José Luiz Gomes
"Delito de opinião". Esta talvez seja uma das expressões mais usadas no mundo político pernambucano, depois que o governador do Estado, muito mal assessorado, resolveu abrir um processo contra o cientista político e professor titular da Universidade Federal de Pernambuco, Michel Zaidan Filho. Diante das circunstâncias turvas que passaram a envolver o Estado, até mesmo os nossos artigos de monitoramento das movimentações em torno das eleições municipais de 2016, no Recife - que saem sempre às quintas-feiras - sofreram um ligeiro atraso. Nosso blog nunca foi tão visitado e algo nos leva a concluir que não são apenas leitores interessados nos artigos do professor, mas, possivelmente, cumpinchas a serviço desses interesses escusos.
Estamos preparando um longo artigo sobre as fragilizadas de sustentabilidade dessa oligarquia política em Pernambuco, em razão de suas práticas, da postura dos seus atores, mas isso fica para mais adiante. Vamos ao Palácio Antonio Farias. O fato político mais relevante da semana que passou talvez tenha sido mesmo uma espécie de "despertar" do Partido dos Trabalhadores em relação às próximas eleições municipais. Afora o médico Mozar Neves - que deve estar muito ocupado lá por Goiana - Os outros dois nomes petistas cotadas para uma eventual indicação para concorrer às eleições para a Prefeitura do Recife, em 2016, João Paulo - que hoje é presidente da SUDENE - e João da Costa ocuparam espaços na mídia, reafirmando a convicção de que o partido deve entrar na disputa, estabelecendo um confronto de gestão petista e socialista.
Quando deixou a Prefeitura do Recife, o ex-prefeito João da Costa estava com o prestígio mais baixo do que poleiro de pato. O que se alardeava por toda a cidade era que, dificilmente, alguém poderia fazer uma gestão pior do que a sua. Na tempestade, depois que deixou o cargo, o matuto de Angelin se recolheu ao seus aposentos, passou a meditar sob a massaranduba do tempo e observar as indicações das espumas formadas pelas águas que batiam nas pedras. Penso que a única coisa da qual ele não se afastou foi do hábito de manter o "azeite" da máquina partidária, onde já conseguiu infringir derrotas acachapantes aos seus adversários. Disso não se descuida.
A vitória de Geraldo Júlio(PSB) veio cercada de muitos símbolos. Era o "gerente" praticamente "nomeado" pelo ex-governador Eduardo Campos para transferir para o Recife, o pool de desenvolvimento observado no Estado. Somava-se a isso, o "fim" do ciclo petista no Palácio Antonio Farias, depois de 12 anos ininterrupto de gestão. Uma sequência de fatos, no entanto, contribuíram para diluir sensivelmente essas expectativas: a morte prematura do padrinho político, o ex-governador Eduardo Campos; as circunstâncias econômicas adversas, comprometendo o andamento de algumas obras prioritárias; dificuldades na condução da "miudeza" política, criando alguns problemas com o legislativo; alguns problemas de gestão, permitindo a abertura de uma flanco negativo junto a alguns setores da população, principalmente junto àquele eleitorado mais esclarecido e exigente.
Recife estava entre as cidades estratégicas para os planos do ex-governador, Eduardo Campos, tornar-se presidente do Brasil. Daí que ela seria importante para irradiar o seu projeto, como um bom exemplo de gestão - comandada por um afilhado político - assim como vinha ocorrendo com o Governo do Estado. Logo em seguida, sobretudo em razão de sua morte, se descobriu que esse modelo inovador de gestão era uma falácia, alimentada por uma bem-sucedida engrenagem de publicidade institucional.
Conhecedor das enormes dificuldades de gestão, o prefeito Geraldo Júlio convocou a sua equipe para avaliar a crise, não esquecendo de enfatizar que se tratava de uma definição de estratégias para enfrentar a "crise nacional", como se os problemas do cotidiano dos recifenses estivessem, tão somente, relacionados aos problemas de Brasília. Muito bom jogar toda essa batata quente no colo da presidente Dilma Rousseff, como se não houvessem alternativa de gestão tupiniquim para enfrentar a crise.
Seria muito improvável que um prefeito eleito nas condições de Geraldo Júlio pudesse habilitar-se ao concurso de má-gestão do Recife, mas, pelo andar da carruagem política, isso hoje não se constituiria numa grande surpresa. As condições não são boas, as obras estão paradas e as chances de uma reeleição em céu de brigadeiro diminuem sensivelmente. Historicamente, as gestões petistas foram responsáveis por alguns avanços na Prefeitura da Cidade do Recife. A despeito dos problemas, o partido deixou seu DNA no Palácio Antonio Farias. O orçamento participativo é uma dessas marcas, assim como o "cuidado com as pessoas' e as políticas culturais, que já deixa a comunidade artística com saudade daqueles tempos.
Numa entrevista concedida a uma rádio local, o ex-prefeito João Paulo - hoje na presidência da SUDENE - fez questão de enfatizar que a gestão do senhor Geraldo Júlio está muito distante de superar o legado petista na PCR. Embora os analistas políticos sempre afirmem que as eleições municipais são decididas na quadra local, em termos de candidatos e não de partidos, penso que o chamado "efeito coxinha" não poderá ser negligenciado nessas eleições de 2016. Há um desgaste evidente na imagem do partido e isso, possivelmente, se refletirá naquelas eleições.Os dirigentes mais sensatos do PT já admitem, a boca miúda, que manter as prefeituras conquistadas nas eleições de 2012 já seria de bom tamanho.
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