pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: 40 anos da morte de Josué de Castro: Uma crônica para Jipe, o homem caranguejo.
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terça-feira, 24 de setembro de 2013

40 anos da morte de Josué de Castro: Uma crônica para Jipe, o homem caranguejo.






Já escrevemos muito sobre a comunidade quilombola de São Lourenço, que costumamos visitar, com os nossos alunos, com certa frequência. Chegamos até a produzir artigos científicos sobre o assunto, que foram publicados em periódicos nacionais. Sempre que falamos sobre o assunto, aguçamos a curiosidade de muita gente. As visitas são extremamente concorridas. Alunos de outras turmas e até os pais dos alunos querem nos acompanhar, além de participarem, ativamente, da campanha de donativos que realizamos na cidade onde fica a faculdade. Conheci José do Nascimento, o Jipe, numa reportagem da Revista Época. As repórteres da revista passaram uma semana na comunidade para realizarem uma grande matéria sobre a vida de José do Nascimento, o homem caranguejo. A matéria fazia alusão ao relançamento da obra do sociólogo Josué de Castro, ainda no primeiro Governo Lula. Produziram uma grande matéria, acompanhando o cotidiano daquelas famílias, relatando, com riqueza de detalhes, todas as agruras por eles enfrentada. Acompanhou o trabalho de Jipe, descendo aos manguezais, onde foram produzidos belíssimos  flagrantes fotográficos. Apaixonado pelo trabalho de Josué, enxergamos aí uma grande oportunidade de aula de campo quando estivéssemos discutindo a obra do sociólogo, que escolheu a fome como núcleo mais importante de suas pesquisas. Josué passou a estudar o assunto desde o início de sua vida acadêmica, tendo produzido excelentes pesquisas sobre o tema. Apesar de pessoalmente vaidoso, humildemente admitia que havia aprendido muito com os moradores dos mangues do Recife. Dizia, com convicção, que havia aprendido mais nos mangues do Recife do que nos compêndios e manuais da Sorbonne, onde chegou a dar aula. Seu Jipe e dona Sebastiana são pessoas bastante humildes, que sobrevivem através da captura do caranguejo uçá, hoje escasso na região, sobretudo depois da instalação de fazendas de criação de camarão em cativeiro, que destruiu um manancial incomensurável de manguezais, comprometendo a cadeia de sobrevivência da comunidade remanescente de quilombo. À ápoca, denunciamos o fato, mas a empresa já havia, como sempre, obtido todas as licenças dos órgãos que, em tese, deveriam coibir o desmatamento de uma bioma protegido constitucionalmente. Nas visitas que fizemos às mais importantes comunidades quilombolas de Alcântara, no Maranhão, sentimos o mesmo drama. Um líder quilombola nos relatou que a Aeronáutica, em função da construção da famosa plataforma de lançamento de foguetes, os afastou tanto de suas fontes de sobrevivência, que, não raro, quando eles conseguiam chegar às suas comunidades, depois do trabalho no mar, o pescado já está estragado. O coco de babaçu, outra fonte de sobrevivência da comunidade, para ser colhido,  apenas com autorização da base de Alcântara e em momentos específicos. Pelo que apuramos, a vida nas agrovilas tem sido insustentável. Sempre arrecadamos quantidade razoável de alimentos e levamos para a comunidade de São Lourenço. Somos muito bem recebidos. Os alunos(as), quase todos oriundos da classe média tradicional, ficam assustados ao saberem que os rebentos da comunidades são criados com “leite de caranguejo”, ou seja, com o caldo do cozimento do crustáceo, de onde se obtém, igualmente, um delicioso pirão. Muito interessante essas aulas de campo. Chegamos na Faculdade local logo cedinho e com a logística de Carminha e o apoio de Serginho, depois de conhecer a cidade, nos dirigimos para a comunidade de São Lourenço, onde conhecemos, em profundidade, a antropologia daquele ambiente: a comunidade quilombola, as rezadeiras, os cultos afro-indígena, a colônia de pescadores, as garrafadas de seu Manuel - que curam de um tudo -a deliciosa gastronomia local. No final, depois da caldeirada da Irene - já repararam que em todos os locais há sempre uma Irene que prepara a melhor caldeirada -, mergulhamos nas águas mornas da praia de Ponta de Pedras. Por um momento, as meninas estão todas "divorciadas', como costumo brincar. O único maridão do pedaço sou eu. Desliguem o celular, por favor! O mar está liberado para as meninas e o salva-vidas é nós!

Obs. Perdão pelas brincadeiras do último parágrafo.

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