pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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quinta-feira, 26 de junho de 2014

Michel Zaidan: Liana Cirne, a águia da Faculdade de Direito do Recife.






Foi Wladimir Ulianov Lênin que chamou,de certa feita, Rosa Luxemburgo de águia, reconhecendo a sua imensa capacidade de militante e teórica do movimento socialista alemão. Dizia ele que, embora uma  galinha pudesse alçar voo  a uma  pequena  distância do solo,jamais ela  seria uma águia. E os críticos e adversários políticos da judia comunista eram como  galinhas  comparados  à excelência intelectual e política  da revolucionária polonesa.  Também o nosso  poeta  baiano, Castro Alves,foi  comparado a um  condor - que  voa alto - em  sua  luta  contra a escravidão  africana  do Brasil.
Mas eis que chegou a hora de falar na nossa atual  águia da Faculdade de Direito do  Recife, a professora doutora Liana Cirne Lins, covardemente agredida por um beleguim policial, quando procurava defender uma mulher gestante da violência do aparelho  policial, em recente manifestação popular contra a destruição  do Cais José Estelita. É preciso dizer quem é esta  reencarnação de Rosa Luxemburgo,em versão gaúcha/pernambucana/natalense.


A professora Dra. Liana Cirne Lins é  doutora em Direito, pela Pós-graduação, da UFPE, foi a diretora e  animadora da Sapere aude, uma empresa de excelência na área de estudos pós-graduados, e, sobretudo, uma personalidade pública, exuberante,corajosa,  portadora de espírito público,como ninguém. Sempre em disponibilidade para abraçar as causas mais  generosas em prol dos interesses da população. Fui seu professor no curso de Pós-graduação em Direito e  seu colaborador. Nunca neguei a apoiar e endossar  seus  projetos, sempre  dignos e altivos. Quando ela foi  para a Praça Pública  defender os estudantes, atendi  ao  convite.  Tornou-se  ela  a patrona  jurídica do  Movimento pelos Direitos Urbanos, sendo que uma das  principais lutas era justamente: Ocupe o Cais Jose Estelita, antes que a especulação imobiliária, apoiada pelo Poder Público, o  fizesse de forma irremediável.
Pois bem, foi nesta  luta  memorável pelo direito à cidade que a minha querida e admirável  professora foi covardemente agredida pela polícia militar do Estado de Pernambuco. Esta  agressão não pode e não deve ficar  impune.  0 ministério Público, a Corregedoria da Polícia Militar, a Associação dos Docentes da UFPE e  a  sociedade  civil da nossa  cidade - tão privatizada -  têm de se pronunciar, antes que  seja tarde demais. Ainda existe vozes dignas,corajosas que  não vão se  calar  diante das  injustiças  e  ilegalidades cometidas à serviço do mercado.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador e Prof. da Universidade Federal de Pernambuco.

#OcupeEstelita | Lutar pelo Recife é lutar por qualquer cidade

sábado, 21 de junho de 2014

Os que promovem caça às bruxas agora reclamam de "lista negra".

publicado em 21 de junho de 2014 às 9:23



O desabafo de Trajano
por Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo
E eis que José Trajano, da ESPN Brasil, viralizou.
Um vídeo em que ele cita quatro colunistas que instigam ódio circula freneticamente pela internet nestes dias.
Ele enxergou, com razão, uma relação espiritual entre os que xingaram Dilma no estádio e os colunistas que mencionou.
Trajano falou de Demetrio Magnolli, Augusto Nunes, Mainardi e Reinaldo Azevedo, mas poderia falar de muitos outros.
Outro dia li uma expressão do Nobel de Economia Paul Krugman e pensei exatamente no tipo de jornalista da pequena lista de Trajano.
São os “sicários da plutocracia”. São pagos, às vezes muito bem pagos, apenas para defender os interesses de seus patrões.
Os Marinhos, ou os Frias, ou os Civitas, ou os Mesquitas, não podem, eles mesmos, assinar artigos em defesa de suas próprias causas. Então contratam pessoas como as de que Trajano trata.
Muitos leitores, em sua ingenuidade desumana, vêem alguma coragem nos “sicários da plutocracia”.
É o oposto. Ao se alinhar aos poderosos – aqueles que fizeram o Brasil ser um dos campeões mundiais da desigualdade – eles têm toda a proteção que o dinheiro é capaz de oferecer.
Não correm risco de ficar sem emprego, por exemplo. Podem cometer erros grosseiros de avaliação, de prognóstico, de estilo, do que for.
Mesmo assim, estarão seguros porque cumprem o papel de voz dos que podem muito.
Vi em Trajano um desabafo, uma explosão, e entendo por duas razões.
Primeiro, Trajano sempre foi explosivo, temperamental. É um traço seu desde sempre, bem como a paixão pelo Ameriquinha.
Depois, Trajano ecoou um sentimento que representa o espírito do tempo.
Há um cansaço generalizado, uma irritação crescente com os “sicários da plutocracia”. Não apenas pela soberba vazia, pela arrogância de quem sabe que terá microfone em qualquer circunstância, não apenas pela vilania constante.
Mas pela compreensão de que eles representam um obstáculo brutal ao avanço social brasileiro.
Eles estão na linha de frente da resistência a um Brasil menos desigual.
Eles surgem em circunstâncias especiais. Seu papel é minar, perante a opinião pública, administrações populares.
O maior da espécie, Carlos Lacerda, se notabilizou ao levar GV ao suicídio e Jango à deposição.
Eles sumiram nas décadas que se seguiram ao Golpe de 64, por serem desnecessários. O Estado – com os incríveis privilégios e mamatas à base de dinheiro público — estava ocupado pela plutocracia. Já não tinham serventia.
Voltaram quando Lula ganhou, a despeito de todas as concessões petistas fixadas na Carta aos Brasileiros.
Voltaram com o PT, assim como voltariam com qualquer outros partido que representasse ameaça às vantagens de séculos, como livre acesso aos cofres do BNDES e outras coisas do gênero.
Neste sentido, é bom entender que não é algo contra o PT e sim contra o risco, real ou imaginário, do fim das regalias.
Você pode identificar claramente o processo de retorno dos sicários.
O primeiro deles foi Diogo Mainardi, na Veja. Logo depois, também na Veja, mas na internet, apareceu Reinaldo Azevedo.
Não eram conhecidos na elite dos jornalistas, mas ganharam um espaço privilegiado porque se dispuseram a fazer a propaganda, disfarçada de jornalismo, das causas de quem quer que o Brasil continue do jeito que sempre foi.
Aos poucos foram chegando outros, e hoje são muitos.
É um processo curioso: quanto menos votos têm os representantes da plutocracia, mais colunistas da direita vão aparecendo. É como se houvesse a esperança de, uma hora, aparecer um novo Lacerda e resolver o problema.
Mas a sociedade brasileira está cansada de tanta desigualdade, e é difícil acreditar que as lorotas dos sicários vão ter algum resultado parecido com o que houve em 54 ou 64.
O Brasil merece ser uma sociedade nórdica, escandinava, em que ninguém seja melhor ou pior que ninguém por causa do dinheiro, e na qual não haja os abismos de opulência e de miséria.
Os sicários aos quais Trajano se referiu simbolizam o oposto de tudo que escrevi acima.
Desta vez, ao contrário de 54 e 64, não triunfarão – até porque a internet deu voz a quem não tinha e retirou a exclusividade monopolística e predadora dos que favelizaram o Brasil enquando acumulavam fortunas extraordinárias.
PS do Viomundo: Hoje a Folha de S. Paulo faz uma tentativa porca, bem ao estilo da Folha, de sugerir através de aspas que o jornalista da ESPN falou em nome do vice-presidente do PT, com o objetivo de nomear uma suposta “lista negra” de jornalistas inimigos da pátria. O fato é que os nomeados são, sim, semeadores do ódio. Basta ler o que escrevem. Inicialmente o ódio deles se voltou, entre outros alvos, contra jornalistas que ousaram discordar dos donos da mídia, notadamente, lá atrás, Luís Nassif e Mino Carta. Depois, foram alvos todos os blogueiros. Ou seja, reclamam de terem sido nomeados justamente aqueles que nomearam e tentaram assassinar o caráter de muitos colegas. Nossa total solidariedade a José Trajano, que foi impedido de trabalhar por seguidores dos semeadores de ódio.

(Publicado originalmente no site Viomundo)

quinta-feira, 19 de junho de 2014

#OcupeEstelita: Quando o interesse do dono é a voz do jornal

Por André Raboni em 04/06/2014 na edição 801

 
No silêncio da noite do último dia 21 de maio, tratores e escavadeiras do Consórcio Novo Recife (formado pelas construtoras Moura Dubeux, Queiroz Galvão, Ara Empreendimentos e GL Empreendimentos) iniciaram a demolição de antigos armazéns de açúcar do Cais José Estelita, no Recife. Pegos de surpresa pela informação do início da demolição, dezenas de pessoas se articularam madrugada adentro pelas redes sociais, formaram grupos de carona coletiva e, ocupando o local, impediram bravamente a derrubada das edificações históricas na calada da noite. O #OcupeEstelita já dura mais de dez dias e culminou em um domingo entusiasmante de manifestações políticas e culturais onde estiveram presentes mais de 7 mil pessoas.
Ao longo desses dez dias imperou na cidade uma cobertura suspeitíssima sobre o assunto por parte dos três principais jornais impressos, além da rede globo local. Notícias incompletas e com pouco destaque. Para coroar a cobertura do bolo, um caderno especial sobre o projeto “Novo Recife” foi pago pelo Consórcio nos três principais jornais impressos. Com uma cobertura bem feita, divergiram da norma apenas um pequeno impresso local chamado Destak e o portal de notícias LeiaJá.
Chamou bastante a atenção a cobertura do Jornal do Commercio, impresso de maior tiragem no estado e detentor de três concessões públicas: uma de TV e duas de rádio (FM e AM). A empresa colocou toda a sua força para fazer uma defesa (ainda) não declarada do projeto “Novo Recife”. Escalado como porta-voz do jornal, seu principal blogueiro chegou a publicar um texto cujo título carregava mais de quatro estridentes exclamações – num claro furor intestinal – em defesa do projeto.
Vitória das mídias digitais
No sábado (31/05), o editorial do Jornal do Commercio tentou ridicularizar os manifestantes contrários ao projeto (entre eles artistas, professores, arquitetos, urbanistas, engenheiros, historiadores, filósofos, médicos, juristas, promotores, advogados, jornalistas, estudantes) dizendo serem “inaceitáveis” os protestos. O jornal tomava de vez o partido em defesa do projeto. É saudável quando um veículo declara seu posicionamento de forma clara. Infelizmente essa declaração nem sempre é acompanhada da honestidade que o ofício do bom jornalismo necessita para manter sua credibilidade social.
O editorial omitiu o ponto crucial que está por trás de toda a “cobertura” da empresa: seu dono João Carlos Paes Mendonça é um dos maiores interessado no projeto “Novo Recife”. Os protestos são “inaceitáveis” para o empresário porque há pouco mais de dois anos o empresário ergueu um opulentoshopping center localizado exatamente no outro lado da Bacia do Pina – de frente às janelas dos pretensos futuros moradores das 12 torres de luxo com mais de 40 andares previstas no projeto.
O Shopping RioMar seria a principal paisagem da poesia melancólica dos seus privilegiados moradores. Obviamente este shopping também seria seu principal equipamento de lazer familiar. A alta classe média recifense é notoriamente conhecida por desprezar espaços públicos abertos para convivência, o que explica os muros de cinco metros previstos para cercar as torres do “Novo Recife”, formando uma ilha de luxo e requinte em meio à pobreza histórica das comunidades vizinhas.
O jogo de cartas é facílimo de decifrar: os veículos do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação garantem a defesa do projeto diante da opinião pública, supostamente defendendo a “modernização da cidade”, e em troca seu dono teria a garantia do sucesso financeiro de seu maior empreendimento no Recife – que todos na cidade sabem que não vai muito bem das finanças.
Bingo! Está montada a estrutura econômica que moveu toda a máquina da comunicação social nas mãos do empresário. Perde a sociedade. Perde o jornalismo.
Curiosamente, depois das manifestações de mais de 7 mil pessoas no cais José Estelita, e de todo o ativismo nas redes sociais, todos os veículos locais amanheceram nesta segunda-feira com um outro tom em suas coberturas. Mais uma vitória das mídias digitais contra o bloqueio imposto pelo velho modelo empresarial de comunicação.
***
André Raboni é historiador e analista de comunicação digital
(Publicado originalmente no Observatório da Imprensa)

La dolce vita da burguesia nos palácios dos governantes.





Os leitores que acompanham nossas crônicas já perceberam que gostamos de inserir em nossas análises alguns componentes gastronômicos, pelo que eles representam em termos de paradigmas antropológico e sociológico. Sempre que vem a público a lista de compras dos "palácios" para receberam seus convidados ou mesmo as comandas com as despesas dos políticos em restaurantes chiques, a chiadeira é generalizada. Percebo que há um certo exagero nisso. Até filés de peixes ameaçados de extinção entra na lista. Na Paraíba, nas compras para a "Granja Santana", uma espécie de segunda residência oficial do Governo do Estado, consta a aquisição de 460 latas de farinha láctea para consumo em um mês, além de papel higiênico personalizado. Um exagero. Eles não têm qualquer pudor. Botam mesmo para lascar. Garoto de repertório gastronômico limitado, sinto-me até pouco à vontade em citá-los nominalmente, mas vamos lá: Filé de serigado, camarão vila franca - aqueles rosadinhos - carne de siri, lagostas, salmão, escargot e coisas do gênero. Tudo isso em grande quantidade. Outro dia, um senador da República, daquele Estado, torrou R$ 7.500 reais num restaurante chique, em São Paulo, despesa paga pelo Senado Federal. A abertura das "comandas" de despesas com restaurantes do Gabinete do Prefeito do Recife, trazida a público por uma colega da rede Facebook, mostram exatamente isso. Como se trata de um órgão público, mantido com dinheiro público, essa gente talvez devesse adotar uma postura mais comedida. Ao contrário, são promovidas verdadeiras "orgias" gastronômicas. Apesar de ser um comportamento reprovável, por vezes ilícitos, no critério "repertório gastronômico" parece não haver muito que se possa fazer. Normalmente, quem participa dessas orgias são pessoas oriundas de camadas sociais privilegiadas, chefes de Estado, afeitos a esses cardápios. Uma das coisas que aprendi a fazer - conselho de Antonio Gramsci - foi observar o comportamento dos indivíduos em sociedade. Em João Pessoa, existe um restaurante chique, reduto da classe média alta da orla de Manaíra e Tambaú. Caro, mas um símbolo de "status". No restaurante, aos domingos, existe um verdadeiro salão de espera, com dezenas de pessoas aguardando uma mesa. Do lado de fora, filas enormes de pessoas aguardam para entrar na "espera". O curioso é observar aquelas madames de salto alto, todas emperiquitadas, à lá sinhazinhas, num sol escaldante, apenas para cumprirem um "rito". Nada como uma foto exclusiva para ser postada na coluna social do Facebook. Certamente, daria muitas curtidas. E  olhem que por ali mesmo existem outros restaurantes tão atrativos quanto. Quem acompanha o nosso blog, já deve ter lido as crônicas do jornalista Tião Viana. Impagáveis. Como estamos falando de gastronomia, numa de suas últimas crônicas, Tião lembra que, em sua época de solteiro, morando em casa de pensão, o cardápio era, invariavelmente, pão ensebado com margarina Bem-Te-Vi, sardinha em lata, mortadela e Kitut aos domingos. Havia um colega que se "aproximou" da dona da pensão para melhorar o cardápio. Esse era acordado logo cedinho, ia para uma mesa farta, onde era servido ovos de capoeira, cuscuz com leite, bode guizado no tacho, galinha guizada e um "pingado" bem quente. Tião lembra que nem os ossos ele guardava para os amigos chuparem o tutano. Hoje, homem curtido pela vida, em sua fria Princesa Isabel, ao oferecer os suculentos churrascos com picanha, maminha e asas de frango aos amigos, penso que Tião bem poderia afirmar: Se eu já fui pobre eu nem me lembro.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Técnico não ganha jogo, Eduardo Campos, mas perde.



Sem sombra de dúvidas, o ex-dirigente do Corinthians, Vicente Mateus, deu uma enorme contribuição ao folclore político brasileiro. Entre as suas tiradas, costumava afirmar que "técnico não ganha jogo, mas perde.". Talvez essa máxima não possa ser aplicada aos padrinhos ou aos morubixabas políticos. Aqui mesmo em Pernambuco, por exemplo, não se pode dizer que a vitória de Geraldo Júlio para a Prefeitura do Recife, nas eleições de 2010, não possa ser atribuída como uma vitória pessoal do ex-governador Eduardo Campos, que bancou  a candidatura de um até então neófito no meio-de-campo político. Dizem até que tomou gosto pela coisa. Seu nome teria sido cogitado como possível candidato socialista ao Governo do Estado, em meio ao turbilhão de problemas que envolve a candidatura de Paulo Câmara. Com o nome de Paulo tendo sido homologado no dia de ontem, isso fica apenas no terreno das especulações. Pois bem. Se a máxima de Vicente Mateus não se aplica à política, por outro lado, é inegável que possamos falar de nomes mal escalados, como foi o caso do senhor Paulo Câmara. Comentávamos ontem que política envolve circunstâncias ou variáveis sobre as quais não se exerce um controle absoluto. Segundo se informa, o martelo foi batido a partir de pesquisas que indicavam o nome de um técnico, sem perfil político. Se essa conclusão se aplicou muito bem à escolha do nome neo-socialista que concorreu à Prefeitura do Recife naquelas eleições, temos muitos dúvidas sobre se esse perfil seria o mais adequado numa eleição majoritária estadual, sobretudo se considerarmos o fato de o ex-governador estar praticamente ausente do pleito. Talvez por isso, a condução "política" da candidatura vem enfrentando sérias dificuldades. Não pensem que FBC poderá superá-las ou que o "Galeguinho" poderá socorrer o seu afilhado. Ambos, por razões distintas, não poderão fazê-lo. Um estará muito ocupado com sua campanha presidencial e o outro está mais para ser "puxado" do que para "puxador". Por outro lado, diferentemente de Geraldo Júlio, que sentiu rápido o "suor" do povo, entrou no corpo-a-corpo, Paulo Câmara não se sente muito à vontade com o metiê. O negócio dele, de fato, não era esse. Prefere o ambiente frio, dos gabinetes burocráticos, em meio às curvas ascendentes das cobranças de impostos. Eleito, numa circunstância hoje diria pouco provável, contribuirá bastante para acentuar uma tendência já evidente nos Governos do seu padrinho político, ou seja, o aumento da carga tributária para micros e pequenos empreendedores - uma herança maldita de sua passagem pela Secretaria da Fazenda - renúncia fiscal para grandes empreendimentos, que podem, em última análise, até contribuir para elevar as taxas de crescimento econômico do Estado, embora isso não esteja sendo revertido em benefícios sociais. Bastou a presença de Lula no Estado para o "Galeguinho" perder o rebolado. Por ocasião de sua fala na Convenção da Frente Popular, exagerou no verbo, informando que essas raposas que estão aí já teriam roubado o que havia pra roubar. Tereza Leitão, dirigente do PT estadual, reuniu todos os press release publicados pelos blogs e jornais locais e estaria encaminhado-os à Direção Nacional do Partido. Para usarmos uma linguagem futebolística, a impressão que temos é que o cobrador de impostos foi muito mal escalado.     

domingo, 15 de junho de 2014

PSB vai à convenção sabendo que enfrentará uma batalha difícil no Estado.

O PSB vai mesmo de Paulo Câmara. Seu nome está sendo homologado na Convenção Estadual do Partido, realizada no dia de hoje, 15/06, no Clube Português. Em razão do fraco desempenho do candidato nas primeiras pesquisas de intenções de voto, surgiram rumores de que ele poderia ser substituído por outro nome da legenda, alguém mais competitivo. Pelo andar da carruagem política, no entanto, ele se consolida como o nome do partido a disputar as eleições de 2014, para o Governo do Estado. Trata-se de um quadro bastante complicado. Até Eduardo sair do Governo - com um a aprovação sustentada numa arrojada pirotecnia publicitária e, também, como possível andor e padrinho do pupilo - pensava-se que o nome indicado por ele seria "ungido" pelas urnas. O quadro, hoje, não se apresenta com tanto favoritismo assim, apesar da torcida de uma imprensa comprometida com o projeto. Política também é feita de circunstâncias e hoje as circunstâncias fugiram ao controle do Palácio do Campo das Princesas. Ao sair para candidatar-se à Presidência da República, além da ausência física, Eduardo expôs o seu Governo, cujos supostos "êxitos" ruíram como um castelo de cartas quando confrontado com a realidade social do Estado. Até mesmo a grande vitrine, a política de segurança pública traduzida no Pacto pela Vida, passa por uma reavaliação, uma vez que o número de homicídios voltaram a assustar nos últimos três meses. Entregar a missão "política" ao candidato ao Senado na chapa, Fernando Bezerra Coelho, também não foi uma boa estratégia. Não que FBC não se esforce, mas o candidato é muito pesado para os seus esforços. Além disso, tradicionalmente, são os candidatos ao Governo que "puxam" o nome que concorre ao Senado. Essa lógica não se inverte por decreto. Eduardo enfrenta muitas dificuldades como candidato presidencial. A tão esperada "sinergia" entre ambos, possivelmente, não ocorrerá. Nem Eduardo desponta bem por lá, nem o caboclo consegue deslanchar por aqui. Aliás, o mau desempenho de Paulo Câmara aqui tem sido um dor de cabeça para os coordenadores da campanha de Eduardo Campos. Por fim, Paulo Câmara enfrenta uma chapa muito competitiva, com inserção nas diversas regiões do Estado, liderada por candidatos conhecidos do eleitorado, como Armando Monteiro e João Paulo. Armando, por exemplo, já vinha pavimentando seu caminho a algum tempo. Também não gostaria de provocar os neo-socialistas, mas eles possuem um candidato fraco, desconhecido e sem traquejo, uma equação que não costuma ter boa receptividade nas urnas.

O pragmatismo de Lula nas eleições paulistas

A presidente Dilma Rousseff resolveu cancelar sua presença na Convenção Estadual do PT Paulista, que homologou a candidatura do ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ao Governo Paulista. São Paulo é uma praça hostil, mas estratégica para os planos eleitorais do Partido dos Trabalhadores. Ali, aliada a uma série de circunstâncias políticas favoráveis, os tucanos montaram uma estaca difícil de ser removida. Parcela significativa do eleitorado - formado uma classe média reacionária e conservadora - engrossam o respaldo aos governos tucanos, apesar das dificuldades da gestão. Não se conhecem protestos contra a falta de água ou contra as denúncias de malversação dos recursos públicos. Os tucanos têm uma base eleitoral sólida naquela Estado da Federação, o maior colégio eleitoral do país. Possuidor de um faro político apurado, faz algum tempo que Lula manobra para quebrar essa hegemonia, escalando "menudos" petistas para a missão, como ocorreu com Fernando Haddad. Agora é a vez do seu ex-ministro, Alexandre Padilha. Lula é um político bastante pragmático. Já na década de 80 - quando o PT era um partido bastante orientado ideologicamente - ele afirmaria que "não importa a cor do voto, desde que ele caia na urna". Com Padilha ocorre uma coisa parecida. Voltando de uma viagem do exterior, alguém quis saber porque suas preferências recaiam sobre Padilha. Ele teria respondido: Ele é muito parecido com os tucanos.

A Casa Grande, na realidade, deseja que o povo vá tomar naquele lugar.

Os sicários da elite, lambe-botas de poderosos, tiveram uma resposta dura e nominal do jornalista Trajano (que reproduzimos no http://www.blogdojolugue.blogspot.com/). A presidente Dilma foi vítima de uma ação coordenada e orquestrada por setores reacionários, contrários à sua gestão. Se havia alguma dúvida sobre isso, tucanos de bico fino foram flagrados na arquibancada da Arena do Corinthians, como mostra o site Conversa Afiada. Esses apupos e xingamentos vieram da Casa Grande. Agora foi a vez do ex-presidente Lula condenar veementemente as agressões sofridas pela presidente. Agressões movidas pelo "hiato" de uma sociedade profundamente hierarquizada, cindida entre os que ocupam o andar de cima e aqueles das periferias. Uma elite insatisfeita com os avanços sociais conquistados pelos Governos petistas nos últimos anos. Uma elite que insiste nos muros, quando deveria ampliar as pontes. E disposta a execrar os governos que reconhecem os direitos dos que ocupam o andar de baixo. Não à toa, comenta-se abertamente na hipótese de um golpe. Eles são capazes de tudo para preservarem seus privilégios seculares, como afirmou Chico Buarque. Elite mesquinha essa elite brasileira. As vaias a Dilma, na realidade, não tem nada em relação à Copa. A bem da verdade, eles querem que o povo, o brasileiro mais humilde, vá para aquele lugar. São vaias contra o Bolsa Família, o ProUni, O Mais Médicos, O Minha Casa, Minha Vida, assim como as políticas de inclusão social e redistributivas de renda da Era Lula/Dilma.

sábado, 14 de junho de 2014

A elite reserva ao país o mesmo lugar exortado à Presidente

A virtude, a civilização, a sorte do desenvolvimento e os destinos da sociedade há muito deixaram de interessar a elite brasileira.

por: Saul Leblon 

Dilma e Lula participam de plenária do PT em Pernambuco, sexta-feira (13) à noite (Foto: Cadu Gomes/Agência PT)

Quando a elite de uma sociedade se reúne em um estádio de futebol e a sua manifestação mais singular é um coro de ofensas de baixo calão, quem é o principal atingido: o alvo ou o emissor?

Vaias e palavrões são inerentes às disputas futebolísticas. Fazem parte do espetáculo, assim  como o frango e o gol de placa. A passagem de autoridades por estádios nunca foi impune.

O que se assistiu no Itaquerão, porém, no jogo inaugural da Copa, entre Brasil e Croácia, não teve nada a ver com o futebol ou deboche, mas com a disputa virulenta em curso  pelo comando da história brasileira.

Sem fazer parte da coreografia oficial o que aflorou ali foi a mais autêntica expressão cultural de um lado desse conflito, nunca antes assumido assim de forma tão desinibida  e ilustrativa.

Encorajado pelo anonimato, o gado OP (puro de origem) mostrou o pé duro dos seus valores.

Dos camarotes vips um jogral raivoso e descontextualizado despejou sua bagagem de refinamento e boas maneiras  sobre uma Presidenta da República em missão oficial.

Por quatro vezes, os sentimentos de uma elite ressentida contra aqueles que afrontam a afável, convergente e impoluta lógica de sociedade que vem construindo aqui há mais de cinco séculos, afloraram durante o jogo.

Foi assim que essa gente viajada, de hábitos cosmopolitas, que se envergonha de um Brasil no qual recusa a enxergar o próprio espelho, ofereceu a um bilhão de pessoas conectadas à Copa em 200 países uma síntese dos termos elevados com os quais tem pautado a disputa política  no país.

Que Aécio & Eduardo tenham se esponjado nessa manifestação dá o peso e a medida do espaço que desejam ocupar no espectro da sociedade brasileira.

Dias antes, o  ex-Presidente Lula havia comentado que nem a burguesia venezuelana atingira contra Chávez o grau de desrespeito e preconceito observado aqui contra a Presidenta Dilma.

Houve quem enxergasse nessas palavras uma carga de retórica eleitoral.

A cerimônia da 5ª feira cuidou de devolver pertinência  à observação.

A formação virtuosa da infância,  o compromisso com a civilização, a sorte do desenvolvimento  e  os destinos da sociedade há muito deixaram de interessar à elite brasileira.

A novidade do coro contra  Dilma é refletir  o desejo  cada vez mais explícito  de mandar o país ao mesmo lugar exortado  à Presidenta.

Ou não será esse o propósito estratégico do camarote  vip ao apregoar o descolamento da sociedade brasileira de uma vez por todas, acoplando-a à grande cloaca mundial de um capitalismo sem peias, onde  se processa  a restauração neoliberal pós-2008?

Nesse imenso biodigestor de direitos e desmanche do Estado acumula-se o adubo  no qual floresce  a alta finança desregulada, que tem nos endinheirados brasileiros  os detentores da 4ª maior fortuna do planeta evadida em paraísos fiscais.

Estudos da  The Price of Offshore Revisited,  coordenados pelo ex-economista-chefe da McKinsey, James Henry, revelam que os brasileiros muito ricos – que se envergonham de um governo corrupto--  possuíam, até 2010, cerca de US$ 520 bilhões  em paraísos fiscais.

O passaporte definitivo  para esse  ‘novo normal’ sistêmico requer a vitória, em outubro, das candidaturas que carregam no DNA o mesmo pedigree da turma que deu uma pala na festa de abertura da Copa. Não propriamente contra Dilma, mas contra o que ela simboliza: a tentativa de se construir por aqui um Estado social que assegure aos  sem riqueza os mesmos direitos daqueles que enxergam no espaço público  um  mero apêndice  do interesse plutocrático. 

A expressão ‘vale tudo’ descreve com fidelidade o que tem sido e será, cada vez mais, o bombardeio   para convencer o imaginário brasileiro  das virtudes intrínsecas  à troca do ‘populismo’  pelo estado de exceção de direitos e conquistas sociais, em benefício dos livres mercados.

A mídia está aí para isso, como se viu pela cobertura dos fatos da última 5ª feira.
Trata-se de saber em que medida o discernimento social, condicionado por uma esférica máquina de difusão dos interesses vips,  saberá distinguir um caminho que desvie a nação do futuro metafórico reservado a ela nos planos,  agora explicitados, de sua elite.

A indigência do espírito público dos endinheirados brasileiros, reconheça-se,  não é nova. Mas se supera.

O antropólogo Darcy Ribeiro foi  um legista  obcecado dos seus contornos e consequências para a formação do país, a sorte de sua gente e a qualidade do seu desenvolvimento.

Em um texto de  1986, ‘Sobre o óbvio – Ensaios Insólitos’, o criador da Universidade de Brasília, e chefe da Casa Civil de Jango, iluminou os traços dessa rosca descendente, confirmada  28 anos depois, em exibição mundial,  na abertura da Copa de 2014.

"Dois fatos que ficaram ululantemente óbvios. Primeiro, que não é nas qualidades ou defeitos do povo que está a razão do nosso atraso, mas nas características de nossas classes dominantes, no seu setor dirigente e, inclusive, no seu segmento intelectual. Segundo, que nossa velha classe dominante tem sido altamente capaz na formulação e na execução de projeto de sociedade que melhor corresponde a seus interesses. Só que este projeto para ser implantado e mantido precisa de um povo faminto, xucro e feio. Nunca se viu, em outra parte, ricos tão capacitados para gerar e desfrutar riquezas, e para sub- julgar o povo faminto no trabalho, como os nossos senhores empresários, doutores e comandantes. Quase sempre cordiais uns para com os outros, sempre duros e implacáveis para com subalternos, e insaciáveis na apropriação dos frutos do trabalho alheio. Eles tramam e retramam, há séculos, a malha estreita dentro da qual cresce, deformado, o povo brasileiro (...) porque só assim a velha classe pode manter, sem sobressaltos, este tipo de prosperidade de que ela desfruta, uma prosperidade jamais generalizável aos que a produzem com o seu trabalho.

A primeira evidência a ressaltar é que nossa classe dominante conseguiu estruturar o Brasil como uma sociedade de economia extraordinariamente próspera. Por muito tempo se pensou que éramos e somos um país pobre, no passado e agora. Pois não é verdade. Esta é uma falsa obviedade. Éramos e somos riquíssimos! A renda per capita dos escravos de Pernambuco, da Bahia e de Minas Gerais – eles duravam em média uns cinco anos no trabalho – mas a renda per capita dos nossos escravos era, então, a mais alta do mundo. Nenhum trabalhador, naqueles séculos, na Europa ou na Ásia, rendia em libras – que eram os dólares da época – como um escravo trabalhando num engenho no Recife; ou lavrando ouro em Minas Gerais; ou, depois, um escravo, ou mesmo um imigrante italiano, trabalhando num cafezal em São Paulo. Aqueles empreendimentos foram um sucesso formidável. Geraram além de um PIB prodigioso, uma renda per capita admirável. Então, como agora, para uso e gozo de nossa sábia classe dominante. A verdade verdadeira é que, aqui no Brasil, se inventou um modelo de economia altamente próspera, mas de prosperidade pura. Quer dizer, livre de quaisquer comprometimentos sentimentais. A verdade, repito, é que nós, brasileiros, inventamos e fundamos um sistema social perfeito para os qe estão do lado de cima da vida. 

O valor da exportação brasileira no século XVII foi maior que o da exportação inglesa no mesmo período. O produto mais nobre da época era o açúcar. Depois, o produto mais rendoso do mundo foi o ouro de Minas Gerais que multiplicou várias vezes a quantidade de ouro existente no mundo. Também, então, reinou para os ricos uma prosperidade imensa. O café, por sua vez, foi o produto mais importante do mercado mundial até 1913, e nós desfrutamos, por longo tempo, o monopólio dele. Nestes três casos, que correspondem a conjunturas quase seculares, nós tivemos e desfrutamos uma prosperidade enorme. Depois, por algumas décadas, a borracha e o cacau deram também surtos invejáveis de prosperidade que enriqueceram e dignificaram as camadas proprietárias e dirigentes de diversas regiões. O importante a assinalar é que, modéstia à parte, aqui no Brasil se tinha inventado ou ressuscitado uma economia especialíssima, fundada num sistema de trabalho que, compelindo o povo a produzir, o que ele não consumia – produzir para exportar – permitia gerar uma prosperidade não generosa, ainda que propensa desde então, a uma redistribuição preterida. 
 
Enquanto isso se fez debaixo dos sólidos estatutos da escravidão, não houve problema. Depois, porém, o povo trabalhador começou a dar trabalho, porque tinha de ser convencido na lei ou na marra, de que seu reino não era para agora, que ele verdadeiramente não podia nem precisava comer hoje. Porém o que ele não come hoje, comerá acrescido amanhã. Porque só acumulando agora, sem nada desperdiçar comendo, se poderá progredir amanhã e sempre. O povão, hoje como ontem, sempre andou muito desconfiado de que jamais comerá depois de amanhã o feijão que deixou de comer anteontem. Mas as classes dominantes e seus competentes auxiliares, aí estão para convencer a todos – com pesquisas, programas e promoções – de que o importante é exportar, de que é indispensável e patriótico ter paciência, esperem um pouco, não sejam imediatistas. O bolo precisa crescer; sem um bolo maior – nos dizem o Delfim lá de Paris e o daqui – sem um bolo acrescido, este país estará perdido. É preciso um bolo respeitável, é indispensável uma poupança ponderável, uma acumulação milagrosa para que depois se faça, amanhã, prodigiosamente, a distribuição.
       
A classe dominante brasileira inscreve na Lei de Terras um juízo muito simples: a forma normal de obtenção da prioridade é a compra. Se você quer ser proprietário, deve comprar suas terras do Estado ou de quem quer que seja, que as possua a título legítimo. Comprar! É certo que estabelece generosamente uma exceção cartorial: o chamado usucapião. Se você puder provar, diante do escrivão competente, que ocupou continuadamente, por 10 ou 20 anos, um pedaço de terra, talvez consiga que o cartório o registre como de sua propriedade legítima. 
 
Como nenhum caboclo vai encontrar esse cartório, quase ninguém registrou jamais terra nenhuma por esta via. Em consequência, a boa terra não se dispersou e todas as terras alcançadas pelas fronteiras da civilização, foram competentemente apropriadas pelos antigos proprietários que, aquinhoados, puderam fazer de seus filhos e netos outros tantos fazendeiros latifundiários. Foi assim, brilhantemente, que a nossa classe dominante conseguiu duas coisas básicas: se assegurou a propriedade monopolística da terra para suas empresas agrárias, e assegurou que a população trabalharia docilmente para ela, porque só podia sair de uma fazenda para cair em outra fazenda igual, uma vez que em lugar nenhum conseguiria terras para ocupar e fazer suas pelo trabalho. A classe dominante norte-americana, menos previdente e quiçá mais ingênua, estabeleceu que a forma normal de obtenção de propriedade rural era a p
fosse e a ocupação das terras por quem fosse para o Oeste – como se vê nos filmes de faroeste. Qualquer pioneiro podia demarcar cento e tantos acres e ali se instalar com a família, porque só o fato de morar e trabalhar a terra fazia propriedade sua. O resultado foi que lá multiplicou um imenso sistema de pequenas e médias propriedades que criou e generalizou para milhões de modestos granjeiros uma prosperidade geral. Geral mas medíocre, porque trabalhadas por seus próprios donos, sem nenhuma possibilidade de edificar Casas-grandes & Senzalas grandiosas como as nossas".

(Publicado originalmente no Portal Carta Maior)

Vai ter reeleição, coxinhas!!!

As vaias e os xingamentos dirigidos à Presidente Dilma Rousseff na Arena Corinthians, durante a abertura da Copa de 2014, já renderam muitas polêmicas pelas redes sociais. Posições apaixonadas de lado a lado. Algumas delas com argumentos consistentes, outras movidas apenas pelo rancor e desprovidas de qualquer sustentabilidade. Até mesmo o perfil social daqueles que esboçaram os apupos e xingamentos foi apresentado por um conhecido comunicador de rádio pernambucano como sendo do "povo", uma vez que a elite estava nos camarotes ao lado de Dilma. Nada tão desprovido de bom-senso. Há evidências incontestáveis de que as vaias, de fato, foram orquestradas por pessoas de estratos sociais elevados, situados ali pelas classes A e B. Coxinhas paulistas, sem qualquer sombra de dúvida. Gostaria agora, no entanto, de comentar as atitudes dos dois outros aspirantes à Presidência da República, Aécio Neves(PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Começo por afirmar que ambos, ao se pronunciarem sobre o assunto, foram profundamento infelizes. O fato nos remetem a várias previsões sobre as eleições de 2014: a) Não há como tirar dividendos eleitorais do episódio. Aqueles que vaiaram Dilma já estão com voto fechado, possivelmente, no senhor Geraldo Alckmin e entre Aécio ou Eduardo Campos. Não votam em Dilma Rousseff. Trata-se daquele eleitorado que não protesta contra a falta de água no Estado. Um eleitorado conservador, reacionário, de direita. Não à toa, até o momento, apesar das enormes dificuldades com a máquina, Geraldo Alckmin lidere todas as pesquisas de intenções de voto. Portanto, se os presidenciáveis tentaram obter alguns dividendos eleitorais do episódio, chutaram a bola fora; b) Outra constatação é que, nas eleições de 2014, os golpes serão abaixo da linha de cintura. Um deles afirmou que ela "fez por merecer" e o outro quase coisa como se as vaias externassem o "sentimento do povo brasileiro". Dois indicativos de que eles estão dispostos a conduzir a campanha muito pouco preocupados em manter o nível republicano dos debates. Aliás, aliado a esses pronunciamentos, as declarações de ambos nos últimos meses foram duras contra a presidente Dilma Rousseff. Bola fora. Perderam uma ótima oportunidade de manter a urbanidade e a educação caseira, aí sim, uma atitude que poderia amealhar alguns votinhos. Não o suficiente, claro, para ameaçar a hegemonia e a liderança de Dilma, mas, quem sabe, poderem sair do pleito com algum crédito junto à imensa de eleitores que repudiaram aquela atitude mesquinha, típica dos chiliques de uma elite em vias de extinção. Roberto Mangabeira Unger falava na construção de uma contra-elite no Brasil, forjada na oportunização social proporcionada por Governos como o de Lula e o de Dilma Rousseff. Um dia ela substituirá essa velha, caquética e preconceituosa elite, forjada, ainda, nos estertores da Casa Grande. Teremos maior sensibilidade social e, principalmente, mais educação.

Projeto Novo Recife: Caranguejos não sobem de elevador



Se eu tivesse que definir a minha cidade em uma palavra, seria caquinho. Feito aquela antiga louça de família que se quebra e a gente fica tentando colar os pedaços. Por amor à história. Pelo direito à memória. Pela qualidade das coisas que não sobem de elevador. O Caiçara está um caquinho. O Estelita está um caquinho. E só permanecem porque o silêncio também foi quebrado. Primeiro por estudantes, professores e artistas. Depois por quem já foi estudante ou gostaria de ter sido. Milhares de pessoas ocuparam armazéns antigos como quem ocupa um lugar na história. É histórico ver tanta gente junta em torno de questões fundamentais sobre o futuro urbanístico da nossa cidade. O Ocupe Estelita é também o ocupe sua cabeça para pensar no que é de fato desenvolvimento urbano.
Visitei o acampamento. Você visitou? Encontrei estudantes da Universidade Rural ocupados em fazer espirais de hortas orgânicas em solo maltratado e pedregoso. Dispostos e preparados para discutir sobre agricultura sustentável, espaços verdes e alimentação saudável. Encontrei arquitetos e paisagistas ocupados em desenhar propostas alternativas para o imenso terreno em questão. Encontrei jovens ocupados em construir casas em árvores. (Compreende o que isso quer dizer?) Encontrei advogados ocupados em discutir saídas que preservem os direitos urbanos. Encontrei artistas ocupados em manifestar, através da música e da poesia, sua resistência aos godzillas de concreto. Encontrei o orgulho de ser recifense e a força para acreditar que ainda existe Recife no Recife.
Há quem diga que o movimento começou tarde. Verdade. Três ou quatro décadas mais tarde. Se tivesse começado antes, talvez restasse mais mangue, mais mata de caju, mais mata atlântica. Mais coruja caburé – que não sobe de elevador. Mais caranguejo – que não sobe de elevador. Mais tatu-bola – que não sobe de elevador. Aliás, bem que ele merecia um destino mais digno que mascote de copa do mundo. Ou é padrão Fifa animais ameaçados de extinção? Lembro de Nietzsche quando abraçou um cavalo por não suportar ver o animal arrastando uma carroça pesada demais. É, tatuzinho. Está pesado demais.
A natureza do Recife é horizontal. Os rios Capibaribe e Beberibe são horizontais. A praia é horizontal. O Oceano Atlântico é horizontal. Somos uma cidade plana e abaixo do nível do mar. A verticalização agressiva vai contra nossa natureza. Vigésimo andar. Trigésimo andar. Quadragésimo andar. Isso não é andar. As coisas não estão andando. A contradição de um trânsito parado serve de parâmetro. A distância não é mais medida pela geografia, mas pelo deus Cronos. Viajei do Recife para Salvador e cheguei primeiro que meu filho, que levou duas horas do Aeroporto dos Guararapes à Jaqueira. Dependendo da hora, São Paulo é mais perto do Recife que Jaboatão. Brasília é mais perto do Recife que Olinda. Belo Horizonte é mais perto do Recife que Camaragibe. Se claustrofobia também compreende o medo de elevador, como devo chamar o medo de milhares de elevadores em milhares de edifícios com milhares de andares?
Não quero o Novo Recife. Quero o Recife. Com todos os caquinhos que ainda sobrarem dos nossos 500 anos de história.
Lina Rosa Gomes Vieira é diretora de criação.
(Publicado originalmente no Blog de Jamildo, Jornal do Commércio)