Entender
a concepção, organização e dinâmica das chamadas vilas operárias e núcleos
fabris - este último para identificar os
assentamentos de operários mais afastados dos perímetros urbanos - sempre
esteve entre as nossas preocupações. Desenvolvo vários projetos sobre o assunto,
alguns deles já devidamente concluídos, aguardando a oportunidade de uma maior
divulgação. Como as relações entre patrões e operários, nas fábricas, envolvem
ralação de controle e disciplina, não é incomum encontrarmos o filósofo Michel
Foucault em todos os estudos sobre o assunto. Ele aparece no trabalho de Telma
de Barros Correia, Pedra, Plano e Cotidiano Operário no Sertão, assim como no
trabalho de José Sérgio Lopes Leite, que estudou a vila operária mantida pela
Companhia de Tecidos, localizada no município de Paulista, na região
metropolitana do Recife.
Na
realidade, como observa Telma de Barros Correia, as vilas operárias não são um
fenômeno tipicamente brasileira ou latino americano. Elas também foram comuns
nos Estados Unidos e no continente europeu. Há, igualmente, uma tendência de
associá-las à indústria têxtil, o que se traduz, igualmente, num equívoco.
Outras atividades produtivas também ergueram suas vilas operárias, como
ferrovias e usinas, por exemplo, além de outros ramos industriais. Em todos os
casos, sempre na mesma perspectiva de controle e disciplinamento da vida e das
atitudes dos operários. Isso se tornava perceptível até mesmo na distribuição
geográfica e na arquitetura das construções, que permitiam a vigilância
constante do capitão da indústria ou dos seus vassalos. Em Paulista, por
exemplo, existiam milícias armadas, não institucionalizadas, para manter a “ordem social”.
O
inglês Robert Owen promoveu uma discreta ação de eliminação das circunstâncias
que julgava corruptoras em New Lanark - afastando do local, por exemplo, pubs e
mercearias - ao passo que Delmiro Gouveia adotou a prática de inspecionar as ruas de
Pedra diariamente, distribuindo recriminações e multas àqueles que considerava
estarem agindo irregularmente. No controle do desempenho operário no trabalho,
Owen criou o monitor silencioso - um pedaço de madeira mantido junto ao
trabalhador, pintado com cores diferentes conforme seu desempenho no dia
anterior -, já Delmiro, ao flagrar operários cometendo faltas, repreendia-os
energicamente, chegando a espancá-los e prendê-los ao “tronco” - árvores
situadas em frente à fábrica - por longas horas, ainda de acordo com Telma de Barros. Portanto, instrumentos
diferentes serviam a objetivos semelhantes.
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