pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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terça-feira, 22 de março de 2022

Editorial: Pesquisa da Genial\Quaest indica que as aleições presidenciais de 2022 ainda estão indefinidas.



Minas Gerais e Rio de Janeiro são dois colégios eleitorais importantes no país. Respectivamente, o segundo e o terceiro maiores colégios eleitorais, portanto, cruciais numa eleição presidencial. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP) ainda lidera nesses dois Estados, mas o presidente do Instituto Genial\Quaest, o cientista político e professor da Universidade Federal de Minas Gerais, Felipe Nunes - que aparece na foto acima - ouvido pelo jornalista Matheus Leitão, da revista Veja, alerta para algumas questões interessantes, que podem ser extraídas da última pesquisa do Instituto sobre a quadra política carioca. 

A primeira observação é que as eleições de outubro estão absolutamente indefinidas, não sendo possível afirmar, ainda, que este(a) ou aquele(a) candidato(a) vencerá o pleito. É certo que nesses dois grandes colégios eleitorais o candidato do PT leva vantagem sobre o presidente Jair Bolsonaro(PL), mas, por outro lado, em ambos os Estados o fator máquina pode desequilibrar o jogo, ou seja, pelo menos no Rio de Janeiro, o governador Cláudio Castro, do mesmo partido do presidente Jair Bolsonaro, lidera em todos os cenários do primeiro e de um eventual segundo turno. 

Em Minas Gerais, por seu turno, temos um governador de perfil conservador no governo, Romeu Zema, do Novo, uma agremiação partidária assumidamente de direita. Nos quatros maiores colégios eleitorais do país, o candidato do PT tenta viabilizar uma costura política com Gilberto Kassab, do PSD, numa tentativa de trazê-lo para o seu projeto ainda no primeiro turno. Kassab, conforme dissemos por aqui, dificilmente irá apoiá-lo ainda no primeiro turno. Vai esperar a porca torcer o rabo, quando terá mais chances de assegurar o seu quinhão de panceta. Por enquanto, joga com a possibilidade de viabilizar a candidatura do governador gaúcho, Eduardo Leite(PSDB-RS). 

Pelo andar da carrugem política, teremos uma eleição presidencial bastante disputada em 2022. Desde as manobras de caráter nada republicanos de 2016 que, definitivamente, perdemos a paz democrática. O jogo, as tessituras, a observância às regras, a aceitação dos resultados, a lisura do processo, tudo passou a ser sistematicamente questionado por alguns atores políticos. Ainda hoje, a plataforma do Youtube retirou, acertadamente, os vídeos que propagavam informações falsas sobre as eleições de 2018.   

Pinga Fogo: Lula: É Alckmin ou eu não sou candidato.

 


A rigor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não disse que seria candidato, embora seja. Faz parte do jogo político anunciar a candidatura no tempo certo, de preferência colhendo alguns dividendos deste momento. É igualmente certo que, uma vez filiado ao PSB, o ex-governador Geraldo Alckmin seja anunciado como vice em sua chapa. O nome de Alckmin sempre enfrentou resistências de alguns setores do PT, sobretudo os setores mais orgânicos, de base, aqueles mais orientados ideologicamente. Por outro lado, Lula sabe, desde algum tempo, que um candidato com o seu perfil só chega a ocupar a cadeira de Presidente do Executivo, no Brasil, com um pé no Beco da Fome e outro na Faria Lima. Por isso, andou avisando aos companheiros: se desejarem outro vice, procurem outro candidato à Presidência da República pela legenda. Conforme informa a sempre bem atualizada jornalista Clarissa Oliveira, em sua coluna da revista Veja

Pinga Fogo: Lula não apoiará o projeto político de Marília Arraes

 


Lula caminha no Estado para onde caminha o senador Humberto Costa(PT-PE). Humberto é a âncora, a bússula e o porto seguro de Lula aqui em Pernambuco. Amizade antiga, desde os tempos da criação do PT aqui no Estado e dos defeitos da Brasília Amarela, único veículo disponível para o morubixaba petista visitar seus parentes no interior nos tempos das vacas magras. Quem observou seu semblante, ontem, na foto do encontro entre ele e Marília Arraes, percebe que ele desaprovou o voo solo da ex-companheira de partido.

Charge! Benett via Folha de São Paulo

 


segunda-feira, 21 de março de 2022

Pinga Fogo: Pesquisa BTG\FSB joga mais uma ducha fria na viabilidade da terceira via.



A mais recente pesquisa de intenção de voto para a Presidência da República joga mais uma ducha fria nas aspirações do pelotão de candidatos que tentam um lugar ao sol pela chamada terceira via. Alguns analistas políticos já colocaram uma pá de cal sobre o assunto, considerando mesmo a inviabilidade dessa terceira via. Nos primeiros levantamentos dos institutos de pesquisa acreditava-se que o contingente de eleitores dispostos a não votarem em Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP) ou Jair Bolsonaro(PL) seria algo em torno de 30%, o que tornava-se possível a possibilidade de uma inclinação ao voto numa alternativa entre ambos os candidatos que polarizam as intenções de voto. Pelo que apurou o Instituto FSB, hoje, esse número não é superior a 11% do eleitorado, muito pouco para viabiliza qualquer pretensão. Por enquanto, entre os políticos, as movimentações ainda são intensas em torno deste assunto. 

Editorial: A firmeza do ministro Alexandre de Moraes, o xerife das próximas eleições.


O ministro do STF, Alexandre de Moraes, está sendo conhecido pelos brasileiros e brasileiras como uma espécie de xerife do Supremo Tribunal Federal. Já o tratamos aqui como o guardião da democracia brasileira,mas, se viesse a ser tratado como o xerifão das próximas eleições também ficaria bem. Não apenas suas falas - mas também os seus atos, como este último em relação ao Telegram -se constituem numa evidência insofismável de que ele será rigoroso na exigência do cumprimento das regras estipuladas no que concerne às eleições de outubro próximo e, consequentemente, na salvaguada dos princípios da democracia representativa de onde deriam essas regras.

Será firme e intransigente na defesa desses princípios. Portanto, convém aos desavisados de turno - aqueles que querem vencer as eleições disparando mentiras pelas redes sociais - que tal atitude pode ser um tiro no pé. Em pronunciamento no STE ele afirmou que cassaria a chapa do candidato que desobedesse as regras. Nas eleições passadas, tivemos sérios problemas produzidos pelas chamadas fake news, que transformou a mentira numa arma política para desacreditar os adversários. Nas eleições americanas - vencidas por Trump - ainda hoje a sua adversária, a candidata Hillary Clinton, tenta se livrar de tantas mentiras inventadas contra ela nas eleições. 

Eleição é para debater programas de governo e negociá-lo com a população, não para emitir notas de desmentidos de inverdades disseminadas profissionalmente. Que vença o melhor programa, a melhor proposta, ampla e democraticamente debatida com a população, de preferência com os candidatos não se negando a comparecer aos debates promovidos pelos meios de comuniação. Ainda estamos longe das eleições de outubro, mas preocupa o percentual de eleitores que demonstram um certo desinteresse pelo assunto, assumindo que votarão em branco ou anularão o voto. 

Comentamos sobre isso em relação a São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, mas, aqui no Estado de Pernambuco a coisa não é tão diferente assim. Segundo pesquisa recente, 30% dos eleitores pretendem anular o voto, votar em branco ou abster-se nas próximas eleições. 20% ainda naõ se decidiram em quem vão votar, o que não seria um espanto numa eleição que se realizará ainda em outubro. O que, de fato, preocupa são esses eleitores que já desistiram das eleições.  

Pinga Fogo: A barriga do ano


No dia de ontem, um blog bastante conhecido aqui no Estado informou que o prefeito do Recife, João Campos(PSB-PE), tivera um encontro secreto com dirigentes do PT Nacional com o propósito de construir um consenso em torno da indicação do nome da Deputada Federal Marília Arraes para concorrer ao Senado Federal na chapa encabeçada por Danilo Cabral(PSB-PE), que concorre ao Governo do Estado pelo Frente Popular. Nenhum dos lados confirmou eventuais negociações neste sentido, mas a notícia se espalhou com a velocidade de um raio pelas redes sociais, com os partidários da deputada comemorando o fato de ela, finalmente, ter dobrado as resistências ao seu nome na Frente Popular e no próprio partido. Pelos desmentidos de ambos, tratou-se, na realidade, de uma grande barriga - noticia falsa - como diz o Blog do Magno Martins, talvez a barriga do ano.  

Pinga Fogo: Comunicado da Deputada Federal Marília Arraes

 


domingo, 20 de março de 2022

Pinga Fogo: O destino de Luiz Henrique Mandetta.


Durante o período em que esteve à frente do Ministério da Saúde, o médico Luiz Henrique Mandetta cumpriu brilhantemente o seu papel, dando uma enorme contribuição para o enfrentamento da pandemia da Covid-19 no país. Como político, naturalmente, tinha as suas ambições. Afastado do cargo, tentou construir uma candidatura à Presidência da República pelo antigo DEM, hoje União Brasil, depois da fusão com o PSL. Hábil, tentou construir um diálogo com os demais candidatos da terceira-via, quem sabe, tentando um consendo que os unissem em torno de uma única opção a Jair Bolsonaro(PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP). Sem sucesso nas costuras e praticamente rifado no União Brasil, ele tenta, hoje, prospectar as possibilidades políticas pelo seu Estado de origem, o Mato Grosso do Sul. 

Pinga Fogo: Marília candidata ao senado na chapa do PSB?



Até recentemente, a Deputada Federal Marília Arraes(PT-PE) manteve uma conversa definitiva com a Presidente Nacional do PT, Gleisi Hoffmann. Segundo comenta-se nos escaninhos da política, ela reafirmou sua insatisfação com o tratamento recebido pelo PT pernambucano e sua disposição de seguir outros rumos partidários, consoante seus projetos políticos. Agremiações políticas para recebê-la é o que não falta na quadra pernambucana, com propostas bem mais interessantes para a deputada. Com sua enorme capilaridade política, Marília tem mantido conversas com os mais distintos atores políticos do Estado, a exemplo de André de Paula, Raul Henry, Priscila Krause - que especula-se que a teria convidado para formar uma chapa "Luluzinha' juntamente com Raquel Lyra. Agora comenta-se que um arranjo político complexo poderia estar em andamento para mantê-la na Frente Popular, com a vaga do Senado Federal garantida. Será que combinaram com os donos do PT local? Eis aqui um xadrez intrincado. 

Editorial: A polêmica chegada de Alckmin ao PSB


Finalmente, a "novela' Alckmin parece ter chegado a um desfecho. Afirmar que foi um final feliz seria presunçoso de nossa parte, por alguns motivos. As pesquisas de intenção de voto indicavam que Geraldo Alckmin teria chances reais de ocupar o Palácio dos Bandeirantes a partir de janeiro de 2023, caso mantivesse o firme propósito de continuar como candidato ao Governo do Estado de São Paulo. Circulou até uma versão de que a estratégia de Lula, ao chamá-lo para compor a chapa presidencial que será encabeçada por ele, tenha sido, na realidade, uma manobra com o objetivo de tirá-lo do páreo e facilitar a vida do fiel escudeiro Fernando Haddad(PT-SP) em seu projeto de tornar-se governador do Estado.

Se sim, trata-se de uma jogada de mestre, uma vez que, além de não atrapalhar os planos do petista, Alckimin poderá ajudá-lo bastante na empreitada, que não será nada fácil pelo andar da carruagem política. O Planalto vem apostando bastante naquela praça, jogando todas as suas fichas no ex-Ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas, que, inaugurando obras e sempre acompanhado do presidente Jair Bolsonaro, vem contribuindo para desequilibrar o jogo, em meio a essa briga entre PT e PSB. Dória, por sua vez, continua no divã da Ciência Política, que tenta entender porque, mesmo relativamente bem avaliado, ele não consegue transferir votos para o seu canditado, o vice governador Rodrigo Garcia(PSDB-SP).  

Não há como os petistas raízes aceitarem Geraldo Alckmin(PSB-SP) de bom grado. Seria pedir um pouco demais. Alckmin será aceito pelos petistar menos radicais e mais consequentes, ou seja, aqueles que reconhecem como inevitavel às forças progressistas ter um pé no Beco da Fome e outra na Faria Lima - se deseja ter chances de chagar ao Planalto - dada as nossas características políticas. Hoje, Alckmin representa a nova "Carta aos Brasileiros', um compromisso assumido no passado pelo petista de não mexer nos interesses da Casa Grande. 

Alckmin chega ao PSB fazendo referência a uma expressão usada por uma de suas maiores lideranças, o ex-governador Eduardo Campos. Parece que não pegou bem porque a frase de Eduardo foi proferida num momento em que ele demonstrava claramente que estava se afastando do Partido dos Trabalhadores, como estratégia para chegar à Presidência da República. Naqueles tempos, o antipetismo tornara-se uma estratégia eficiente para se vencer uma eleição presidencial. Há quem afirme que, hoje, nao seria assim tão determinante.   

Charge! Jean Galvão via Folha de São Paulo

 


sábado, 19 de março de 2022

O xadrez político das eleições estaduais de 2022 em Pernambuco: O desequilíbrio do "fator Lula" é real em Pernambuco?

 


José Luiz Gomes escreve:


Este segundo artigo sobre as eleições estaduais de outubro, em Pernambuco, admitimos, acaba, de alguma forma, levantando uma discussão já apontada no primeiro artigo, ou seja, qual a real capacidade de transferência de voto do petista Luiz Inácio Lula da Silva para o candidato socialista, o Deputado Federal Danilo Cabral(PSB-PE). A rigor, ainda não temos este dado, embora a aposta dos socialistas seja imensa em torno deste assunto, se considerarmos o desgaste da gestão depois de ocuparem o Palácio do Campo das Princesas por 16 anos. Há uma fadiga de materia; a avaliação do Governo Paulo Câmara(PSB-PE) não é das melhores e há muita insatisfação nas bases interioranas do partido, evidenciada através de inúmeras defecções e debandadas já observadas. 

A posição do ex-presidente Lula nas pesquisas de intenção de voto aqui no Estado de Pernambuco é bastante confortável, de acordo com um levantamento realizado pela Empresa de Pesquisas Técnicas, Científicas e de Mercado LTDA(EMPETEC),divulgado pelo jornal Diário de Pernambuco, contratante da mesma. Ele atinge um índice de 62,6% das intenções de voto, abrindo uma diferença enorme em relação ao seu principal oponente, Jair Bolsonaro(PL), que crava 16,5%. Lula, portanto, aqui em Pernambuco, tem mais que o triplo do seu principal adversário na corrida pela Presidência da República. 

Os bolsonaristas, naturalmente, contestam esses números, mas não vamos aqui abrir uma avenida de polêmicas em torno deste assunto, porque, como disse antes, estamos vivendo um momento onde a bílis substituiu o argumento e já não existem a verdade e a mentira - como nos nossos bons tempos de infância - mas sim uma narrativa construída e eficientemente divulgada, como é o caso das fake news, neste momento de pós-verdade, assunto abordado pelo professor Michel Zaidan Filho em artigo recente, publicado nas redes sociais. Uma mentira, suficientemente bem trabalhada, torna-se uma verdade "absoluta". Com o uso das ferramentas hoje disponíveis, ela talvez nem precisa ser repetida mil vezes, como recomendava Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda Nazista de Hitler.   

Não se trata aqui de má vontade ou de uma torcida do contra, mas, diante dos fatos, o PSB terá enormes dificuldades em fazer o sucessor do governador Paulo Câmara(PSB-PE), correndo um sério risco de perder o controle de um dos seus redutos mais emblemáticos, com forte influência sobre o conjunto nacional da legenda. Corremos o risco de ficarmos nos repetindo aqui, ao apontarmos as causas pelas quais essas dificuldades se mostram evidentes. Ocorre, porém, que faz algum tempo que só há notícias ruins para os socialistas. Agora mesmo tomamos conhecimento de que o Estado lidera o ranking nacional de fechamento de empresas, quebradeira que contou com o reforço dos lockdowns determinados durante a pandemia da Covid-19. 

Aqui fazemos a ressalva de que fomos a favor dos lockdowns, certamente adotados como medida preventiva no que concerne ao avanço da pandemia. Prudentes as medidas adotadas pelo Governo do Estado, que, aliás, ressaltamos, como um dos melhores gestores da crise sanitária no país. Este que seria um dos vértices mais importantes de um projeto sucessório - conforme observou o cientista político Antonio Lavareda - aliado a avaliação do gestor e a condução da economia, pelo andar da carruagem política, não irá trazer dividendos eleitorais, se considerarmos, por exemplo, o que está ocorrendo no Estado de Saõ Paulo com o governador João Dória(PSDB-SP), que não consegue deslanchar embora a população reconheça seus méritos no enfrentamento da pandemia. 

Embora Paulo Câmara não seja o candidato, é o PSB que estará pedindo aos eleitores para permanecer mais 04 anos à frente do Palácio do Campo das Princesas. Um analista político outro dia escreveu que o PSB “sabia ganhar eleições”. Não duvidamos dessa espertise, mas os tempos são outros. Não sei se seria o caso de ressuscitar o defunto para carregar o andor, como sugere um dos primeiros pronunciamento públicos do candidato Danilo Cabral. A referência aqui, naturalmente, é em relação ao ex-governador Eduardo Campos. Sua orfandade foi importante para eleger Paulo Câmara, num momento em que o eleitorado passava por uma profunda comoção depois de sua trágica morte. Isso, hoje, já não se aplica mais. Uma outra questão seria a capacidade de Lula transferir votos para o candidato Danilo Cabral. Eis aqui um tema para ser analisado com muito cuidado. Na região Nordeste, de fato, Lula é um grende puxador de votos, mas seria complicado apostar todas as fichas nessa relação assim tão orgânica.

Você precisa ler também:

O xadrez político das eleições estaduais de 2022 em Pernambuco: Lula salva o PSB?


 

P.S.: Contexto Político: Esta questão da capacidade de transferência de voto de Lula para o candidato do PSB ainda não foi explorada por nenhuma pesquisa aqui no Estado. Fica a dica. Em São Paulo, a aliança de Lula com o Geraldo Alckmin - além de credenciar Lula na Faria Lima - cumpre uma outra função fundamental, ou seja, é certo que o ex-tucano poderá dar uma enorme contribuição ao projeto de fazer de Fernando Haddad(PT-SP) governador do Estado. Um outro fato curioso é que o candidato do Planalto naquele Estado, o ex-ministro da infraestrutura, Tarcísio de Freitas, avança como um trator em redutos do interior paulista, trazendo enormes preocupação aos demais postulantes. Um detalhe: As pesquisas já demonstraram que o presidente Jair Bolsonaro constitui-se num grande puxador de votos para o amigo e ex-ministro. Como seria aqui em Pernambuco? 

 

Que tipo de mudança?

 

Que tipo de mudança?
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(Foto: Ralph Baiker)

 

Maria Rivera Iribarren é deputada constituinte. Advogada ligada à Defensoria Popular, órgão que presta apoio jurídico a movimentos sociais, presa política durante a ditadura militar, Maria Rivera descreve as insurreições de 2019 pelas quais o Chile passou como “manifestações revolucionárias”. Ela não é a única a pensar assim. Marcela Leiva, militante que aparecera no primeiro texto dessa série, havia usado a mesma palavra de maneira enfática.

Não é preciso muito para sentir o peso que uma palavra como essa tem para nós. Da mesma forma, não é necessário muito para lembrar também de seu desgaste e de sua indeterminação. Pois estamos quase que naturalmente dispostos a aceitar que não veremos mais transformações estruturais em formas políticas e modos de produção, a não ser em delírios de certos acadêmicos ociosos.

Ou ainda, que veremos transformações, mas elas não se darão sob a forma de rupturas de estrutura. Ou ainda, que haverá rupturas de estruturas, mas que deveríamos repensar o que entendemos efetivamente por “estrutura” e quais seus pontos de mudança. É certo que todas essas questões fazem parte da compreensão do que está a ocorrer hoje no Chile.

“Eu falaria que as revoltas de 2019 foram o início de uma revolução porque todos diziam que haveria de mudar tudo. Houve uma irrupção violenta das massas que, por um instante, ninguém podia controlar. Como se falava nesse momento: nos tiraram tudo, até o medo”, diz Maria Rivera. Alejandra Bottinelli, professora de literatura da Universidade do Chile, militante com forte participação em grupos ligados ao governo que se inicia no dia 11 de março, tem uma figura concreta para esse descontrole: “Muitos diziam que as manifestações não sabiam para onde iam, que suas pautas eram confusas. Era interessante que, de fato, elas não tinham direção, mas eu falo de direção geográfica. Elas não obedeciam ao trajeto de todas as manifestações em Santiago. Eram mesmo movimentos de corpos sem condução”.

Por essas ironias da história, o resultado da ausência de condução foi conduzir-se exatamente para onde manifestação alguma havia ido. Mover-se sem condução é algo perigoso, pois você pode acabar alcançado o alvo. Como dizia Hegel, o medo do erro muitas vezes esconde o medo da verdade. No caso, a verdade é outro nome para os espaços empresariais e de representação do Capital: “Tudo mudou quando as manifestações se dirigiram para o Costanera Center [o maior shopping center de Santiago, situado no supostamente mais alto edifício da América Latina]. Foi como se uma fronteira tivesse sido ultrapassada. A partir daí, ficou claro para os setores burgueses que seria necessário negociar”, diz Paulo Slachevsky, editor da LOM ediciones, uma das mais importantes editoras de livros de humanidades do país.

Mas se há aqueles que reconhecem uma dimensão efetivamente insurrecional pela qual passou o Chile, é difícil encontrar voz dissonante quando a questão é sobre o que pode o governo que se inicia no dia 11: “o governo de Boric terá aberturas democráticas, mas essas aberturas não resolverão as demandas populares. Podemos escrever uma constituição que é um poema, mas isso não resolve”, diz Maria Rivera.

Se for possível dizer em uma expressão o que move a expectativa de muitos dos atores e das atoras políticas, talvez o melhor termo, aquele que mais apareceu, seja: “Estado solidário”. Luis Mesina, líder sindical que também aparecera no primeiro texto, é um dos que sintetiza o embate falando sobre a “passagem de um Estado subsidiário para um Estado solidário”.

“Estado subsidiário” é o termo que nasce a partir da constituição de 1980 para falar de um Estado radicalmente atrofiado em sua capacidade de assegurar serviços públicos e planejamento econômico. O que talvez explique porque um cartaz onipresente nas ruas de Santiago ainda hoje seja: “vocês transformaram nossas necessidades em seus melhores negócios”.

Manifestações em Santiago, Chile, no dia 8 de março (Fotos: Ralph Baike)

Mas o que tal Estado solidário pode ser, até onde ele pode ir, nada disso está efetivamente claro. Mesmo questões como a educação completamente gratuita não estão no Plano de governo de Boric. Joga-se para a expectativa de modificação desse ponto pela constituição.

Nesse contexto, há aqueles que creem que veremos uma dinâmica de avanços de questões nas quais os movimentos sociais são mais fortes, como as causas ambientas, as lutas feministas e povos originários, um redesenho institucional do país, mas poucas transformações econômicas. Poucas ao menos se comparadas ao nível de radicalidade das exigências do que os chilenos e chilenas chamam de “outubrismo”, ou seja, o horizonte dos movimentos que emergem em outubro de 2019.

“Certamente, vai haver decepção”, diz Marcela Leiva. Menos ainda se lembrarmos o que um governo “reformista” como Salvador Allende implementou: nacionalização da economia do cobre (base das exportações chilenas), estatização do sistema bancário, só para ficar nos dois casos mais exemplares.

Mas se voltamos os olhos aos movimentos mais estruturados, é fácil perceber uma dinâmica de lutas com força hegemônica. Exemplar nesse caso é o movimento feminista. Em 8 de março, 200 mil mulheres pararam o centro de Santiago para marcar o Dia Internacional da Mulher. Em vários momentos, esses movimentos foram os responsáveis por sustentar as dinâmicas de lutas que deram força à insurreição popular. Hoje, ele se mostra claramente como um movimento dotado de transversalidade generacional e rechaço explícito ao horizonte do pensamento conservador, ainda forte no Chile.

Isso não impede de perceber como um dos eixos do ciclo de lutas sociais que agora se desdobram passa pela composição de uma unidade real que não será efetivamente simples. Um exemplo dramático disso ocorreu na própria manifestação de 8 de março, que encontrou com uma outra manifestação que defendia a liberação dos presos políticos de 2019 e que acabou se degenerando em violência e garrafas de vidro voando.

Não são poucos aqueles que temem que “a unidade como valor fundamental” não esteja mais na ordem do dia, com o consequente adiamento infinito das lutas estruturais entre Capital e trabalho, como Daniel Jadue, prefeito de Recoleta e pré-candidato à presidência do Chile pelo Partido Comunista Chileno.

O fato é que as chamadas para as manifestações de 8 de março clamavam para atos: “feministas, antirracistas, anticapitalistas, antifascistas, antiextrativistas”, entre outros. Ou seja, há a consciência do problema. Mas é certo também que alguns temas são mais facilmente integráveis do que outros. E nesse ponto gira toda a tensão dos processos políticos atuais no mundo. Tensão que o Chile parece viver em uma intensidade e urgência ainda maior.

 

Via chilena: a América Latina criando novos caminhos. Durante a semana da posse de Gabriel Boric à presidência do Chile, a Cult fornecerá artigos diários escritos a partir do relatos de ativistas, membros do governo e intelectuais chilenas e chilenos. Um momento importante da história do nosso continente descrito a partir de quem está lá.

Vladimir Safatle é Professor Titular da USP e atualmente fellowship do The New Institute/ Hamburgo.

(Publicado originalmente no site da Revista Cult)

Charge! Duke via O Tempo

 


Editorial: Vamos votar, gente!

 


José Luiz Gomes escreve:


Faz algum tempo que a jovem democracia brasileira tenta sobreviver aos solavancos golpistas. Não temos uma experiência de democracia aprimorada, tampouco consolidada. Impossível construir um modelo de democracia consolidada em meio a tantas desigualdades sociais. Neste contexto, até a democracia política fica irremediavelmente comprometida, embora seja ela a via mais prudente para se enfrentar tais desigualdades sociais e econômicas da população. Essa questão é tão séria que o cientista político polonês, Adam Przeworski, realizou uma exaustiva pesquisa, envolvendo diversos países, para chegar à conclusão de que, dependendo da renda per capita de cada um deles, a partir de um certo escore, a possibilidade de um retrocesso político chega a quase zero. Ou seja, quando a economia funciona - com distribuição de renda - as pessoas tendem a apostar no regime democrático. 

Em essência a estreiteza de nossa elite política e econômica nunca permitiu a construção de um modelo de democracia bem estruturado no país. Para o Brasil, vale a máxima do historiador Sérgio Buarque de Holanda - baseado nos vícios oriundos do modelo de colonização portuguesa - de que a democracia entre nós nunca passou de um grande mal-entendido. Nossa elite ficou muito mal-acostumada com o longo processo de exploração dos negros, em regime de trabalho escravo. O Brasil real e o Brasil oficial continuam cindidos e devem continuar assim pelos próximos anos.  

Mesmo assim, a duras penas, conseguimos construir um espécie de arremedo ou simulacro de democracia, bastante frágil, sujeito a constantes suspiros autoritários, mais identificada institucionalmente no seu aspecto político. Há sempre atores políticos de plantão dispostos a apostarem na via do retrocesso, com ressonância, inclusive junto a alguns segmentos da população, que parecem não dimensionar os horrores produzidos pelos regimes autoritários. Eleições regulares é um dos indicadores de um regime democrático. Eleições limpas, transparentes, dentro de regras bem definidas e respeitadas pelos atores políticos que participam do processo. 

Quando, por alguma razão, os cidadãos e cidadãs eleitores não demonstram algum interesse ou compromisso com o processo democrático, podemos concluir que alguma coisa não vai muito bem. Isso se reflete, naturalmente, naquele contingente que opta pelo voto em branco, anular o voto ou mesmo abster-se de votar. Thomas Traumman, articulista da revista Veja, chama nossa atenção para o problema, a partir de dados levantados por esta última pesquisa da Quaest-Genial, que constatou um razoável número de eleitores que pretendem anular o voto ou mesmo abster-se de votar, no Estado de São Paulo, nas próximas eleições de outubro. 

Eis aqui um dos maiores inimigos da democracia representativa, pois implica dizer que esses eleitores não estão apostando no processo democrático. E, sobretudo no Brasil, por razões bem conhecidas, todos sabemos que o regime democrático precisa ser fortalecido, através de demonstrações da população que indiquem seus acertos e repudiem aventuras obscurantistas. O Estado de São Paulo é o maior colégio eleitoral do país, onde se trava a maior batalha pela confiança dos eleitores em determinadas propostas e, naturalmente, os candidatos que as representam. Vamos às urnas, gente!