o rabo. Já não existe a liderança de Sérgio Guerra, que conduzia o partido sob rédeas curtas, consoante os interesses do Palácio do Campo das Princesas. Suas lideranças emergentes, entre eles o Deputado Estadual Daniel Coelho, estão dispostos a descerem do barco da candidatura de Paulo Câmara, criando alguns embaraços na quadra pernambucana para a relação entre os dois grêmios partidários. Bruno Araújo, outra liderança tucana no Estado, já afirmou que pau que dá em Chico, dá em Francisco, numa alusão ao fato de que, caso o PSB quebre os acordos em Minas, eles estão livres para fazerem o mesmo na Província. Não sei muito bem em que essas pesquisas estão ajudando Eduardo Campos, mas ele se orienta muito pelos seus resultados. Já teria pesquisas em mãos indicando que uma possível candidatura de Daniel Coelho seria mais danosa ao senador Armando Monteiro do que em relação à candidatura de Paulo Câmara. Essa candidatura tiraria menos votos do candidato do Campo das Princesas. Tirar votos de quem não os tem?
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