pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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sábado, 1 de setembro de 2012

Artigo: Cinquenta tons de amarelo. A iminente derrota do PT em sua principal vitrine regional.


O XADREZ POLÍTICO DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2012 NO RECIFE. Cinquenta tons de amarelo. A iminente derrota do Partido dos Trabalhadores em sua principal vitrine regional.

 

José Luiz Gomes escreve:

                                   Pelo menos dois episódios são emblemáticos para entendermos os desacertos da candidatura do Partido dos Trabalhadores no Recife. No dia de ontem, através de uma entrevista concedida ao Jornal do Commércio, o atual prefeito João da Costa (PT), que se sentiu provocado, quebrou o silêncio, defendeu sua gestão dos ataques do “fogo amigo” e teceu alguns comentários sobre a personalidade de João Paulo, insinuando que ele não atua bem como ator coadjuvante. Se eleito como vice de Humberto, logo estaria querendo mandar na gestão, criando arestas com o companheiro. Coxias e camarins não fazem bem a João, que gosta de atuar na boca do palco, numa fala que reabre as feridas dos reais motivos do rompimento entre ambos.

                                   O sociólogo Gilberto Freyre, costumeiramente, utilizava uma expressão conhecida, o tempo tríbio. As observações de João da Costa confirmam a tese da ressaca da gestão petista, que esteve à frente do Palácio Antonio Farias nos últimos 12 anos. Mais do nunca vale a observação de Eliot, ou seja, o tempo presente e o tempo passado estão ambos, talvez, no tempo futuro. Um futuro que, salvo algum fato novo ou mal gerenciado, se prenuncia pouco alvissareiro para o PT.

                                   Cansado dessas refregas, o eleitorado passa um recado claro ao partido, ou seja, o de que não pretende acompanhar, como meros expectadores, as brigas constantes de integrantes da legenda e suas inevitáveis conseqüências para a condução da máquina pública, com prejuízo direto do contribuinte, que paga seus impostos e quer soluções concretas para os graves problemas que a cidade do Recife enfrenta.  

                                   As derrotas infringidas pelo grupo de Humberto Costa na Casa de José Mariano ao prefeito João da Costa – em plena mobilização das prévias – dão bem a dimensão da ausência de uma postura republicana ou de um compromisso de espírito público da legenda. Como observa João da Costa, uma possível vitória de Humberto Costa levaria, inevitavelmente, às arengas entre ambos, Humberto e João Paulo, tão logo se encerrassem as eleições. João da Costa antecipou o final da novela petista no Recife. Com ela, aliado a outros fatores que discutiremos mais adiante, o PT encerra seu ciclo na gestão da capital pernambucana, seguramente, a mais reluzente vitrine do partido na região, uma praça onde a legenda tentava, a todo custo, evitar uma derrota.

                                   Hoje, no nosso entendimento, nem a vinda de Lula, prometida para setembro, teria condições de reverter esse quadro. Lula encontrará o PT recifense sangrando em praça pública, amargando o risco iminente de uma derrota – no ritmo de crescimento do candidato Geraldo Julio – ainda no primeiro turno, numa estratégia traçada pelos palacianos. O núcleo duro de campanha do senador Humberto Costa resolveu ignorar as declarações de João da Costa, mas fizeram questão de informar que ele poderia estar fazendo o jogo do candidato Geraldo Julio, num script previamente ensaiado pelo PSB. Ignorando ou não, o fato é que as declarações do prefeito tocam no ponto nevrálgico do PT, atingindo-o em cheio, num momento em que tudo parece dar errado, antecipando cenários preocupantes.

                                   Até recentemente, Geraldo Julio engatinhava nas pesquisas. Logo conseguiria reverter essa situação, aparecendo muito bem nas últimas sondagens de intenção de voto, fato confirmado por mais de um instituto. Já se encontra tecnicamente empatado com Humberto Costa, com 29% pelo último IBOPE, sempre em curva ascendente. Há, inclusive, a expectativa de que um desses institutos já sinalize para a  superação do candidato petista pelo socialista, o que apenas confirmariam uma tendência que vem se verificando desde que o candidato foi lançado pelo PSB, provocando um frisson entre Eduardo Campos e Lula.

                                   Outro fator desconcertante na campanha do senador Humberto Costa é a sua estratégia de campanha que, parece-nos, está batendo cabeça. Enquanto aparece um Lula, no guia, tentando desconstruir essa idéia de “choque de gestão”, do técnico competente, mas que, segundo ele, não tem coração, as inserções do partido tentam passar a imagem de que o senador Humberto Costa também é um homem público competente. Afinal, foi convidado por Lula para assumir o Ministério da Saúde e pelo próprio Eduardo Campos para assumir a Secretaria das Cidades. O eleitor não é bobo e sabe que o que pesou para esses convites não foi a competência técnica de Humberto, mas os arranjos políticos inerentes em cada um desses momentos.

                                   No caso da composição da equipe de Eduardo, salvo essas excepcionalidades dos arranjos políticos inevitáveis, a competência técnica, a meritocracia também pesaram na escolha de seus auxiliares. Eduardo montou uma equipe – tocada por Geraldo Julio – geradora de políticas públicas importantes na área de saúde, educação, segurança pública. O Estado de Pernambuco tornou-se uma das máquinas públicas mais bem administradas do país, elevando Eduardo à condição de um dos principais concorrentes ao Planalto, criando uma área de atrito com o PT.

                                   Aliás, num confronto direto entre os dois candidatos sobre competências técnicas, Geraldo Julio leva vantagem. Se não quisermos entrar nessas minúcias, numa sociedade do espetáculo, políticas públicas como o “Pacto pela Vida”, com direito à premiação da ONU, acompanhado de uma bem-sucedida estratégia de marketing, superaram, de longe, os feitos de Humberto em sua passagem pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria das Cidades.

                                   São inúmeros os fatores que determinam a vitória ou a derrota desse ou daquele candidato numa eleição. No pleito para a Prefeitura da Cidade do Recife, a candidatura do senador Humberto Costa, pelo PT, enfrenta uma série de percalços que podem ser determinantes no resultado dessas eleições, culminando com a derrota do partido numa das praças mais importantes para a agremiação.

                                   A sangria do PT no Recife é um processo lento e doloroso. Vai às urnas numa “união” arranjada, com o atual gestor “amuado” e um candidato imposto pela Executiva Nacional, travado entre militantes e rejeitado por parcelas do eleitorado. Trocando os pés pelas mãos, para lembrarmos uma observação do ex-ministro da Justiça e ex-presidente da Fundação Joaquim Nabuco, Fernando Lyra, que afirmou que o ex-prefeito, João Paulo, deveria estar na cabeça de chapa.

 

                                   Evidente que o PT possui o legado dos 12 anos de mandato na gestão da cidade, com uma experiência, inclusive, de muita sensibilidade junto aos setores historicamente fragilizados da sociedade recifense. Hoje, esse apelo emocional, no entanto, muito utilizado por Lula ao falar no “coração” de Humberto Costa, já não consegue mobilizar o eleitorado como antes. Pesa contra o partido a “saturação” natural de tantos anos no poder, não apresentando soluções para alguns “gargalos” da cidade. A educação municipal, por exemplo, no último IDEB, foi cabalmente reprovada, sem chances de ir para a final.

                                   Geraldo Julio não é necessariamente, um técnico sem coração, como parece querer insinuar Lula. Erra os marqueteiros de Humberto, igualmente, ao querer estabelecer um confronto de gestão entre ambos, caindo numa armadilha criada pelo marqueteiro do PSB, Raimundo Luedy, que já trabalhou para os petistas. Geraldo Júlio foi uma espécie de regente de uma orquestra de uma gestão pública, conforme já afirmamos, das mais bem-sucedidas do Brasil, responsável por inovações importantes na condução da máquina o que, habilita, inclusive, o pleito presidencial do governador Eduardo Campos.

                                   Tentar “desconstruir” isso, igualmente, num momento, em que se observa um eleitorado pragmaticamente orientado pelas decisões que deverão ser tomadas no tocante à gestão dos problemas da cidade, do seu dia-a-dia, da sua mobilidade, é também um grave equívoco. Jogar nos dois campos, como vem se fazendo, é um equívoco ainda maior.

                                   O técnico e o modelo de gestão estão consolidados na cabeça do eleitor como algo positivo no candidato Geraldo Julio. Se você faz uma gestão ruim da cidade, sofrem todos, os mais abastados e os menos favorecidos. O modelo de gestão popular do PT – sobretudo uma herança do ex-prefeito João Paulo – também sofreu um profundo desgaste nos últimos anos, levando a muitos questionamentos, sobretudo se consideramos que, em tese, João da Costa deu prosseguimento a tal modelo de gestão, como ele afirma, embora os partidários do ex-prefeito João Paulo advoguem exatamente o contrário.

                                   Ademais, se são os partidários de João da Costa ou se são os partidários de João Paulo que tem razão, o fato é que o modelo de gestão popular – traduzido, em parte, pelo controle do orçamento público através do orçamento participativo – em razão do percentual ínfimo de recursos que são submetidos às decisões públicas e a efetiva concretização de obras que são decididas pela população, também passaram a ser bastante criticados. Faltou criatividade ou inovação na gestão pública petista.

                                   O que, na realidade, determina o voto do eleitor neste ou naquele candidato. Essa pergunta nunca foi devidamente respondida, dada sua complexidade. Há uma série de variáveis de natureza sócio-econômicas, identificação partidária, fatores religiosos, motivações afetivas, valores, que dificultam a identificação da determinação do voto. O cientista político polonês Adam Przeworski, em certo momento de suas reflexões sobre o assunto, apresenta um fato curioso de um eleitor no seguinte dilema: ele é evangélico, servidor público prestes a se aposentar e pretende tornar-se um empreendedor, vivendo numa cidade abandonada pelo poder público. Qual dessas identidades teria um peso maior na hora dele depositar seu voto na urna?

                                   A campanha do candidato Geraldo Julio parece-nos estar sendo conduzida com o objetivo de manter sob controle todos os mecanismos indutores do voto, ou seja, há um apelo ao emocional e, ao mesmo, tempo uma postura pragmática no sentido de apresentá-lo como o homem que possui capacidade para resolver os problemas da cidade. Nem os pentecostais e neopentecostais foram esquecidos, uma vez que essas igrejas são mais competentes na busca de votos do que propriamente as máquinas partidárias.

                                   No quesito emocional, são elencadas as relações familiares e afetivas do candidato, apresentado-o, como nos comerciais de margarina, tomando café da manhã com a família, arrumando a pasta para ir ao trabalho, entremeado pelos comentários da esposa de que se trata de um bom moço, bom pai, bom marido. Um exemplo disso é a aparição em publico, como ocorreu num encontro no Marco Zero, com toda a família, inclusive um bebê.

                                   No aspecto trabalho, melhor impossível. Geraldo é aquele que pega cedo no batente, que ingressou no serviço público através dos dispositivos republicanos do concurso público, que tem hora para começar, mas apenas finaliza seus compromissos com os trabalhos realizados. Aquele que, no início da campanha, dedicava-se a vinte horas de maratona e dormia apenas 04. Um bom exemplo dessa marca é o capacete utilizado em suas peças publicitárias ou o criativo adesivo colocados nos carros, onde aparece uma família utilizando um capacete de sua campanha.

                                   Agora, pelas redes sociais, as cartadas finais de criatividade, numa concorrência “desleal” com o adversário. Recomenda  a propaganda de Geraldo esquecer o “passado”, de buracos, de obras não concluídas, de prédios abandonados, das enchentes, pegando o eleitorado pelo “pé”, literalmente falando.Depois, as propostas pontuais de implantar o Ganhando o Mundo nas escolas municipais, o “Pacto pela Vida” municipal – comandado pessoalmente por Geraldo – umas Upinhas aqui outras acolá. Como o trânsito está estrangulando na Estrada do Arraial, depois do binário – tivemos a oportunidade de observar, numa das placas do candidato, a promessa de construção de 04 Upinhas naquele bairro, com atendimento 24 horas. Com isso e o endosso do governador Eduardo Campos, a campanha de Geraldo Julio fecha a conta e passa a régua. O Partido dos Trabalhadores encerra seu ciclo na gestão da Veneza brasileira.

 

           

Antonio Paulo de Resende no Museu do Homem do Nordeste


 
Acompanhamos atentamente a palestra do professor Antonio Paulo de Resende, ontem, dia 29, no auditório Benício Dias, do Museu do Homem do Nordeste. Foi uma palestra bastante concorrida. Primeiro, pela legião de ex-alunos e admiradores de Paulo e, depois, pelos posicionamentos políticos e a sólida formação acadêmica do palestrante. Imagino que Paulo não deve ter feito outra coisa na vida além de ensinar. Tenho amigos que já concluíram o doutorado e lembram-se dele como professor secundarista.
                                   Não foram poucos os momentos em que, no CFCH-UFPE, nos deparamos com aquela figura franzina que, no início de uma bem-sucedida carreira acadêmica, adorava falar sobre o Movimento Operário, com certa predileção pelos anarquistas. O Movimento Operário foi um dos primeiros temas de concentração de Paulo. Não por acaso, estava em nossa banca de examinadores quando discutíamos a formação do Partido dos Trabalhadores. Nunca tivemos a oportunidade de participar de nenhuma disciplina ministrada por Paulo, mas ficamos muito felizes e recordando de nossa atuação em sala de aula, quando ele enfatizou a questão do afeto na sua relação metodológica com o alunado.
                                   De fato, há alguns professores – como bem lembrou Paulo – que apagam as luzes, deixam os alunos isolados e abusam de tecnologias que sequer permitem uma troca de olhares entre educando e educador. No momento em que, em sua prática, o professor permite os “olhares”, quantas questões podem aflorar, quantas cidadanias podem ser exercidas, quantos “peixes” podem ser vendidos. Com esses aparatos metodológicos que não permitem a interatividade, não raros fazemos descobertas tardias, como aqueles alunos - como numa expressão de Louis Althusser, que já se encontram "interpelados e asujeitados” – implorando para serem ouvidos.
                                   Ou, mais até mais grave, aqueles alunos que já são vítimas das sócio-patologias modernas – como bem lembrou o professor – que vivenciam a angústia do isolamento, mesmo convivendo com multidões. Por falar em companhia, Paulo estava muito bem acompanhado. Além de uma platéia atenta à sua fala, estavam do seu lado alguns pensadores emblemáticos, como Lacan, Marx, Foucault, Baudrillard, Bourdieu, Derridá, um pouco de Barthes, além de uma gama de pensadores que se debruçaram sobre a sociedade de consumo, bastante criticada pelo palestrante.
                                   No contexto de uma sociedade de consumo, como lembrou Paulo durante sua fala, não é de se estranhar que a condição de cidadania do indivíduo limita-se às suas posses ou acessos. Bem típico dessa mentalidade da chamada nova classe “C”, forjada num imaginário já antecipado pelo antropólogo Roberto DaMatta, ou seja, o grande frisson é a freqüência ao Shopping Center, a compra de um carro como ostentação e “diferenciação” e a contratação de uma empregada doméstica, uma atividade em extinção.
                                   Apesar de lembrar o livreto de Jean Baudrillard, um desafeto de Foucault – que nos recomenda esquecê-lo - Paulo flerta com Foucault em diversos momentos de sua fala. A “construção e a desconstrução do discurso é um dos seus “motes”. “Não há ordem sem transgressão nem transgressão sem ordem”, “A cultura é uma construção de significados. Cultura é atribuir significados”, “A História é uma invenção, uma construção”; “A História não tem sentido”, “A grande utopia da História é a democracia”.
                                   Neste momento, ele se revela foucaultiano de carteirinha. No momento em que ele discute as relações de poder como algo que independe das relações sociais de produção. Indivíduo bom é o indivíduo dócil e útil. A observação de Foucault é dirigida aos liberais e socialistas, soterrando, igualmente, a utopia anarquista. Historicamente, não tivemos nenhuma experiência do chamado socialismo real de corte democrático, embora, advogue-se em seu favor avanços no concerne à justiça social.  As conquistas dos movimentos feministas, ambientalistas e dos trabalhadores são pontuais e serão sempre pontuais, jamais atingindo o âmago dessas relações opressoras. O capitalismo, então, é um primor de violência simbólica, uma das mais danosas. A liberdade também produz muita desigualdade.
                                   Diante das observações de Paulo, vale apena recordar  outro francês, Claude Lefort, que afirmara que uma democracia que não se amplia tende a morrer de inanição. Quais são, afinal, os limites de ampliação desses espaços de democratização da democracia? O Museu do Homem do Nordeste se sentiu honrado com a sua presença, Paulo. Próximos encontros deverão ser agendados, sempre em nossa Casa. Esteja certo de que não será no carro ou num bar chique da cidade. Um grande abraço!!!

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Jarbas no Guia de Geraldo Júlio.


Diante dos desencontros vividos pelo PT no Recife, o PSB está disposto a responder a todas as provocações do candidato Humberto Costa. Sabidamente, a campanha do PT vive um momento difícil. O confronto de gestões não seria recomendável – por isso mesmo Lula, em sua fala no guia, tenta desconstruir a idéia do choque de gestão e da capacidade técnica de Geraldo Júlio – e, politicamente, as armas da “traição a Lula” e da presença de Jarbas – escondido  no palanque – também não surtirá grandes resultados. Primeiro, porque o PSB pretende apresentá-lo sem nenhum problema, algo que já havia sido acertado muito antes do início do guia eleitoral. Depois, porque, quem se junta a Sarney, Temer e a Renan não tem muito que reclamar da aproximação política entre Jarbas e Eduardo Campos. Ao contrário do que imagina o PT, a presença de Jarbas no guia pode, inclusive, contribuir para alavancar a candidatura de Geraldo Júlio. Afinal, Jarbas foi prefeito por dois mandatos e sua gestão sempre foi muito bem avaliada. A verdade, é que o PT não conseguiu – e dificilmente conseguirá – encontrar o mote de sua campanha, como analisamos em artigo que será publicado no Blog do Jolugue amanhã. Por falar em Jarbas, quem apareceu hoje, dia 29, no Guia do PSB, foi o seu pupilo político, Raul Henry.

Paulista recebe o governador Eduardo Campos.


No próximo sábado, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, deverá visitar a cidade das chaminés e dos eucaliptos, minha saudosa Paulista. Irá dar uma força ao seu candidato a prefeito pelo PSB, Júnior Matuto. O Palácio do Campo das Princesas faz uma grande aposta neste jovem. Eduardo tem uma relação de amizade com Matuto. Comenta-se que Matuto – de origem humilde – foi um militante aguerrido do partido, onde teria criado laços fraternos com a família Arraes. Não nasceu em Paulista, mas se mudou para aquela cidade ainda menino. Conforme comentamos numa postagem abusada, Paulista vive uma grande crise de representação política e isso já faz alguns anos. Políticos da “velha” guarda e oligarquias carcomidas – que mergulharam o município no caos – correm o risco de voltarem à vida pública, inclusive capitaneados por partidos pretensamente de corte republicano.  Sobre Júnior tem-se comentado muito sobre sua inexperiência e o apoio que vem recebendo de Ives Ribeiro, cuja gestão apresentou alguns percalços no seu segundo mandato. Quem lidera as pesquisas é o candidato do PT, Sérgio Leite, mas, garantem os palacianos, Eduardo vai àquele município para por ordem na casa. Eduardo vem sendo duramente atacado por Sérgio Leite e pretende dar o troco.

Luiz Pagot: Mais uma decepção.


As declarações do ex-diretor do DNIT, Luiz Antonio Pagot, surtiram uma grande repercussão, mas manteve-se muito distante da expectativa que fora criada, apresentada, possivelmente, como um depoimento bombástico. Não passou de um traque de massa. Aliás, isso vem seguindo um roteiro previamente definido, muito bem ensaiado, o que levou o senador Pedro Simon a fazer duras críticas à sua postura e insinuar que estávamos diante de uma CPI de brincadeirinha. Quem também se sentiu bastante desconfortável com as pífias declarações de Pagot foi o senador Pedro Taques, que considerou a possibilidade de o Governo está por trás dessa reticência do ex-diretor do DNIT. Além de não fornecer elementos novos, Pagot, quando muito, admitiu apenas um deslize ético, ao informar que teria pedido contribuições à campanha de Dilma – por orientação do tesoureiro do PT – de empresas que tinham negócios com o Governo. O interessante nessa história é que se trata de um cidadão que sabe muito sobre a engenharia institucional de corrupção instalada no Ministério dos Transportes, como ele mesmo já admitiu em várias ocasiões. Apeado do cargo, não se sabe quais as “recompensas” que o faz manter o silêncio sobre episódios nebulosos e pouco esclarecidos de nossa República. Prestaria um grande serviço à causa pública se abrisse o bico.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Cinquenta tons de cinza

Uma jovem inocente. Um homem sedutor, misterioso, fascinante e extremamente belo. Um triângulo amoroso (Ou não, já que a mocinha só tem olhos para o mocinho e o ‘terceiro’ é apenas um bom amigo).Isso tudo parece familiar?

Escrito e divulgado online como uma FanFic de Crepúsculo, 50 Tons de Cinza teve seus direitos comprados por uma editora americana e se tornou um sucesso editorial. Mas antes tiveram que mudar o nome dos personagens: Edward Cullen agora é Christian Grey, Isabella “Bella” Swan se torna Anastásia “Ana” Steele, Jacob é José... E assim sucessivamente.
Confesso que me interessei por esse livro apenas por essa familiaridade com a série da Stephenie Meyer, queria saber como seria essa tal “versão erótica” de Crepúsculo. Além disso o sucesso editorial de “50 tons” também me impressionou: O livro já foi traduzido para as mais diversas línguas, é o livro mais vendido na história da Inglaterra (31 milhões) e no mês de julho representou 75% das vendas de ‘Ficção Adulta’ nos Estados Unidos.
É importante falar de números quando se trata desse livro, pois, com números tão expressivos, também vem a expectativa. Por que é tão vendido? Por que fez tanto sucesso? Comprei na Bienal do livro e comecei minha leitura assim que retornei da viagem.

Passando para o enredo, o livro conta a história de Anastasia e sua atração instantânea e irremediável pelo empresário Christian Grey. Ana deseja aquele homem maravilhoso e ele também parece encantado com ela, porém, Christian quer Ana em seus próprios termos.
Depois de fazê-la assinar um contrato de confidencialidade, para que nada do que ele disser caia na mídia, Christian se revela como um Dom, ou dominador sexual, e oferece a Anastasia outro contrato para que ela seja sua submissa.
Pense em chicotes, algemas e roupas de couro tudo que envolva prazer associado à dor. É isso o que Christian propõe a virgem Anastásia, um mundo obscuro e ao mesmo tempo erótico, no qual ela vai se envolvendo cada vez mais, conforme a história vai se desenvolvendo.

Christian é um personagem instável, controlador e praticamente atua na vida de Anastasia como um stalker perseguindo sua presa. Ao longo do livro ele faz referências sobre se consultar com um psiquiatra, mas tenho as minhas dúvidas se esse homem recebe mesmo algum tipo de ajuda. Na verdade é como se Christian estivesse além de qualquer salvação, “fodido em 50 tons diferentes”, como ele próprio diz.
Porém esse homem complicado também tem um lado bem humorado, é lindo de morrer e possui um passado sombrio, que “justifica” seu comportamento presente. E, como uma presa fascinada pelo predador, Anastasia fica fascinada por ele. Eu também fiquei, por isso entendo a heroína.

com chicotinho, claro

Narrado em primeira pessoa, sob o ponto de vista de Ana, o livro tem pouca ou nenhuma ação, se limitando aos pensamentos românticos da mocinha, sua troca de emails com Grey e várias cenas de sexo, das mais diversas maneiras e nas mais diversas, situações.
É bom relembrar que, embora tenha vários elementos de umYABook, se trata de um romance adulto. Isso significa bastantes cenas eróticas, foco principalmente no relacionamento do herói e da heroína da história e palavras de baixo calão/palavrões. Perdi a conta da quantidade de“Puta merda”, “porra” e “foder” que li nesse livro. Deixo isso claro para já desaconselhar à leitura para aqueles que são sensíveis a esse tipo de palavreado e às situações descritas. Não é só o sexo que pode incomodar alguns leitores, mas também a obsessão quase patológica de Christian por ser obedecido e, também, de provocar dor em Anastasia. Obviamente tudo é consensual, mas só leia se tiver estômago para BDSM*.
Analisando o livro friamente, tenho que concordar com os críticos, pelo menos no que se refere a escrita da autora. E.L. James não escreve bem, utiliza em excesso algumas palavras/expressões e parece perdida em algumas partes do livro. Senti falta de uma linha condutora que fosse além do “misterioso passado de Christian Grey”, mas o livro se resume basicamente a isso.
"Isso não tem nada a ver com a cor cinza. Isso é pornografia"
Claro, a também a profusão de situações sexuais no livro. Fico imaginando o que raios vão fazer na adaptação cinematográfica para que não fique parecendo forçado ou promiscuo. Acho que, mais do que um ator certo ou atriz, o filme precisará de um bom diretor, se quiser ser além de um ‘erotismo barato’ e tentar contextualizar as cenas com a situação emocional de Christian, além de mostrar as implicações de algumas dessas cenas no relacionamento do casal.
Voltando ao livro, apesar de parecer repetitivo em alguns momentos, eu li esse livro em2 dias. Tudo por que a autora tem esse hábito de terminar cada capítulo com um gancho, de forma que o leitor se sinta compelido a ler o próximo. Não entendo muito de Fics, mas, se eu não me engano, o autor divulga 1 capitulo por vez e o pessoal vai lendo e comentando o que acha. Imagino que seja esse o motivo dos“ganchos” e da profusão de cenas romântico-sexuais (quase uma por capitulo mesmo) por que eu ouvi dizer que a autora não fez nenhuma adaptação antes de publicar o livro, apenas trocou os nomes dos personagens.
O que me faz lembrar da obsessão de alguns de rotularem “50 tons” como um cópia de Crepúsculo. No começo vi mais relação entre as histórias, alguns diálogos de Ana e Christian me lembraram outros de Bella e Edward e as cenas em que Christian salva Ana (primeiro de um atropelamento e depois de um homem‘saidinho’) também foram uma clara referência à Saga da Stephenie Meyer.
Mas depois a história perde esse ar de fanfic, os personagens passam a tomar rumos completamente diferentes. Se Edward não quer que Bella o toque por que tem medo de se descontrolar e feri-la, Christian não deixa que Ana o toque por causa de seus inúmeros traumas físicos (cicatrizes) e emocionais. Ana, por sua vez, é uma heroína mais corajosa e independente que Bella, não se limitando ao papel de submissa: Ela vai até as sombras de Grey para tentar levá-lo para luz, pois sabe que sem isso jamais poderão ficar juntos.

É por isso que, quando eu comparo as duas histórias, eu imagino que colocaram“Crepúsculo” em frente a um espelho daqueles de circo, que mostram um reflexo distorcido e um pouco bizarro: Esse reflexo é “50 tons de cinza”. Você vê as semelhanças, mas também vê diferenças tão gritantes que se pergunta se, de fato, uma coisa surgiu a partir da outra.
Talvez o que ambas as histórias tenham em comum é serem amadas pelo seu publico e detestada pelo restante das pessoas. Já ouvi falarem tão mal desse livro quanto falam de Crepúsculo, uma coisa a qual todo Best-seller está exposto: Ainda não surgiu (e creio que demora um tempo para surgir) um livro que seja sucesso de público e crítica em nosso século.

Mas,apesar dos (muitos) pesares, eu gostei desse livro. Dou nota 8 e confesso que estou contanto os dias para o lançamento de “50 tons mais escuros”, pretendo terminar a trilogia e ver como esse relacionamento termina. Só não recomendaria esse livro para alguém que nunca tenha lido nada do gênero romance Adulto, apesar de ser bem fraquinho para o gênero, pode chocar os mais sensíveis (não digam que não avisei).
Porém também estou um pouco temerosa: Algo me diz que essa saga não irá terminar de uma maneira tão feliz quanto à outra que lhe deu origem. É esperar para ver.

* BDSM: “Sigla” para Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão e Sadomasoquismo. Leia mais sobre o assunto nesse artigo do Wikipédia.


Obs.:Termino de escrever essa resenha e, como sempre faço, só então fui ler as opiniões de outros blogs. Destaco a resenha do Romances in Pink que, além de sintetizar precisamente o livro, também levantou um assunto que não tinha me ocorrido enquanto escrevia: Por que a autora retrata BDSM como uma coisa ruim?

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A polêmica entre o jornalista Sebastião Nery e os herdeiros da família Lundgren.

 
 
 
RIO – Agamenon Magalhães, interventor de Pernambuco no primeiro governo de Vargas, perguntou ao filho, Paulo Germano, que acabava de formar-se na Faculdade de Direito de Recife, qual o mais preparado e valente de seus colegas:
- Rafael Meyer.
Mandou chamá-lo e nomeou promotor de Paulista, onde os Lundgren tinham a matriz das “Lojas Paulistas” (nome no Nordeste) e das “Lojas Pernambucanas” (nome no Sul) e, cheios de armas, mantinham empregados e a cidade em intolerável e permanente intimidação e servidão, dispondo das pessoas, sobretudo da virgindade das filhas dos trabalhadores:
AGAMENON
- Dr. Rafael, o senhor sabe o que é aplicar a lei?
- Sei, sim, doutor Agamenon.
- Talvez ainda não saiba tudo. Vá para Paulista aplicar a lei. Os Lundgren fizeram da cidade uma fazenda de escravidão. Não respeitam a lei, nada. Quem manda lá é o poder deles. Estão cheios de armas. Desarme-os. Mas não encontre logo as armas. Primeiro, cerque o depósito onde estão as armas, destelhe o deposito, derrube as paredes do deposito e só depois descubra as armas lá dentro do paiol.
Rafael Meyer, pequeno, incorruptível, preparado e valente, foi e aplicou a lei. Os Lundgren, desmoralizados, anunciaram quer iriam embora de Paulista e só voltariam quando a ditadura acabasse. Rafael Meyer aplicou tão bem a lei que acabou ministro do Supremo Tribunal Federal.
                   
LUNDGREN
Em 1950, Agamenon foi candidato a governador de Pernambuco pelo PSD. Arthur Lundgren, fundador das “Lojas Pernambucanas”, deu a vitória ‘a UDN em Paulista, onde ficava a fábrica. Agamenon, eleito governador, ligou-se a Antonio Galvão, presidente do sindicato, e passou a derrotar a UDN. Irritado, Lundgren se preparou para transferir toda a
fábrica para Rio Tinto, na Paraiba, onde já tinha uma filial. Agamenon empiquetou a estrada com soldados e mandou convocar Lundgren:
- Dr. Lundgren, o senhor pode se mudar para a Paraíba. Mas a fábrica não vai. São 6 mil pernambucanos que dependem dela. O Estado vai administrar.
A fábrica não saiu de Paulista.
 
Nota do Editor: Em nota publicada pelos jornais, os herdeiros da família Lundgren se pronunciaram sobre o assunto, tratando, inclusive, sobre temas polêmicos, como a suposta milícia armada que cuidava das reservas florestais do município, dos filhos "bastardos", fruto de possíveis aventuras sexuais entre a família e as filhas dos operários da fábrica de tecidos, e as denúncias de trabalho escravo na organização. Na realidade, apesar de negar alguns fatos, como numa feliz expressão do sociólogo Gilberto Freyre no livro "Nordeste", numa referência aos senhores de engenhos, os Lundgren eram os donos dos rios, das matas, das terras, das casas, das máquinas e das melhores mulheres. Até o lazer era estritamente hegemonizado pela família, que permitia acesso, aos domingos, aos filhos dos operários, ao "Jardim do Coronel" - uma espécie de Jardim Zoológico, situado no mesmo terreno da residência da família. Os dois cinemas - que quando rapazola o editor do Blog do Jolugue frequentava com assiduidade - eram de propriedade da família. 
 
Crédito da foto: Vicente Queiroz. 

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

FUNDAJ promove encontro Museu Educador


TEMPO, MEMÓRIA E CONTEMPORANEIDADE.
 
 
 
 
A Coordenação de Museus e Restauro por meio da Coordenadoria de Programas Educativos Culturais, promove o Encontro Museu Educador com o objetivo de propiciar aos profissionais da área, um debate teórico e metodológico sobre a história social da memória, através do tema “Tempo, memória e contemporaneidade”, a ser ministrado pelo professor Dr. Antônio Paulo Rezende.
Data: 29 de agosto de 2012
Horário: das 14h às 18h
Local: Museu do Homem do Nordeste.
Av. Dezessete de Agosto, 2187 - Casa Forte – Recife - PE.
Fones: (81) 30736333 / 30736331.
:: Saiba mais sobre o palestrante:
O professor Doutor Antônio Paulo Rezende, possui graduação em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (1975), mestrado em História pela Universidade Estadual de Campinas (1981), doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (1992) e Pós-doutorado pela mesma instituição (1998). É professor adjunto II da Universidade Federal de Pernambuco, consultor ad hoc da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior e da FAPESP. Membro do conselho editorial da Revista Saeculum – Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Paraíba e da Clio- Nordeste- História Programa de Pós- graduação em História da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Atua no grupo de pesquisa: História, Política, Memória e Imagens do Cnpq. Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil, atuando principalmente nos seguintes temas: história, cultura, imaginário, modernidade e memória. O seu tema atual de pesquisa é relacionado com história da solidão no Recife dos anos 1930.
:: Programa do Encontro:
1- A história e a construção da possibilidade;
2- A memória: escolhas e relações;
3- A cultura:
Ordem e transgressão;
Dominação e autonomia;
Significados e socialização;
Incompletude e tragédia;
Permanências e identidades.
4- Contemporaneidade:
Informação e diversidade
Consumo e aparência
Individualismos e autonomia
Solidão e desamparo
:: Ficha de Inscrição
 
Assessoria de comunicação da FUNDAJ
 
Nota do Editor: Em nossa passagem pelo CFCH, nunca tivemos a oportunidade de pagarmos um disciplina com Antonio Paulo de Resende, mas jamais deixei de prestigiar suas palestras sobre o Movimento Operário, um dos seus temas de estudo. Numa de suas palestras sobre o Movimento Anarquista, depois de dissecar sobre as características do movimento, súbito volta-se para a platéia para lembrar que os anarquistas, certamente, também não simpatizavam com a Igreja Católica, uma instituição bastante hierarquizada. Paulo é boa gente e tivemos a oportunidade de ser examinado por ele na nossa defesa de dissertação de mestrado. Esperamos que sua "legião" de ex-alunos e admiradores possam prestigiá-lo no próximo dia 29 do corrente no Museu do Homem do Nordeste.

É Jarbas o pivô das desanvenças entre Lula e Eduardo Campos.


Faz sentido a observação da jornalista jornal Valor Econômico, sobre o que, de fato, poderia ter contribuído para o estremecimento da relação entre Lula e Eduardo Campos. Lula é um cara bom, sensível, mas bastante rancoroso. Ao sair do Governo ele tinha anotado numa cadernetinha uma lista de “urubus voando de costa”, numa expressão do jornalista Elio Gaspari. Era um grupo de desafetos - notadamente senadores da República - que não o pouparam de críticas, sobretudo depois das denúncias do mensalão. A lista era relativamente grande e, não raro, somos surpreendidos pela inclusão de alguns novos nomes, como o do senador Jarbas Vasconcelos. Há um possível diálogo reproduzido por uma revista de circulação nacional, onde o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, tenta esclarecer a Lula que foi Jarbas quem o procurou e não o contrário. Num outro momento, recebendo o diplomata Múcio Monteiro - escalado para "apagar" o incêndio - antes mesmo que ele iniciasse suas ponderações, Lula teria retrucado que viria ao Estado para eleger o senador Humberto Costa prefeito, num nítido recado a Eduardo Campos. Inquirido sobre o assunto, evidentemente, Múcio nega a existência desse diálogo, afirmando que a imprensa teria distorcido os fatos. Se, de fato, esses diálogos existiram, pode-se concluir que a repórter tem lá suas razões para concluir que o que deixou Lula realmente magoado com Eduardo Campos não teria sido o lançamento da candidatura de Geraldo Julio a prefeito, mas a sua aproximação com um dos seus principais desafetos, o senador Jarbas Vasconcelos, que ocupa um lugar privilegiado na sua lista de “urubus voando de costa”. O senador, inclusive, está aniversariando, merecendo os cumprimentos do editor do Blog do Jolugue.

Quixabá(PE)tira leite de pedra no IDEB


Ontem publicamos aqui no Blog do Jolugue um artigo sobre os resultados do último IDEB, sobretudo analisando uma das suas “ilhas” de excelência, o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco. Entre as observações recebidas pelo nosso e-mail, inclusive de antigos companheiros de estudos e professores, uma delas nos chamou atenção. Uma professora da cidade de Quixabá-PE, que obteve um bom desempenho no exame, reclamou o fato de não termos dado tanta ênfase aos bons resultados obtidos pela Rede Municipal daquela cidade, optando, segundo ela, por priorizar o excelente desempenho do Colégio de Aplicação da UFPE. Convém lembrar que, embora enfatize no artigo, os méritos do Colégio de Aplicação, igualmente tecemos comentários sobre algumas variáveis específicas que, de certa forma, explicam suas vantagens competitivas no contexto do IDEB, inclusive a própria clientela atendida. De fato, a jovem professora, que tornou-se minha amiga no Facebook, tem razão ao afirmar, numa linguagem bastante peculiar, que eles, diante de tantas adversidades, conseguem tirar leite de pedra e isso não poderia deixar de ser mencionado. Você tem razão, professora. Na realidade, algumas escolas dessa cidade do sertão pernambucano vem obtendo bons índices nos últimos IDEBs. Agora, por exemplo, uma de suas escolas obteve a nota 7.8, ficando entre as dez melhores do país num dos ciclos do ensino fundamental. Essa observação é importante, inclusive, como recall para os organizadores do exame observarem, cientificamente, o que, de fato, está fazendo a “diferença” entre os diversos estabelecimentos de ensino. Isso não se restringe apenas à cidade do Estado de Pernambuco, mas situações semelhantes foram observadas na periferia de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Teresina, no Piauí, onde escolas de infraestrutura fragilizadas obtiveram um bom desempenho no exame. Um grande abraço do editor do Blog do Jolugue. Como gosto muito do interior, não se surpreenda se um dia aparecermos para tomarmos um suco de umbu acompanhado de um de carneiro assado, com feijão verde e farofa. Não esqueça da manteiga de garrafa, professora. Receba nossos cumprimentos. Pay attention!!! 

Charge!Paixão!

Paixão

Miriam Lacerda tem chances de mudar o cardápio político em Caruaru.


Caruaru, a Princesa do Agreste, tornou-se uma das poucas cidades do Estado onde o DEM alimenta uma possibilidade real de  voltar ao poder, mudando o tradicional cardápio da política local, sempre dividido, como afirmava uma grande raposa política daquela cidade, falecido recentemente, entre carne-de-sol ou charque. Trata-se de uma cidade politicamente das mais estratégicas, situada no chamado “Triangulo das Bermudas”, irradiando sua influência política para toda a microrregião do Agreste. Uma aliança entre os Lyras e os Queiroz conduziu o atual prefeito, José Queiroz, ao comando da cidade. Logo surgiriam algumas desavenças entre o prefeito e o vice-governador, João Lyra, representante do clã dos Lyras. Essas divergências nunca foram devidamente sanadas, até porque alguém teria que ceder e nenhum dos atores envolvidos manifestou disposição para baixar as armas. Nem mesmo as tréguas concedidas durante os festejos juninos da Fazenda Macambira foram suficientes para atenuar os ânimos. O ex-ministro da Justiça e Presidente da Fundação Joaquim Nabuco, Fernando Lyra, um exímio negociador também parece não ter demonstrado grande disposição de colocar a mão nessa cumbuca. Para complicar o quadro, a candidata Miriam Lacerda aparece bem nas últimas pesquisas, inclusive pontuando acima de José Queiroz, que luta pela reeleição. Nos bastidores comenta-se que, a cada sondagem de opinião onde Miriam Lacerda desponta na frente o cidadão mais feliz não é o seu esposo, o deputado Tony Gel, mas sim o vice-governador João Lyra. Evidentemente que há problemas com a gestão de Queiroz, mas o que nos parece mais factível concluir é que a “tropa de choque” montada pela candidata do DEM vem fazendo estragos consideráveis ao candidato do Campo das Princesas. Eles estão com uma atuação bastante contundente, inclusive pelas redes sociais, mesmo antes dos prazos estabelecidos pela Justiça Eleitoral, não necessariamente fazendo campanha – o que não seria permitido – mas fustigando a administração de Queiroz. O governador Eduardo Campos irá dar uma força ao seu fiel escudeiro, mas diante do exposto e das divisões de infantaria, ninguém se surpreenda se a deputada Miriam Lacerda introduzir um tempero novo ao cardápio daquela cidade. Alguém sabe do que ela gosta? Quem sabe um filé de bode servido no Alto do Moura, conforme chegamos a sugerir.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012


 
COLÉGIO DE APLICAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO – a excelência e as mazelas do IDEB.

 

José Luiz Gomes escreve

 

                                   O IDEB foi criado em 2007 com uma preocupação específica dos gestores da educação brasileira. O objetivo inicial seria o de identificar aquelas escolas – tanto da rede pública quanto da rede particular – que estivessem em condições insatisfatórias, ou seja, não atendessem minimamente as exigências do MEC no que concerne à aprendizagem e permanência do alunado. Logo, como tantos outros indicadores concebidos pelo MEC, o IDEB se tornaria um ranking onde a sociedade poderia, em tese, aferir o desempenho dessa ou daquela escola, uma informação importante na hora de os pais decidirem matricular seus filhos num estabelecimento de ensino.

                                   Uma informação bastante difundida sobre esse último IDEB é que algumas escolas estariam “preparando” seus alunos para o teste. Confesso ainda não ter entendido como isso é apresentado como algo positivo, mas as melhores escolas do ranking apontaram esse procedimento como uma variável de competitividade no contexto das escolas submetidas ao exame. Na época do famigerado “Provão”, também tomamos conhecimento de que algumas faculdades estariam promovendo alguns “cursinhos” intensivos com o objetivo de obter um melhor desempenho naquele teste.

                                   Mesmo diante de seus modestos propósitos iniciais, o fato é que o IDEB se transformou num dos mais importantes indicadores sociais, uma referência para nos colocarmos entre as nações mais desenvolvidas. Sempre que seus resultados são anunciados, algumas questões cruciais são postas para o país, como, por exemplo, a saúde de nossa economia – que carece de pessoas qualificadas para tocá-la -; nossos ainda persistentes indicadores de desigualdades de oportunidades educacionais; a competitividade do país no contexto das economias emergentes do BRICS etc. Expressões como as utilizadas pelo senador Cristovam Buarque de que passamos por um momento de “apagão intelectual” com os resultados apresentados pelo último IDEB, dimensionam o problema. O professor pernambucano voltou a falar na sua “idéia fixa” de um esforço nacional pela melhoria de nossa qualidade de ensino.

                                   Como parâmetro, o Brasil orienta-se com objetivo de atingir a média das economias desenvolvidas, ou seja, a média 6,0, da comunidade OCDE, até o ano de 2021. No outro ano, nós até obtivemos alguns números favoráveis, amplamente comemorados. No IDEB divulgado agora, no entanto, a renitente dificuldade de o país atender às demandas mais urgentes do ensino fundamental parece-nos que voltaram à tona. Ou seja, nossos avanços tem sido num ritmo bastante lento. Há problemas crônicos que jamais foram devidamente enfrentados ao longo das últimas décadas, apesar da adoção de políticas públicas de corte mais eficaz, republicano e inclusivas adotadas a partir do Governo Lula, dispostas a atacar o mal pela raiz, como sempre se preconizou, centradas no gargalo da educação básica.

                                   Embora seja prudente tomar cuidados com os recursos investidos no setor – a questão da qualidade do ensino exige o controle de outras variáveis tão ou até mesmo, seguramente, mais importantes – entidades de classe estabelecem 10% do PIB em investimentos em educação como uma meta ideal a ser atingida, embora algumas autoridades do Governo já tenham afirmado que isso quebraria o país. Trava-se uma batalha no poder Legislativo no tocante a esse percentual.

                                   Uma melhor educação, portanto, nunca foi um insumo tão importante para o desenvolvimento do país. Os sócios do Brasil no BRICS investem pesado nessa área, a exemplo da China. Alguns deles, caso da Rússia, historicamente e em razão da experiência socialista, ainda ostentam bons indicadores nessa área. O Brasil, portanto, está atrasado em seu dever de casa. Forjado numa cultura hierarquizada, o Estado brasileiro sempre ofereceu uma educação diferenciada aos seus alunos, com prejuízo dos mais empobrecidos. Os críticos dos programas de cotas para ingresso no ensino superior apontam, com certa razão, que as desigualdades educacionais deveriam ser enfrentadas em sua origem, ou seja, no sistema de ensino fundamental, facultando aos alunos de origem mais humilde o acesso a uma educação de qualidade, criando as condições ideais de competitividade de acesso ao ensino superior.

                                   Por outro lado, apesar das críticas, também se entende a sensibilidade social do Governo Lula em procurar, mesmo que por essas vias tortuosas, corrigir as distorções de ingresso ao ensino superior entre pobres e ricos, criando dispositivos e programas como o ProUni, um dos instrumentos inclusivos mais eficazes, permitindo aos mais empobrecidos o acesso ao ensino superior. Com o ProUni, o Governo Lula promoveu uma verdadeira revolução no ensino superior do país. Para dimensionar o alcance social desse instrumento, sempre lembro uma fala do professor Sérgio Abranches, ex-diretor do Centro de Educação da UFPE, numa palestra em faculdade onde ministrávamos aulas. Depois de encerrar sua preleção, teve a curiosidade de perguntar aos alunos, quantos ali os pais haviam feito um curso superior. Ninguém levantou a mão. Ou seja, oportunizava-se o acesso ao ensino superior a uma geração cujos pais jamais tiveram acesso.

                                   Em razão desses acertos, não raro menciono em nosso blog que, certamente, teria sido melhor manter o Fernando Haddad naquela pasta. Por teimosia de Lula, Haddad embarcou na canoa furada das eleições paulistas, com poucas chances de reverter o quadro que vem se desenhando. Permanece como um lulodependente e o seu padrinho político não irá ajudá-lo como gostaria. Por razões distintas, Marta Suplicy e Dilma Rousseff também não se engajarão na campanha, o que representa mais um revés para o candidato. Pelos últimos números do Datafolha, ele permanece “empacado”, mantendo 8% das intenções de voto. Quem lidera a pesquisa é o deputado Celso Russomanno, que dispensa apresentações.  

                                    Muita coisa precisa ser feita até 2021 para atingirmos a média das economias mais desenvolvidas. Nossa média geral, para as primeiras séries do fundamental, foi de 3,8. Para as séries finais, 3,9. Como diria Cristovam Buarque, com essa nota não dar para “passar”. Ainda não significa dizer que não tenhamos condições de atingir os índices da OCDE em 2021, mas estamos fazendo uma caminhada cheia de obstáculos, com alguns êxitos pontuais, ainda assim bastante dispersivos, o que nos coloca com as barbas de molho.

                                   Esse fosso entre algumas escolas de referência de desempenho, como o Colégio de Aplicação da UFPE e o média geral obtidas por obscuras escolas da rede pública de periferia, nos coloca num dilema bastante preocupante. Escolas e programas excepcionais são exceções à regra e não podem servir como parâmetro, salvo para meia dúzia de privilegiados que podem freqüentar aqueles estabelecimentos.

                                   Em Pernambuco, por exemplo, o Governo vem fazendo uma enorme propaganda do Programa Ganhar o Mundo, que permite o intercâmbio de estudantes do Estado com alguns países, com o objetivo de aprimorar o aprendizado de idioma. Certamente, esses alunos, a partir de programas dessa natureza, poderão, um dia, sair da conjugação do verbo To Be e dizer, em inglês, algo além do The  book is on the table. Mas, se o Governo não investir efetivamente na melhoria do ensino de língua estrangeira na Rede Pública Estadual como um todo, isso não irá fazer grandes diferenças.

                                   Na Região Nordeste, por exemplo, o Estado do Piauí apresenta alguns indicadores interessantes em algumas escolas que funcionam em condições precárias e a capital, Teresina, obteve um dos melhores desempenhos entre as capitais. Por outro lado, na média, está um pouco acima apenas de Alagoas, o Estado que apresenta um dos resultados mais sofríveis. Salvo algum engano, durante uma palestra sobre as linhas de ações da Fundação Joaquim Nabuco consoante as suas articulações com as políticas educacionais do MEC, o presidente da Instituição mencionou a disposição da FUNDAJ em colaborar com o Governo no sentido de melhorar nossos indicadores educacionais, citando nominalmente aquele Estado.

                                   Em Pernambuco, Recife permanece com um desempenho sofrível, mas cidades como Petrolina e, pasmem, Quixadá, surpreenderam-nos, obtendo uma média considerada razoável, embora, voltamos a repetir, a única coisa que essas cidades podem nos ensinar para melhoramos nossos resultados no IDEB, tão somente, é a pedagogia de sua práxis cotidiana, em termos de gestão, empenho e qualificação dos professores, estruturação do plano de ensino, metas estabelecidas, instrumentos eficazes de acompanhamento de aprendizagem etc. Fora disso, não passam rigorosamente de “ilhas”.

                                    O Colégio de Aplicação do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco tornou-se um centro de referência de ensino, aparecendo nas primeiras colocações em sucessivos IDEBs. Trata-se, como chamamos no título desse artigo, um exemplo emblemático para analisarmos os possíveis êxitos e, muito mais que isso, as mazelas do IDEB. O colégio obteve uma média de 8,1 no último levantamento, conseguindo o primeiro lugar geral nas últimas séries do ensino fundamental. Segundo tomei conhecimento, eles planejavam obter a nota 8,4. Em todo caso, pontualmente, trata-se de um desempenho excepcional, comemorado por pais, professores e gestores daquele estabelecimento de ensino.

                                   O Centro de Educação da UFPE, ao qual está vinculado aquele colégio, também goza de uma reputação elevada em termos de reflexões e produção acadêmica na área de educação. Durante as últimas décadas, exerceu forte influência sobre as políticas de educação implementadas pela Prefeitura da Cidade do Recife, tendo saído daquele Centro vários gestores municipais, alguns ex-professores e colegas que prefiro não mencionar. Se, por um lado, isso significa o reconhecimento do nível de reflexão daquela entidade sobre o assunto, por outro, é de se lamentar que os bons indicadores na área do ensino fundamental não estejam se refletindo na Rede Pública da Cidade do Recife, que alcançou um dos piores resultados do Brasil.

                                   Um dos gestores daquele Centro foi o professor Ives de Mapeau, de saudosa memória, uma pessoa simples, sensível, que, algumas décadas atrás, quem sabe pelo hábito trazido da França, já usava a bicicleta como um meio de transporte, numa postura ecologicamente correta. Uma de suas declarações causou espanto nos meios acadêmicos ao afirmar que o Colégio de Aplicação não teria competência para trabalhar com alunos empobrecidos. À época, isso repercutiu muito mal, porque o Centro era(?) hegemonizado pelo pensamento de esquerda e a franqueza do professor pareceu algo conservador, elitista.

                                   Por outro lado, se estávamos num Centro de excelência em educação, como admitir essa incapacidade de conceber um programa de educação que fosse competente o suficiente para enfrentar as desigualdades inerentes aos alunos mais empobrecidos? O professor foi muito mal interpretado e vítima do patrulhamento ideológico – limitado ao discurso – dos departamentos mais identificados com o pensamento de esquerda na educação, notadamente o de Fundamentos Sócio-Filosóficos da Educação. O curioso naquele Centro é que o Departamento de Gestão Educacional, perdoe-nos por não lembrar-nos do nome correto - quem sabe pelo viés instrumental – sempre manteve uma postura mais conservadora.

                                   Na realidade, retirado esse pano de fundo ideologizado, logo se compreende as afirmações do professor Ives de Mapeau, com quem tive a oportunidade de conviver e conhecer sua seriedade. Há verdades e mitos que precisam ser refletidos, sem a coloração ideológica que costuma anestesiar o pensamento. Primeiro, há de se reconhecer todo o bom desempenho do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco, elogiando-se todos os seus servidores e alunos. A nota obtida no IDEB é fruto da meritocracia. Possivelmente há um programa de ensino e um planejamento muito bem estruturado; uma gestão atenta, que acompanha todo processo – ou seja, tira a bunda da cadeira -; os professores são bem qualificados e contratados consoante os critérios adotados pelo mesmo processo de ingresso na Universidade.

                                   Embora não haja nenhuma indicação de que professores com melhor remuneração sejam melhores professores, não resta dúvida de que eles possuem uma vida mais sossegada, tendo acesso à dispositivos culturais que melhoram sua atuação em sala de aula. A clientela atendida pelo Colégio é muito bem-selecionada, através de um teste aplicado com regularidade, todos os anos. Isso permite àquele estabelecimento trabalhar com uma público oriundo dos estratos sociais remediado ou melhor favorecido da sociedade recifense e adjacentes. As enquetes sociais aplicadas devem indicar isso.

                                   Afora esses procedimentos pedagógicos que podem ser repicados em escala em toda a rede pública, caso haja recursos, vontade política e mobilização da sociedade, num contexto mais geral, pouco contribuirá para socializar a melhoria da qualidade do ensino no país. Quando muito, no final, serve apenas para aprofundar o fosso que separa a sociedade brasileira, construindo-se muros, num país que precisa urgentemente de pontes para se encontrar enquanto nação... até 2021. Chegaremos lá?