Toda vez que leio, ouço ou assisto alguém falando de “liberdade de expressão”, já dá vontade de mudar de canal, mudar de estação ou pular de matéria. A coisa piora quando esta frase vem de algum político da Direita, pois tenho a convicção de que não passa de um engodo ainda maior, pois o que ele faz, em regra, é exatamente o oposto. Entretanto pega bem falar de “liberdade de expressão” ou “liberdade de imprensa”, parece moderno e em linha com a realidade. A mídia é a porta-voz maior desta bobagem, ou seria sua autoproteção para mentir, enxovalhar os outros sem que sofra qualquer sanção legal?
Este fim de semana, mais uma vez testemunhamos a demagogia da tal “liberdade”, desta vez, mais um político, Aécio Neves, o candidato tucano ao planalto, atacou-a de forma covarde. É preciso lembrar que este é mesmo político que vive falando de “liberdade de expressão” e vive a acusar o PT de querer tolher a liberdade de imprensa, amordaçá-la, mesmo que jamais isto tenha ocorrido nos seus quase 12 anos de governo central, ao contrário, em nenhum momento Lula ou Dilma, mesmo com razão de fazê-lo, não partiram para processar ou pressionar qualquer jornalista ou órgão de imprensa, ainda que constantemente caluniados por eles e por seus colunistas, inclusive publicando livros com títulos jocosos e ofensivos, para faturar algum vintém.
Num ataque sem tamanho à liberdade de expressão, Aécio Neves, o “defensor” da “Liberdade de Imprensa”, com a conivência da tal “imprensa livre, entrou com ação na justiça em face do Twitter (uma das principais Redes Sociais do mundo) para que este fizesse notificar 66 tuiteiros e/ou blogueiros, alegando que eles se associaram ou são pagos para o atacar. Com um detalhe sórdido, pediu “segredo de justiça”, para esconder do grande público o seu espírito “republicano”. Percebemos que são os mesmos que gritam que o PT é autoritário, sem nenhuma prova, que abusam do poder , intimidando as pessoas nas redes sociais, por se acharem imunes às críticas. É a incapacidade dos tucanos de conviverem com as diferenças, sem agredir ou ameaçar.
São 66 nomes (@ = arroubas), todos notificados para informarem seus dados, IP ( Internet Protocol) sobre seus acessos, o juiz acatou a ação e oficiou o Twitter, mas não aceitou o tal “Segredo de Justiça”, pois segundo a própria inicial, eles já estavam de posse do conteúdo das postagens de cada um. A questão é gravíssima, fere completamente a noção de democracia e liberdade, estamos diante de uma ameaça clara, de uma intimidação seletiva, além, em muitos casos tratar-se ação caluniosa, que não se pode ficar calado, mesmo que sejamos ameaçados por ele e pelo poder econômico que o sustenta.
Pela lista tem-se a impressão de que foi algo cirúrgico, de uma ameaça ampla, pois junta desde militantes das redes sociais sem vinculações orgânicas com o PT, até blogueiros com relativo peso neste novo contexto da mídia, como o DCM (Diário do Centro do Mundo) um dos blogs mais acessados do Brasil que é dirigido por Paulo Nogueira, jornalista que já esteve nas principais redações do Brasil, como Veja e Época. O Blog do Miro, um dos mentores e líderes do grupo de mídia alternativo, o BlogProg, não mero coincidência, estes blogueiros foram chamados de “blogs sujos” pelo ex-candidato do PSDB à Presidência, em 2010, José Serra.
Só que agora se avançou o sinal, o processo, ainda que seja inicial, por enquanto uma notificação, o que se tem em mente é duas coisas bem claras: A primeira, que o PSDB e a Direita não tolera críticas, como na mídia há um arranjo de segurar ataques mais pesados, não se conseguirá o mesmo nas redes sociais. A segunda, é que a cada dia ganha mais importância a mídia alternativa, mesmo que incipiente, com militância dispersa, já provoca o temor, não apenas dos candidatos, mas também da grande mídia, que publica laudas e laudas sobre Liberdade de Expressão, mas não dá uma nota sobre este ataque frontal à mesma.
Por fim, uma questão me vem à cabeça: onde estão os indignados seletivos que vivem escandalizados com o PT ou qualquer coisa relacionada ao governo federal, mas agora só vejo o silêncio conivente com este ataque covarde e brutal.
(Publicado originalmente no site de Arnóbio Rocha)
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