O único político brasileiro da oposição (que se diz da oposição) que
aplaudiu José Serra, o Elias Maluco eleitoral, por ter anunciado que
agora é hora de destruir Lula, foi o senador Roberto Freire, presidente
do Partido Popular Socialista (PPS, a sigla que sobrou do assassinato do
saudoso Partido Comunista, melhor escola política brasileira do século
passado). Disse: "Serra presta um serviço à democracia".
Para Roberto Freire, "desconstruir", destruir, eliminar o principal
candidato da oposição e das esquerdas (com 42% nas pesquisas) é um
"serviço à democracia". Gama e Silva nunca teve coragem de dizer isso.
Armando Falcão também não. Nem mesmo Newton Cruz. Só o delegado Fleury.
Ninguém entendeu. Porque não conhecem a história de Roberto Freire.
Aprovado pelo SNI
Em 1970, no horror do AI-5, quando tantos de nós mal havíamos saído
da cadeia ou ainda lá estavam, muitos sendo torturados e assassinados, o
general Médici, o mais feroz dos ditadores de 64, nomeou procurador
(sic) do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) o
jovem advogado pernambucano Roberto João Pereira Freire, de 28 anos.
Não era um cargozinho qualquer, nem ele um qualquer. "Militante do
Partido Comunista desde o tempo de estudante, formado em Direito em 66
pela Universidade Federal de Pernambuco, participou da organização das
primeiras Ligas Camponesas na Zona da Mata" (segundo o "Dicionário
Histórico Biográfico Brasileiro", da Fundação Getulio Vargas-Cpdoc).
Será que os comandantes do IV Exército e os generais Golbery (governo
Castelo), Médici (governo Costa e Silva) e Fontoura (governo Médici),
que chefiaram o SNI de 64 a 74, eram tão debilóides a ponto de nomearem
procurador do Incra, o órgão nacional encarregado de impedir a reforma
agrária, exatamente um conhecido dirigente universitário comunista e
aliado do heróico Francisco Julião nas revolucionárias Ligas Camponesas?
Os mesmos que, em 64, na primeira hora, cassaram Celso Furtado por
haver criado a Sudene, cataram e prenderam Julião, e desfilaram pelas
ruas de Recife com o valente Gregório Bezerra puxado por uma corda no
pescoço, puseram, em 70, o jovem líder comunista para "fazer" a reforma
agrária.
Não estou insinuando nada, afirmando nada. Só perguntando. E, como
ensina o humor de meu amigo Agildo Ribeiro, perguntar não ofende.
Sempre governista
Em 72, sempre no PCB (e no Incra do SNI!) foi candidato a prefeito de
Olinda, pelo MDB. Perdeu. Em 74, deputado estadual (22.483 votos). Em
78, deputado federal, reeleito em 82. Em 85, candidato a prefeito de
Recife, pelo PCB, derrotado por Jarbas Vasconcellos (PSB). Em 86,
constituinte (pelo PCB, aliado ao PMDB e ao governo Sarney). Em 89,
candidato a presidente pelo PCB (1,06% dos votos).
Reeleito em 90, fechou o PCB em 92, abriu o PPS e foi líder, na
Câmara, de Itamar, com cujo apoio se elegeu senador em 94 e logo aderiu
ao governo de Fernando Henrique. Em 96, candidato a prefeito de Recife,
perdeu pela segunda vez (para Roberto Magalhães).
Agora, sem condições de voltar ao Senado, aliou-se ao PMDB e PFL de
Pernambuco, para tentar ser deputado. Uma política nanica, sempre
governista, fingindo oposição.
Agente de FHC
Em 98, para Fernando Henrique comprar a reeleição, havia uma condição
sine qua non: impedir que o PMDB lançasse Itamar candidato a
presidente. Sem o PMDB, a reeleição não seria aprovada. Mas o PMDB só
sairia para a candidatura própria se houvesse alianças. E surgiram
negociações para uma aliança PMDB-PPS, uma chapa Itamar-Ciro.
Fernando Henrique ficou apavorado. E Roberto Freire, agente de FHC, o
salvou, lançando Ciro a presidente. Isolado, o PMDB viu sua convenção
explodida pelo dinheiro do DNER, Itamar sem legenda e a reeleição
aprovada.
Durante quatro anos, Roberto Freire saracoteou nos palácios do
Planalto e da Alvorada, sempre fingindo independência, mas líder da
"bancada da madrugada" (de dia se diz oposição, de noite negocia no
escurinho do governo).
Quinta-coluna
No ano passado, na hora de articular as candidaturas a presidente, o
PT (sobretudo o talento e a competência política de José Dirceu) começou
a pensar numa aliança PT-PPS, para a chapa Lula-Ciro. Itamar disse que
apoiava. O PSB de Arraes também. Fernando Henrique, o PSDB e Serra se
apavoraram. Mas Roberto Freire estava lá para isso. Novamente lançou
Ciro, para impedir uma aliança das oposições com Ciro vice de Lula.
Fora dos cálculos de FHC e Roberto Freire, Ciro começou a crescer.
Mas, quando o PFL, sem Roseana, quis apoiar Ciro, dando espaços nos
estados e na TV, Roberto Freire, aliado em Pernambuco de Marco Maciel, o
líder da direita do PFL, vetou o PFL com Ciro. Como se chama isso? Uns,
"agente". Stalin chamava "quinta-coluna".
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