pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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sábado, 20 de julho de 2024

Editorial: Rede de intrigas palacianas.



A edição da revista Veja desta semana traz uma matéria tratando da rede de intrigas palacianas, ou, mais precisamente, sobre as indisposições entre membros da Polícia Federal, Abin, GSI e Casa Civil. Fazemos aqui a ressalva de personalizar tais indisposições para não incorrermos em generalizações. O Governo Lula 3 herdou uma herança maldita dos estertores da chamada comunidade de inteligência e informações. Não fazemos ideia sobre o nível das influências nefastas - ou aparelhamento, se preferirem - em relação a essas instituições, ocorridas no governo anterior.

Membros dessas próprias organizações, no entanto, já admitiram que o grau de comprometimento é sensível, daí a necessidade de um cuidado enorme na aplicação de medidas republicanas saneadoras, conforme, reiteradamente, insistimos por aqui. Por alguma razão desconhecida as medidas tomadas foram tímidas até este momento. A matéria da revista sugere que estão sendo produzidos dossiês contra o atual diretor da Polícia Federal,  delegado Andrei Rodrigues, em razão, muito provavelmente, dos trabalhos realizados pelo órgão. 

Não chega a ser uma surpresa que isso ocorra com um cidadão que ocupa um cargo desta dimensão, tendo que proceder investigações que envolvem atores do ancien régime e o governo atual, onde até ministros de Estado estão sendo indiciados, o que dá a dimensão do trabalho sério conduzido pelo órgão.  O problema era se houvesse alguma blindagem das autoridades.  Agrava esta situação o fato de convivermos ainda com um processo de instabilidade institucional renitente, onde quase nada se consolidou até este momento, à exceção da polarização política. É como se estivéssemos num barco à deriva,  em mar revolto. O delegado Andrei Rodrigues vai precisar de muitos amortecedores e resiliência para dar continuidade ao seu trabalho, importante para a sociedade brasileira, em meio a tais turbulências, inerentes ao momento político que o país atravessa. 

Charge! Marília Marz via Folha de São Paulo

 


sexta-feira, 19 de julho de 2024

Editorial: Debates entre candidatos já começam no dia 08 de agosto.


Pelo menos em João Pessoa. É curioso como no Estado da Paraíba os debates políticos são recorrentes, contando com a presença de homens públicos que, geralmente, dão alguma satisfação à sociedade em relação à sua área de gestão. Há uma grade de programação nas TVs locais destinada a esta finalidade, algo incomum em boa parte do país. Neste aspecto os paraibanos estão de parabéns. A TV Aparuã\Band já comunicou que, no próximo dia 08 de agosto, a partir das 22:h, estará transmitindo um debate ao vivo com os principais concorrentes à Prefeitura de João Pessoa, nas eleições de 2024. Praticamente todos os candidatos já confirmaram presença neste primeiro debate. 

Como a Rede Bandeirante de Televisão dá sempre o pontapé inicial nesses debates, não seria improvável que esta data possa ser a arrancada desses encontros entre candidatos em todo o país. Não temos, porém, a confirmação dessa informação. Ao longo dos anos, esses debates perderam muito, em razão das mudanças introduzidas em seu formato, o que os tornou muito burocrático, comedido, impedindo que os candidatos possam se expressar de uma maneira mais espontânea. Perderam muito em termos de emoção. Em todo caso, são fundamentalmente importantes para que possamos escolher aquele candidato ou candidata que melhor possa gerir os destinos de nossas polis. 

Em João Pessoa a disputa promete ser bastante acirrada. Apesar de liderar as primeiras pesquisas de intenção de voto, não há uma distância considerável entre Cícero Lucena(PP-PB), que disputa a reeleição, e os demais concorrentes. Em política, realmente, é possível dá nó em água. Nilvan Ferreira, que concorre à Prefeitura de Santa Rita, um bolsonarista raiz no passado, hoje se vincula politicamente ao próprio Cicero Lucena, assim como ao socialista João Azevedo, governador do Estado. Nilvan é um poço até aqui de mágoa em relação aos bolsonaristas locais, pois foi traído, mas, mesmo assim, é difícil entender essas conversões. Depois, muito dificilmente, ele deixou de ter a admiração de sempre pelo seu guru político de outrora. 

O xadrez político das eleições municipais de 2024 no Recife - Enfim, o vice de João Campos é definido.



No próximo dia 04 de agosto, o prefeito do Recife, João Campos(PSB-PE), deve realizar a convenção da federação que apoia o seu projeto de reeleição, formada pelo PV, PT e PCdoB. Antes disso, ao lado do Presidente Nacional do PSB, Carlos Siqueira, Gleisi Hoffmann, Presidente Nacional do PT, e do morubixaba petista, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, João comunicou aos presentes que o nome do seu ex-chefe de gabinete, Victor Marques, hoje filiado ao PCdoB, deverá mesmo ser oficializado como vice em sua chapa. Havia alguns nomes que estavam na bolsa de apostas para tal escolha, mas, ao apagar das luzes do período de inaugurações de obras na capital, o nome de Victor Marques havia se consolidado. 

Num desses momentos, João Campos se disse perfeitamente confiante em seu assessor, condição fundamental para os seus projetos políticos futuros. Segundo especula a imprensa, antes mesmo da convenção, o nome poderá ser anunciado. O presidente Lula, em particular, não demonstrou qualquer contrariedade em torno do assunto, embora a decisão possa não ter sido recebida da mesmo forma pelos petistas aqui da província. Há rumores de que os grandes acertas envolvem as eleições estaduais de 2026, quando haveria duas vagas de senadores disponíveis e o PT, no plano nacional, deseja preservar um espaço na chapa para o senador Humberto Costa, que precisa renovar o mandato. 

Somente no conjunto de forças que dão suporte à gestão de João Campos há uma penca de nomes que tentam se credenciarem à disputa.  São curiosas as narrativas da imprensa nacional em torno da decisão do prefeito, quase sempre em torno da tese de que João Campos havia dobrado o PT, quando, na realidade, consoante seu projeto político, João Campos jamais abriria mão do controle do Palácio Capibaribe para o partido. Com a máquina municipal sob seu controle, sabe-se lá como se comportaria partido depois do processo de desincompatibilização do gestor, se reeleito, quando poderá habilitar-se à disputa do Governo do Estado.    

Editorial: Saiu os dados do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.



Embora aponte alguns indicadores de queda nas taxas de homicídios no país nos últimos três anos, no mais, os dados do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgados recentemente, não são animadores para o país. Na média dos índices de violência em escala global estamos muito mal e, pior, pelas informações apuradas até recentemente através de pesquisas, a questão da segurança pública é hoje um dos assuntos que mais preocupam os brasileiros. Mesmo numa eleição municipal, como a de 06 de outubro, o tema entrou na pauta dos candidatos em todo o país, principalmente nas grandes capitais. 

Aqui em Pernambuco, por exemplo, já existem propostas de armar a Guarda Municipal, agenda defendida pelos principais concorrentes ao Palácio Capibaribe. Para enfrentar este problema, exige-se desprendimento político, ou seja, a conjugação de forças entre Governo, Oposição e Sociedade Civil, algo que se tornou incongruente hoje no país, em razão do clima de acirramento político. O único consenso em torno do assunto diz respeito ao avanço do crime organizado como fator determinante para a ampliação desses índices de violência. Os fatos saltam aos olhos.  Nesses casos, registre-se, igualmente o aumento dos índices de letalidade em operações policiais. 

As mudanças na rota do tráfico, por exemplo, representou a incidência de maiores escores de violência em estados como o Amapá, Bahia, Pernambuco e Ceará, ou seja, estados localizados nas regiões Norte e Nordeste. Na Bahia e Ceará, por exemplo, há guerras abertas entre facções nacionais e estaduais. Essas facções estaduais que, em alguns casos disputam espaços com as facções nacionais, estão se multiplicando. Salvo melhor juízo, apenas na Bahia há quatorze delas em atuação. 

Por uma dessas ironias do destino, os estados que apresentam as maiores quedas das taxas de homicídios em 2023 são São Paulo e Santa Catarina, estados governados por bolsonaristas roxos, como Tarcísio de Freitas e Jorginho Mello.  A imagem acima mostra as cidades mais violentas do país. Sete delas se concentram em estados da região Nordeste.  

Charge! Cláudio Mor via Folha de São Paulo

 


quinta-feira, 18 de julho de 2024

Editorial: Todos os candidatos querem armar a Guarda Municipal do Recife.



Algumas candidaturas estão praticamente definidas na disputa pela Prefeitura da Cidade do Recife. Teremos as convenções, mas elas cumprem apenas as formalidade legais. Neste sentido, alguns candidatos, a exemplo do prefeito João Campos(PSB-PE), que tentará a reeleição, já sinalizam com algumas propostas de governo, como armar a guarda municipal, um tema que suscita grandes polêmicas. Inclusive os socialistas locais têm uma dificuldade série em lidar com este tema. Já mais experiente, praticamente com uma gestão do executivo municipal no currículo, João sinalizou que deseja abrir essa discussão, respaldado em alguma medidas que possam minimizar maiores complicações com a medida, como, por exemplo, o reforço das ações da corregedoria, certamente com o objetivo de se antecipar a eventuais abusos ou excessos cometidos pelos agentes. 

É curioso como, de repente, todo mundo deseja armar a guarda municipal. Não seria improvável que João tenha tomado a decisão antecipando-se às eventuais propostas neste sentido do candidato Gilson Manchado(PL_PE), representante do bolsonarismo na corrida pelo Palácio Capibaribe. Pois bem. Em entrevista recente, o candidato que representa os interesses do Palácio do Campo das Princesas nesta disputa, Daniel Coelho(PSD-PE), já afirmou que se trata de ponto pacificado em sua proposta de Governo. Não há nem o que pensar. Se eleito, vai não apenas armar a guarda municipal, mas realizar um concurso público para contratar novos agentes. 

Não ouvimos nenhum pronunciamento de Gilson Machado tratando deste assunto, mas, certamente, como bolsonarista raiz, dificilmente ele será contra a medida. A grande dúvida diz respeito à candidata do PSOL, Dani Portela.  Como será que a psolista se posicionará em torno deste assunto? Por outro lado, a princípio, nenhum candidato tem alguma informação privilegiada sobre o que pensa a população do Recife sobre este assunto. Muito provavelmente a população será a favor da medida, em razão do climão produzido sobre os índices de violência registrados no Estado.   

Charge! Aroeira via Facebook

 


Editorial: O depoimento de Ramagem à Polícia Federal.

Crédito da Foto: Pedro Kirilo\Estadão Conteúdo. 


Segundo informações divulgadas pela imprensa, foram 130 perguntas formuladas pela Polícia Federal ao deputado federal Alexandre Ramagem, ouvido em razão de áudios vazados, sugerindo a existência de uma Abin Paralela, ou seja, um suposto grupo de agentes públicos que estariam atuando de forma irregular, bisbilhotando, de forma ilegal, desafetos do ex-presidente Jair Bolsonaro nos Três Poderes. O depoimento de Ramagem teria durado mais de sete horas. Segundo se especula pela imprensa, o ex-homem forte da Abin teria negado qualquer participação nesta Abin Paralela, responsabilizando dois agentes que trabalharam na instituição. 

Deixamos aqui tudo no terreno das suposições, uma vez que compete tão somente à Policia Federal encaminhar as investigações e tirar as conclusões sobre o caso. Voltamos a insistir, no entanto, sobre a necessidade de o Governo Lula ouvir os servidores de carreira da Agência Brasileira de Informações, acatando suas sugestões acerca de uma assepsia institucional ou reestruturação do órgão, evitando, assim, generalizações de narrativas incorretas sobre o trabalho ali realizado pela agência. 

A Abin é um órgão de Estado, jamais uma agência de conveniência para governantes de turno. É preciso se tomar muito cuidado em relação a esses órgãos de segurança e inteligência do Estado. Lavrenti Beria, o todo poderoso chefe da KGB durante o período das trevas do Stalinismo, tinha tanta autoconfiança que morreu numa armação primária; 17 pessoas que tinham algum tipo de vinculação com a morte de Kennedy foram mortas e o caso nunca foi devidamente esclarecido; o maior artífice dos estertores da ditadura militar no país morreu depois de uma dose de Whisk.  

Editorial: Janja recomenda a Lula ler os discursos e não falar de improviso.



Algo sugere que Lula gosta mesmo é de falar de improviso. Ainda este ano, durante a cerimônia de anúncio da construção do Túnel do Guarujá, com a presença de autoridades públicas como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, o presidente fez um longo discurso de improviso, lembrando, inclusive, o tempo em que o governador serviu ao Governo da ex-presidente Dilma Rousseff. O entusiasmo da plateia foi tanto, que alguém gritou, sugerindo que o governador, um bolsonarista convicto, voltasse ao PT.  Não é mais novidade para ninguém que o presidente Lula vem cometendo algumas derrapagens verbais, suscitando polêmicas que poderiam ser evitadas. 

Isso já ocorreu até mesmo quando ele lê o discurso, o que sugere que a sua equipe de ghost writers também é um pouco responsável por tais derrapagens.  Nessa época de identitarismo neoliberal todo o cuidado é pouco. Alguns palavras e expressões simplesmente não podem ser verbalizadas, muito menos ainda escritas, como é o caso de "esclarecer", "samba do crioulo doido", "meia tigela", "gordinho". Existe, salvo melhor juízo, até um index apontando as palavras e expressões proibidas. Isso tem gerado muitas polêmicas. Alguns consideram haver algum exagero por aqui. Hoje você não pode se referir a "escravos", mas "escravizados", tudo no sentido de ser correto com os descendentes da raça negra, nossos irmãos africanos.  

Pessoas portadoras de algum distúrbio mental ou físico é algo que precisa ser tratado com todo o cuidado possível, evitando as lacrações inevitáveis a até coisas mais graves. Quando estamos tratando do lugar de fala de um Presidente da República, então, o fato toma uma dimensão gigantesca.  Neste sentido, é perfeitamente compreensível que a primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a Janja,  tenha recomendado ao presidente que, principalmente em tais ocasiões, leia o discurso, não fale de improviso, evitando eventuais derrapagens. 

Charge! Laerte via Folha de São Paulo

 


quarta-feira, 17 de julho de 2024

Editorial: Depois da ressaca dos "áudios da rachadinha", Bolsonaro e Ramagem aparecem juntos.

 


No Rio de Janeiro, este fato hoje parece-nos óbvio, não se faz mais política sem algum envolvimento com as milícias que atuam na área. Quem se contrapõe frontalmente aos interesses desses grupos no Estado, corre um risco maior de ser morto do que propriamente vencer uma eleição. Num futuro próximo, talvez possamos fazer apenas uma ligeira e tênue separação entre os grupos milicianos afinados com "L" ou afinados com "B".  Segundo estimativas, 60% do território da capital hoje é controlado por grupos milicianos. O aparelho de Estado, por outro lado, apresenta índices de contaminação somente observados em países como o México. O país já passa por um processo de "mexicanização". 

Em São Paulo, por exemplo, as polícias militar e civil travam uma verdadeira batalha para devolver a tranquilidade há alguns lugares, conflagrado na luta pela tomada de espaço desencadeada pelo PCC. Esses espaços haviam sido ocupados pelos grupos armados milicianos. O Rio de Janeiro é sempre apresentado como a área mais nevrálgica quando tratamos deste assunto, mas o problema vem ganhando dimensões preocupantes em todo o país, inclusive em Estados da região Nordeste, a exemplo da Bahia, Ceará e Pernambuco. 

Essa introdução é apenas para evidenciar o quanto tem sido complicado fazer política naquele Estado da Federação. Ainda no calor da ressaca produzida pelos áudios da rachadinha, o ex-presidente Jair Bolsonaro e o candidato à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Alexandre Ramagem, aparecem juntos, prometendo intensificar a campanha naquela praça.  A rigor, a amizade entre ambos não foi abalada pela divulgação dos áudios. Circulou a versão de que o ex-presidente Bolsonaro não sabia que estava sendo gravado, versão logo desmintida pelo próprio Ramagem. 

Charge! Leandro Assis e Triscila Oliveira

 


Editorial: Pablo Marçal não sabe chegar ao Capão Redondo.



Secretário de Obras de um das gestões de Jarbas Vasconcelos como prefeito do Recife, João Braga considerou a possibilidade de ter o apoio do chefe ao seu projeto de candidatar-se à Prefeitura do Recife. Jarbas, que à época costurava alianças com o propósito de chegar ao Palácio do Campo das Princesas, porém, tinha outros planos. Salvo melhor juízo, Braga chegou a candidatar-se, mas por uma outra legenda, sem o apoio de Jarbas Vasconcelos. 

Braga conhecia muito bem o Recife. Certamente como nenhum dos outros postulantes ao cargo. Escreveu até um livro tratando deste assunto. Num desses debates, sugeriu que um dos concorrentes, se deixado no Largo Dona Regina, em Nova Descoberta, não mais conseguiria voltar à sede da Prefeitura sozinho. Aqui pertinho, em Olinda, um dos candidatos perguntou ao concorrente, durante um debate, o que ele faria com o posto de saúde do Beco da Marinete. Como ele não conhecia o Beco da Marinete, teceu alguns comentários genéricos sobre o assunto, para ser informado, logo em seguida, que não havia posto de saúde no Beco da Marinete. 

No dia de ontem, durante uma entrevista, o jornalista do SBT, Heródoto Barbeiro, insistiu com o entrevistado Pablo Marçal sobre se ele saberia como chegar ao Capão Redondo. Ele falou em GPS, helicópteros, aplicativos, mas, de fato, ficou evidente que ele desconhecia o itinerário do transporte público coletivo para se chegar ao local. Como o empresário parece bem versado na área de comunicação, convém aqui fazer uma consideração: o eleitor costumava levar a sério essas questões.  

Editorial: A força da direita no Ceará.


Ontem, dia 16, saiu mais uma pesquisa de intenção de voto para a Prefeitura de Fortaleza, desta vez realizada pelo Instituto Paraná Pesquisas, um instituto que conseguiu angariar grande credibilidade nas últimas eleições presidenciais, obtendo os melhores escores de acertos no primeiro e no segundo turno daquelas eleições. Na realidade, o Instituto divulgou dados sobre a corrida eleitoral em Fortaleza e Salvador. Em Salvador, o Carlismo lidera a corrida com Bruno Reis, do União Brasil, apadrinhado por ACM Neto, que tenta a reeleição.  

No Ceará há, pelo menos, três candidatos identificados com a direita, como é o caso do capitão Wagner, do União Brasil, André Fernandes, do PL, e o senador Eduardo Girão, do Novo. Se somarmos os votos desses candidatos, podemos concluir que a direita vai muito na terra de Patativa do Assaré. No campo progressista, o atual prefeito, José Sarto(PDT-CE), é o melhor ranqueado. O candidato do PT, Evandro Leitão, que conta com o apoio dos caciques da legenda no estado e nacionalmente, aparece com apenas 9,4% das intenções de voto, ficando na quarta posição. 

O ex-governador Camilo Santana, que hoje é o Ministro da Educação, mas concorreu ao Senado Federal nas últimas eleições, foi o grande puxador de votos para o atual governador Elmano de Freitas. Caso curioso de um candidato a senador que puxa voto para o governador. Camilo deixou o Governo do Ceará com avaliação nas alturas. Neste caso, porém, estamos tratando de uma eleição para a capital, Fortaleza. As forças do campo progressista vivem às turras naquela praça, o que amplia as expectativas de êxito do projeto conservador. A direita também não vive em completa harmonia, mas leva vantagem neste momento. O capitão Wagner, que lidera a disputa, pontuando com 33% das intenções de voto, não se entende bem com o deputado federal André Fernandes(PL). Motivo? Ambos desejam o apadrinhamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. 

terça-feira, 16 de julho de 2024

Editorial: Diálogos das rachadinhas. Vísceras expostas da res publica tupiniquim.


Sempre que invocados a se pronunciarem sobre os graves equívocos cometidos em relação à doação de joias do Governo da Arábia Saudita ao Governo Brasileiro, que, segundo apurações da Polícia Federal estão eivados de procedimentos que poderiam perfeitamente ser enquadrados como de natureza pouco republicana, tais atores fazem referência aos famosos contêineres de presentes doados ao governo anterior. Isso, de imediato, mostra duas práticas igualmente danosas aos interesses públicos. A recorrência de tais procedimentos e a banalização de uma tese levantada pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda, quando nos alertava, lá atrás, sobre as fragilidades de nossas instituições públicas. 

Ontem, dia 16, fomos informados de mais um desses casos que merecem uma vigilância - talvez até a interdição - dos órgãos de controle e fiscalização do Estado. Um banco estatal estaria realizando uma transação arriscadíssima e nebulosa com uma agência privada, envolvendo a bagatela de milhões de recursos públicos, mesmo depois das recomendações em contrário dos servidores da instituição. Aliás, dois servidores foram afastados dos seus cargos exatamente por se contraporem ao negócio. Se os leitores estão atentos,  hoje já pululam transações de caráter nebulosos na res publica. 

Para encerrar este editorial, ao se conformarem a versão de que um ex-governador de Estado teria proposto ao ex-presidente a interdição das investigações sobre as rachadinhas envolvendo seu filho, negociada a partir de uma vaga no Supremo Tribunal Federal, torna escabroso o escracho com as nossas instituições. Os leitores vão nos perdoar pela ausência de citações de nomes, por razões óbvias.  Isso nos faz lembrar daquela alegoria do elevador, descrita pelo antropólogo Roberto DaMatta, outro grande intérprete do país. A alegoria relata o caso de um ascensorista que, querendo tirar vantagem para se aproximar daquela empregada gostosa do 201, faz um acordo para que ele entre no elevador, quando a lotação já havia chegado ao limite. Resultado: Todos vão para o fundo do poço. Nada mais emblemático para explicar o país, apenas com a ressalva de que esses tiradores de vantagens, geralmente, acabam ficando bem na fita. Quem se arrebenta mesmo é o povo.  

Charge! Benett via Folha de São Paulo

 


segunda-feira, 15 de julho de 2024

Editorial: Moro admite candidatar-se ao Governo do Paraná em 2026.



O senador Sérgio Moro(UB-PR) está nas páginas amarelas da revista Veja desta semana. Como se trata de um ator político que esteve no epicentro de vários episódios recentes da vida política nacional, é possível extrairmos da entrevista vários elementos passíveis de algumas considerações. Vamos focar, no entanto, em duas posições assumidas pelo senador durante a entrevista: Considerar que a Polícia Federal possa está sendo prematura no julgamento envolvendo a doação das joias do Governo da Arábia Saudita ao Brasil, procedimento muito mal gerenciado pelo presidente de turno. 

A Policia Federal, na realidade, depois de um trabalho técnico impecável, reúne hoje elementos mais do que suficientes para indiciar o ex-presidente. Julgar que Lula administrou mal essas doações, desejando fazer um contraponto com Bolsonaro, apenas fornece elementos para reforçar as teses do historiador Sérgio Buarque de Holanda sobre as nossas fragilidades institucionais, onde não existem fronteiras entre as esferas pública e privada.  

Um outro dado da entrevista é quando o senador sugere que poderá vir a ser candidato ao Governo do Paraná nas eleições de 2026 e que fará de tudo para não permitir que o estado caia nas mãos do PT. O senador também se mostra simpático às movimentações do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, de olho no Planalto em 2026. 

Editorial: Rodrigo Pacheco para chanceler do Governo Lula?



A informação surgiu na coluna do jornalista Cláudio Humberto. O Planalto estaria especulando sobre a possibilidade de indicar o nome do atual Presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, para o cargo de Ministro das Relações Exteriores, em substituição a Mauro Vieira, que deve se aposentar. Com isso, soma-se mais uma opção para o futuro de Rodrigo Pacheco. É impressionante a bolsa de apostas em torno do assunto. 

Já se informou que ele teria interesse em governar o Estado de Minas Gerais, ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal, ser indicado como ministro do TCU. Preferimos aqui não apostar em nenhuma dessas eventuais pretensões do Presidente da Câmara Alta. Em qualquer circunstância, porém, Pacheco contaria com o apoio irrestrito do Planalto. As relações entre ele e Lula hoje são muito boas. É mais provável que ele fique mesmo em Brasília. 

A situação política nas Alterosas não é nada convidativa. Até o PT já está pensando em substituir o nome do deputado federal Rogério Correia, que concorre a prefeito de Belo Horizonte nessas eleições municipais. O Estado é estratégico para os planos de Lula nas eleições de 2026 e, consequentemente, o PT precisar ser competitivo naquela praça. 

Editorial: Por que a Abin precisaria ser reestruturada de forma mais efetiva?



Quando ocorreu a tentativa de golpe do 08 de janeiro, uma das primeiras declarações do presidente Lula foi a de que os seus serviços de inteligência haviam falhados clamorosamente. Curiosamente, citou até os órgãos diretamente ligados às forças militares, exemplo da Marinha, Aeronáutica e Exército. A declaração sugeria, a princípio, que o mandatário do país, já no seu terceiro mandato, se cercaria de todas as providências possíveis e imagináveis com o propósito de evitar novas surpresas. Pelo andar da carruagem política, algo sugere que não foi exatamente isso o que ocorreu. 

As medidas adotadas na abin, no nosso entendimento, foram tímidas, bem aquém daquilo que seria fundamentalmente importante realizar no órgão, tese que, a rigor, conta com apoio dos próprios servidores de carreira daquela instituição, que, por razões óbvias, não se sentem bem com esta situação. É típico de regimes ou governos de perfil autoritário, que flertam com o fascismo, um aparelhamento rigoroso dos serviços de inteligência e segurança do Estado. Não surpreende a ninguém minimamente informado os problemas encontrados não apenas na Abin, mas no GSI, por exemplo. 

Nas décadas de 30\40 do século passada, a ditadura do Estado Novo mantinha o DOPS - Departamento de Ordem Política e Social - uma espécie de polícia política bastante ativa, em Pernambuco, sediada na Rua da Aurora. Não por acaso, o chefe de polícia era o nome "natural" para substituir o interventor. Etelvino Lins, que chefiava o órgão, substituiu a raposa Agamenon Magalhães. Com o golpe civil-militar de 1964, criou-se o SNI - Serviço Nacional de Informações - um verdadeiro monstro que funcionou durante décadas. Na era FHC, depois da redemocratização, portanto, a grande questão que se colocava à época era se esses serviços de inteligência deveriam ficar sob o controle civil ou militar. 

Salvo melhor juízo, existe uma comissão parlamentar que fiscaliza a ação dessa comunidade de informações. Num regime democrático, tais órgãos precisam assumir um perfil de órgãos de Estado, atuando estritamente dentro de um escopo delimitado legalmente, sem extrapolar suas funções, constitucionalmente estabelecidas. Preocupa, neste caso, uma espécie de "herança de estrutura", ou seja, entra governo, sai governo, tais órgãos mudam de nomenclatura, mas, de alguma forma, acabam mantendo os resíduos da estrutura da comunidade de informação já existente. O problema da Abin Paralela foi tipicamente este. 

É preciso redobrar os cuidados com isso. Até recentemente, por ocasião das chamadas "Jornadas de Junho", havia um infiltrado nos grupos de estudantes. Boa pinta, jovem, barbudo à lá Che Guevarra, conquistou a confiança do grupo. Em seu relatório de trabalho recomendou a prisão de um perigoso agitador, quem sabe até o líder entre esses estudantes. Seu nome? Karl Marx. 

domingo, 14 de julho de 2024

Vamos aprofundar essas discussões?



Através do nosso perfil da plataforma Privacy, que pode ser assinado por aqui o leitor encontrará um aprofundamento dessas discussões diárias que estabelecemos através do blog. Assinem, recomendem aos amigos, deixem seus comentários ou impressões.

- Qual o debate que realmente interessa ao país quando está em jogo a questão nevrálgica da segurança pública, um dos temas que mais preocupam os eleitores neste momento? A oposição, infelizmente, procura desgastar o Governo Lula, através das críticas, de um lado, e das propostas radicais, de outro, confundindo a população sobre o que realmente interessa ao país. No nosso perfil, ao longo da semana, vamos abordar essa questão. 

- Um outro tema diz respeito à chamada Abin Paralela, um tema que dominou os debates nesta semana, sobretudo em razão de se entender que o órgão, possivelmente aparelhado durante o governo anterior, passa por um processo de desgaste junto à opinião pública. Conforme antecipamos, com base nas posições dos próprios servidores de carreira do órgão, as medidas que o Governo Lula 3 tomou em ralação à instituição foram tímidas. Os motivos, discutimos no perfil. Não por acaso, a Abin Oficial ficou de fora do acompanhamento das investigações sobre a Abin Paralela. 

Editorial: Queiroga festeja segundo lugar na pesquisa de intenções de voto para a Prefeitura de João Pessoa.



O ex-Ministro da Saúde do Governo Bolsonaro, Marcelo Queiroga, comemorou bastante o resultado da pesquisa do Instituto Veritá, divulgada recentemente, onde ele aparece em segundo lugar na disputa pela Prefeitura de João Pessoa, atrás do atual gestor, Cícero Lucena, que concorre à reeleição. Há motivos para a comemoração? Sim. Trata-se de uma boa performance, principalmente para alguém com o perfil do ex-ministro que, salvo melhor juízo, não teria experiência em disputar eleições. 

Assim como ocorre no Rio de Janeiro, a engenharia eleitoral naquela capital é um pouco complicada, uma vez que há mais de um candidato que poderia conquistar o eleitorado de perfil conservador. O próprio prefeito, Cícero Lucena, filiado ao Progressistas, não tem um perfil muito nítido de identificação com o eleitorado tipicamente de esquerda. Uma parcela de seu eleitorado é de perfil conservador e, quiçá, até simpático ao bolsonarismo. No Rio, Eduardo Paes, apoiado pela esquerda, não esquece de flertar com atores políticos de perfil conservador, o que talvez esteja impedindo o avanço do bolsonarismo, permitindo que ele feche a fatura ainda no primeiro turno.  

A missão de Queiroga, se deseja continuar competitivo na disputa,  seria a de consolidar esse eleitorado bolsonarista, e, de preferência, adentrar junto a um eleitorado conservador, não necessariamente bolsonarista. Por razões óbvias, ele não teria como penetrar junto ao eleitorado de esquerda. Cícero, por sua  vez, não teria as mesmas dificuldades. Possui o apoio dos socialistas do PSB e, por muito pouco, não contou com o apoio do PT, que lançou um candidato próprio, o deputado estadual Luciano Cartaxo. 

A pesquisa do Instituto Veritá foi realizada no período de 10 a 14 de junho, ouviu 1,202 pessoas, tem uma margem de erro de 3,5 p.p e índice de confiabilidade de 95%. Registro PB-07225\2024. Veja os números: 

Cícero Lucena 27,9%

Marcelo Queiroga 19,5%

Luciano Cartaxo  14,8% 

Editorial: O debate que interessa ao país na segurança pública.



Já faz algum tempo que as coisas não andam bem na nevrálgica área de segurança pública no país. Perfeitamente compreensível, portanto, que este tema domine as preocupações dos eleitores no tocante às próximas eleições municipais. Aqui no Recife, prefeito bem avaliado, liderando as pesquisas de intenção de voto, João Campos(PSB-PE) já prometeu que cogita da possibilidade de armar a guarda municipal, tomando algumas medidas que possam se antecipar aos eventuais problemas. 

O Estado de Pernambuco ostenta hoje um dos maiores índices de violência do país, como decorrência, em parte, de uma mudança geográfica de atuação do crime organizado, hoje bastante ativo na região Nordeste. Os três Estados mais violentos do país hoje estão concentrados nesta região, conforme indicadores do Atlas da Violência. Até recentemente, depois de provocado, o Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski veio a público para informar as providências de sua pasta sobre o combate ao crime organizado, informando que o assunto tem sido tratado como prioritário.

Estamos tratando aqui, naturalmente, de uma questão complexa. Não é tão simples diminuir os índices de violência, a começar pelo grau de comprometimento das próprias instituições policiais de Estado com o crime organizado. Dificilmente uma operação coordenada pelo Ministério Público e pela força tarefa do GAECO não envolve o cumprimento de mandados de prisão e buscas e apreensão contra uma penca de pseudos agentes policiais envolvidos em maracutaias, seja com a milícia, seja com o crime organizado, se é que ainda se pode fazer alguma distinção por aqui.

Outro gravíssimo problema diz respeito à absoluta ausência de consensos entre Governo e Oposição no tocante a esta questão. Matreiramente, a Oposição torce para que o Governo Lula 3 se enrede neste problema, assim como adota procedimentos adversos em algumas instâncias - como os governos estaduais sob o seu controle - que vão numa linha diametralmente opostas às políticas federais de enfrentamento do problema. 

Neste contexto de animosidades e divergências evidentes, por inúmeras razões, o ator político hoje mais emblemático para se acompanhar esse verdadeiro cabo de guerra seja mesmo o Secretário de Segurança Pública de São Paulo, o capitão Guilherme Derrite, bolsonarista raiz, filiado ao PL, deputado federal licenciado, que voltou à carga contra o Governo Lula 3, durante a última reunião da CPAC em Santa Catarina. Derrite foi o relator da PEC da Saidinha. Segundo especula-se seus projetos políticos são bem ambiciosos, como a disputa de uma cadeira de senador nas eleições de 2026.  

Charge! Jean Galvão via Folha de São Paulo

 


sábado, 13 de julho de 2024

Editorial: Encontro da direita jovem no Recife.



Depois do encontro da CPAC, em Santa Catarina, pelo menos neste sábado, 13, Recife se torna a capital da direita no país. Os dados indicam que por aqui eles estão muito bem estruturados. Há uma forte presença do bolsonarismo no Recife, talvez ainda insuficiente para alçar um representante para dirigir os destinos da Capital ou do Estado, mas eles se configuram como uma força política competitiva. Na última eleição para o Senado Federal, por exemplo, o candidato que representa o bolsonarismo, obteve mais de um milhão de votos, testado nas urnas pela primeira vez, concorrendo com figurinhas tarimbadas do meio político. Ficou em segundo lugar na disputa. 

Gilson Machado, que já foi ministro do Turismo de Jair Bolsonaro, aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenções de voto para a Prefeitura do Recife. A direita pernambucana receberá aquele que talvez seja hoje o grande ícone da juventude de direita no país, o deputado federal por Minas Gerais, Nikolas Ferreira. O ex-presidente Jair Bolsonaro participar[a do evento através de videoconferência. 

Salvo melhor juízo, o deputado federal Nikolas Ferreira(PL-MG) já cumpriu este papel antes, por ocasião das últimas eleições presidenciais. Ele é uma espécie de clone de Jair Bolsonaro, ora aparecendo junto com ele durante os eventos, ora o substituindo em outras ocasiões, como no encontro de hoje, por exemplo.   

Editorial: PL já cogita retirar nome de Ramagem da disputa no Rio.

 


A coluna do jornalista Cláudio Humberto, hoje, dia 13, traz a informação dando conta de que os caciques do PL já cogitam em retirar o nome do delegado Alexandre Ramagem da disputa pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Possivelmente tal hipótese não passa pela cabeça do candidato, que tem focado na narrativa da perseguição política com o objetivo de prejudicá-lo no pleito. 

Ramagem dever ser ouvido pela Polícia Federal e, pelo andar das investigações envolvendo uma ABIN paralela no Governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, as encrencas legais que o envolve, segundo apurou a PF, são preocupantes para a candidatura. Esses fatos vieram à tona justamente num momento de incremento da campanha do candidato, quando se pretende reverter uma situação hoje francamente favorável ao atual prefeito Eduardo Paes(PSD-RJ), que concorre à reeleição. 

Cogita-se que um mulher poderia compor a chapa com Alexandre Ramagem. Em princípio, o nome do ex-interventor, general Braga Neto, foi pensado como o candidato do bolsonarismo. Pelo andar da carruagem política, a situação é desconfortante para o partido no Rio de Janeiro, sobretudo se avaliarmos os padrões de alianças celebrados por Eduardo Paes, envolvendo representantes evangélicos também identificados com o bolsonarismo. Naquela praça, portanto, as ideologias estão bastantes "diluídas".    

Charge! Marília Marz via Folha de São Paulo

 


sexta-feira, 12 de julho de 2024

Editorial: MP propõe rescisão do contrato com a Âmbar Energia, dos irmãos Joesley e Wesley Batista.

 


Sugere-se que os irmãos Joesley e Wesley Batista tenham entrado no ramo da energia até recentemente. São riquíssimos, mas os negócios do grupo estão concentrados, sobretudo, na carne. Em entrevista recente ao UOL, o ex-candidato à Presidência da República, Ciro Gomes, rasgou o verbo sobre este assunto, mas preferimos usar da cautela e da prudência necessária ao abordá-lo por aqui. Trata-se de um assunto nevrálgico. Ao se confirmar, no entanto, que o contribuinte, o infeliz pagador final de impostos, possa financiar uma transação entre um ente público e um ente privado, aí, certamente, estamos diante de um escárnio. 

Outro gravíssimo problema elencado são as audiências, fora da agenda, entre entes públicos e privados, conforme tem sido divulgado pela imprensa. No final, a nossa conclusão de que o Governo Lula 3 precisa redobrar os cuidados, uma vez que vem se enredando em celebrações de transações sensíveis, vulneráveis, sujeitas às interdições dos órgãos de fiscalização e controle, capazes de produzir um grande desgaste para o Governo.

Precatórios, Secom, Leilão do Arroz, Âmbar Energia, Codevasf. São os que este editor consegue lembrar no momento. É preciso que se tome muito cuidado com essa questão, pois a oposição, principalmente a bolsonarista mais radical, tem olhado o assunto com lupas ampliadas, disposta a explorá-los seja em ambiente institucional, como o parlamento, seja em praça pública, por ocasião da montagem dos palanques das eleições municipais.  

Editorial: Uma visão da indústria têxtil a partir dos operários e operárias.



Os críticos de Casa Grade & Senzala observam, de forma genérica, que o antropólogo Gilberto Freyre analisou a sociedade colonial brasileira a partir de um olhar lançado da Casa Grande. Rebento com descendência familiar na fina flor da aristocracia açucareira do Estado de Pernambuco, sugere-se que, em tais circunstâncias, talvez não pudesse ser diferente mesmo. Ariano Suassuna, por exemplo, enfatizava que o escravizado de Gilberto Freyre era o escravizado domesticado, jamais o escravizado do eito, menos ainda o escravizado que fugia do cativeiro e reconstituía sua vida nos quilombos escondidos nas matas adjacentes.  

"Reconstituía" é um termo que, provavelmente, mereceria enormes reparos dos historiadores. Na realidade, até hoje essas vidas não foram reconstituídas, se considerarmos, por exemplo, os altos índices de analfabetismo entre a população negra do país, principalmente entre as mulheres, o que indica um componente perverso de gênero. Como afirmou o professor Cristóvam Buarque, os escravos no Brasil foram soltos, nunca libertos. O abolicionista Joaquim Nabuco, certamente concordaria com essa afirmação do professor pernambucano. 

Em três romances, que perfazem um total de mais de quase 400 páginas, analisamos a trajetória de implantação, consolidação e decadência da indústria têxtil na cidade de Paulista, uma cidade localizada na Região Metropolitana do Recife, que, durante décadas, foi considerada uma cidade-fábrica ou uma espécie de fazenda da oligarquia industrial. O primeiro dos três romances é Menino de Vila Operária, vencedor do prêmio José Lins do Rego, na categoria romance, em 2022. 

O segundo romance é Cidade das Chaminés e, finalmente, completando a trilogia, Chaminés Dormentes. No seu conjunto, os romances reconstituem - aqui o termo pode ser usado - o processo de industrialização têxtil no país, com um foco mais particular para a situação emblemática, sobre diversos aspectos, do caso da cidade de Paulista, onde a família Lundgren mantinha duas fábricas de tecidos. Tudo o que ocorreu com a indústria têxtil no país, de alguma forma, repercutiu por ali, desde as novas tecnologias - como as mudanças dos pedais por exemplo - até as crises ou grandes greves do setor no país. 

O olhar que se lança sobre todo este processo não é o da vivenda dos coronéis, mas um olhar a partir da Vila Operária, que abrigava os operários e operárias que trabalhavam na indústria têxtil local. Eram pessoas recrutadas nas cidades interioranas dos Estados da Paraíba e Pernambuco e, consequentemente, permearam tal ambiente social com suas crenças, seus valores, seus costumes, suas trajetórias difíceis de vida. Eram comuns, por exemplo, as parteiras, as rezadeiras, os tipos "esquisitos", problemas psicológicos produzidos muito em função, possivelmente, dos desajustes da próprio relação de produção ali estabelecida. 

A hegemonia do grupo Lundgren sobre a cidade extrapolava a esfera produtiva, atingindo as esferas religiosa, política e cultural dos moradores locais, todos abrigados em sua Vila Operária. A questão era tão preocupante que um dos maiores adversários dos Lundgren no Estado, por aparentemente contraditório que possa parecer, foi justamente o interventor Agamenon Magalhães que representava, naquele momento, a Ditadura do Estado Novo. Foi por determinação de Agamenon que o arsenal mantido pela milícia local foi apreendido. 270 armas, entre fuzis, metralhadoras e milhares de munição.  

Editorial: Chaminés Dormentes.

 


O romance reconstitui, historicamente, a decadência da industrialização têxtil no país, a partir de uma experiência observada na cidade-fábrica de Paulista, localizada na Região Metropolitana do Recife, em Pernambuco. Durante o seu apogeu, o município ostentou a condição de maior polo têxtil da América Latina, situação que o coloca como um indicador seguro para entendermos como este ciclo de industrialização se deu em todo o Brasil, pois as indústrias do Grupo Lundgren, em Paulista, se constituíam numa espécie de termômetro ou parâmetro seguro para avaliarmos o que ocorria neste setor da economia no país.

Além de abordar o processo de decadência da indústria têxtil no município, o romance envereda pelas consequências daí decorrentes, uma vez que tudo, absolutamente tudo no município girava em torno dessa indústria, a Companhia de Tecidos Paulista. Como ficaria a cidade com o encerramento de suas atividades? O que fazer com o espólio de construções históricas do período? Qual a memória a ser preservada? a da oligarquia industrial – representada pelo clã da família Lundgren - ou a memória da luta dos trabalhadores e trabalhadoras por sua emancipação?

A indústria fechou suas portas na década de 80 do século passado, mas, já na década de 60, refletia a crise no setor têxtil que se observava no plano nacional, de onde não haveria mais retorno, exceto pelo interregno da fase do Milagre Econômico Brasileiro, decorrente da fase inicial desenvolvimentista da Ditadura Militar implantada no país com o Golpe Civil-Militar de 1964. Milagre que durou muito pouco, pois o santo era de barro. O que perdurou por longos 21 anos foram os danos políticos e institucionais daí decorrentes, como a supressão de direitos, liberdades civis e a perseguição aos adversários, com seus reflexos no município, elementos que são, igualmente, tratados no romance.

O texto está dividido em três partes. Na primeira parte abordamos os problemas enfrentados pela indústria têxtil naquele período histórico específico, envolvendo, inclusive as sucessivas greves ali verificadas, aguçando, até o limite do possível, o conflito entre capital e trabalho. A greve de 1962 é a mais emblemática entre elas, pois ocorre num ambiente político extremamente favorável à classe trabalhadora, significando conquistas importantes, embora não duradouras, pois, logo em seguida, dois anos depois, ocorreu o Golpe Civil-Militar de 1964. 

A segunda parte enfoca as consequências da queda das atividades da indústria têxtil no município, pois existia um padrão de interdependência bastante acentuado entre esta indústria e os moradores locais, uma relação que extrapolava o caráter estritamente produtivo, atingido outras esferas, como a moradia - existia uma vila operária – os roçados da Companhia, que produziam alimentos para a população local. Registre-se, igualmente, que a oferta de bens culturais na cidade também estava condicionados à indústria têxtil da família Lundgren.  

Na terceira e última parte, abordamos o quadro de ebulição política que exista no país naquele momento, no início da década de 60, de muita agitação política, sindical e estudantil, em torno das reformas de base que país reclamava, que envolvia questões relativas à reforma agraria, educação de adultos, entre outras, e como tal momento se refletia no município. Historicamente, como se sabe, tais reformas foram abortadas pelo golpe de classe articulado pelas forças conservadoras consorciadas com os militares, produzindo longos dias de trevas para o país. O livro já está disponível pela Plataforma Kindler pelo link.