pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Antonio Paulo de Resende no Museu do Homem do Nordeste
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sábado, 1 de setembro de 2012

Antonio Paulo de Resende no Museu do Homem do Nordeste


 
Acompanhamos atentamente a palestra do professor Antonio Paulo de Resende, ontem, dia 29, no auditório Benício Dias, do Museu do Homem do Nordeste. Foi uma palestra bastante concorrida. Primeiro, pela legião de ex-alunos e admiradores de Paulo e, depois, pelos posicionamentos políticos e a sólida formação acadêmica do palestrante. Imagino que Paulo não deve ter feito outra coisa na vida além de ensinar. Tenho amigos que já concluíram o doutorado e lembram-se dele como professor secundarista.
                                   Não foram poucos os momentos em que, no CFCH-UFPE, nos deparamos com aquela figura franzina que, no início de uma bem-sucedida carreira acadêmica, adorava falar sobre o Movimento Operário, com certa predileção pelos anarquistas. O Movimento Operário foi um dos primeiros temas de concentração de Paulo. Não por acaso, estava em nossa banca de examinadores quando discutíamos a formação do Partido dos Trabalhadores. Nunca tivemos a oportunidade de participar de nenhuma disciplina ministrada por Paulo, mas ficamos muito felizes e recordando de nossa atuação em sala de aula, quando ele enfatizou a questão do afeto na sua relação metodológica com o alunado.
                                   De fato, há alguns professores – como bem lembrou Paulo – que apagam as luzes, deixam os alunos isolados e abusam de tecnologias que sequer permitem uma troca de olhares entre educando e educador. No momento em que, em sua prática, o professor permite os “olhares”, quantas questões podem aflorar, quantas cidadanias podem ser exercidas, quantos “peixes” podem ser vendidos. Com esses aparatos metodológicos que não permitem a interatividade, não raros fazemos descobertas tardias, como aqueles alunos - como numa expressão de Louis Althusser, que já se encontram "interpelados e asujeitados” – implorando para serem ouvidos.
                                   Ou, mais até mais grave, aqueles alunos que já são vítimas das sócio-patologias modernas – como bem lembrou o professor – que vivenciam a angústia do isolamento, mesmo convivendo com multidões. Por falar em companhia, Paulo estava muito bem acompanhado. Além de uma platéia atenta à sua fala, estavam do seu lado alguns pensadores emblemáticos, como Lacan, Marx, Foucault, Baudrillard, Bourdieu, Derridá, um pouco de Barthes, além de uma gama de pensadores que se debruçaram sobre a sociedade de consumo, bastante criticada pelo palestrante.
                                   No contexto de uma sociedade de consumo, como lembrou Paulo durante sua fala, não é de se estranhar que a condição de cidadania do indivíduo limita-se às suas posses ou acessos. Bem típico dessa mentalidade da chamada nova classe “C”, forjada num imaginário já antecipado pelo antropólogo Roberto DaMatta, ou seja, o grande frisson é a freqüência ao Shopping Center, a compra de um carro como ostentação e “diferenciação” e a contratação de uma empregada doméstica, uma atividade em extinção.
                                   Apesar de lembrar o livreto de Jean Baudrillard, um desafeto de Foucault – que nos recomenda esquecê-lo - Paulo flerta com Foucault em diversos momentos de sua fala. A “construção e a desconstrução do discurso é um dos seus “motes”. “Não há ordem sem transgressão nem transgressão sem ordem”, “A cultura é uma construção de significados. Cultura é atribuir significados”, “A História é uma invenção, uma construção”; “A História não tem sentido”, “A grande utopia da História é a democracia”.
                                   Neste momento, ele se revela foucaultiano de carteirinha. No momento em que ele discute as relações de poder como algo que independe das relações sociais de produção. Indivíduo bom é o indivíduo dócil e útil. A observação de Foucault é dirigida aos liberais e socialistas, soterrando, igualmente, a utopia anarquista. Historicamente, não tivemos nenhuma experiência do chamado socialismo real de corte democrático, embora, advogue-se em seu favor avanços no concerne à justiça social.  As conquistas dos movimentos feministas, ambientalistas e dos trabalhadores são pontuais e serão sempre pontuais, jamais atingindo o âmago dessas relações opressoras. O capitalismo, então, é um primor de violência simbólica, uma das mais danosas. A liberdade também produz muita desigualdade.
                                   Diante das observações de Paulo, vale apena recordar  outro francês, Claude Lefort, que afirmara que uma democracia que não se amplia tende a morrer de inanição. Quais são, afinal, os limites de ampliação desses espaços de democratização da democracia? O Museu do Homem do Nordeste se sentiu honrado com a sua presença, Paulo. Próximos encontros deverão ser agendados, sempre em nossa Casa. Esteja certo de que não será no carro ou num bar chique da cidade. Um grande abraço!!!

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