Nos últimos dias, o país conheceu alguns apagões. Um de natureza técnica -
segundo o ministro das Minas e Energias, Fernando Filho, provocado por falha de
um disjuntor - atingiu 13 Estados da federação, notadamente nas regiões Norte e
Nordeste. Em sessão no STF, uma troca de entreveros entre os ministros Gilmar
Mendes e Luís Roberto Barroso ganhou manchete nas primeiras páginas dos jornais impressos,
além de alguns preciosos minutos nos principais noticiosos televisivos.
Considerando-se os ritos daquela Corte, pode-se concluir por um comportamento
talvez não muito condizente com o seu perfil. Um apagão de equilíbrio e bom senso, por assim dizer.
Outras leituras são possíveis, até mesmo aquela que nos afasta das trevas e nos
aproxima da luz, informando que um dos interlocutores precisava, de fato, ouvir algumas
verdades. Na sessão do dia 23, entrou na pauta a apreciação de um habeas corpus
preventivo requerido pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A votação ficou adiada para o dia 04 de abril, concedendo-se uma liminar que impede a prisão do ex-presidente antes do julgamento do habeas corpus.
Em meio a esses apagões, no entanto, ficamos atentos a uma fala do
comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas. Como se sabe, não foram
poucos os setores da caserna que discordaram da intervenção federal no Estado
do Rio de Janeiro. Motivos não faltam para isso. A discussão, no momento, é o
custo dessa intervenção, hoje calculada pelos interventores em R$ 3,1 bilhões.
A quantia, além de alta, tem causado urticárias, uma verdadeira dor de cabeça entre os
homens do planejamento, dando a entender que é preciso fazer uma verdadeira ginástica
para se conseguir tal verba. De concreto, depreende-se que a intervenção foi
uma decisão política, sem alguns respaldos, entre os quais uma abordagem sobre
o seu financiamento. Embora seja cedo para se concluir algo acerca dos seus
resultados concretos no sentido de arrefecer a onda de violência naquele
Estado, uma premissa, a princípio nada alvissareira, é que algumas modalidades de
delitos até aumentaram, além de não se verificar queda na taxa de crimes
violentos letais intencionais contra a vida, cujo cadáver de Marielle Franco é
uma das referências mais emblemáticas.
A princípio, a Vila Kennedy seria o espaço escolhido para servir de modelo
sobre o que a intervenção pretende realizar no Estado, de acordo com seus
coordenadores. No dia de ontem, resolveram retirar a presença ostensiva dos
militares daquela área, assim como continuar o processo de desmonte das UPPs,
com a extinção de duas delas. Todos esses “desencontros” talvez explique o
pronunciamento do general Eduardo Villas Bôas, Comandante do Exército, que
demonstrou sua preocupação sobre as expectativas e os resultados concretos da
intervenção. Ressalte-se aqui a franqueza do general sobre um assunto
nevrálgico. Em certo momento de sua fala ele observa que a violência é a
consequência de demandas não atendidas da população, uma ponderação das mais
sensíveis, uma vez que a violência sistêmica cometida pelo aparelho de Estado, que
não supre aquela população das suas condições básicas de exercício de cidadania, de fato, seria o ponto "X" da questão, para muito além de novos efetivos, investimentos em equipamentos, inteligência e coisas do gênero. Aqui enfrentamos uma agenda regressiva, sem nenhum compromisso com a garantia dos direitos individuais e coletivos, essencialmente excludente.
Em certo sentido, os interventores seguem uma política de desmonte das UPPs, que o Governo do Estado já vinha adotando. O que deve ser combatido nas favelas cariocas, na realidade, é uma espécie de racismo estrutural, que passa ao largo das reflexões, exceto por atores da academia. Recomendaria a leitura da dissertação de mestrado da ativista Marielle Franco, onde é possível observar porque as UPPs acabaram fracassando. O que o país precisa é enfrentar o problema das desigualdades sociais e econômicas, da infame distribuição de renda e de uma exclusão secular de determinados segmentos sociais. Essa questão não será enfrentada com mais fuzis ou construção de novos presídios. A fala do general Eduardo Villas Bôas sugere que ele entende a dimensão do problema, ao observar que essas demandas reprimidas elevam as estatísticas de violência.
Em certo sentido, os interventores seguem uma política de desmonte das UPPs, que o Governo do Estado já vinha adotando. O que deve ser combatido nas favelas cariocas, na realidade, é uma espécie de racismo estrutural, que passa ao largo das reflexões, exceto por atores da academia. Recomendaria a leitura da dissertação de mestrado da ativista Marielle Franco, onde é possível observar porque as UPPs acabaram fracassando. O que o país precisa é enfrentar o problema das desigualdades sociais e econômicas, da infame distribuição de renda e de uma exclusão secular de determinados segmentos sociais. Essa questão não será enfrentada com mais fuzis ou construção de novos presídios. A fala do general Eduardo Villas Bôas sugere que ele entende a dimensão do problema, ao observar que essas demandas reprimidas elevam as estatísticas de violência.
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