pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Tijolinho do Jolugue: Ciro Gomes, o boca do inferno, filia-se ao PDT




Logo mais o ex-ministro da Integração Nacional e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, em ato solene, assina sua ficha de filiação ao PDT. Não posso confirmar isso ainda, mas há uma possibilidade de a família Ferreira Gomes, em peso, filiar-se à agremiação pedetista. Assim como ocorre com a maioria dos grêmios partidários brasileiros, não existe apenas um PDT. Existe uma ala mais ligada aos parentes do ex-governador Leonel Brizola e uma outra ala que segue a orientação do atual presidente da legenda, Carlos Lupi, o Lupinho para os íntimos. Há sérias divergências entre esses grupos sobre, apenas para ficarmos num exemplo, qual seria o posicionamento do partido sobre o Governo Dilma. Setores da legenda já teriam desembarcados da nau governista. 

Ciro é uma sujeito muito preparado e inteligente, mas, não raro, peca pelo destempero verbal. Tem o que se diz aqui no Nordeste, "pavio curto". A família Ferreira Gomes é de uma fidelidade canina ao Governo Dilma Rousseff desde o início, ainda na época das movimentações de campanha, quando o ex-governador Eduardo Campos ainda era vivo. Pelo menos publicamente, nada nos indicam que eles mudaram de posição. Até recentemente, Ciro Gomes concedeu uma entrevista ao radialista Geraldo Freire. Nesta entrevista, ele disparou sua metralhadora verbal contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e sobrou também para Hélio Bicudo - que pede o impeachment da presidente - acusado de estar sendo usado pela elite paulista. 

Quando ao Governo Dilma, ele defende sua continuidade, embora faça alguma ressalvas às medidas que precisam ser tomadas para ajustar as contas. Ainda não vejo 2018 no horizonte, mas tudo indica que Ciro Gomes deverá ser mesmo candidato à Presidência da República naquelas eleições. O arranjo político que se insinua até lá - se chegarmos até lá - é bastante complexo.Por enquanto, vamos meditarmos um pouco sob a massaranduba do tempo, observar as águas bater nas pedras e tentar decifrar as mensagens das espumas.

O xadrez político das eleições municipais de 2016, no Recife: Com uma provável candidatura presidencial de Ciro Gomes, o PDT entra no jogo no Recife.







As próximas eleições municipais do Recife, em 2016, necessariamente, passam por Olinda. Estamos cada vez mais convencidos disso. Não se trata, tão somente,  de uma questão de "arranjos" partidários,mas, igualmente, em razão de alguns atores políticos relevantes também entrarem em cena, diluindo algumas composições aliancistas até então consolidadas, como a existente entre o PSB e o PCdoB. No último domingo, ali no Colégio DOM, em Casa Caiada, o PSB realizou seu encontro da Agenda 40, com a presença de algumas lideranças do partido, sua direção estadual e membros convidados de outras legendas. 

Os discursos não deixaram dúvidas sobre a possível candidatura do irmão do ex-governador, Eduardo Campos, o escritor Antonio Campos, a prefeito da cidade nas eleições de 2016. O PSB havia reafirmado que só falaria em 2016 em 2016. Mas como nesse país as regras não aplicam a todos e os direitos da elite não são os mesmos direitos da raia miúda, no caso de Olinda, praticamente foi batido o martelo em torno da candidatura do irmão do ex-governador. Comentando sobre este assunto, embora anpassant, o atual vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira, nas entrelinhas de uma entrevista - mas traduzida como um recado direto às movimentações dos socialistas em Olinda - afirmou que "apressado como cru". 

Por falar em PCdoB, a Deputada Federal, Luciana Santos, depois de muitas especulações, finalmente quebrou o silêncio sobre o assunto e acenou com a possibilidade de uma candidatura à Prefeitura de Olinda, em 2016. Luciana já governou a cidade por dois mandatos, tendo entregue o bastião ao atual prefeito, Renildo Calheiros, do mesmo partido, camarada dos tempos de militância estudantil de ambos. O desgaste da gestão comunista na cidade é visível e isso não ocorre apenas pelo longo período em que estão à frente da prefeitura, mas, sobretudo, em função da avaliação que a população do município faz da gestão. 

Em entrevista, a provável candidata comunista observou que foi expressivo o montante de recursos federais que o camarada Renildo conseguiu trazer para o município. É um fato. era o tempo das vacas gordas, do PAC, que destinou 25% de suas verbas apenas para o Estado de Pernambuco. A questão é saber como esses recursos foram aplicados na cidade e em que medida isso se refletiu na melhoria da qualidade de vida da população. Outra observação de Luciana diz respeito às falhas de comunicação da Prefeitura de Olinda. Pode até ser. Segundo ela, todas as ruas do bairro de Jardim Atlântico foram calçadas e sinalizadas. Isso é verdade. Moramos aqui e podemos atestar isso, embora a comunicação não seja, tenha santa paciência, dona Luciana, o único problema da gestão. 

Assim como ocorre em Olinda, com Antonio Campos, também no Recife o prefeito Geraldo Julio vem procurando consolidar as costuras com o Partido Verde.Não sei até que ponto essa agremiação política pode somar ao projeto de reeleição do prefeito Geraldo Júlio, assim como ajudar Antonio Campos em Olinda. Aliança programática, por sua vez, nunca foi mesmo o forte deste partido. Talvez possamos entendê-la como mais um passo no processo de "endireitamento" da legenda socialista. 

Um fato novo que surgiu nesta semana é a postulação do nome da vereadora Isabella de Roldão como opção da legenda do PDT para concorrer às eleições municipais do Recife, em 2016. Isabella está assumindo a direção da legenda no Estado, o que pode facilitar as negociações em torno de viabilidade de sua candidatura. Em entrevista à imprensa, Isabella teria afirmado que poderia abdicar da postulação do seu nome apenas se Paulo Rubem Santigo, hoje na presidência da Fundação Joaquim Nabuco, resolvesse assumir a candidatura, como chegou a ser cogitado. 

É realmente muito pouco provável mesmo que o senhor Paulo Rubem seja candidato nas próximas eleições. Trata-se de mais um arranjo político delicado, uma vez, quando esteve aqui na província, Carlos Lupi, presidente da legenda, entabulou algumas conversas com o prefeito Geraldo Júlio, com o propósito de estreitar o relacionamento entre as duas legendas. Ademais, Rodrigo Vidal, vereador da legenda, ocupa a Secretaria de Defesa e Proteção aos Animais, na gestão de Geraldo Júlio. 

A conjuntura política indica que uma provável candidatura da legenda no Recife deverá ser estimulada. Hoje, dia 17, filiou-se ao partido, em Brasília, o ex-governador e ex-ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes. O político cearense acalenta o sonho de voltar a disputar a Presidência da República, em 2018. Numa corrida presidencial, palanques são sempre bem-vindos, sobretudo numa capital com a dimensão política do Recife. 

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Tijolinho do Jolugue: Acabou a farra das doações de empresas privadas às campanhas eleitoriais.





Ainda repercute pelas redes sociais o discurso e a postura do ministro Gilmar Mendes sobre matéria que está sendo apreciado no STF, que trata do financiamento privado de campanhas políticas. Nos parece que a estratégia do ministro Gilmar Mendes era adiar a votação, feito obtido com a duração do seu discurso, que passou das 05 horas, não permitindo que o advogado da OAB externasse seu pronunciamento sobre a matéria. Embora investido da liturgia do cargo, o ministro usou a tribuna do STF para proferir um discurso político, tendencioso, com endereço certo: O Governo da presidente Dilma Rousseff. Ele já foi chamado de tudo aqui pelas redes sociais, mas eu não ousaria fazer o mesmo, sobretudo por uma questão de coerência com a linha editorial do blog. O que vem ocorrendo com o STF dá bem a dimensão da encrenca onde estamos metidos, com as principais instituições da República comandadas por atores políticos com a estatura de um Gilmar Mendes, de um Eduardo Cunha, de um Renan Calheiros. 

Não sabemos o que poderá ocorrer daqui para frente com o Governo Dilma - num equilíbrio bastante frágil - mas há algo de muito podre no reino da Dinamarca. Isso não pode dar muito certo mesmo não. Com posturas como a do Gilmar Mendes, o STF deixa de ser aquela instância do equilíbrio, da equanimidade, da isenção; Dilma foi eleita com um programa e capitulou-se ao programa do adversário, praticando uma espécie de estelionato eleitoral; a base de apoio faz o jogo dos algozes de Dilma, articulando com seus adversários para derrubá-la; prenuncia-se um sucateamento dos serviços públicos; comprometimento dos programas sociais que sempre foram a marca diferencial dos governos de coalizão petista; mobilizações dos movimentos sociais contra o governo, como é o caso do MTST, que está prevista para o dia 23 próximo; imprevisibilidade dos acertos dessas últimas medidas no que concerne ao enfrentamento da crise. São muitos poréns.

A  manobra de Gilmar Mendes, no entanto, teve uma durabilidade exígua. Por 8 votos contra e 3 a favor, foi decretara a inconstitucionalidade das doações de empresas às campanhas políticas. Apesar dos poréns, será que nem tudo está perdido?

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Editorial: Não foi isso o que nós combinamos, Dilma Rousseff.


 

 
No último final de semana, o Jornal Folha de São Paulo, através de um editorial com o sugestivo título "Ultima Chance", praticamente deu um ultimato à presidente Dilma Rousseff. O jornal da família Frias é uma espécie de porta-voz dos interesses da elite conservadora do país. Como a crise é grande e envolve diversos aspectos, talvez devêssemos dividi-las em pedacinhos para melhor entendê-la. É o que pretendemos fazer, ao discuti-la, durante os próximos dias. Enquanto Dilma era pressionada pela direita a radicalizar esses ajustes de orientação neoliberal, ditados pelo mercado e o grande capital; por outro lado, os movimentos sociais, como o MST, o MTST se colocavam numa trincheira oposta, exigindo da presidente uma mudança substantiva na condução da política econômica, claramente, subtraidora dos diretos da classe trabalhadora. Não sabemos se existe esse termo "subtraidora" mas ele será mantido, por se aplicar bem à situação. Se não existe, acabamos de criar mais um neologismo.

No lema desses movimentos sociais - historicamente identificados com os governos de coalizão petista - a saída seria com o povo e pela esquerda. Dilma fez ouvidos de mouco em relação aos apelos dos movimentos sociais, optando por um alinhamento com os segmentos políticos derrotados nas últimas eleições, que querem apeá-la do poder antes do prazo de validade, que vai até 2018. Nossa identidade com o Governo Dilma permanece, vamos defendê-lo até às últimas consequências, mas não dá para tapar o sol com a peneira, como vejo que alguns petistas estão fazendo aqui pelas redes sociais. Nossa posição é de princípio. O que defendemos intransigentemente, na realidade, é o cumprimento das regras do jogo democrático.O respeito ao Estado Democrático de Direito. Legalmente, não há nada previsto que possa justificar um pedido de impeachment e as próximas eleições presidenciais estão agendadas para outubro de 2018. 

Como disse, pretendo abordar cada questão ao seu tempo, estabelecendo um encadeamento didático, facilitando o entendimento dos leitores. Mas, de antemão, já antecipo o grave equívoco do aumento da carga tributária, com a volta do famigerado CPMF, um imposto profundamente impopular. Por outro lado, para o deleite de nossa elite escravocrata, os programas sociais - a despeito das negativas do Governo - serão, sim, atingidos, quebrando um ciclo de enfrentamento das desigualdades históricas no país. Minha Casa, Minha Vida; Pronatec; Bolsa Família, programas sociais importantíssimos, terão dificuldades de apresentarem estatísticas favoráveis nos próximos rankings. Em termos programático, está ocorrendo uma espécie de estelionato eleitoral. Não foi isso o que nos combinamos, dona Dilma Rousseff. Comecei a desconfiar desse processo quando, logo no início do seu Governo, a "vaca começou a tossir", confirmando a tese do filósofo Nietzsche de que toda palavra é uma máscara e todo discurso é uma 'fraude". Seu Governo é de fazer corar o mais renhido tucano. Está mantida a lógica da corda que arrebenta sempre do lado mais fragilizado, dos mais pobres, dos sem teto, dos sem terra, dos assalariados, dos servidores públicos. Mais uma vez o grande capital está blindado.

Alguns desses programas deverão morrer mesmo de inanição, como vem ocorrendo com o Bolsa Família, que não sofre reajustes desde 2014. Afirmamos isso baseados em pronunciamentos públicos de economistas que tiveram relações diretas com as políticas de redistribuição de renda, como é o caso de Marcio Pochmann​ e Marcelo Neri​ - profundamente identificados com os projetos de erradicação da pobreza dos governos de coalizão petista - mas pessimistas quanto ao futuro desses programas. Logo no início do Governo Dilma, Marcelo Neri deixou a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, numa atitude numa devidamente esclarecida. Voltou a dar suas aulas na Fundação Getúlio Vargas. Hoje foi a vez do oráculo de Harvard, Roberto Mangabeira Unger​ entregar o boné. Talvez porque não haja mesmo muita coisa a ser feita com o Brasil, Pátria Educadora.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Tijolinho do Jolugue: Transposição das águas do Rio São Francisco: e não é que o João tinha razão.





O geógrafo Milton Santos costumava afirmar que a satisfação de um intelectual era observar que as suas teses estavam se confirmando. Pedia-nos que ficássemos atentos àqueles intelectuais movidos por outras vaidades e interesses. Dividir os pesquisadores entre aqueles que ficaram contra ou a favor do projeto de transposição das águas do Rio São Francisco não contribui muito para o debate que realmente importa. No auge dessas discussões - ainda no Governo Lula - o pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, João Suassuna, apontava alguns equívocos nesse projeto, tanto no que concerne à concretização dos seus possíveis objetivos, quanto à inviabilidade técnica, devido à escassez de recursos hídricos já observada no castigado Rio São Francisco, o que também poderia comprometer, num futuro próximo, a geração de energia. 

As obras de transposição do Rio São Francisco passaram por inúmeros problemas, como atrasos, graves problemas técnicos, denúncias de superfaturamentos e coisas afins. Em certa medida, convém esperar, observar a pouca água bater nas pedras e tentar decifrar as espumas. É o que os matutos chamam de "meditar sob a massaranduba do tempo". De origem no Cariri paraibano, João Suassuna soube esperar o momento certo para ver suas teses se confirmarem. Assim como ocorre lá pelo Planalto - onde a crise política instaurou-se de uma vez - também a crise hídrica - quiçá energética - são ameaças que pairam sobre as nossas cabeças. Convém enfatizar que João Suassuna não era necessariamente "contra" uma solução que resolvesse os problemas de abastecimento de água na região Nordeste.  

Apenas sugeria que a proposta seria inviável, propondo outras alternativas, de menor custo, e mais viáveis. Convém enfatizar, igualmente, que João falava como um técnico, um pesquisador do semiárido nordestino. Hoje, em sua página, o presidente da Fundação Joaquim Nabuco, Paulo Rubem Santiago, observa que o pesquisador cobra um pouco de coerência do senador Fernando Bezerra Coelho, que ocupou a pasta da Integração Nacional no primeiro Governo Dilma. Infelizmente, você não encontrará coerência por aqui, João. Os atrasos e embaraços nessa obra já se constituía como uma plataforma política do ex-governador, Eduardo Campos, em seu projeto de tornar-se presidente da República. Bem próximo ao período da Páscoa, quando ele ainda estava em campanha, nosso perfil aqui do Facebook recebeu a visita de um coelho. Penso que você sabe de quem se trata. Não era o coelhinho da Páscoa não.

Nesses tempos bicudos, de tolhimento da liberdade de expressão, do jugo do delito de opinião, convém tomar cuidados com as citações dos nomes para não sermos vítimas de processos. Aqui em Pernambuco, hoje, se processa alguém por qualquer motivo. Até os professores da UFPE, como é o caso de Michel Zaidan, estão se tornando alvos dessas investidas. Esses atos contam com a inércia da imprensa, dos sindicatos, das entidades de classe, dos movimentos sociais, partidos políticos e afins. Esse coelho que nos visitou - sem ser convidado - fez um barulho danado, elencando todos os problemas da obra e que, na eventualidade de uma eleição de Eduardo Campos, isso seria contornado. 

Fiz uma perguntinha que o deixou enfurecido: então, cara, tu estás admitindo o fracasso da gestão do senhor Fernando Bezerra Coelho, do teu partido, que respondia pela pasta? o coelho pulou fora e hoje está assoberbado com a Lei de Responsabilidade Fiscal do Estado. Melhor assim. Se há alguma coisa que possuímos de sobra é coerência. Não somos contra a obra de transposição das águas do Rio São Francisco, João, sobretudo em razão dos seus objetivos finais, mas, pelo menos nos seus apontamentos dos problemas, infelizmente, alguns deles estão se confirmando.  



Nas imagens acima, o açude Gargalheiras, no Rio Grande do Norte, um dos mais importantes do Estado, antes e depois da estiagem. A sangria deste açude é um verdadeiro acontecimento na cidade de Acari, que já conta com uma incipiente estrutura turística para atender aos visitantes. Acari é a cidade mais limpa do Brasil. Em termos de culinária, o prato mais comum é o camarão, crustáceo abundante na região, comercializado por inúmeras famílias.  

Tijolinho do Jolugue: Editorial da Folha coloca Dilma na guilhotina




Neste domingo, a partir de um editorial do Jornal Folha de São Paulo, publicamos no blog um artigo do professor da Universidade Federal da Paraíba, Joeldes Meneses. O editorial do jornal da família Frias traz o "sugestivo" título: "Última chance". Lá para o final do seu artigo, o professor Joeldes sugere que o editorial deveria ser chamado, na realidade, de "preparação da guilhotina", dado seu caráter de ultimato ao governo Dilma Rousseff. O problema de nossa economia é bastante delicado, exigindo muita ponderação, discernimento e prudência. Não somos  economistas,mas, nessa crise específica, parece que nem eles tem uma solução para o problema. Vivem batendo cabeça, cada qual apresentado um receituário destinto como forma de enfrentar essa crise. Para não enveredarmos por um assunto que não dominamos, vamos nos deter nos aspectos políticos dessa crise, embora, em última análise, ela possua um componente econômico evidente. 

Em entrevista recente, com a experiência de quem chegou a trabalhar com o presidente João Goulart, o hoje vereador Waldir Pires assegura que os conspiradores que se unem numa tentativa de interromper o Governo da presidente Dilma Rousseff são muito parecidos com aqueles que derrubaram o Governo João Goulart. Os udenistas daquela época hoje estão distribuídos em partidos como o PMDB, o PSDB, os Democratas e outras siglas afins. Ou seja, não há muita diferença entre os conspiradores de 1964 e os dos dias atuais, inclusive, quando o assunto é a grande imprensa, que oferece combustível sistemático aos urubus voando de costa, que ocupam outras plataformas de ação, como os que atuam no parlamento. 

Pelos idos de 1964, a família Mesquita, do Estadão, em Washington, pregava abertamente um golpe no Brasil. O editorial da Folha sugere que estamos próximos do fim. A trégua teria sido quebrada e os conspiradores voltaram à carga no sentido de fustigar um governo democraticamente eleito, cujo prazo de validade vai até 2018. Não há muita novidade aqui. É a Folha sendo a Folha.O que observamos como preocupante é o desfecho desse processo, que, certamente, poderá culminar num governo de coalizão liderados por esses algozes, com prejuízos evidentes para a saúde de nossas já frágeis instituições democráticas e o comprometimento dos avanços sociais conquistados nas últimas décadas, sob o governo de coalizão petista.  

Movimento de Base do PT publica nota de repúdio à censura do Governo de Pernambuco ao professor Michel Zaidan

domingo, 13 de setembro de 2015

Tijolinho do Jolugue: O processo contra Michel Zaidan - o silêncio ao redor.



O professor Michel Zaidan é um dos mais ativos e combativos cientistas políticos do Estado. Nunca foi um intelectual de gabinete, participando ativamente das mobilizações sociais em defesa dos direitos sociais; do Estado Democrático de Direito; da gerência democrática, republicana e transparente do Estado. Participa dos debates em sindicatos, universidades,  movimentos sociais, Ongs, diretórios acadêmicos, partidos políticos e outras entidades da sociedade civil. Dificilmente recusa um convite para participar de um debate, ministrar um curso, realizar um seminário. Penso que o único critério que orienta o professor é que esses temas se coadunem com as suas diretrizes de pensamento e o livre debate de ideias, que devem conduzir a uma vida em sociedade mais tolerante e justa socialmente.  

Até recentemente, realizou um curso sobre ética na política, organizado pelo Sindicato dos Servidores Públicos Federais no Estado. Um enorme sucesso, uma plateia atenta aos ensinamentos do mestre. Vale a pena assinalar, igualmente, a intensa participação do professor na imprensa, seja na imprensa escrita, televisionada ou radiofônica, debatendo eleições, gestões públicas, mobilizações sociais, entre outros temas. Sua participação nas redes sociais e na blogosfera tornou-se ativa nos últimos anos. O professor estava entre aqueles que tinha uma "desconfiança" dessas novas ferramentas de comunicação, desconfiança hoje já superada. 

Neste sentido, como bem observou o professor, é bastante estranho que os partidos de esquerda, os movimentos sociais, as entidades da sociedade civil organizada, as instituições acadêmicas - como a Universidade Católica de Pernambuco - onde foi aluno - e a UFPE - não publiquem uma nota de repúdio contra essa lei da mordaça, contra o jugo do delito de opinião que está  sendo implantada no Estado. Os jornais locais, neste domingo, dia 13, não trazem uma única nota sobre esse episódio, que atenta contra a liberdade de expressão e de opinião. Uma lástima mesmo. Estamos realmente em mal lençóis. Se os milicos, por uma infelicidade voltarem, certamente, encontrarão uma legião de lambe-botas.  

Última chance ou preparação da guilhotina?



Leio estarrecido nos jornais de domingo as medidas cogitadas de vir em resposta ao rebaixamento da nota do Brasil por uma agência de rating do mercado financeiro: atrelamento dos gastos em políticas sociais ao crescimento do PIB, aumento da idade mínima de aposentadoria, aumento para 12 por cento na contribuição dos servidores públicos para a previdência, extinção da política de aumentos reais do salário mínimo, etc.



Ao que parece, como lenitivo, aventa-se a hipótese distante de estabelecimento de novas alíquotas sobre a renda dos mais ricos.
Impressiona a baixa qualidade do debate econômico na grande imprensa sobre as possibilidade de saídas da crise. Martela-se uma única tecla, que passa por verdade dogmática. Só há espaço para uma vertente do debate econômico: a sabedoria convencional que considera que o problema fiscal será resolvido às custas de uma recessão redentora, em vez de cogitar a possibilidade da queda das despesas financeiras, através da baixa da taxa de juros, bem como, pelo lado da arrecadação, a taxação das grandes fortunas e do consumo de luxo.
É falso afirmar que o caminho por nós insinuado foi fracassado no primeiro governo Dilma. Ao contrário, no primeiro governo Dilma, tivemos o congelamento de tarifas públicas de energia e aportes subsidiados do tesouro ao BNDES, na esperança que a redução dos custos fiscais do capital produzisse crescimento econômico. Deu no que deu.
Escrevi em agosto de 2914, incrédulo de assistir o ufanismo ingênuo de muitos militantes do PT em campanha, que qualquer que fosse o presidente da república eleito, ele enfrentaria uma crise fiscal do Estado, cujas primícias estavam evidentes. Mas também nunca concordei que o receituário encomendado a Joaquim Levy constitua a única alternativa possível. Isso é arrematada bobagem de ignorantes.
Acabo de ler nesta madrugada o editorial de capa da Folha de S Paulo, cujo emblemático título acode pelo nome de "Última Chance". Nele, encontram-se enunciadas as medidas impopulares de apoio da burguesia brasileira, algumas das quais citei no começo dessa postagem.
Mais adequado seria que o título do editorial fosse - PREPARAÇÃO DA GUILHOTINA.

Jaeldes Meneses, professor da Universidade Federal da Paraíba.

sábado, 12 de setembro de 2015

Tijolinho do Jolugue: Antonio Campos será mesmo candidato em Olinda



A agenda 40, uma série de encontros promovidos pelo PSB no Estado, esteve aqui em Olinda, no Colégio Dom, em Casa Caiada. Antes, foram espalhados pela cidade alguns outdoors, numa campanha de filiação ao partido. O irmão do ex-governador, Antonio Campos, possível candidato à Prefeitura da Marim dos Caetés, esteve presente ao encontro, assim como o senador Fernando Bezerra Coelho. Sileno Guedes, presidente da legenda no Estado, em seu discurso, praticamente confirma que o escritor Antonio Campos será mesmo o candidato da legenda à Prefeitura da Cidade, nas eleições municipais de 2016, algo que até os mosteiros de Olinda já sabiam. Dizem que os convidados extrapolaram, em muito, a tribo socialista. Havia convidados de outras legendas, o que nos fornece mais um indicativo de que a candidatura de Antonio Campos é mesmo definitiva. 

Ainda sobre Olinda, uma outra especulação que também está tomando contornos de realidade, é a possível candidatura da Deputada Estadual Luciana Santos, do PCdoB, o mesmo partido de Renildo Calheiros. Já se esperava que socialistas e comunistas fossem ao confronto na cidade, o que pode respingar na composição da aliança entre os dois partidos no Recife. Pernambuco vive sob o jugo do "delito de opinião", mas nos arriscamos a informar que um dos atores que aparece na foto acima, que cumpria, pelo que se sabe, o papel de intermediador de verbas de campanha em eleições passadas, sorrateiramente como uma víbora, vem se movimentando perigosamente pela região metropolitana do Recife. 

Em entrevista concedida a um jornal local, no momento que se referia a essas movimentações em Olinda, o vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira, foi lacônico: apressado como cru. Um torpedo com endereço certo. Não faz muito tempo, o irmão do ex-governador cobrou um posicionamento da legenda socialista sobre sua candidatura em Olinda. Oficialmente, o partido anuncia que só discutiria 2016 em 2016. Como se trata do irmão do ex-governador, eles abriram uma exceção, mostrando, como dizia o ex-presidente Jânio Quadros, que, neste país, o hímen é mesmo complacente e as regras não se aplicam a todos. 

Tijolinho do Jolugue: E o Moreira Franco foi ao "cozidão" de Jarbas.





A imprensa traz hoje a informação de que a presidente Dilma Rousseff teria identificado em Moreira Franco(PMDB), seu ex-ministro, como o principal nome entre os conspiradores de um suposto pedido de impeachment contra ela. Nunca fui muito simpático a este cidadão, mas, sinceramente, nunca imaginei que ele pudesse ser um dos principais atores envolvidos nessa conspiração. Muito mais pelo seu estilo - normalmente discreto - do que pelo seu caráter, muito semelhante aos demais companheiros de agremiação, o que não surpreenderia se ele tivesse metido até a medula nessa engrenagem política. O que nos leva a concluir que a presidente pode ter razão é um "cozido", recentemente oferecido pelo pernambucano, Jarbas Vasconcelos, em sua residência, na capital federal, onde o senhor Moreira Franco esteve presente. 

Até recentemente, o Deputado Federal Jarbas Vasconcelos, em declarações à imprensa, sugeriu que o Governo da presidente Dilma Rousseff havia acabado e ela se fazia de sonsa, parecendo desconhecer a gravidade do problema. Duas coisas nos impressiona neste cidadão Jarbas Vasconcelos: historicamente, ele foi forjado na luta pela redemocratização do país, sendo um dos mais combativos parlamentares contra a Ditadura Militar, instaurada no país com o golpe civil-militar de 1964. Perfilou, durante muitos anos, entre os autênticos do PMDB. Esse é o dado histórico de sua biografia. 

No tocante ao aspecto conjuntural, até recentemente, manifestava-se contra as tentativas de conspiração contra o mandato da presidente Dilma Rousseff, colocando-se como um ator político identificado com a legalidade. Eis que ele abandona o sossego de um dia ensolarado de domingo - onde poderia convocar os amigos para mais um "cozido", em sua casa de praia -  para participar das manifestações contra a presidente Dilma, naquele dia 16 de agosto, na praia de Boa Viagem. Os fatos que ocorreram em seguida apenas confirmariam aquilo que já se suspeitava, ou seja, ele mudaria de posição, passando a defender o impeachment ou a renúncia da presidente. 

Aliás, ele fala muito em renúncia, como se a presidente Dilma fosse mulher de renunciar a alguma coisa. Informa o parlamentar que o processo seria menos traumático e, com isso, a presidente daria uma demonstração de grandeza. A posição de Michel Temer todos já conhecem. Ela não se orienta por princípio, convicção, mas pelo mais puro oportunismo político. Não teria qualquer remorso em dá uma rasteira na titular do cargo, caso veja nisso uma oportunidade de ampliar o seu poder ou nacos na administração pública, tratada, no Brasil, como um butim dessa gente.  

Michel Zaidan Filho: O duro e impopular exercício da crítica


Dizia o cronista pernambucano Nelson Rodrigues que toda unanimidade é burra. É burra e perigosa, quando se trata da existência de uma sociedade democrática.
Por melhor e infalível que seja o governante de turno (prefeito, governador e presidente), a necessidade do contraditório, da atividade crítica, vigilante e fiscalizadora dos cidadãos é fundamental para a oxigenação do sistema político-partidário.
A busca, a qualquer preço, da unanimidade pelo governante é uma forma de despotismo suave, sobretudo quando se assenta na cooptação, no aliciamento ou compra de apoio político-parlamentar.
A liberdade de expressão ou de opinião, num regime democrático, não é um beneplácito do gestor ou administrador. É uma garantia de que sua gestão seja republicana, realize o bem comum ou o interesse público.
Um administrador público – seja ele um político de carreira, um guarda-livros ou contabilista – não é eleito por um chefe, por uma família, uma oligarquia ou grupo político, para preservar e ampliar vantagens, conveniências e interesses desse grupo ou dessa oligarquia.
A Ciência Política Clássica levou muitas centenas de anos para definir o conceito de representação ou mandato popular. Desde o abade Syeis até hoje, a essência, o garante, a base da representação é a soberania do povo. Ou seja, o mandatário governa em nome, com e para o povo.
É portanto injustificável que produza-se uma curiosa inversão: de mandatário do povo em mandante do povo.
Em vez, do compromisso com os interesses populares, compromissos com os financiadores ou patrocinadores de campanha, o governante deve fidelidade à Constituição e à vontade política da população, expressa na autorização dada, pelo voto, ao vencedor nas urnas. Mas isso o obriga a realizar sua vontade e, acima de tudo, a prestar contas de seu mandato àqueles que o elegeram e também aos que não o elegeram. Afinal, todos são contribuintes e cidadãos.
Um governante que não sabe conviver com o contraditório e se aborrece com as críticas de seus concidadãos ou governados confunde a gestão pública com a gestão privada (de sua casa ou de sua empresa) ou, como burocrata, pensa que a crítica é uma mera licença poética concedida por ele aos que desaprovam ou fazem reparos à sua gestão.
Estes confundem a liturgia e os privilégios do cargo como autorização para fazerem o que quiserem com o erário público, sem prestar contas de sua gestão. E ai das daqueles que acharem ruim; estes vão se queixar ao bispo.
Um agravante desse modelo de gestão é a ausência efetiva da separação de poderes e o papel da mídia.
Se as novas casas legislativas não estivessem tão desmoralizadas e destituídas de poder, seriam o contraponto necessário à vontade imperial do governante. A elas cabe o papel da fiscalização, do controle das atividades do Poder Executivo. Infelizmente, tornaram-se em instrumento de homologação da vontade do gestor, às custas do aliciamento e da cooptação. Como dizia a filósofo judia, se transformaram em mercados de compra e venda de apoios políticos.
Pior é o papel da imprensa dita livre e independente, que se comporta como empresa e busca vantagens junto ao Poder Político e Econômico.
De órgãos formadores da opinião pública, viraram máquinas de “produção” de um falso consenso, de uma pseudo-unanimidade em torno dos poderosos de turno.
Se quisermos desfazer a impressão de um famoso historiador paulista que chamou o nosso regime democrático de um profundo mal-entendido, num contexto de formação oligárquico-liberal, é preciso fazer da liberdade de opinião, da liberdade de crítica, da liberdade de consciência, mas do que uma simples reverência retórica nas cátedras e salões nobres do Parlamentos.
É preciso ter coragem de exercê-las diante daqueles que confundem o cargo com uma prebenda, e a crítica como crime ou desrespeito.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da UFPE e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE


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O xadrez político das eleições de 2016, no Recife: O PT recifense emite sinais de vida e avisa que entrará no páreo.





José Luiz Gomes

"Delito de opinião". Esta talvez seja uma das expressões mais usadas no mundo político pernambucano, depois que o governador do Estado, muito mal assessorado, resolveu abrir um processo contra o cientista político e professor titular da Universidade Federal de Pernambuco, Michel Zaidan Filho. Diante das circunstâncias turvas que passaram a envolver o Estado, até mesmo os nossos artigos de monitoramento das movimentações em torno das eleições municipais de 2016, no Recife - que saem sempre às quintas-feiras - sofreram um ligeiro atraso. Nosso blog nunca foi tão visitado e algo nos leva a concluir que não são apenas leitores interessados nos artigos do professor, mas, possivelmente, cumpinchas a serviço desses interesses escusos. 

Estamos preparando um longo artigo sobre as fragilizadas de sustentabilidade dessa oligarquia política em Pernambuco, em razão de suas práticas, da postura dos seus atores, mas isso fica para mais adiante. Vamos ao Palácio Antonio Farias. O fato político mais relevante da semana que passou talvez tenha sido mesmo uma espécie de "despertar" do Partido dos Trabalhadores em relação às próximas eleições municipais. Afora o médico Mozar Neves - que deve estar muito ocupado lá por Goiana - Os outros dois nomes petistas cotadas para uma eventual indicação para concorrer às eleições para a Prefeitura do Recife, em 2016, João Paulo - que hoje é presidente da SUDENE - e João da Costa ocuparam espaços na mídia, reafirmando a convicção de que o partido deve entrar na disputa, estabelecendo um confronto de gestão petista e socialista. 

Quando deixou a Prefeitura do Recife, o ex-prefeito João da Costa estava com o prestígio mais baixo do que poleiro de pato. O que se alardeava por toda a cidade era que, dificilmente, alguém poderia fazer uma gestão pior do que a sua. Na tempestade, depois que deixou o cargo, o matuto de Angelin se recolheu ao seus aposentos, passou a meditar sob a massaranduba do tempo e observar as indicações das espumas formadas pelas águas que batiam nas pedras. Penso que a única coisa da qual ele não se afastou foi do hábito de manter o "azeite" da máquina partidária, onde já conseguiu infringir derrotas acachapantes aos seus adversários. Disso não se descuida.

A vitória de Geraldo Júlio(PSB) veio cercada de muitos símbolos. Era o "gerente" praticamente "nomeado" pelo ex-governador Eduardo Campos para transferir para o Recife, o pool de desenvolvimento observado no Estado. Somava-se a isso, o "fim" do ciclo petista no Palácio Antonio Farias, depois de 12 anos ininterrupto de gestão. Uma sequência de fatos, no entanto, contribuíram para diluir sensivelmente essas expectativas: a morte prematura do padrinho político, o ex-governador Eduardo Campos; as circunstâncias econômicas adversas, comprometendo o andamento de algumas obras prioritárias; dificuldades na condução da "miudeza" política, criando alguns problemas com o legislativo; alguns problemas de gestão, permitindo a abertura de uma flanco negativo junto a alguns setores da população, principalmente junto àquele eleitorado mais esclarecido e exigente. 

Recife estava entre as cidades estratégicas para os planos do ex-governador, Eduardo Campos, tornar-se presidente do Brasil. Daí que ela seria importante para irradiar o seu projeto, como um bom exemplo de gestão - comandada por um afilhado político - assim como vinha ocorrendo com o Governo do Estado. Logo em seguida, sobretudo em razão de sua morte, se descobriu que esse modelo inovador de gestão era uma falácia, alimentada por uma bem-sucedida engrenagem de publicidade institucional. 

Conhecedor das enormes dificuldades de gestão, o prefeito Geraldo Júlio convocou a sua equipe para avaliar a crise, não esquecendo de enfatizar que se tratava de uma definição de estratégias para enfrentar a "crise nacional", como se os problemas do cotidiano dos recifenses estivessem, tão somente, relacionados aos problemas de Brasília. Muito bom jogar toda essa batata quente no colo da presidente Dilma Rousseff, como se não houvessem alternativa de gestão tupiniquim para enfrentar a crise.

Seria muito improvável que um prefeito eleito nas condições de Geraldo Júlio pudesse habilitar-se ao concurso de má-gestão do Recife, mas, pelo andar da carruagem política, isso hoje não se constituiria numa grande surpresa. As condições não são boas, as obras estão paradas e as chances de uma reeleição em céu de brigadeiro diminuem sensivelmente. Historicamente, as gestões petistas foram responsáveis por alguns avanços na Prefeitura da Cidade do Recife. A despeito dos problemas, o partido deixou seu DNA no Palácio Antonio Farias. O orçamento participativo é uma dessas marcas, assim como o "cuidado com as pessoas' e as políticas culturais, que já deixa a comunidade artística com saudade daqueles tempos. 

Numa entrevista concedida a uma rádio local, o ex-prefeito João Paulo - hoje na presidência da SUDENE - fez questão de enfatizar que a gestão do senhor Geraldo Júlio está muito distante de superar o legado petista na PCR. Embora os analistas políticos sempre afirmem que as eleições municipais são decididas na quadra local, em termos de candidatos e não de partidos, penso que o chamado "efeito coxinha" não poderá ser negligenciado nessas eleições de 2016. Há um desgaste evidente na imagem do partido e isso, possivelmente, se refletirá naquelas eleições.Os dirigentes mais sensatos do PT já admitem, a boca miúda, que manter as prefeituras conquistadas nas eleições de 2012 já seria de bom tamanho. 

A canonização de Eduardo Campos, Padroeiro de Pernambuco.


Por Mário Benning.
Um ano após o acidente que vitimou o Ex Governador Eduardo Campos, a poeira já assentou e a comoção, que turvou as emoções de boa parte do eleitorado pernambucano, desvaneceu. E passamos, nesse contexto, a ter mais condições efetivas em analisar o seu Governo e o seu legado, saindo do terreno da emoção e migrando para a razão e a objetividade.
Contudo parece que o núcleo do PSB estadual, recusa-se a permitir o encerramento do período de luto no Estado. Exagerando no tom das homenagens e tentando manter um estado de comoção permanente, objetivando as eleições de 2016 e se brincar até 2018.
A explicação para esse comportamento doentio, está no vácuo deixado pelo seu trágico falecimento. Afinal ele, Eduardo, montou um estrutura de poder, um arranjo político, que só poderia ser operado por ele, e ninguém mais.
Do litoral ao Sertão era patente o seu objetivo em tornar Pernambuco uma possessão, uma Capitania Hereditária. Não era um projeto partidário, do PSB, era um projeto pessoal, seu. Se fosse partidário, ele teria favorecido as diversas lideranças existentes no partido.  Políticos experientes e qualificados, como Fernando Bezerra Coelho, Danilo Cabral, Tadeu Alencar e João Lyra.
Porém Eduardo escolheu “técnicos”, leiam-se leigos e dóceis, para ocuparemos principais cargos políticos no Estado: a Prefeitura do Recife e o Governo Estadual. Para que mesmo afastado da cadeira e da caneta de Governador, continuasse pairando como um tutor acima dos eleitos e exercendo o efetivo controle sobre as principais máquinas públicas do Estado. Os eleitos seriam apenas meros gestores, seguradores da caneta, mas o poder continuaria em suas mãos. A sombra por trás do trono, o titereiro a conduzir as suas marionetes.
Contudo com o seu desaparecimento o sistema começa a ruir, como um castelo de cartas. Já que o sistema engendrado criou uma situação paradoxal, os que têm liderança, e poderiam nesse momento de crise oferecer esperanças e alternativas estão afastados do poder.  E os que têm o poder, não comandam, não possuem liderança, como o Governador Paulo Câmara e o Prefeito Geraldo Júlio.
E nesse vazio, todas as contradições das gestões de Eduardo Campos estão aflorando, desde o rombo nas contas públicas no ano passado, o terceiro maior do país. Ao endividamento excessivo do Estado, que agora cobra o seu preço. Ao uso da máquina para alavancar a sua campanha presidencial e a do seu sucessor, com a distribuição, a toque de caixa, de recursos através do FEM. A herança maldita toma corpo, mostrando as fragilidades da nova política.
E com o barco fazendo água, se avolumam as primeiras defecções na gigantesca aliança forjada por Eduardo. Com Jarbas Vasconcelos sinalizando um desembarque da Arca de Noé que se tornou a frente popular, e a possível disputa pelo comando da Prefeitura do Recife, minando assim o poder do PSB no Estado.
Com isso a única arma que resta ao atual quadro dirigente do PSB no Estado, é apelar para que a mística permaneça viva, apelando para um Eduardismo.  Um sebastianismo do século XXI, onde o herói tragado pela tragédia salvaria e zelaria por todos, aguardando o seu retorno, nesse caso através de seus familiares.
Com isso, Pernambuco, que sempre foi considerado um dos Estados mais politizados do país, com embates e disputas políticas que marcaram época. Poderia perder um dos aspectos mais interessantes da nossa história recente, um dos poucos Estados a não ter uma dinastia familiar pairando sobre a política local.
Se a Bahia teve ACM, o Maranhão Sarney, Goiás os Caiados, Pernambuco parecia blindado a esse tipo de situação. Porém como diz o ditado popular: não há bem que sempre dure, e mal que nunca se acabe!
Se o Eduardismo vingar, lograr êxito, só nós resta solicitar a canonização de Eduardo Campos, e a sua entronização como Padroeiro de Pernambuco. Para isso bastam apenas à realização de mais dois milagres, as reeleições de Geraldo Júlio e de Paulo Câmara respectivamente . Afinal podemos atribuir à vitória na disputa eleitoral do ano passado na sua conta, o primeiro milagre. Completando assim os três exigidos pelo Vaticano para a sua canonização.
Pelo menos assim teríamos uma desculpa para a situação sui generis que ocorreria na política estadual, a santidade do homem. Já que só assim, explicaríamos como um morto poderia decidir as disputas políticas. Com os quadros do PSB elevados ao status de pitonisas, interpretes da vontade do Santo, e sacerdotes do seu culto.
Mário Benning é Mestre em Geografia e Professor do IFPE/Caruaru.


sexta-feira, 11 de setembro de 2015

#Michel é nossa voz: irrestrita solidariedade a Michel Zaidan






Wagner Braga Batista*

Nosso querido Michel, mais uma vez, é alvo dos costumeiros ataques das oligarquias pernambucanas.

O incansável paladino das boas causas, mais uma vez, defronta-se com espectros da nossa cultura política. Com horrores, que se disseminam pelo nosso país. Que assolam os quatro ou cinco poderes constitucionais, as  chamadas instituições republicanas e chegam às pirambeiras íngremes, onde estão empoleiradas algumas de nossas centrais sindicais e associações de classe.

O bom Michel dos tempos de bom combate, sobreviveu. Subsistiu às lutas de resistência, à penosa defesa das liberdades políticas, da democratização da universidade e da construção dos canais de participação da sociedade civil no embate contra o regime militar. Incansável, reúne as gratificantes energias trazidas do bom combate. 

Participamos da recomposição da antiga ADUPB-CG, de árduas refregas para que não se transformasse numa associação recreativa, e do Congresso, no qual se definia a configuração da ANDES. Esta gente, que ora disputa o espólio do PT, pretendia rifar a democracia da entidade sindical no nascedouro.

Michel, por conta de seu descortino crítico, quase foi brindado com a primeira moção de repúdio da ANDES.

À época, Aloisio Mercadante já exercitava seus dotes. Como notável ameba, que se encaixa  em qualquer recipiente, inseria-se na direção do sindicato como posteriormente em quaisquer cargos ou futuros governos. Com a mesma maleabilidade com que entra e sai. Assim como se  desvencilha de convicções, de aloprados, de José Dirceu e até do camarada Lula, no momento oportuno. Com sua capacidade de amoldar-se às circunstâncias, prenunciando esmagadora derrota em eleições democráticas, livres e diretas, recorreu à metodologia do politbureau soviético. Vejam só !

A denúncia da tentativa de enfiar goela abaixo dos professores a escolha indireta de seus dirigentes rendeu a Michel a ira dos revolucionários de então. Derrotados na votação, elegeram seus inimigos ocasionais, os defensores da inquestionável democracia direta com a participação de todos professores. 

Diga-se, a massa inexpressiva. Aquela mesma, que nas greves e mobilizações dos anos 1980 conferia legitimidade e lastro ao sindicato nacional,  homologa à atual parcela atrasada, incapaz de acompanhar a dinâmica da vanguarda classista em viagens aéreas, na militância das diárias em  associações esvaziadas, assembleias de meia dúzia e  petits comités, que regem os destinos da humanidade.

Michel sempre teve este mérito. Não se curvar frente o golpismo e se abster do questionamento de práticas lesivas à democracia.

Enquanto professor do antigo Departamento de Sociologia, do Centro de Humanidades, do campus II, da UFCG,  participou ativamente do processo de democratização da universidade. Sem hesitação, denunciou os conchavos que asseguravam a sobrevida dos revolucionários da Nova República, articulados com o que havia de mais atrasado na universidade. Interpelou o falso radicalismo emergente, gerado em proveta, inseminado ao abrigo das ¨liberdades burguesas¨, tão depreciadas, mas que lhes deram luz. Padeceu a truculência e a infâmia, utilizadas como métodos de intervenção política, para desqualificar e intimidar interlocutores. Diga-se, de modo análogo ao golpismo de direita, observado nos dias atuais.

Nesta conjuntura, amadurecemos politica e sindicalmente, graças a profícuo convívio com o velho Raimundo Santos. Hoje, algumas opções políticas nos separam. No essencial, continuamos juntos, valorizando a democracia substantiva, móvel da construção do socialismo.

Sem temeridade, na última década, Michel tornou-se um dos mais argutos críticos das manobras, desmandos e volúpia das oligarquias pernambucanas. Especialmente da trajetória que culminou com a ascensão de Eduardo Campos. Das disputas familiares, da luta sem quartéis pelo butim de Arraes. Ao ponto de se despojarem de qualquer escrúpulo para espetacularizar acidente trágico, transformando-o em autêntico festim macabro.

Suas críticas ao patrimonialismo e aos diversos estratagemas empregados para instrumentalizar o aparelho de Estado como fonte de apropriação privada de recursos públicos, renderam-lhe inúmeras ameaças e processo judicial.

Incontestes, seus questionamentos ganharam força, com a simpatia e a adesão de diferentes segmentos da sociedade civil pernambucana. Sem se deixar intimidar, Michel não renunciou às suas convicções, à defesa da democracia substantiva, do reconhecimento e da ampliação de direitos sociais inadiáveis. Michel não esmoreceu. Continuo firme na luta desigual contra a ditadura sutil de oligarquias, que controlam parcela expressiva da imprensa, tornaram-se hegemônicas na esfera legislativa, exercem influência sobre o judiciário e gozam prerrogativas próprias do poder Executivo.

Com seus procedentes questionamentos, Michel Zaidan nos traz à lembrança a ação, aparentemente solitária, de D Helder Câmara.

Frente ao silencio imposto pela ditadura, D Helder parecia pregar na solidão do deserto. Como vimos, com o passar dos anos, sua voz ecoava fundo nos nossos corações.

#Michel é nossa voz: irrestrita solidariedade a Michel Zaidan.

* Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG

As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição

Tijolinho do Jolugue: Como prender Michel Zaidan ?


 

 
Durante a guerra de libertação da Argélia, do domínio francês, o escritor e filósofo Jean-Paul Sartre tornou-se um dos militantes mais ativos na luta anticolonialismo. Com o prestígio acadêmico e intelectual de Sartre - algo que ia muito além das fronteiras da França - isso incomodava profundamente o governo francês. Comenta-se que um dos ministros se dirigiu ao estadista Charles De Gaulle, recomendando-o que prendesse Sartre. Teria ouvido do primeiro-ministro a expressão: "não se prende Voltaire." A despeito das críticas, De Gaulle tinha estatura para o cargo que ocupava.

Como se diz lá pelo interior, sabia separar o fundo das calças. Aqui pela província, infelizmente, pelo andar da carruagem política, as coisas parecem que estão desandando de uma vez, e os nossos governantes, eleitos para gerenciar a máquina estatal, agora estão se envolvendo com picuinhas, fuxicos e salamaleques, baixando-se ao nível de mover processos contra os seus críticos, com o propósito de intimidá-los. Dizem que se trata de um problema de assessoria, mas penso tratar-se de um problema mas complexo. 

Falta mesmo preparo; envergadura para a função; capacidade de tolerância com quem pensa diferente; traquejo político. Ontem, do alto da sua experiência, ativismo midiático e militância política, Anatólio Julião​, recomendou ao governador do Estado que procurasse conversar com pessoas mais experientes; quem sabe ouvir o seu conselho político; e, na primeira oportunidade, estabelecesse uma conciliação com o professor Michel Zaidan, no sentido de encerrar esse processo, por tratar-se de uma peça sem sentido, que deve contribuir, tão somente, para fragilizar ainda mais sua avaliação em setores estratégicos na formação da opinião pública, como a academia, a legião de ex-alunos, admiradores e orientandos do professor Zaidan. Lembrava ainda o sociólogo, os problemas que o Estado de Pernambuco apresenta, que já seriam suficientes para recomendar aos seus assessores o cuidado devido com o que realmente importa.

Seja qual for o resultado dessa sandice, o governador do Estado já entra perdido nessa batalha. Segundo ficamos sabendo, hoje pela manhã, em contato com dois professores da UFPE, um colegiado de professores daquela instituição já estariam preparando uma nota de repúdio em defesa do professor Michel Zaidan. As poucas notinhas que a imprensa local publicou sobre o assunto, informava que haveria uma preocupação, por parte do professor, sobre uma eventual prisão. Não sabemos se isso é apenas uma especulação - assim espero que seja - ou se haveria uma motivação real para essa preocupação. Como nós não estamos na França e nem diante de um governador com a estatura política de um Charles De Gaulle... 

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O convite de vossa excelência


quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Tijolinho do Jolugue: O que é que está se passando com a nossa cabeça, Fábio Junior?



Penso que todos temos o direito de manifestarmos nossas posições política, sem que isso signifique que tenhamos de ser patrulhados ou jogados por alguns para queimar na fogueira do inferno. Mas é exatamente isso o que vem ocorrendo em nosso país. Um padrão de intolerância jamais visto. Em Salvador, no último final de semana, um jovem foi morto depois de ser barbaramente espancado por 08 homens. Tinha apenas 22 anos de idade. Crime? passeava de mãos dadas com o seu irmão gêmeo, o que levou os homens a espancá-los, pensando que se tratava de um casal de homossexuais. Um deles morreu no local e o outro foi socorrido, ainda com vida, e permanece sob cuidados. 

Normalmente, o público de esquerda possui os seus ícones, como o cantor Chico Buarque de Holanda, o ator José de Abreu. A direita, não fica por menos, vai de Cléo Pires, de Regina Duarte, Lobão e agora, quem sabe, o cantor Fábio Júnior não entra nessa galeria. Essa última leva é de fazer dó: defendem abertamente o impeachment da presidente Dilma Rousseff; são contra a demarcação de terras indígenas e até fazem brincadeiras de mal gosto com o dedo que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva perdeu num acidente de trabalho. No contexto dessa galeria, penso que o Fábio Junior ser excedeu um pouco.  Já cheguei na casa dos 50 e penso que ainda não consegui entender alguns comportamentos do ser humano. Se os espíritas tiverem razão, quando morrer, já irei providenciar um livro de protocolo, pedindo a Chico Xavier para autorizar imediatamente a nossa volta a este plano, com o objetivo de continuarmos aprofundando essa compreensão.

As faixas exibidas durante as manifestações dos coxinhas contra a presidente Dilma Rousseff dão bem a dimensão disso. Aparece umas senhoras - já da melhor idade - exibindo aqueles cartazes pedindo que os militares salvem o país; que Dilma deveria ter sido morta por seus torturadores; que essa corja deveria ter sido morta durante o regime militar e coisas assim. Logo aparece alguém informando que essa gente perdeu aquela aula de sociologia ou de história, mas, parece-nos, que o problema não é tão simples. Isso não pode ser apenas "desinformação".Isso representa, na realidade, esse "ranço" miserável de nossas elites contra os estratos sociais oriundos da base da pirâmide social. Direitos? que direitos? se os meus direitos são melhores do que o seu. É perversidade mesmo. 

É nesse contexto que as ideias fascistas encontram um terreno fértil. Não se constitui exagero afirmar que ele já está presente em nosso cotidiano, através do apedrejamento aos homossexuais, às prostitutas, o trucidamento de pessoas inocentes em praças públicas, chacinas como a que ocorreu em Osasco, São Paulo, onde 18 pessoas foram mortas pela Polícia Militar do Estado. Um cantor como Fábio Junior faz uma declaração dessas - afirmando que o dedo de Lula esta naquele lugar conhecido dos brasileiros - e torna-se, um artista idolatrado por séquitos de apoiadores, para muito além dos seus fãs tradicionais. E ainda tem aquele jovem que foi às redes sociais pedir a morte da presidente Dilma Rousseff. Nossa desesperança é grande. 

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Nous sommes tous Michel Zaidan





José Luiz Gomes


Ainda não não conseguimos ler o livro "Brasil, uma biografia", escrito por Lilia M. Schworcz e Heloisa. M. Starling. O livro nos foi enviado recentemente e ainda não tivemos a oportunidade abrir o pacote. Trata-se de uma obra que  está sendo muito bem recomendado e, mesmo que não estivesse, iríamos solicitá-la, na perspectiva de entendermos, quem sabe,  um pouco melhor o país. Aproveitei o último domingo, madrugada a dentro, para acompanhar uma entrevista concedida pelas autoras ao Canal Livre, transmitido pela TV aberta, precisamente pela Rede Bandeirantes.Muita coisa foi discutida durante o debate, mas, vira e mexe, os entrevistadores voltavam sempre à cena do homem cordial, de Sérgio Buarque de Hollanda, sobre a enorme dificuldade de se estabelecer limites entre o espaço público e o espaço privado no Brasil. E as autoras, com aquela simpatia e traquejo, iam logo emendando, daí as dificuldades de reconhecimento dos direitos do andar de baixo. Para a elite, meus direitos não se comparam aos seus. 

No país,com raras exceções, os gestores públicos fazem uma verdadeira "farra" com a res publica. Coitada dessa nossa res publica, que fica a mercê desses governantes, para as orgias celebradas através do patrimonialismo, do familismo amoral, do nepotismo e e outros ismos afins, igualmente danosos ao interesse público. Impressionante como parte da população não consegue enxergar esses danos e, por vezes, alimentam esses sanguessugas do erário público, permitindo sua reprodução, inclusive por canais institucionais que poderiam servir de contraponto a isto, como o processo eleitoral, que deveria filtrar essas ervas daninhas do erário.  Já que estamos falando em 'hiatos", eis aqui um bom debate, ou seja, como podemos ter avançado tanto em termos de arcabouço institucional e continuarmos vivendo ainda, nos tempos do Coronelismo, Enxada e Voto?

Não gostaríamos de falar dos mortos, mas é inevitável a referência ao  sociólogo francês Pierre Bourdieu. Se estivesse aqui na província, ele nos informaria que, os que poderiam mudar isso não o desejam, possivelmente em razão dos privilégios auferidos - que são os que estão em cima -; e os de baixo se contentam com alguns ritos simbólicos, algumas vantagens pontuais. Ou, para usarmos uma expressão conhecida, das migalhas que caem da mesa dessa gente. De forma que,no final, tudo se ajeita com muito "jeitinho" e vaselina política.

Não se constitui nenhuma exagero afirmar que, por ali pelo Bairro de Dois Irmãos está se sendo cevada uma nova oligarquia política no Estado, com simbolismos típicos de um principado. E ai de quem ouse clamar em defesa do interesse público nesse momento, a exemplo do professor Michel Zaidan Filho, da Universidade Federal de Pernambuco. Essas oligarquias se alimentam do apanágio, dos áulicos e bajuladores de turno, dos subservientes e dóceis.Alguns verbetes políticos foram solenemente abolidos do seu dicionário, como, por exemplo, interesse público, republicanismo, publicidade de suas ações, transparência da gestão, prudência e equilíbrio no que concerne à opinião pública. Afinal, como afirma o professor, o Estado não tem dono e os eleitos receberam uma concessão para gerenciar a máquina pública, submetida às leis, à fiscalização da população.

Isso que está ocorrendo com o professor Michel Zaidan denota uma profunda falta de respeito com quem pensa diferente, tem a coragem a dignidade de emitir suas opiniões, não se submete aos governantes de turno,e, portanto, são vítimas desses achincalhes, perseguições e injustiças. É aquela pedrinha no sapato, que tanto incomoda os governantes e, na primeira oportunidade, eles tentam retirá-la de cena, jogando-o para bem distante.  

Os pernambucanos deveriam se orgulhar de ter aqui na província pessoas com o caráter, a decência e a integridade de um Michel Zaidan, que nunca se curvou a esses desmandos com os interesses republicanos. Todos que se insurgem contra essas oligarquias são vítimas desse mesmo processo. Parece até coisa combinada. Os métodos são os mesmos. A primeira manobra é desmoralizar e desacreditar o indivíduo, tratando-os como loucos, ranzinzas, frustrados, minimizando os efeitos dos seus discursos. A segunda etapa é forjar ou criar processos, numa tentativa de intimidá-los. Quando não existe nada, eles criam, plantam, disseminam inverdades. 

E o pior é que encontram cupinchas para realizarem o trabalho "sujo", em troca de algumas migalhas. Abaixo, publico uma foto sobre o que foi feito com a vereadora Marília Arraes, quando ela abriu uma dissidência dentro das hostes oligarcas.
É o que está ocorrendo com o professor Michel Zaidan. Infelizmente, essa turma estende seus tentáculos para todas as esferas do aparelho de Estado, comprometendo, por vezes, um julgamento justo de suas vítimas. 

Pelo andar da carruagem política, o que teria motivado a ira de vossa excelência, possivelmente foi um artigo do professor, com o título de FAIRPLAY, quando estourou aquela operação da Polícia Federal,  em terras pernambucanas, envolvendo os negócios nebulosos entre o Estado e a iniciativa privada, na construção da Arena Pernambuco. Foi a Polícia Federal que afirmou que se tratou de uma manobra urdida por uma "quadrilha" com o propósito de desviar recursos públicos. O superfaturamento atingiu a vergonhosa cifra de 43 milhões de reais. 

Temos a honra de ter sido aluno e amigo do professor Michel Zaidan.  Alguém lembrou nos comentários ao artigo do professor, que isso se assemelha a um processo kafkaniano. De fato, o professor tem razão ao questionar o procedimento de não ser informado sobre as acusações que lhes estão sendo imputadas. Mas, o caráter kafkaniano do processo não esgota-se aqui. Ele começa pelo princípio de se interpor à liberdade de expressão.Temos certeza de que ele, mais uma vez, com o apoio de tod@s nós irá superar tudo isso, terá muitos anos de vida pela frente e continuará vigilante, nos últimos andares do CFCH, com sua visão arguta da realidade, observando o que anda ocorrendo no Palácio do Campo das Princesas. Quer eles gostem ou não.


Leia também o possível artigo gerador da polêmica:


FAIR PLAY