Leio estarrecido nos jornais de domingo as medidas cogitadas de vir em resposta ao rebaixamento da nota do Brasil por uma agência de rating do mercado financeiro: atrelamento dos gastos em políticas sociais ao crescimento do PIB, aumento da idade mínima de aposentadoria, aumento para 12 por cento na contribuição dos servidores públicos para a previdência, extinção da política de aumentos reais do salário mínimo, etc.
Ao que parece, como lenitivo, aventa-se a hipótese distante de estabelecimento de novas alíquotas sobre a renda dos mais ricos.
Impressiona a baixa qualidade do debate econômico na grande imprensa sobre as possibilidade de saídas da crise. Martela-se uma única tecla, que passa por verdade dogmática. Só há espaço para uma vertente do debate econômico: a sabedoria convencional que considera que o problema fiscal será resolvido às custas de uma recessão redentora, em vez de cogitar a possibilidade da queda das despesas financeiras, através da baixa da taxa de juros, bem como, pelo lado da arrecadação, a taxação das grandes fortunas e do consumo de luxo.
É falso afirmar que o caminho por nós insinuado foi fracassado no primeiro governo Dilma. Ao contrário, no primeiro governo Dilma, tivemos o congelamento de tarifas públicas de energia e aportes subsidiados do tesouro ao BNDES, na esperança que a redução dos custos fiscais do capital produzisse crescimento econômico. Deu no que deu.
Escrevi em agosto de 2914, incrédulo de assistir o ufanismo ingênuo de muitos militantes do PT em campanha, que qualquer que fosse o presidente da república eleito, ele enfrentaria uma crise fiscal do Estado, cujas primícias estavam evidentes. Mas também nunca concordei que o receituário encomendado a Joaquim Levy constitua a única alternativa possível. Isso é arrematada bobagem de ignorantes.
Acabo de ler nesta madrugada o editorial de capa da Folha de S Paulo, cujo emblemático título acode pelo nome de "Última Chance". Nele, encontram-se enunciadas as medidas impopulares de apoio da burguesia brasileira, algumas das quais citei no começo dessa postagem.
Mais adequado seria que o título do editorial fosse - PREPARAÇÃO DA GUILHOTINA.
Jaeldes Meneses, professor da Universidade Federal da Paraíba.
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