publicado em 6 de setembro de 2014 às 10:21
Delação em véspera de eleição tem mau cheiro. Parece desespero.
por Fernando Brito, no Tijolaço
Segundo o que já foi divulgado pela revista Veja – porque será que 11 entre 10 policiais federais e promotores preferem a Veja para vazar informações sigilosas? – a lista de nomes apresentada pelo ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, atingiria meio mundo, ou pouco mais, da política.
Do falecido Eduardo Campos a deputados de partidos do governo e de outros, integrantes de coligações anti-Dilma, passando pelos presidentes da Câmara e do Senado, a lista de Costa tem um imenso potencial explosivo.
Por isso mesmo, deve ser encarada com muita cautela.
A começar pelo fato de que é algo que parte de um homem em situação de desespero, apanhado em um monte de negócios irregulares aqui e lá fora, que estava ameaçado de 30 anos de prisão e ao qual se acena com uma, na prática, absolvição.
É o que narra o Estadão:
“Calcula-se que Costa poderia pegar pena superior a 50 anos de cadeia se respondesse a todos os processos derivados da Lava Jato – já é réu em duas ações penais, uma sobre lavagem de dinheiro desviado da Petrobras, outra sobre ocultação e destruição de documentos e é investigado em vários outros inquéritos.
Angustiado com a possibilidade de não sair tão cedo da prisão, ele decidiu delatar como operava a rede de malfeitos na Petrobras. O acordo prevê que, em troca de suas revelações, Costa deverá sofrer uma pena tão reduzida, que se aproxima do perdão judicial”.
Agora, antes que esse acordo fosse homologado no Supremo, vaza o sigilo e, claro, mesmo que haja pouca consistência nas suas declarações, cria-se um clima político para que elas sejam aceitas como verdade absoluta.Isso a um mês das eleições.
Uns dizem que a lista de Costa contém 39 nomes, outros dizem 42 e a “nominata” da Veja elenca, segundo divulgado no blog de Ricardo Noblat elenca 12.
Seja qual for o tamanho e sejam quais forem os integrantes, não basta a delação de um homem acuado, é preciso que haja elementos e fatos para sustentá-la.
Que empresas financiam campanhas eleitorais, todos sabem e, infelizmente, é essa a regra num modelo político de financiamento privado de eleições. Só no financiamento exclusivamente público, proposto por este governo e repelido, de forma quase unânime, pelos políticos e pela mídia, candidatos não dependem de empresários.
O que se tem de verificar, portanto, são quais destes favores empresariais foram clandestinos e, pior, quais deles foram destinados a enriquecer pessoalmente seus beneficiários.
Tudo isso cheira mal e já vinha cheirando, desde que Luís Nassif nos chamou a atenção sobre um “abraço de afogado” de Aécio Neves.
E não é apenas o cheiro dos negócios sujos de Costa, aliás afastado do cargo, contra a vontade dos políticos, pela mulher a quem se procura atingir: Dilma Rousseff.
Verdade, no Brasil, é algo que quando aparece, é só pela metade.
PS do Viomundo: A lista publicada por Veja e reproduzida pelo blog de Ricardo Noblat é esta:
Edison Lobão, ministro das Minas e Energia, PMDB
João Vaccari Neto, secretário nacional de finanças do PT
Henrique Eduardo Alves, presidente da Câmara dos Deputados, PMDB
Renan Calheiros, presidente do Senado, PMDB
Ciro Nogueira, senador e presidente nacional do PP
Romero Jucá, senador do PMDB
Cândido Vaccarezza, deputado federal do PT
João Pizzolatti, deputado federal do PT
Mario Negromonte, ex-ministro das Cidades, PP
Sergio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro, PMDB
Roseana Sarney, governadora do Maranhão, PMDB
Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco, PSB – morto no mês passado em um acidente aéreo
João Pizzolati, diferentemente do que aparece na lista, é do PP de Santa Catarina.
(Publicado originalmente no site Viomundo)
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