pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Crônica: Macunaíma
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quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Crônica: Macunaíma




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José Luiz Gomes


Geralmente, Pierre Bourdieu, os “campos” são bastante unidos quando estão em jogo os seus interesses corporativos. Aqui, o discurso é surpreendentemente sincronizado, lançando suas baterias contra aqueles que não estão legitimados para entrarem no “clubinho”. Naturalmente, como o ser humano é bastante vaidoso, existem as disputas internas, notadamente em busca do olimpo, entre os membros de cada "campo" específico, uma disputa que dá não necessariamente orientada por princípios éticos. Chegam ao olimpo aqueles atores que atingem o ápice em cada campo específico, como Marilena Chauí, no campo filosofico, Machado de Assis, no campo literário e Jânio de Freitas, no campo jornalistico. Outro dia um amigo queixava-se que Marilena Chauí atingiu esse estágio sem sequer falar inglês. Imagina? 

Já estamos numa fase final de leitura das crônicas do escritor alagoano, Graciliano Ramos, numa época em que o grande escritor alagoano ainda escrevia para os jornais do Estado. Como se diz lá para aquelas bandas das terras de quilombos onde o autor de Vidas Secas nasceu, agora é que a chapa começa a esquentar. Ontem o alagoano não se conteve e resgou o verbo numa avaliação do romance de estreia de Dinah Silveira de Queiroz, Floradas na Serra apontando que a menina abusava das preposições. Num único parágrafo, usou-as seis vezes. Graciliano não perdoou a falta de criatividade da aspirante ao campo literário. Salvou-a pela construção dos diálogos, que a colocava ao mesmo nível de um Jorge Amado, de uma Raquel de Queiroz e do amigo José Lins do Rego. 

Não se sabe muito bem se guiado por alguma motivação específica, o fato é que, de volta ao Brasil, o escritor de Macunaíma, Mário de Andrade, resolveu elaborar uma lista separando o joio do trigo entre os escritores brasileiros. De uma lado, os bons, os verdadeiros homens do ofício das letras. De outro, os charlatões, de munheca pesada e cérebros turvos, que não escreviam lá grandes coisas. Para ser mais preciso, não sabiam escrever. Em resposta, o cronista sergipano Joel Silveira produziu um longo artigo, rebatendo Mário de Andrade. Polêmicas à parte, não vamos aqui entrar no mérito das assertivas de Mário de Andrade, até mesmo por uma questão de bom senso, além de não reunirmos condições de avaliar a contenda.  
 
Mas, por outro lado, não posso deixar de registrar aqui as observações de Graciliano Ramos sobre essa discussão, carregando pesado na ironia: “Podemos supor que Joel Silveira valha mais de um tostão? Não podemos, razoavelmente, porque ele chegou perto de nós e gritou: Eu sou um tostão. Entretanto, Joel Silveira inventa uns negócios que sujeitos entendidos elogiam. Ora, se Joel, tão arrastado, tão amarelo, tão barato, faz contos e crônicas interessantes, por que não faremos nós coisa igual? Mexamo-nos, fundemos sociedades e pinguemos em revistas cinco vinténs de literatura. Um desastre. É necessário por fim a essa confusão, que nos pode render muito prejuízo. Já existe por aí uma quantidade enorme de livros ruins. E o senhor Joel Silveira não é tostão. Nunca foi. Escreveu um excelente artigo para demonstrar que não saber escrever”.

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