pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Editorial: Assédio moral no Serviço Público Federal.



Até recentemente, antes mesmo do anúncio de uma nova minirreforma ministerial no Governo Lula3, circulou a notícia de que a Ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, poderia deixar o cargo e vir a ser substituída pela senadora pernambucana, Teresa Leitão. A princípio, os arranjos indicavam que a manobra estava sendo urdida no sentido de  favorecer Sílvio Costa, pai o Ministro dos Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho. Sílvio Costa é suplente de Teresa Leitão e bastante prestigiado pela cúpula petista. Não se sabe se era bem o que pretendia a senadora, mas estamos tratando aqui de uma mulher de partido, vocacionado a assumir missões.  

Ontem, dia 22, no entanto, surgiram maiores informações, amplamente divulgadas pela imprensa, sobre os reais motivos de um eventual afastamento da ministra, em cujo ministério que dirige pululam denúncias de assédio moral. Depois dos episódios registrados e sob investigações no Ministério da Justiça, foi comunicado que a Ministra da Gestão e Inovação, Esther Dweck, estaria envolvida na elaboração de diretrizes sobre como se conduzir consoante tal abordagem desses problemas na máquina pública federal.  É urgente que medidas sejam adotadas, fortalecidas as instâncias que estejam diretamente relacionadas a este problema, como as comissões de ética públicas, corregedorias internas, ouvidorias e congêneres. 

Nos últimos anos, as práticas de assédio moral dentro das repartições públicas brasileiras se tornaram banalizadas. Sob a égide do bolsonarismo, em princípio, esses fatos se tornaram mais recorrentes em instituições que exerciam atividades ou políticas públicas que não se coadunavam com as diretrizes, vinculadas ao ideário da ultradireita, encampado pelo bolsonarismo: Direitos de minorias, meio ambiente, polícias federais, órgãos de segurança do Aparelho de Estado, entre outras. O mais surpreendente, como as evidências estão demonstrando, é que, por algum motivo, o governo Lula3 não conseguiu estancar essa sangria moral. 

Um fato emblemático é que denúncias existem sobre assédios morais e sexuais dentro de um órgão como o Ministério dos Direitos Humanos. A senhora Dweck terá muito trabalho pela frente. A engrenagem que alimenta essas práticas dentro das instituições públicas é algo complexo, mas não menos, pernicioso, exigindo sua extirpação radical. Nos últimos anos, consoante este momento político delicado que o país atravessa, essas práticas abjetas assumiram alguns contornos surpreendentes e preocupantes, alicerçadas naquilo que tratamos como a terceirização do assédio, quando hordas de terceirizados são manipulados para disseminarem narrativas sobre determinados indivíduos, mediante  manipulação de servidores efetivos.  

As condenações e execrações públicas - uma vez que presunção de inocência, amplo direito de defesa e julgamentos atendendo ao devido processo legal foram ignorados já faz algum tempo - ocorrem nas copas, nas cantinas, nos corredores, nos ambientes de convivência, sob a complacência das chefias e servidores graduados que tinham, até por um dever de humanitário, antes de um dever de ofício,  impedir tais achincalhes. A isso, em nossa época de infância, dava-se o nome de "maloqueiragem", no seu sentido mais genuíno. Nestas últimas denúncias de supostos assédios, existem até casos de assédios raciais, uma vez que a iniciativa de expor o problema partiu de uma Ong que defende vítimas desses abusos. 

terça-feira, 22 de outubro de 2024

Editorial: As "quedas" de Lula.


Ainda há inúmeras especulações acerca de um acidente ocorrido recentemente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, onde ocorreu uma queda, quando ele tomava banho, acarretando um corte na cabeça e posterior sangramento. O presidente precisou cancelar uma viagem ao exterior, por recomendação dos médicos que o atenderam. Ao que se sabe, tudo transcorre com naturalidade, os procedimentos atinentes foram adotados e o morubixaba passa bem. Surgiram, desde então, inúmeras especulações em torno do assunto, como um possível banco utilizado pelo presidente para tomar banho, quando ele esbanja saúde, aparece em público sem qualquer dificuldade de locomoção, inclusive fazendo musculação para fortalecer os músculos das pernas, que são determinantes para a saúde física e mental. A princípio, esta queda já foi superada. 

Há, no entanto, outras torcidas por quedas com as quais o presidente precisa se preocupar. Parlamentar da oposição entrou com mais um pedido de impeachment do presidente, movido por um raciocínio muito parecido com o que ocorreu com a ex-presidente Dilma Rousseff, ou seja, as famosas pedaladas. O parlamentar acusa o presidente de ter realizado despesas fora do orçamento previamente apreciado pelo Legislativo, ao conceder dispêndio de recursos para o Programa Pé de Meia, aquela que beneficia alunos e alunas do ensino médio, com o propósito de mantê-los na rede e evitar o abandono. 

Já perdemos a conta por aqui sobre quantos pedidos de impeachment de Lula já foram protocolados pela oposição, principalmente a oposição bolsonarista, aquela quer torce pelo quanto pior melhor. As forças do campo progressistas enfrentam um momento muito difícil. A direita e a extrema-direita saem fortalecidas desta última eleição municipal, avançam no controle do parlamento, são hegemônicos nas redes sociais e possuem um batalhão de evangélicos para disseminarem suas teses junto à periferia empobrecida. Mantidas tais condições, é apenas uma questão de tempo para eles retomarem a bastilha do Palácio do Planalto. 

Editorial: Os "gargalos" do PT.



Participamos de alguns encontros formais do PT, na condição de pesquisador. Dava gosto observar a dinâmica do exercício da democracia interna da legenda, traduzida no equilíbrio de forças representado pelas suas inúmeras correntes. Um viço que o partido foi perdendo ao longo do tempo, imposto pelo processo de oligarquização, inevitável, segundo a teoria do sociólogo alemão Robert Michels. O partido se prepara para mais um desses encontros nacionais, onde deverá ser definido o nome que comandará a legenda pelos próximos anos. A atual Presidente Nacional do Partido, Gleisi Hoffmann, sugere-se, poderá vir a ocupar uma vaga de ministra na Esplanada dos Ministérios. 

Alguns nomes já estão postos, mas, hoje, aquele com maiores probabilidades de ocupar a vaga deixada por Gleisi Hoffmann é o de Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara, cidade da regão central de São Paulo, que esteve sob o comando da legenda durante um bom tempo, em razão de apoio da ala hegemônica, comandada pelos principais caciques do partido. É assim depois de algum tempo. Possivelmente as alas mais orgânicas do PT, que ainda resistem, não teriam sequer um nome para representá-las. Ontem, ausente aqui do blog em razão de uma crise braba de sinusite, andamos refletindo sobre os principais gargalos enfrentados pelo PT em razão da conjuntura política mundial e, em particular, a brasileira. 

A partir de hoje vamos discuti-los por aqui. Um deles, sem alguma ordem de importância,  é este processo crescente de oligarquização\burocratização, onde as principais lideranças da legenda acabam impondo suas decisões, naquilo que no passada chamávamos de centralização democrática. Nesta última eleição municipal, por exemplo, um grupo de trabalho eleitoral criado pelo partido acabou infligindo intervenções em processos locais determinados pela dinâmica de seus diretórios, como a escolha do candidato através de prévias, como se previa em João Pessoa. Deu no que deu. Antes de qualquer coisa, o partido precisa realizar um amplo processo de autocrítica, dessas que sejam suficientes para conter a autofagia. 

Charge! Benett via Folha de São Paulo

 


sábado, 19 de outubro de 2024

Editorial: Por que o próximo presidente do PT precisa ser um nordestino?




Acompanho, sem entender muito bem, a polêmica sobre a sucessão no Partido dos Trabalhadores, mais precisamente no que concerne à tese, defendida por um dos grupos, de que o novo presidente da legenda deve ser um nordestino. Seria algum simbolismo, por entender que o Nordeste continua, apesar das últimas refregas, o reduto eleitoral principal do partido? Este simbolismo ajudaria no processo de soerguer a legenda, combalida estruturalmente e organicamente nos últimos anos, perdendo capilaridade, inclusive, junto aos pobres da periferia por todo o país e não apenas na região? O que, afinal, existiria de alguma dificuldade da legenda que um presidente da região pudesse contornar? Impedir a erosão de sua base de sustentação política mais sólida? 

O partido, na realidade, independentemente da geografia do postulante, precisa fazer uma autocrítica urgente e encontrar um timoneiro que devolva à legenda o protagonismo de tempos atrás, num contexto completamente diverso, o que envolve o crescimento expressivo dos grupos de extrema direita, alicerçados por expedientes onde o partido ainda patina, como as redes sociais. Divorciados da legenda, os grupos evangélicos realizam. com brilhantismo, o ofício de consolidar uma narrativa convergente com esses grupos e interesses da ultradireita. Eles jogaram a isca do "debate" sobre identitarismo e o PT mordeu-a. 

Com que argumentos, por exemplo, o Ministro da Educação, Camilo Santana, vai explicar o que ocorreu recentemente na Universidade Federal do Maranhão, onde uma cantora travesti mostrou as carnes durante um debate público. Tente convencer um evangélico raiz que se tratou de respeito à liberdade de expressão e que a dita cujo não será condenado às labaredas do inferno. Assim como quem defende tal atitude. A oposição bolsonarista está deitando e rolando sobre este assunto. Já existe uma moção de repúdio e a convocação do ministro está confirmada pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, presidida pelo deputado federal Nikolas Ferreira. 

Editorial: Em breve, numa eleição presidencial perto de você.



A revista Veja desta semana traz uma matéria sobre um fenômeno político de direita que atende pelo nome de Nikolas Ferreira, um jovem de 28 anos, que objetiva transformar Belo Horizonte num reduto direitista inexpugnável. Mas, a rigor, suas ambições políticas se estendem para muito além da fronteira das Alterosas, onde começou a alicerçar sua carreira. Nessa última eleição municipal, Nikolas Ferreira se transformou no maior cabo eleitoral do PL, partido que disponibilizou um jatinho para o parlamentar se deslocar por todo o país, apoiando nomes da legenda para as prefeituras municipais. 

As demandas por seu apoio foram enormes e, a rigor, consumiu todas as suas energias, seja nos deslocamentos pelo país afora, seja na gravação de centenas de vídeos em apoio a nomes ligados à legenda. Em Belo Horizonte, seu ex-chefe de gabinete, Pablo Almeida, foi eleito o vereador mais votado do país, com 40.000 mil votos. Nikolas entrou de sola na campanha de Bruno Engler, que disputa a prefeita de Belo Horizonte pelo PL. Pelas últimas pesquisas, Engler aparece atrás de Fuad Noman(PSD), mas o páreo não está definido. Todas as tribos do campo progressista se uniram em torno de Fuad. Trava-se uma batalha campal na capital dos mineiros.  

Seu eixo de atuação está focado nas redes sociais, nas lacrações públicas, onde é praticamente imbatível. Nikolas já atua dessa forma há algum tempo, logo depois que se tornou o deputado mais votado do país, com um milhão e meio de votos. Enfrentado um momento difícil, onde a fragilidade em alguns pontos são visíveis - as redes sociais é um deles - as forças do campo progressista tentam se arregimentar para as novas batalhas que terá pela frente. Um dos nomes que surgem no horizonte como expoente desse projeto é o do prefeito reeleito de Recife, João Campos, sufragado ainda no primeiro turno com 78% dos votos do eleitor recifense. 

João é jovem, perfil de bom gesto, tocador de obras, tem penetração nas redes sociais e grandes ambições políticas. Acreditamos, no entanto, que não seja o momento ideal, conforme já enfatizamos, mas os caciques socialistas resolveram nacionalizar o seu nome, incumbindo-o de participar em apoio a várias candidaturas de esquerda, principalmente no Nordeste, como a de Evandro Leitão, em Fortaleza, e Natália Bonavides, em Natal. Ninguém tem dúvida de que João pretende seguir à risca, o mesmo projeto do seu pai, o ex-governador Eduardo Campos. Mas, como lição deixada pelo próprio pai, uma coisa de cada vez. 

Charge! Marília Marz via Folha de São Paulo.

 


sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Editorial: Nunes será reeleito com apagão e tudo.

 


O sofrimento infligido ao eleitorado paulista durante o último apagão - estima-se que milhares de pessoas ainda estejam sem energia elétrica - é de uma dimensão calculável: não será suficiente para reverter o voto do eleitor que já havia decidido votar pela reeleição do prefeito Ricardo Nunes. Na última pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada no dia de ontem, 17, Nunes até acusa o tranco, mas nada o suficiente para abalar seu favoritismo neste segundo turno. Nesta pesquisa, Nunes aparece com 51% das intenções de voto, enquanto o psolista Guilherme Boulos pontua com 33%. Nunes abre, portanto, uma diferença de 18% pontos. 

O prefeito vai gerenciando como pode esse índices favoráveis. Deixou de comparecer ao debate organizado pela Rede TV, onde optou-se por uma entrevista com o candidato Guilherme Boulos. Pelo que se informa, Lula pretende reforçar a campanha do amigo nesta reta final, onde estão previstos dois encontros até o dia 27 \10. As projeções já indicavam que Nunes venceria qualquer que fosse o adversário do segundo turno. Arrisco a dizer que o empresário Pablo Marçal, por beber na mesma fonte, daria mais trabalho. Este negócio de "fonte" é até um pouco complicado, uma vez que o maior gargalo de Boulos é exatamente junto ao eleitorado periférico de baixa renda.

Pelo andar da carruagem política, Nunes será reconduzido ao Edifício Matarazzo, constituindo-se em mais um trunfo das hostes conservadoras, com o objetivo de credenciar-se para o embate de 2026. Nos escaninhos da política comenta-se que um dos objetivos dessa minirreforma ministerial que está sendo programada pelo Palácio do Planalto visa, entre outros aspectos, adaptar-se à nova correlação de forças que surge dessas eleições municipais, onde a oposição, mais uma vez, como já era previsto, sai mais uma vez fortalecida.   

Editorial: Operação Livre Arbítrio da Polícia Federal em João Pessoa.



São recorrentes as operações de órgãos como Ministério Público, Polícia Federal e GAECO - Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado - no estado da Paraíba. Não temos estatísticas sobre o assunto, mas não nos surpreenderia se o estado ocupasse uma posição privilegiada no contexto da atuação PF em âmbito nacional. Somente no tocante ao expediente de aliciamento ou coação violenta pelo voto, três dessas operações foram realizadas naquele estado, culminando com a prisão de funcionários graduados, com atuação na  máquina pública municipal e, agora, no Poder Legislativo da capital João Pessoa. No dia de hoje, 18, a Polícia Federal desencadeou a Operação Livre Arbítrio, cumprindo 07 mandados de buscas e apreensões, que culminou com o afastamento do cargo do presidente da Câmara de Vereadores de João Pessoa, Dinho Dowsley, do PSD, que deverá usar tornozeleira eletrônica. 

O problema da coação do voto não ocorre apenas na capital. Em diversas cidades do interior o problema foi verificado nessas eleições, o que dimensiona a gravidade do que estamos tratando por aqui, algo também observado pela Organização dos Estados Americanos, que esteve acompanhando as eleições no país. Haveria, segundo apura a PF, um conluio promíscuo entre agentes públicos com o facções do crime organizado que atuam no estado, onde os territórios são fechados nos acordos e os eleitores coagidos, por vezes violentamente, a votarem nesses candidatos ou seus prepostos, corroendo os princípios democráticos e republicanos. 

Há candidato que disputa a gestão da cidade cujos parentes estão envolvidos numa dessas operações.  O mais surpreendente é que um escândalo dessas dimensões, às vésperas de uma eleição, não é suficiente para abalar seus escores nas intenções de voto. Parece haver uma banalização dessas práticas, algo que não indigna o eleitorado. Infelizmente. 

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Editorial: OEA aponta possíveis ações do crime organizado nas eleições municipais.



Até recentemente, um funcionário do alto escalão do Governo da Venezuela apontou que Lula fora cooptado durante o período em que esteve preso em Curitiba, tornando-se um agente da CIA. Lula não seria mais o mesmo de antes. A declaração vem no bojo das indisposições recentes entre os dois governos, depois daquelas tumultuadas eleições presidenciais que conduziram Nicolás Maduro para mais um mandato. O governo brasileiro ainda não respondeu às declarações, posteriormente atenuadas pelo próprio Nicolás Maduro, afirmando que o servidor não falava pelo governo do país. 

A mesma afirmação foi feita em relação ao presidente do Chile, Gabriel Boric, alimentando as teorias conspiratórias pelo continente. Se, em outros tempos, era preciso tomar cuidados com as declarações públicas, hoje, então, tais cuidados precisam ser redobrados. Um dos graves problemas enfrentados pela democracia brasileira neste momento é a infiltração do crime organizado na administração pública, tendo como porta de entrada as licitações, a terceirização dos serviços ou as chamadas parcerias público\privada.  

Nas últimas eleições, alguns fatos vieram à público, dimensionando a gravidade do problema. Pelas investigações conduzidas pela Polícia Federal, servidores graduados, em cargos de chefia, estariam mancomunados com chefes de facções criminosas, em padrões de relações de caráter nada republicanas. A Organização dos Estados Americanos, OEA,  uma das entidades que acompanharam o desenrolar das últimas eleições municipais, encontrou indícios de ações do crime organizado nas eleições. O governo brasileiro ainda não se posicionou sobre o assunto. 

Editorial: Marina Silva "massacrada" em audiência na Câmara dos Deputados.

Crédito da Foto: Mário Agra, Câmara dos Deputados. 


Não poderia haver um momento mais complicado para esta audiência concedida pela Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante sessão ocorrida no dia de ontem na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Agrário. A ministra do Governo Lula 3 foi literalmente massacrada pelos bolsonaristas e opositores presentes à sessão. Louvável que a ministra tenha atendido ao convite, de forma republicana, mesmo diante do clima hostil que enfrentou. São os ossos do ofício. Cumpriu suas obrigações com a sociedade, na condição de servidora pública. 

O governo Lula 3 passa por um momento delicado, sobretudo em algumas áreas nevrálgicas, como a economia, o meio ambiente, a saúde e a segurança pública. Nas relações exteriores, não menos. Difícil apontar aqui uma área onde o governo vai bem. Nem a base histórica de apoio ao petismo está satisfeito. Na semana passada estourou uma crise no Ministério da Igualdade Racial, depois das críticas de entidade representativa ligada às religiões de matriz africana. Marina foi convidada a apontar as medidas adotadas pelo governo em meio ao incêndio das florestas. O mesmo problema enfrentaria Nísia Trindade, Ministra da Saúde, tendo que se explicar sobre a proliferação da epidemia da dengue, com o número de mortes se ampliando pelo país afora. Há certas coisas para as quais não há explicações. 

O governo, finalmente, chegou à conclusão de que é urgente a necessidade de equilibrar as contas públicas. Numa ponta, estão previstas uma série de medidas para conter os gastos, atingindo, inclusive, os supersalários da máquina. Na outra ponta, o anúncio de que a compra de novas aeronaves oficiais, um investimentos de trilhões, é irreversível. Principalmente depois da última pane numa viagem presidencial. 

Charge! João Montanaro via Folha de São Paulo

 


quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Editorial: A "nacionalização" de João Campos.



João Campos, prefeito do Recife, reeleito ainda no primeiro turno com 78% dos votos válidos, numa das melhores performances eleitorais do país, está literalmente em todas. Esteve em Olinda, dando apoio ao candidato do PT, Vinícius Castello, amanhã estará em Paulista, na Região Metropolitana do Recife, em passeata com o candidato dos socialistas locais, Júnior Matuto. Sua integração, nesta reta final de campanha, em prol de candidatos da chamada frente de esquerda não surpreende, sobretudo quando se tem como horizonte o seu futuro político no estado, o que inclui, entre as possibilidades, uma eventual candidatura ao Governo do Estado nas eleições de 2026. 

O que surpreende mesmo é a sua participação na campanha de Evandro Leitão,  em Fortaleza, que trava uma batalha das mais renhidas com o bolsonarista André Fernandes, do PL. Segundo conseguimos apurar, os caciques socialistas estão, desde já, trabalhando com o projeto de nacionalização do nome do prefeito. Consideramos um projeto prematuro, mas sabe-se lá o que se passa na cabeça dos dirigentes socialistas, sobretudo num momento de debacle e ausência de quadros competitivos no escopo do campo progressista. Os tempos mudaram desde que o seu pai, o ex-governador Eduardo Campos, cumpriu quase dois mandatos antes de se projetar nacionalmente. 

A direita e a extrema direita estão operando em céu de brigadeiro. Se o deputado federal Nikolas Ferreira foi um fenômeno de votos, partido das Alterosas, nesta última eleição municipal surgiu um Nikolas paulista, um jovem de apenas 26 anos, Lucas Pavanato, o vereador mais votado do país, ancorado numa agenda conservadora, alicerçada através das redes sociais, usando e abusando a imagem do ex-presidente Jair Bolsonaro. Se eles vencerem as eleições em Fortaleza e Belo Horizonte, a tropa de choque do conservadorismo de direita está consolidada. João, não se sabe se a partir de orientação do seu staff de marketing político, já cunhou um mote: Com ele, bolsonaristas não se criam! 

Editorial: Na cozinha do Planalto, uma nova minirreforma ministerial.

Crédito da Foto: Sérgio Lima. 


Difícil afirmar quem se encontra na marca do pênalti nesta nova minirreforma ministerial que está sendo costurada na cozinha do Palácio do Planalto. As especulações andam solta. Fala-se numa eventual saída do Ministro da Defesa, o pernambucano José Múcio Monteiro, como sempre afirmamos, numa situação de equilíbrio instável desde o início de sua gestão, uma vez que faz a ponte com o Governo Lula3 e os militares, mas precisa gerenciar as insatisfações na caserna. Recentemente, fez um desabafo sobre os entraves ideológicos para a aquisição de tanques israelenses, quando as tramitações burocráticas já estavam plenamente atendidas e trata-se de um pleito inegociável com a tropa. 

Sugere-se que o Palácio do Planalto não está nada satisfeito com a área de comunicação institucional, o que pode indicar mudanças nesta área nevrálgica, principalmente depois da ressaca das últimas eleições presidenciais. Haveria investimentos pesados no setor, mas a conta poderá ser administrada por outros atores. Quem também poderia deixar a direção nacional do PT para ocupar um espaço na Esplanada dos Ministérios - ainda não definido - seria a deputada federal Gleisi Hoffmann. Aqui mata-se dois coelhos - ou coelha? - de uma só cajadada. O morubixaba petista pretende antecipar as mudanças na direção da legenda. 

Fala-se também em mudanças na Casa Civil, mas por aqui o santo é forte. Tem a proteção dos orixás baianos. O PT adota uma linha omeprazol para tratar de um problema que exige um diagnóstico mais preciso. O uso generalizado deste medicamente para tratar de problemas estomacais, na realidade, pode ocultar problemas mais sérios, além de não eliminar a bactéria H. pylori, que pode agravar essas complicações. A área de comunicação institucional pode até ter seus gargalos, mas o drama do partido exige mudanças de rumo mais efetivas, que não se encerram com a troca de roupagem. 

Editorial: Disputa acirrada em Fortaleza.



Seguramente, em nenhuma outra disputa de capitais neste segundo turno o páreo está tão equilibrado quanto em Fortaleza, onde os candidatos André Fernandes, do PL, e Evandro Leitão, do PT, estão rigorosamente em empate técnico, conforme pesquisa divulgada no dia de ontem pelo Instituto Real Time Big Data. Os dirigentes do PT já estão naquela fase de arrumar os cacos, tentar limpar a casa e oxigenar as medidas daqui para frente. Fala-se em ajustes na economia para conter a sangria do déficit público; minirreforma ministerial; mudanças na comunicação institucional e, possivelmente, um daqueles grandes encontros para se discutir o que houve ou onde erramos. Um dirigente da legenda fala em excesso de otimismo. Não foi nada disso.  A tolha já foi jogada. 

O último bastião é o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, onde uma virada improvável poderia salvar a honra da legenda nessas eleições municipais. Não à toa, a legenda está carreando expressivo aporte de recursos para o candidato. Não seria por este motivo que o psolista deixaria de ser exitoso. Diante do apagão, declarações de autoridades federais estão produzindo frisson na relação entre o PSD, o Governo Federal e o staff político do candidato Ricardo Nunes, que não acredita que o temporal seja suficiente para abalar sua diferença de 22 pontos sobre o psolista, de acordo com o Datafolha

Conforme já se presumia, a direita conseguiu integrar-se ao nome de André Fernandes, enquanto o PDT mantém-se equidistante da disputa. Uma figura ilustre do partido chegou a pregar - imaginem! - o voto útil no candidato do PL. O morubixaba petista tem se mantido discreto neste segundo turno, assim como foi no primeiro. Sugere-se meditando sob a maçaranduba do tempo. Não está sendo fácil. Há uma fadiga de material generalizada, que vai desde a linha programática da legenda até às ações de governo, divorciada da maioria do eleitorado. É um momento onde setores conservadores de direita e extrema direita está dando das cartas políticas. O vereador mais bem votado no país tem 26 anos, atua fortemente nas redes sociais e foi eleito afirmando que homem é homem e mulher é mulher. O PT mordeu a isca do identitarismo e perdeu a narrativa.  

Charge! Thiago via Jornal do Commércio

 


terça-feira, 15 de outubro de 2024

Editorial: João Pessoa: A raposa derrotou o bolsonarista.



Há poucos dias do término do primeiro turno das eleições para a Prefeitura de João Pessoa, a Polícia Federal desencadeou a operação Território Livre, que investiga eventuais conluios entre gestores públicos e integrantes do crime organizado, que, se comprovadas, depõem até mesmo contra o estatuto das relações republicanas e democráticas entre o aparelho de Estado e a sociedade civil. Integrantes de facções , segundo essas investigações, poderiam estar participando da gestão do município, ao ponto de indicarem servidores para o quadro, possivelmente através da terceirização, uma espécie de portal de entrada do crime organizado na administração pública em todas as esferas, seja através de licitações fraudulentas, seja através do expediente de integrar a gestão, indicando nomes para ocuparem cargos e solicitando transferências de servidores, conforme é o que se apura no caso de João Pessoa. 

Assegurados esse acordos espúrios, os territórios sob o controle dessas facções passam, naturalmente, a se constituírem em redutos eleitorais exclusivos dos padrinhos políticos, tolhendo os espaços democráticos, uma vez que apenas determinados atores possuem a prerrogativa de passaram suas mensagens aos eleitores. Conforme havíamos previsto por aqui, tais fatos, muito provavelmente, produziram seus reflexos no resultado do primeiro turno daquelas eleições. As pesquisas indicavam que o atual gestor, Cícero Lucena, do Progressistas, poderia ter liquidado a fatura ainda no primeiro turno, o que não ocorreu. Outra surpresa foi a ascensão do bolsonarista Marcelo Queiroga, do PL, superando Rui Carneiro, do Podemos, na reta final daquela primeiro turno. 

Feita as contas, o fato pode ter sido suficiente para provocar uma inflexão no eleitorado de Cícero Lucena. Isso bem trabalhado poderia produzir estragos ainda maiores no seu projeto de continuar à frente da edilidade municipal. No debate de ontem, dia 14, o episódio foi solenemente explorado pelo bolsonarista Marcelo Queiroga, que, no entanto, cometeu o grave equívoco de não fazer o dever de casa. Orientado por seus assessores, Cícero Lucena passou a explorar o seu desconhecimento de problemas e características específicas da cidade, como o curso de rios, número de secretarias, suas propostas para a infraestrutura da cidade. Um tranco que pode ter determinado o rumo daquelas eleições. Em breve o ex-presidente Jair Bolsonaro está vindo à cidade para ajudar na campanha do seu ex-Ministro da Saúde.  Experiente, neste primeiro debate do segundo turno, a raposa derrotou o bolsonarista. 

Charge! Benett via Folha de São Paulo

 


segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Editorial: Boulos consegue apagar Nunes no debate de logo mais?



Hoje, dia 14, a partir das 22h, a Rede Bandeirantes estará levando ao ar o seu primeiro debate do segundo turno em São Paulo. Na realidade, o debate não ficará circunscrito à disputa em São Paulo, uma vez que suas afiliadas em todo o Brasil, estão organizando debates entre os concorrentes à prefeitura das capitais. Todas as pesquisas de intenções de voto realizadas até este momento mostram uma diferença substantiva entre o prefeito Ricardo Nunes, que disputa à reeleição, em relação ao candidato do PSOL, Guilherme Boulos, apoiado pelo Palácio do Planalto. Na pesquisa divulgada no dia de hoje, realizada pelo Instituto Real Time Big Data, Nunes aparece com 53% das intenções de voto, enquanto o psolista crava 39%. 

Os partidos do campo progressista morderam a isca da pauta de costumes ou do identitarismo e, hoje, um dos seus maiores gargalos diz respeito ao eleitor pobre de direita, morador das periferias, adepto da religião evangélica. Político conservador, com o apoio da direita e até da extrema-direita, Nunes consegue superar Boulos onde, em tese, seriam seus redutos tradicionais no passado. Racionalidade não combina com fé e, essas igrejas cumprem hoje a tarefa de consolidarem uma narrativa construída pela extrema direita nas periferias. Alguns desses troncos neopentecostais estão associados até ao crime organizado, numa simbiose perversa entre extrema-direita, religião e organizações criminosas. 

Nos últimos dias, depois de fortes chuvas, algumas artérias da capital paulista enfrentam o problema dos apagões produzidos pelos acidentes com árvores, o que deve ser explorado no debate de logo mais. Boulos teria argumentos para apagar Nunes no debate de logo mais? Nesta reta final de campanha, com a população sentindo na pele o drama do apagão, o tema promete ser bastante explorado. A pesquisa do instituto está registrada no TSE-SP: 00357\2024. 

Editorial: PT: Como morre um partido político?



Há alguns anos atrás, ingressamos no Programa de Mestrado e Doutorado da UFPE, com o propósito de estudar o Partido dos Trabalhadores. Compilamos um bom material bibliográfico sobre a legenda, que mantemos até hoje. São livros, teses, resoluções dos encontros, entrevistas gravadas etc. Uma delas com o morubixaba petista, quando ele se encontrava de férias na aprazível praia de Pajuçara, em Maceió. Naquela época, o partido despertava interesse nacional e internacional. Pesquisadores vinham do exterior estudar aquele fenômeno político, sobretudo em função de suas características particulares, o que o distinguia no contexto do sistema partidário nacional. 

Na primeira eleição que o partido disputou, em 1982, ainda sob o processo de redemocratização, o candidato do PT que concorria ao Governo de Pernambuco era o líder sindical maranhense, Manuel da Conceição. Uma época em que os programas de governo se confundiam com a biografia e o currículo dos candidatos, assim como ocorria com Lula,  numa relação essencialmente orgânica, que ainda pedia que o trabalhador votasse em trabalhador, em alguém igualzinho a ele. Lula aparecia barbudo, de mangas de camisa e costumava apresentar o seu dedo perdido como um reflexo de sua luta e identificação de classe. 

Logo o publicitário Duda Mendonça aconselharia ao líder petista de que essa "narrativa" não o levaria a lugar algum, muito menos ao Palácio do Planalto. Era preciso usar ternos italianos, manter a barba aparada, cuidar dos dentes e procurar o mesmo cabeleireiro do Sílvio Santos, o Sacha. O partido começa a entrar num processo que não teria mais volta, priorizando a luta pelo voto, a conquista do poder e se afastando gradativamente de suas bases e setores orgânicos, em nome de uma institucionalização, que pode ser traduzida, igualmente, de oligarquização, onde uma burocracia partidária passa a dar as cartas na legenda. 

Houve um tempo em que o partido mantinha um núcleo apenas para lidar com os evangélicos. Ao logo do tempo, como decorrência dessa burocratização interna, o hiato foi se consolidando, culminando nas refregas com este nicho eleitoral nas eleições presidenciais de 2022. Lula chegou a afirmar que não sabe como este elo foi rompido. Neste aspecto, o PT mordeu a isca da extrema-direita em disputar a narrativa da agenda de costumes ou a pauta do identitarismo, onde eles passaram a ser majoritários junto aos eleitores empobrecidos, periférico e evangélico. O caso de São Paulo é emblemático. Boulos perde nesses nichos eleitorais para o candidato Ricardo Nunes. Investe pesado nessas zonas, mas acredita-se que seja um pouco tarde. Um artigo recente do sociólogo Jessé de Souza, expõe essa questão com riqueza de análise. 

Outro aspecto diz respeito à economia da atenção, ancorada, sobretudo nas redes sociais, onde o partido sempre encontrou maiores dificuldades do que esses grupos de extrema-direita, que privilegiam as suas ações através desse expediente. A articulação é tão evidente que acredita-se que grandes redes deem uma forcinha a esses grupos através de seus algoritmos e manobras congêneres. Aqui a coisa é mais grave, uma vez que estamos tratando da destruição das instituições democráticas e da própria política. Esquemas pesados de cortes, mentiras sistemáticas e proposições exóticas podem eleger alguns atores políticos. 

Existem outros fatores que poderiam ser discutidos por aqui, como a crescente penetração do crime organizado e grupos milicianos no aparelho de Estado, fato gravíssimo, igualmente pernicioso para os interesses da res publica. O portal dessa relação promíscua já foi aberto em alguns Estados da Federação, inclusive no Nordeste, região que, tradicionalmente, sempre emprestou apoio ao Partido dos Trabalhadores. 

O livro Os Partidos Políticos, do sociólogo e cientista político Maurice Duverger, é um livro que parece não sofrer os efeitos do tempo. Escrito em 1951, continua um livro atualíssimo sobre o tema, sobretudo em razão de apresentar uma teoria sobre os partidos políticos, que mereceu poucos reparos ao longo desses anos. Quando trata da origem dos partidos políticos, por exemplo, Duverger vai nos apresentar uma distinção bem clara sobre os partidos de quadros, nascidos nos parlamentos, e os partidos de massa, que tem sua origem fora do parlamento, nas organizações sindicais e movimentos sociais. 

Os partidos de massa surgiram exatamente para representar uma demanda social que jamais foi atendida pelos partidos de quadros. Assim, esses partidos, em função da origem e identidade com determinados segmentos eleitorais vão apresentar características bem diferenciadas. Os partidos de quadros podem acabar, simplesmente, pela vontade dos seus caciques, dos seus donos, de acordo com as conveniências de ocasião. Já em relação aos partidos de massa, a situação é bem mais complexa, envolvendo inúmeros fatores, inclusive um divórcio com a sua base histórica de sustentação, que é o que sugere que esteja ocorrendo com o PT. 


Charge! Laerte via Folha de São Paulo

 


domingo, 13 de outubro de 2024

Editorial: Lula pode antecipar mudanças na direção do PT.


O Partido dos Trabalhadores havia criado um grupo especial de trabalho com o objetivo de definir estratégias e composições políticas visando as eleições municipais de 2024. A julgar pelos resultados obtidos, não podemos falar aqui sobre algum êxito deste grupo. Isso em números gerais, porque se formos aqui entrar nos pormenores, algumas tomadas de decisões foram determinantes para alguns fiascos pelo país afora. O morubixaba petista já antecipou que o partido precisa fazer uma espécie de autocrítica, depois da refrega em redutos tradicionais, onde o partido exercia a hegemonia há décadas, como a cidade de Araraquara. 

Hoje alguns órgãos de imprensa trazem a informação de que Lula esteja pensando em proceder mudanças na direção da agremiação um pouco antes do previsto. Na realidade, a onda de centro-direita que varre o país sugere um processo inexorável. A surra aplicada na esquerda é dessas que não cicatrizam nem com banho de sal grosso. Circunstâncias específicas e alguns equívocos do campo progressista alimentaram a vitalidade desses grupos. Já andam testando o empresário Pablo Marçal para as eleições presidenciais de 2026. 

O curioso é que um dos cotados para assumir a direção nacional da agremiação é um dos derrotados nessas eleições, Edinho Silva, que não conseguiu eleger sua indicada à prefeitura de Araraquara. Há alguns anos atrás escrevemos um artigo tratando de como morrem os partidos políticos. Talvez seja a hora de revisitá-lo.  

Editorial: A batalha pela cidade das chaminés.


Nossos três primeiros romances foram concebidos no contexto da experiência da industrialização têxtil na cidade-fábrica de Paulista. Como tal experiência tornou-se emblemática e simultânea ao que ocorria no período em todo país, os três romances, Menino de Vila Operária, vencedor do Prêmio José Lins do Rego de Literatura, em 2022, Cidade das Chaminés e Chaminés Dormentes, abordam desde o surgimento até a decadência da indústria têxtil local, configurando-se como romances do ciclo da industrialização têxtil no país. Tudo começou quando o comendador sueco Herman Theodor Lundgren adquiriu uma fábrica de sacarias, em decadência, e a transformou na Companhia de Tecidos Paulista, um colosso industrial têxtil em seu período de apogeu, atingindo a surpreendente marca de dez mil operários e operárias. 

A família Lundgren possuía duas fábricas na cidade. Além da Companhia de Tecidos Paulista, havia a Fábrica Aurora. Paulista nasceu como uma quase-cidade, dada a ausência mínima de institucionalização naquele torrão, na realidade, uma espécie de fazenda sob o controle estrito da oligarquia industrial, que possuía uma milícia armada para impor sua autoridade e normalizar a vida social, cultural, econômica, religiosa e política dos operários e operárias que estavam sob a sua jurisdição. Contraditoriamente, dois líderes políticos ligados à Ditadura do Estado Novo foram os responsáveis diretos por assegurar a presença do aparelho de Estado no município: Agamenon Magalhães e Torres Galvão. Não se poderia nutrir grandes expectativas em torno de uma cidade que nasce sob este signo. 

A cidade passa por uma fase onde a política era controlada por duas oligarquias familiares e, depois, na ausência de representantes dessas oligarquias, passou ao controle de grupelhos políticos sem quaisquer pudores de espírito público, que passaram a estabelecer padrões de relações temerárias entre entes públicos e privados. Ficamos sabendo que a governadora Raquel Lira esteve recentemente na cidade, em passeata, acompanhada por seu afilhado político Ramos, ligado aos tucanos. O prefeito do Recife, João Campos, segundo sugere um blog local, teria alugado uma residência na cidade para apoiar o retorno de Júnior Matuto à gestão municipal. Está em jogo uma verdadeira batalha pela cidade das chaminés. Desejamos boa sorte a ambos. 

sábado, 12 de outubro de 2024

Editorial: Terreiros de candomblé insatisfeitos com medidas do Ministério da Igualdade Racial.



Por razões compreensíveis, os Ministério dos Direitos Humanos e o Ministério da Igualdade Racial desenvolviam algumas ações conjuntas. Com o frisson produzido pelo escândalo dos supostos assédios sexuais e morais, que culminou com o afastamento do ministro Sílvio Almeida do cargo de Ministro dos Direitos Humanos, posteriormente a ministra Anielle Franco anunciou a exoneração de alguns servidores que trabalham no órgão sob a sua gestão, que possivelmente teriam vínculos com o Ministério dos Direitos Humanos, como sugeriram alguns veículos de comunicação. Os representantes dos terreiros de candomblé emitiram uma carta onde demonstram uma profunda insatisfação com a medida, cujo afastamento envolveu membros de religião de matriz africana, com grande capilaridade na área, o que poderia representar um retrocesso no que concerne às políticas públicas desenvolvidas pela pasta para a área. 

Está produzida uma crise entre os representantes dessas entidades e o ministério comandado por Anielle Franco. A carta sugere uma mesa onde essas questões sejam discutidas e mudanças substantivas sejam efetivadas na conformação de ações - e de nomes - comprometidos com esses avanços. O cenário de insatisfações de amplos setores progressistas com o Governo Lula3 está se agravando ao longo do tempo. A greve dos professores universitários deixou algumas sequelas entre este setor e o governo. Embora eles tenham encerrado a greve, as vísceras permanecem abertas, com cortes de orçamentos, o que compromete a propalada autonomia universitária. Ninguém é autônomo com torniquetes de recursos. 

Alguns analistas sugerem que, não apenas alguns ministérios em particular, mas o próprio governo mude substantivamente suas linhas de ações daqui para frente, inaugurando um Lula 3b nesta segundo quadra de governo, nos dois anos que restam. Por vezes, causa estranheza algumas atitudes tomadas pelo morubixaba petista. Diante da refrega da última eleição municipal, onde o partido foi derrotado até em redutos simbólicos, ele mesmo admite que o PT precisa ser reinventado. 

P.S.: Contexto Político: De fato, foram demitidos alguns servidores do Ministério da Igualdade Social, onde se sugeriu que tais servidores - possivelmente em cargos comissionados - teriam algum tipo de vinculação ao Ministério dos Direitos Humanos, mas desconhecemos em que termos davam-se tais vinculações, possivelmente no desenvolvimento de ações conjuntas entre os dois órgãos. Jornais com o Estado de São Paulo repercutiram essas indisposições das entidades de candomblé e o órgão federal. 

Charge! Marília Marz via Folha de São Paulo

 


sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Editorial: O debate da Band é segunda-feira.



O primeiro grande debate entre os candidatos que concorrem ao segundo turno dessas eleições municipais ocorre nesta segunda-feira, dia 14, transmitido pela Rede Bandeirantes e suas afiliadas por todo o país. Pioneira na realização desses debates, a TV paulista sempre incorporou mudanças que pudessem melhorar a qualidade dos encontros, não surpreendendo que, os debates do segundo turno possam trazer algumas novidades, como o banco de tempo adotado no debate da Folha\UOL. Como a disputa se dá entre dois candidatos apenas, independentemente do formato, o embate propositivo ganha uma dimensão mais substantiva. No dia ontem, saíram as primeiras pesquisas sobre este segundo turno, a partir dos levantamentos realizados pelos Institutos Paraná Pesquisas e o Datafolha

Como sempre, São Paulo atrai as atenções nacionais. Liderando com folga, Ricardo Nunes mostra-se reticente em aceitar o apoio explícito de Pablo Marçal. Por outro lado, correndo atrás dos números, Guilherme Boulos afirma que não recusaria os votos do eleitor do empresário, admitindo, inclusive, que algumas de suas propostas podem ser avaliados num futuro governo do psolista. Lula deve entrar de sola na campanha, principalmente porque vencer em São Paulo poderia representar uma redenção diante do fiasco do partido nacionalmente. 

E, por falar em Lula, o fato de ter perdido em praças importantes de São Paulo deixou o petista bastante preocupado. O PT foi derrotado na região do ABC, inclusive em  cidades como São Bernardo, berço da legenda.  Araraquara, na região central do Estado, um bastião tido como inexpugnável pelo partido, controlado por décadas por lideranças como Edinho Silva, também caiu nas mãos da oposição.  Exceto em Belo Horizonte, onde o partido apoia Fuad Noman, do PSD, as nuvens continuam escuras para a legenda. A situação não é confortável em São Paulo, Natal e Fortaleza.  

Charge! Cláudio Mor via Folha de São Paulo.

 


quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Editorial: Paulista, uma cidade em ruínas.


Não vamos entrar aqui nos pormenores para não "melindrar", este que é o verbo da moda. Ficamos sabendo a pouco sobre a confusão armada em relação ao PT na cidade de Paulista, cidade localizada na Região Metropolitana do Recife. Ali a eleição foi para o segundo turno e, neste contexto, ocorreu um rearranjo de forças forçado por tal contingência. O candidato do PSDB, Ramos, recebe o apoio da governadora Raquel Lira, como seria natural, ela que se empenhou pessoalmente em apoios a inúmeros candidatos pelo estado. Foi até exitosa neste projeto, uma  vez que o partido ampliou sensivelmente o número de prefeitos no estado. 

Num contexto onde os tucanos não foram bem em nível nacional, a governadora amplia seu capital político. Em São Paulo, por exemplo, o partido não conseguiu eleger um vereador sequer. Pela manhã, o diretório municipal do PT na  cidade, estabeleceu uma moção de apoio ao nome de Ramos. Júnior Matuto, do PSB, foi à Brasília pedir o apoio de Lula ao seu projeto de voltar a gerir a cidade. Salvo melhor juízo, o morubixaba petista gravou um vídeo em apoio ao candidato e a Executiva Nacional da legenda desautorizou o apoio do diretório municipal ao nome de Ramos, fato endossado pela Executiva Estadual do Partido. 

Cidade-Fábrica no passado, Paulista se transformou numa zona onde prevalecem os interesses de grupelhos políticos, sem qualquer viés ideológico, submetidos aos interesses comezinhos, sem o menor senso de espírito público. Questões ideológicas estão longe de estabelecerem os critérios para a formação de alianças políticas. O abandono do Cineteatro Paulo Freire, no centro da cidade, onde outrora funcionava o "Cinema da Companhia", retratado nos nossos romances, está em ruínas, assim como a praça principal e logradouros centrais. É um exemplo da ausência de cuidado dos gestores ao longo de décadas, alguns deles sem a menor credencial para se habilitarem a retornar a gerir a cidade.