Não é incomum que os partidos de esquerda também experimentem processos
de oligarquização. O PT, embora tenha construído uma
sólida engenharia de tomadas de decisões coletivas, traduzidas em suas diversas
instâncias partidárias deliberativas, desde o momento de sua fundação, também passa por essa experiência. Apesar do azeite orgânico partidário, no entanto, algumas decisões
foram impostas goela a dentro da militância, bem ao estilo dos partidos
tradicionais, cujas decisões são tomadas pela cúpula partidária, sem qualquer
consulta às bases. De acordo com o sociólogo alemão Robert Michels, este é um mal ao qual padece todas as organizações democráticas, notadamente as organizações partidárias e sindicais, independentemente de suas
origens. Em 1911, num livro sobre partidos políticos, Michels cunhou tal expressão a Lei de Ferro da Oligarquia, para
identificar o fenômeno onde uma elite dirigente acaba assumindo as rédeas da organização. Trata-se de um fenômeno inevitável, consoante o autor.
Remeto-me a esta "Lei de Ferro" em razão das disputas internas do PSOL, que
culminaram com a decisão de lançar o nome do presidente do Movimento dos
Trabalhadores Sem Teto(MTST), Guilherme Boulos, como pré-candidato à Presidência da República,
que deixou algumas sequelas na agremiação, que apontam para o questionamento sobre
sua militância no grêmio partidária, assim como os mecanismos de sua escolha como candidato,
que não teriam trilhado os caminhos estatutários. Aqui em Pernambuco, em
relação ao PSOL, os problemas não são menores. As suas lideranças vivem às
turras, travando verdadeiras batalhas internas, com saldo de mortos e feridos. Em
resumo, a escolha de Boulos como candidato do partido à Presidência da
República pelo PSOL, não foi assim nenhuma unanimidade. O mais descontente com a condução do processo é Plininho, filho de Plínio Sampaio, que disputou a Presidência da República pelo partido no passado.
Algumas lideranças do PSOL não nutrem a menor simpatia pelo
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT). Além do líder petista ter declarado apoio ao nome do
companheiro, Boulos já está sendo apresentando como um possível “novo” Lula.
Talvez um Lula “daqueles tempos”, mas um Lula, o que não agrade nenhum pouco a
essas lideranças, principalmente aqueles proponentes de mudanças mais
substantivas na sociedade brasileira. O PSOL é um partido relativamente novo e
ainda não “engolido” pela bacia semântica à qual se referia o antropólogo Gilbert
Durand. Para o PSOL entrar no "sistema" é apenas uma questão de tempo, apesar do protestos do Plínio e outros companheiros.
A plataforma de Boulos, a princípio, parece bastante identificada com o
programa do partido. É uma plataforma autenticamente de esquerda, com proposta
de reforma agrária, tributária e urbana, convocação de um plebiscito para
revogar algumas medidas adotadas pelo Governo Michel Temer - notadamente a
agenda regressiva de direitos. Precisamos ter acesso a esse esboço de programa
de governo para conferir as suas posições no tocante à educação e a
democratização da mídia, um gargalo que o PT não mexeu e, em razão disso, pagaria um preço
bastante alto logo em seguida, como se sabe. Setores da mídia cumpriram um
papel fundamental nas tecituras que envolveram a materialização do golpe
institucionald e 2016.
Quem nos acompanha por aqui sabe que nutrimos simpatia pela candidatura
de Boulos. Já escrevemos sobre o assunto antes. É bom que seja ampliada essa
capilaridade no campo de esquerda, sobretudo se considerarmos as “limitações”
programática e aliancista de uma candidatura como a do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, hoje praticamente um carta fora do baralho golpista. Se
tivermos eleições, ela não contará com Lula, com base no andar da carruagem política. Isso se
tivermos eleições, uma vez que estamos presenciando, no momento, um recrudescimento do golpe
institucional de 2016, que já conta com uma espécie de protagonismo militar.
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