Ato no Parlamento Europeu, em Bruxelas, em protesto contra a morte de Marielle Franco.
Ainda consternado com a morte da vereadora Marielle Franco, assassinada
no dia de ontem, 14, emboscada numa rua do Rio de Janeiro, juntamente com o seu
motorista, Anderson Pedro. Uma assessora que a acompanhava conseguiu sobreviver. A morte da
vereadora Marielle Franco traz alguns emblemas importantes para entendermos o
que se passa neste país, notadamente no pós-golpe institucional de 2016, onde a
face do protagonismo militar já tornou-se visível, depois da intervenção no Estado do Rio de Janeiro. Já colocamos na agenda de
leituras o livro de Stephen Graham, Cidades Sitiadas, editado pela Boi Tempo. O
livro foi recomendado por um amigo, com o propósito de entendermos melhor como o
lastro autoritário pode se ampliar no país, vitimando seus potenciais “inimigos”,
que hoje vão muito além das vitimas de balas perdidas ou de supostos “soldados” do
tráfico de entorpecentes.
A vereadora Mairelle Franco era uma autêntica ativista política.
Envolvida com a causa LGBT; atuava contra os excessos cometidos por policiais
nas favelas cariocas, uma atuação que não se limitava apenas às favelas do
Complexo da Maré, onde nasceu; seria a relatora de uma comissão criada para
avaliar a intervenção federal no Rio de Janeiro. Sua dissertação de mestrado
foi sobre o impacto da implantação de uma UPP, numa favela carioca, com o
sugestivo título: UPP: a favela resumida a três letras. Marielle voltava de
uma reunião com outras mulheres, em torno das ocorrências registradas recentemente sobre a atuação
da polícia militar na favela de Acari, onde a população denunciou várias
violações, inclusive com o saldo de 02 mortos. Não tenho a menor dúvida de que
Marielle já estava no retrovisor dos obscurantistas, restando identificar agora
sua linhagem.
Quem melhor traduziu o significado da morte de Marielle Franco foi o seu
colega, o Deputado Estadual, Marcelo Freixo, também do PSOL, que compareceu ao
local do assassinato e cobrou das autoridades públicas que o crime fosse devidamente apurado, com a
identificação dos criminosos. O assassinato de Marielle Franco alcançou
repercussão internacional, mobilizando entidades de direitos humanos e o Parlamento Europeu em sua
defesa. Como disse Freixo, a morte de Marielle é uma perda irreparável para os
avanços e conquistas dos direitos das mulheres, das mulheres negras, das
mulheres negras das favelas, das mulheres negras LGBT das favelas ou não. Engajada na
luta pelos direitos humanos, sua morte representa mais um retrocesso para a
democracia brasileira, que já acumula alguns sobressaltos.
Como disse antes, sua morte ocorre num momento muito difícil para o
país. Há algumas leituras possíveis sobre a intervenção federal no Rio de
Janeiro, comandada por um general do Exército, Braga Netto. Uma delas dizia
respeito à manobra de governantes desgastados com o propósito de recuperar
popularidade, ancorado no enfrentamento do crime organizado. Essa leitura hoje
é cada vez mais diluída, se entendermos que, na realidade, como afirmamos em
editorial anterior, o tal governante busca apenas o escudo dos militares. Quando muito. Uma outra leitura possível é a que
aponta para o avanço do autoritarismo no país, subvertendo, cada vez mais, o Estado Democrático de Direito. Um outro emblema da morte dessa jovem é sobre a denúncia de possíveis excessos das forças policiais, movidas por uma interpretação equivocada de uma "licenciosidade" ou "permissibilidade" provocada pela intervenção. Na Vila Kennedy já ocorreu algo neste sentido - com os fiscais da Prefeitura do Rio derrubando os quiosques de comerciantes do local - e, em Acari, o fato pode ter se repetido, o que se constitui mais um equívoco da intervenção.
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