sexta-feira, 21 de março de 2025
Editorial: As placas tectônicas políticas se movem em Brasília.
Crédito da Foto: Cristiano Mariz. |
Não vamos aqui entrar nos impropérios já ditos nessa querela entre o Presidente Nacional do Republicanos, pastor Marcos Pereira, e o pastor Silas Malafaia, quando ambos entraram num entrevero depois que se evidenciou que o líder dos republicanos talvez não endosse o projeto de anistia aos envolvidos e já condenados pelo 08 de janeiro. Sinaliza-se, inclusive, a possibilidade de o governador Tarcísio de Freitas deixar a legenda e filiar-se ao PL, constituindo-se numa eventual alternativa de candidatura presidencial ainda em 2026, na hipótese de a candidatura do ex-presidente Jair Bolsonaro inviabilizar-se de vez. O pastor Silas Malafaia quase perdeu a voz bradando pela anistia na última concentração promovida pelos bolsonaristas na praia de Copacabana.
Depois de tantos apelos e incentivos, hoje fica claro que não precisaria de um grande esforço para tornar Tarcísio de Freitas candidato ao Palácio do Planalto em 2026. Filiado ao PL, as chances aumentam. Outra movimentação importante que ocorre na capital federal diz respeito à federação entre o PP e o União Brasil, uma verdadeira movimentação de placa tectônica política. Muito se especula em torno dessa federação formada entre os dois partidos, a começar pelo musculatura daí decorrente, quando, uma vez federados, eles passam a ter 109 deputados federais, a maior bancada da Câmara Federal, superando o PL.
Outra preocupação é que o PP, através de seu presidente, o senador Ciro Nogueira, esboça a possibilidade de desembarcar do trem governista. Segundo dizem, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, teria sido consultado sobre o assunto e dado o sinal verde para as negociações. Caiado é candidato a Presidência da República pelo União Brasil. Numa eventualidade de a nova federação desembarcar da base governista - que já é frágil - o dano seria ainda mais expressivo. Essas movimentações políticas entre as duas legendas, em Brasília, estão produzindo alguns arranjos curiosos na quadra política pernambucana, o que discutiremos mais tarde.
quinta-feira, 20 de março de 2025
Editorial: Gleisi Hoffmann ainda não perdeu o sotaque da militância.
A nova Ministra da Secretaria de Relações Institucionais do Governo Lula 3, a deputada federal Gleisi Hoffmann, depois das polêmicas em torno de sua indicação para o cargo, já se pronunciou sobre o assunto, afirmando que entende bem as novas atribuições do cargo que assumiu recentemente. Uma coisa é a liderança do Governo, outra coisa é a direção partidária e outra, bem diferente, é a articulação política ou institucional do Governo. Mesmo assim, recentemente, ela fez algumas ponderações acerca das crítica de governadores de oposição ao Governo Lula 3. Eis aqui um posicionamento mais afeito ao novo dirigente da legenda, o senador pernambucano Humberto Costa, que também teceu suas considerações acerca dos investimentos que o Governo Lula fez em Minas Gerais. Romeu Zema, de oposição, na realidade, é um mal agradecido.
Esse terceiro Governo Lula tem sido caracterizado pelos infindáveis tropeços. O próprio Lula, numa infelicidade sem tamanho, argumentou que a teria indicado ao cargo por ela ser bonita e que, assim, evitaria problemas com o pessoal do Centrão. Sua relação com o eleitorado feminino ficou estremecida, num momento em que ele tenta, desesperadamente, recuperar a popularidade perdida. Os dados não são nada alvissareiros. A última pesquisa do DataPoder indica que a sangria de popularidade continua.
Agora é Gleisi Hoffmann, que faz suas ponderações, algo que poderia ter sido perfeitamente evitado ou não dito por ela, em relação ao lugar de sujeito, para usarmos uma expressão do filósofo francês, Michel Foucault. No cargo, os impulsos da militância partidária precisam ser contidos. Gleisi Parece ter esquecido que os estados tem representantes no parlamento e esses, geralmente, mantém bom trânsito com seus governadores, o que pode dificultar as relações institucionais. Principalmente porque estamos tratando aqui de governadores que fazem oposição ao Governo Lula.
Editorial: A pesquisa do fim do mundo para o Governo Lula 3.
O Instituto Quaest\Genial realizou uma pesquisa junto a empresários e investidores para conhecer o humor desse pessoal em relação ao Governo Lula 3. Os petistas mais radicais devem, neste momento, ponderaram sobre o viés de uma pesquisa desta natureza. É como se fosse realizada uma pesquisa sobre o Palmeiras na torcida organizada do Corinthians, a Gaviões da Fiel, ou sobre o Grêmio dentro de um reduto colorado. Estivemos dando uma olhada nos outros detalhes da pesquisa e, de fato, ela pode ser entendida, assim como na chamada do editorial, como uma pesquisa do fim do mundo sobre o governo Lula 3. Perspectivas de juros altos, retomada do processo inflacionário e pessimismo sobre a possibilidade de que as medidas até aqui adotadas possam reverter tal situação. A rejeição ao Governo Lula3 neste nicho do PIB nacional é de 88%. A pesquisa foi realizada no eixo Rio\São Paulo.
Setores do partido, talvez hegemônicos hoje na condução das políticas públicas do Governo, fazem ouvidos de moucos acerca dessa reação do mercado, que, aliás, não é de hoje. Lá atrás o presidente da Cosan, Rubens Ometto, empresário privado que mais contribuiu financeiramente para o PT nas eleições presidenciais de 2022, já afirmou que estávamos lascados, durante um evento que reunia, inclusive representantes do Governo. Sabe-se, como afirma Lula, que o mercado não tem coração nem sentimento. Por outro lado, a dinâmica da economia realmente não permite essa gastança desenfreada, de forma irresponsável, sem lastro, apenas como um expediente eleitoral para se viabilizar politicamente nas próximas eleições. O processo é tão errático que o Governo transfere rubrica de gastos de programas como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida para essas novas políticas sociais e abertura de créditos populares. De uma coisa temos certeza: Isso dá inflação. Se vai dá voto é outro departamento.
O andar de cima, a Bélgica de nossa Belíndia, na expressão criada pelo economista Edmar Bacha, um dos idealizadores do Plano Real, Não desejam pagar a conta da concessão da isenção de imposto de renda para ganha até cinco mil reais. Essas contas não batem e, em momentos, assim, a prudência recomenda tirar o pé do acelerador de gastos. Não há Governo que recupere a popularidade com índices de inflação em alta. O controle das contas públicas deveria ser a meta principal do Governo Lula 3. A austeridade de Gabriel Galípolo, do Banco Central, indicado por Lula, foi o único que escapou da degola do mercado. Ele está no caminho certo e aconselhou o Governo a fazer o mesmo.
quarta-feira, 19 de março de 2025
Editorial: O equilíbrio instável do governador Tarcísio de Freitas.
Não há dúvidas de que o mainstream conservador vem dando suporte às pretensões políticas do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Antes relutante, ele hoje se parece mais identificado com este projeto, talvez antecipando-o para as eleições de 2026, quando era o seu objetivo, em princípio, renovar o contrato de locação com o Palácio Bandeirantes. A revista Veja, na semana passada, trouxe uma longa matéria tratando deste assunto, com o sugestivo título de chamada: O Plano 'T". Vamos ser francos por aqui. Sugere-se que a situação do ex-presidente Jair Bolsonaro é bastante complicada, talvez mesmo inviabilizando uma nova candidatura presidencial para 2026. Aliás, sua inelegibilidade vai até 2030, quando teremos novas eleições e, se mantidas tais condições, ele ainda não poderia habilitar-se.
O Estadão, num dos seus polêmicos editorias, discute a posição desconfortável e missão quase impossível do governador em relação a sua cria, Jair Bolsonaro, de quem foi ministro. O articulista cita o ex-governador Leonel de Moura Brizola para lembrar que, em política, como preconizava o caudilho, ama-se a traição, mas abomina-se o traidor. O governador Tarcísio de Freitas vive este dilema. O discurso dele na Paulista estava eivado de ponderações críticas ao Governo Lula 3, focado, por exemplo, em questões como carestia e segurança pública. Sua defesa do ex-chefe e do projeto de anistia teria sido sublimada diante das questões que o colocaria, num eventual futuro político, em contraposição ao Governo do PT. Até mesmo a camisa que ele suava foi lembrada. Embora da seleção brasileira, conforme padrão do bolsonarismo, era do uniforme reserva, na cor azul.
Sugere-se que o andar da carruagem neste momento não dependa apenas de suas convicções pessoais. Ninguém tem dúvida de que ele foi sempre muito leal ao ex-presidente Bolsonaro, a quem trata ainda hoje com grande reverência e admiração. Mas política é um pouco essa coisa. A traição faz parte do jogo. Alguém da crônica política nacional estava observando hoje que o próprio PL anda assumindo posições e estratégias que desvincula a agremiação política do extremismo.
Editorial: A "Belíndia" já começa a reclamar.
O Brasil continua sendo um dos países mais desiguais do mundo em termos de distribuição de renda. Este assunto volta à tona no momento em que o Governo Lula está propondo a isenção de taxação da Receita Federal para quem recebe até cinco mil reais por mês. Para equilibrar o jogo, porém, o Governo propõe que os mais ricos compensem essa perda de arrecadação, contribuindo um pouco mais, o que já levanta protestos desses aquinhoados ou privilegiados. É sempre assim. Os do andar de cima da pirâmide social jamais se dispuseram a oferecer algum sacrifício em relação ao andar de baixo. A proposta do Governo ainda deve ser apreciada pelo Congresso, onde o presidente Lula já manifestou o deseja de que o projeto venha ainda melhor, permitindo que os privilegiados continuem comendo seu filé mignon e a sua picanha, mas os de baixo possam continuar consumindo outros cortes menos nobres, a exemplo do osso buco, da costela e do peito com osso.
Curioso que mais uma vez - parece que não tem jeito - Lula cometeu mais um escorregão, ao afirmar que os pobres poderiam comer também o filé mignon , já prometido pelo Ministro da Fazenda Fernando Haddad, numa outra ocasião. A psicologia explicaria esses atos falhos de Lula como um desejo inconsciente. Ele realmente gostaria que esse estrato social pudesse ter acesso ao produto, mas está difícil. Até o ovo andou sumindo da mesa dos mais pobres. Certamente o projeto sofrerá mudanças e podem ter certeza que o quinhão dos mais ricos serão preservados, assim como os supersalários sumiram das discussões quando Fernando Haddad apresentou o seu pacote de corte fiscal.
Existem alguns livros que todos os estudantes universitários brasileiros - seja qual for a sua graduação - precisar ler para começar a entender o Brasil. Quando estávamos no batente de sala de aula, dávamos sempre um jeito de inseri-lo nas nossas ementas, seja lá qual fosse a disciplina a ser ministrada. O termo "Belíndia" criado pelo economista Edmar Bacha, em 1974, quando um dos país do Plano Real, onde ele explica que temos as leis e os impostos da Bélgica e a realidade social da Índia, é um desses livros que precisam ser retirados da estante urgentemente. Foi muito feliz o economista, que ganhou o prêmio Jabuti com o texto.
terça-feira, 18 de março de 2025
Editorial: O PT que não tem rusgas com Maduro.
Existe um PT que não mantém qualquer tipo de rusga com o líder venezuelano, Nikolás Maduro. Ao contrário, quando o presidente Lula ensaiou algumas ponderações críticas sobre o que ocorre naquele país, sofreu o patrulhamento desse grupo, um grupo orgânico da legenda, com maiores afinidades com os movimentos sociais, a exemplo do MST. Esse grupo voltou a exercer uma efetiva ascendência sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principalmente a partir da refrega de popularidade que o presidente enfrenta neste momento. Diante das contingências adversas, Lula passou a ciscar para dentro, na avaliação de alguns analistas.
Este grupo esteve presente na cerimônia de posse do novo mandato do presidente venezuelano e, não raro, recebe convites para participar de outras cerimônias oficiais. Maduro chegou a declarar que as rusgas com Lula são coisas do passado, talvez interpretando, a partir desses movimentos de grupos da legenda, que a reconciliação é só uma questão de tempo. E, por falar em MST, o presidente Maduro anunciou que está doando algo em torno de 188 hectares de terra para o movimento, num projeto agrário que está sendo desenvolvido naquela país, com a participação de outros movimentos sociais e até de militares.
Essas terras teriam sido desapropriadas, possivelmente em algum projeto de reforma agrária, e o presidente resolveu doá-las ao MST. No Brasil, o movimento se arregimenta como pode. Nas últimas eleições elegeram vários representantes do grupo para as câmaras municipais. Não conhecemos o projeto proposta pelo líder venezuelano. O que se especula, no entanto, são as eventuais trocas, ou seja, possíveis projetos do Governo do Brasil naquele país, como ocorreu no passado.
Editorial: Finalmente, o Congresso vota o orçamento nesta semana.
Não vamos aqui esmiuçar a LOA - Lei Orçamentária Anual - pela ausência de dados mais concretos, mas, por outro, lado, preocupa a ginástica que o Governo Lula 3 vem fazendo em relação ao assunto, diante de um cobertor curto, para atender às necessidade de arranjar recursos para novas políticas sociais e concessões de créditos. A tesoura passaria por programas já consagrados, a exemplo de Minha Casa Minha Vida e do Bolsa Família. O deputado federal pelo Partido Progressistas do Piauí, Júlio Arcoverde, relator, queixa-se dos inúmeros ofícios recebidos do Planalto, o que o contingenciava a convidar os assessores parta fazer os ajustes necessários, consoante as novas diretrizes. O Ministério do Planejamento, por exemplo, segundo notícia do site Poder 360, sugere retirar recursos do Minha Casa Minha Vida e redirecioná-lo para o Vale Gás.
Na realidade, a rigor, quando propôs a ampliação desse Vale Gás, o Governo não dispunha de recursos para atendê-lo. A prudência recomendaria tirar o pé do acelerador de gastos e não prometê-lo, mas vá explicar isso a alguns setores do Governo, aliás, o setores mais influentes hoje, com grande ascendência sobre o presidente Lula, que advogam a tese de fertilizar o terreno para as eleições presidenciais de 2026. Ajuste fiscal aqui é palavra proibida. Soa como austericídio. No dia ontem, 17, comentávamos por aqui sobre as avaliações do economista Maílson da Nóbrega, em matéria da revista Veja, onde preconiza a tese que essas concessões de novos créditos irá nos conduzir, na realidade, ao aumento dos índices inflacionários. E possivelmente endividamento maior da população. Os grifos são nossos.
Por outro lado, o que se sabe, na realidade, é que a votação estava travada por outros motivos. Mais uma vez em razão da ingerência dos outros Poderes da República em relação à transparência sobre as emendas parlamentares, que se tornou uma queda de braços entre o Legislativo e o Judiciário. Neste meio termo eles voltaram a aprovar um dispositivo que continua não identificando os beneficiários dessas emendas. No último domingo, na jornal Folha de São Paulo, há um imperdível artigo da jornalista Dora Kramer tratando deste assunto.
segunda-feira, 17 de março de 2025
Editorial: O apoio do PSD ao projeto de anistia bolsonarista.
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Crédito da Foto: Poder360 |
Até recentemente, o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou ter mantido um diálogo com o presidente Nacional do PSD, Gilberto Kassab, onde a pauta da anistia aos implicados e condenados pelo 08 de janeiro esteve no epicentro da agenda. O ex-presidente saiu animado do diálogo entre ambos, alegando o apoio de Kassab, que não negou a informação. Depois de fustigar os membros da Suprema Corte, talvez seja este o maior projeto político dos bolsonaristas, algo que embalou as manifestações do dia de ontem, 16, e devem pautar as eleições presidenciais de 2026. Numa análise fria da correlação de forças no parlamento, o Governo Lula 3 não reúne a menor condição de barrar este projeto, que esteve na mesa de negociação dos novos líderes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.
Os partidos do Centrão, na realidade, só têm compromissos com emendas e cargos. São essencialmente pragmáticos. Setores do MDB já estudam concretamente a possibilidade de não endossarem o projeto de reeleição de Lula para 2026. Há uma movimentação do senador Ciro Nogueira, do PP, dos Republicanos e do União Brasil também neste sentido. Kassab se movimenta no tabuleiro da política nacional com bastante desenvoltura. É da base do Governo, mas estimula as aspirações do governador Ratinho Junior ao Planalto. A questão que se coloca é como Bolsonaro conseguiu convencer o presidente do PSD a embarcar nesse projeto? Algum arranjo na quadra paulista?
No dia ontem estávamos lendo um artigo do economista paraibano, Maílson da Nóbrega, publicado na revista Veja, onde ele manifesta sua preocupação sobre a elevação dos índices inflacionário, estimulado pela política de novas concessões de crédito do Governo Lula 3. É impressionante como há um consenso sobre os equívocos dessa gastança do Governo. Mesmo assim, sugere-se que ela é irrefreável. Preparem o bolso.
Editorial: Lula entrega a Dirceu a missão de "pacificar" o PT.
Crédito da Foto: Poder 360. |
É preciso tomar sempre os cuidados necessários ao falarmos aqui de "divisão" do Partido dos Trabalhadores, um partido que já nasceu dividido em sua origem. O que talvez estivesse preocupando Dirceu naquele momento seria uma cisão ou defecção de alguns grupos da legenda. Em seus 45 anos de História talvez o partido nunca tenha enfrentando uma crise nessas proporções. Até mesmo a tendência de Lula, a CNB, encontra-se dividida em relação ao nome de Edinho Silva, já ungido pelo morubixaba para liderar o partido a partir de junho. O deputado federal Rui Falcão recentemente lançou uma carta à militância, habilitando-se para o cargo, com acenas aos setores mais autênticos ou à esquerda da legenda. Carta de militante, daquelas que advogam que setores do partido estão fazendo o jogo do liberalismo de mercado e que é preciso uma correção de rumo, como uma volta às origens.
O que se especula é que Lula teria entregue ao líder José Dirceu a missão de pacificar a legenda, o que não seria uma tarefa muito simples, mesmo em se tratando de alguém com o trânsito e a habilidade política do grande timoneiro. Especulou-se que o regionalismo seria o fator determinante em relação às brigas internas da legenda. Pelo andar da carruagem política, hoje podemos concluir que não se trata apenas disso as resistências de alguns grupos internos ao nome de Edinho Silva. O feeling político aguçado de José Dirceu já deve ter percebido outras variáveis. Na nossa modesta opinião, um nome paulista até que seria bem-vindo, se considerarmos os percalços que o partido enfrenta no maior colégio eleitoral do país.
domingo, 16 de março de 2025
Editorial: Um Congresso que não se emenda II.
Oportuno, lúcido e republicano o artigo escrito pela jornalista Dora Kramer, na edição de hoje, dia 16, no jornal Folha de São Paulo, onde ela trata de um Congresso que resiste em aceitar o requisito primário da transparência sobre as emendas parlamentares. Estão sempre criando algum artifício para fugir a este requisito que depõe, como afirmou a Ministra Rosa Weber, ainda em 2022, quando instigada a pronunciar-se sobre o famigerado orçamento secreto, contra os princípios da própria democracia. Não adiante levantar a Constituição durante os discursos, mencionar a palavra democracia dezenas de vezes, fazer referência ao Dr. Ulisses Guimarães e, na prática, defender essa excrescência do orçamento secreto.
Não é uma questão de dar uma satisfação ao STF, mas trata-se, na realidade, de dar uma satisfação aos seus eleitores, os cidadãos brasileiros que pagam seus impostos, alguns deles com desconto na fonte, incapazes de adotarem quaisquer artifício de sonegação, caso dos servidores públicos federais, que estão com suas recomposições salariais interrompidas em razão da não aprovação da LOA. Depois de decisão de Rosa Weber, quem entrou nesta casa de marimbondos foi o Ministro Flávio Dino, que realiza uma cruzada moralizante em relação às concessões, utilização e, principalmente, a prestação de contas do dinheiro público liberado para essas emendas, onde, na prática, a Polícia Federal já constatou inúmeras irregularidades.
Arguta, observadora privilegiada da cena política do país, não surpreende os insights da jornalista Dora Kramer, desta vez tratando de um tema nevrálgico para a sociedade brasileira. É por isso que nos inquietamos quando alguém afirma que a nossa democracia está consolidada e que as nossas instituições são sólidas, quando, na realidade, não dão bons exemplos. A não transparência do orçamento público fere princípios basilares de nossa Constituição. Parabéns a jornalista pelo artigo.
Editorial: Os bolsonaristas estão perdendo a capacidade de mobilização.

A partir de 2013, quando foram iniciados os assédios mais efetivos contra o ordenamento democrático no país, a partir das mobilizações denominadas de Jornadas de Junho, aprisionada por grupos de extrema direita, que conseguiram, de forma efetiva, colocar o bloco de direita nas ruas, gradativamente eles estão perdendo força. Difícil apontar aqui os motivos para este debacle, mas de fato isto está ocorrendo no país, mesmo sabendo do climão favorável aos grupos de direita neste momento histórico. Na realidade, também no Brasil, a direita ou extrema direita - eles abominam essa denominação - continua forte e competitiva. Nossa observação aqui diz respeito apenas às mobilizações de rua que, no passado recente, já foram mais prestigiadas pelas apoiadores.
Segundo dizem, o Palácio do Planalto lançou uma lupa sobre este último movimento da direita, por motivos óbvios. Há uma frente de batalha institucional no Congresso que articula votos para aprovar a anistia aos envolvidos nos atos de 08 de janeiro. O ex-presidente Jair Bolsonaro tem feito um corpo a corpo neste sentido, conversando com lideranças de partidos que integram o Centrão. O processo exige apenas uma maioria simples, o que facilitaria o trabalho da oposição. Se essas mobilizações ganham força nas ruas, isso poderia se refletir favoravelmente sobre as articulações institucionais.
Uma outra questão em jogo seria a programação de uma mobilização de artistas ligados aos movimentos de esquerda, que pretendem também se manifestarem contra a anistia, exigindo a punição aos envolvidos. Sem anistia. Como a esquerda encontra hoje enormes dificuldades de reunir seus apoiadores, uma mobilização de grande proporção organizada pela direita seria um escorregão logo de saída, suscitando o acanhamento do campo progressista.
Editorial: Bolsonaristas nas ruas pela anistia.
Logo mais, em Copacabana, os bolsonaristas estarão se concentrando para a primeira de uma série de mobilizações populares em defesa da anistia aos envolvidos e condenados pelos atos golpistas do 08 de janeiro, em Brasília. Segundo dizem patrocinadas pelo pastor Silas Malafaia, o evento contará com a presença de personalidades da política nacional, a exemplo dos governadores Tarcísio de Freitas, de São Paulo, Cláudio Castro, do Rio de Janeiro, o ex-presidente Jair Bolsonaro, os filhos Eduardo e Flávio Bolsonaro, o senador Magno Malta, os deputados federais Nikolas Ferrreira e Gustavo Gayer. Por algum motivo, a esposa do ex-presidente, Michelle Bolsonaro, que sempre aparece muito bem nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República, não estará presente ao encontro.
O evento ocorre um pouco depois de nossa democracia completar 45 anos de existência, quando nomes que participaram dessa reconstrução vem a público para afirmar que as nossas instituições são sólidas ou que a nossa democracia é estável. O cenário que enxergamos não é bem este. Desde 2013 que enfrentamos alguns solavancos políticos, e quase o edifício ruiu em 2023, quando um projeto autoritário chegou a se pensado, articulado e por pouco não executado. A Polícia Federal num trabalho exemplar, desvendou toda essa trama, apontando as responsabilidades dos autores, recomendando seus indiciamentos pelos atos golpistas, algo que já se encontra sob a apreciação da Suprema Corte. Gente graúda, inclusive militares que já se queixam da omissão dos pares.
O nosso sistema político democrático e republicano precisa, necessariamente, se contrapor aos seus algozes. Quem ler Gilberto Freyre fica sabendo porque, no Brasil, tudo se resolve com um tapinha nas costas. O Brasil talvez seja um caso único de experiência golpistas onde violadores dos mais elementares direitos humanos passaram para o outro plano sem serem cobrados sobre as atrocidades cometidas durante o período de exceção. Se continuarmos nesse diapasão, o mais provável é que essas iniciativas de caráter golpistas continuem vicejando entre nós.
sábado, 15 de março de 2025
Editorial: O impacto da COP30 em Belém.
A rigor, Belém, capital do Estado do Pará, não reúne as condições mais adequadas para a realização da maior conferência climática do mundo, a COP30. Injunções e interesses políticos, como sempre, acabam prevalecendo sobre o bom-senso. Vamos ter a COP30 em Belém. O Governo Federal irá construir uma espécie de arena, orçada em bilhões, mesmo diante das fragilidades de controle das contas públicas. Contraditoriamente, para realização da conferência ambiental, o meio ambiente também está pagando um preço alto. Há denúncias de estradas que estariam sendo construídas, produzindo desmatamento em algumas áreas rurais.
Ficamos aqui imaginando como ficarão os preços dos produtos oferecidos no Mercado A Ver o Peso, pois os aluguéis já chegaram a estratosfera. Uma cidade com apenas 18 mil leitos, ira receber mais de 50 mil pessoas. Resultado: Diárias de R$200, R$300 reais estão atingindo a cifra de R$ 80 mil reais. Há o caso de uma residência de um quarto e sala que está sendo oferecida por um milhão e meio pelo período. Este último caso viralizou nas redes sociais. Há uma outra residência com a proposta - indecente, claro - de R$ 2 milhões pelo período de dez dias. Donos de residências alugadas estão feitos loucos, solicitando a devolução dos imóveis.
Ficamos aqui somente imaginando como isso irá se refletir em outros itens, a exemplo da alimentação dos convidados. Por quanto será oferecido um tradicional pato no tucupi - prato tradicional da culinária do Pará - nos restaurantes da cidade. Não é brincadeira.
Editorial: O Brasil está dando a volta por cima?
Crédito da Foto: João Risi\Secom\PR. |
O Ministro-Chefe da Secretaria de Comunicação Institucional, Sidônio Palmeira, segundo a imprensa noticiou, manteve um encontro tenso com os assessores de comunicação dos ministérios e de empresas estatais. Em alguns momentos, alguns deles revelaram que apenas sabiam das ações do Governo pela imprensa, externando o descontentamento com o fluxo dessas informações. Sidônio teria concordado que há problemas, sugerindo que eles ampliem as conversas com a imprensa, concedendo mais entrevistas, sempre utilizando-se do slogan o Brasil está dando a volta por cima. Numa reunião anterior, Lula também se queixou que os próprios ministros não sabiam o que se passava no Governo, sendo, portanto, compreensível que a população também desconhecesse essas ações. Em casa de popularidade baixa, todos brigam e ninguém tem razão.
O Governo adotará duas medidas que podem, segundo o novo dirigente do PT, Humberto Costa, fazer toda a diferença nessa tentativa de retomada de popularidade junto a setores historicamente identificados com o PT. A abolição da jornada seis por um e a isenção de declaração de imposto de renda para quem ganha abaixo de cinco mil reais. Os estratos sociais beneficiados estão ali na classe média baixa e entre os trabalhadores comuns, que poderão beneficiar-se dessas medidas. O Governo Lula 3 faz aposta pesada nessas duas medidas. O Governo volta a tratar de novas linhas de crédito para a reforma das residências, o que pode resultar, no final, em novos endividamentos e altas inflacionárias, puxadas pelo consumo, indicando que a linha de gastança permanece, o que é um problema.
Neste raciocínio, a austeridade fiscal proposta pelo Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fica com o prestígio mais baixo do que poleiro de pato no Governo. A questão agora é criar as condições e a musculatura política necessária para se chegar às eleições presidenciais de 2026 em condições de competitividade. A hora da colheita chegou, segundo esse núcleo hoje hegemônico no Governo.
sexta-feira, 14 de março de 2025
Editorial: Um nó-górdio chamado Jair Messias Bolsonaro.
A revista Veja da semana anterior trouxe uma longa matéria sobre o que os editores denominam de plano "T", numa referência às articulações em torno de uma eventual candidatura presidencial do governador Tarcísio de Freitas à Presidência da República, ainda em 2026. Fiel escudeiro do bolsonarismo, reiteradas vezes, o governador tem afirmado que só entra no páreo com o apoio do capitão. Jair Bolsonaro, mesmo diante dos enroscos jurídicos e políticos, tem afirmado que só indica um outro nome para a disputa depois de morto. A questão é que, diante da irrevogabilidade da inelegibilidade e diante de uma condenação iminente, as forças do campo conservador se aglutinam em torno de uma alternativa e esta alternativa, no momento, atende pelo nome de Tarcísio de Freitas.
No dia de ontem ficamos sabendo que o PT está inquieto diante do avanço da proposta de anistia aos implicados na tentativa de golpe de Estado do 08 de janeiro de 2023. A vaselina política está funcionando e a oposição ganha musculatura expressiva, inclusive no escopo de partidos que integram a base de sustentação de Lula. No plano jurídico, como já se previa, o ex-presidente amarga derrota uma após a outra. A defesa apresentada a PGR não convenceu Paulo Gonet, que encaminhou a denúncia envolvendo os implicados ao STF, algo que será apreciado em breve, no dia 25 de março, conforme previsão do Ministro Cristiano Zanin. A partir de então, os envolvidos tornam-se réus, salvo algum equívoco jurídico cometido por este editor, que sabe apenas pouca coisa de política.
Gente do núcleo duro da tentativa de golpe. O alto escalão, envolvendo ex-ministros, generais, assim como comandantes de órgãos estratégicos no Governo Bolsonaro. No próximo domingo, 16, outra manifestação pública dos bolsonaristas, programada para todo o país, com maior ênfase para a praia de Copacabana, onde as estrelas devem se concentrar. Eles não param por aí. Em abril, nova manifestação, desta vez na Avenida Paulista. O bolsonarismo tornou-se um nó-górdio que o sistema político brasileiro terá que desatar. Não está sendo fácil se entendermos as fragilidades do campo democrático e progressista neste momento, na mesma proporção do céu de brigadeiro dos conservadores.
Editorial: Ratinho Júnior como vice de Lula em 2026?
Se vierem a se confirmar as informações da coluna do jornalista Cláudio Humberto, no dia de hoje, 14, onde cogita-se de tratativas avançadas no sentido de fazer do governador do Paraná, Ratinho Junior, o vice dos sonhos em seu projeto de reeleger-se em 2026, observa-se movimentos distintos do líder petista. No governo, como se diz aqui no Nordeste, estaria ciscando para dentro, ou seja, aferrando-se aos seus companheiros mais autênticos ou radicais. Pragmaticamente, de de olho nas eleições presidenciais de 2026, ampliando o flerte com a direita e o centro do espectro político. No momento, o governador do Paraná é um nome que vem sendo preparado pelo partido como eventual candidato às eleições presidenciais de 2026, conforme enfatiza o presidente da legenda, Gilberto Kassab. Bem avaliado no estado, como índices de 74% de aprovação, em âmbito nacional, ele aparece ainda discretamente nas pesquisas de intenção de voto.
O movimento de Lula, se confirmado, indica que ele deseja cindir os redutos de direita ou conservadores. É uma jogada de alto risco para o governador paranaense, que sabe que seu eleitorado não aceitaria de bom grado essa guinada. O eleitorado paranaense tem uma rejeição quase natural ao PT, pois foi ali que se realizaram as audiências da Lava Jato, onde algumas lideranças ilustres da legenda foram julgadas por malversação de recursos públicos. Foi divulgada recentemente um pesquisa que aponta o ex-juiz das Lava Jato, Sérgio Moro, como o preferido dos eleitores locais para o Governo do Estado, em 2026, numa demonstração inequívoca da tendência conservadora do estado. Como eles interpretariam essa aliança do governador com o Palácio do Planalto.
A coluna insinua, ainda, que, nesta conta, imaginem, estaria ajustado o apoio do governador ao projeto de fazer da atual Ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, governadora do estado. No arranjo, seria destinado ao atual vice-presidente, Geraldo Alckmin, a batalha por um espaço na quadra paulista, onde ele já foi muito competitivo no passado. No passado, registre-se.
quinta-feira, 13 de março de 2025
Editorial: Nova derrapada verbal de Lula.
Crédito da Foto: Breno Carvalho\Agência Globo. |
Num encontro partidário recente, a veterana raposa da política brasileira, José Sarney, aconselhou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não se candidatasse a uma nova eleição. Sarney integra aquele clã emedebista regional que alinha-se ao ao Planalto. Novas lideranças do partido, a exemplo do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, já advogam que o partido não acompanhe o projeto de reeleição do líder petista. Mas, dentro dessa agremiação política, as oligarquias regionais gozam de uma autonomia histórica e isso nunca foi suficiente para provocar uma ranhura incontornável. Do alto de sua sabedoria, antevendo um resultado talvez desfavorável, a velha raposa aconselhou a Lula que seria melhor deixar a vida pública sem uma derrota.
Pouquíssimas pessoas conseguem hoje manter alguma ascendência sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Do núcleo palaciano mais próximo dizem que ele só escuta a esposa, Rosângela da Silva, e o Ministro Chefe da Casa Civil, Rui Costa. Talvez José Dirceu, que aniversariou recentemente, comemorando o evento em grande estilo, numa restaurante de Brasília, com centenas de convivas importantes, ainda consiga a proeza de constituir-se como conselheiro do mandatário. Já sugerimos isso por aqui antes. Talvez seja mesmo o momento de Lula se recolher aos aposentos. Todas as aparições públicas o líder petista hoje são marcadas por momentos constrangedores, incidentes, hostilidade, derrapadas verbais, pelas farpas dos notórios adversários políticos, a exemplo do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, que, num encontro recente deu uma estocada no presidente, fazendo uma comparação dos seus secretariado - pequeno, mas eficiente - em contraposição aos número enorme de ministérios do Lula.
A última dessas infelicidades verbais foi em relação à referência a Ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, quando ele sugere que a escolheu por ela ser bonita, produzindo um frisson no eleitorado feminino. A fala tem sido classificada pela imprensa como misógina. Ela entrou naquela espiral onde tudo dá errado. A despeito dos indicadores positivos do PIB, pouco pode ser comemorado na medida em que o dragão da inflação volta a rondar perigosamente as gôndolas dos supermercados, projetando uma tendência de queda ladeira abaixo de sua avaliação.