Wagner Braga Batista*
Nosso querido Michel, mais uma vez, é alvo dos costumeiros ataques das oligarquias pernambucanas.
O
incansável paladino das boas causas, mais uma vez, defronta-se com
espectros da nossa cultura política. Com horrores, que se disseminam
pelo nosso país. Que assolam os quatro ou cinco poderes constitucionais,
as chamadas instituições
republicanas e chegam às pirambeiras íngremes, onde estão empoleiradas
algumas de nossas centrais sindicais e associações de classe.
O
bom Michel dos tempos de bom combate, sobreviveu. Subsistiu às lutas de
resistência, à penosa defesa das liberdades políticas, da
democratização da universidade e da construção dos canais de
participação da sociedade civil no embate contra o regime militar.
Incansável, reúne as gratificantes energias trazidas do bom combate.
Participamos
da recomposição da antiga ADUPB-CG, de árduas refregas para que não se
transformasse numa associação recreativa, e do Congresso, no qual se
definia a configuração da ANDES. Esta gente, que ora disputa o espólio
do PT, pretendia rifar a democracia da entidade sindical no nascedouro.
Michel, por conta de seu descortino crítico, quase foi brindado com a primeira moção de repúdio da ANDES.
À época, Aloisio Mercadante já exercitava seus dotes. Como notável ameba, que se encaixa em
qualquer recipiente, inseria-se na direção do sindicato como
posteriormente em quaisquer cargos ou futuros governos. Com a mesma
maleabilidade com que entra e sai. Assim como se desvencilha
de convicções, de aloprados, de José Dirceu e até do camarada Lula, no
momento oportuno. Com sua capacidade de amoldar-se às circunstâncias,
prenunciando esmagadora derrota em eleições democráticas, livres e
diretas, recorreu à metodologia do politbureau soviético. Vejam só !
A
denúncia da tentativa de enfiar goela abaixo dos professores a escolha
indireta de seus dirigentes rendeu a Michel a ira dos revolucionários de
então. Derrotados na votação, elegeram seus inimigos ocasionais, os
defensores da inquestionável democracia direta com a participação de
todos professores.
Diga-se,
a massa inexpressiva. Aquela mesma, que nas greves e mobilizações dos
anos 1980 conferia legitimidade e lastro ao sindicato nacional, homologa
à atual parcela atrasada, incapaz de acompanhar a dinâmica da vanguarda
classista em viagens aéreas, na militância das diárias em associações esvaziadas, assembleias de meia dúzia e petits comités, que regem os destinos da humanidade.
Michel sempre teve este mérito. Não se curvar frente o golpismo e se abster do questionamento de práticas lesivas à democracia.
Enquanto professor do antigo Departamento de Sociologia, do Centro de Humanidades, do campus II, da UFCG, participou
ativamente do processo de democratização da universidade. Sem
hesitação, denunciou os conchavos que asseguravam a sobrevida dos
revolucionários da Nova República, articulados com o que havia de mais
atrasado na universidade. Interpelou o falso radicalismo emergente,
gerado em proveta, inseminado ao abrigo das ¨liberdades burguesas¨, tão
depreciadas, mas que lhes deram luz. Padeceu a truculência e a infâmia,
utilizadas como métodos de intervenção política, para desqualificar e
intimidar interlocutores. Diga-se, de modo análogo ao golpismo de
direita, observado nos dias atuais.
Nesta
conjuntura, amadurecemos politica e sindicalmente, graças a profícuo
convívio com o velho Raimundo Santos. Hoje, algumas opções políticas nos
separam. No essencial, continuamos juntos, valorizando a democracia
substantiva, móvel da construção do socialismo.
Sem
temeridade, na última década, Michel tornou-se um dos mais argutos
críticos das manobras, desmandos e volúpia das oligarquias
pernambucanas. Especialmente da trajetória que culminou com a ascensão
de Eduardo Campos. Das disputas familiares, da luta sem quartéis pelo
butim de Arraes. Ao ponto de se despojarem de qualquer escrúpulo para
espetacularizar acidente trágico, transformando-o em autêntico festim
macabro.
Suas
críticas ao patrimonialismo e aos diversos estratagemas empregados para
instrumentalizar o aparelho de Estado como fonte de apropriação privada
de recursos públicos, renderam-lhe inúmeras ameaças e processo
judicial.
Incontestes,
seus questionamentos ganharam força, com a simpatia e a adesão de
diferentes segmentos da sociedade civil pernambucana. Sem se deixar
intimidar, Michel não renunciou às suas convicções, à defesa da
democracia substantiva, do reconhecimento e da ampliação de direitos
sociais inadiáveis. Michel não esmoreceu. Continuo firme na luta
desigual contra a ditadura sutil de oligarquias, que controlam parcela
expressiva da imprensa, tornaram-se hegemônicas na esfera legislativa,
exercem influência sobre o judiciário e gozam prerrogativas próprias do
poder Executivo.
Com seus procedentes questionamentos, Michel Zaidan nos traz à lembrança a ação, aparentemente solitária, de D Helder Câmara.
Frente
ao silencio imposto pela ditadura, D Helder parecia pregar na solidão
do deserto. Como vimos, com o passar dos anos, sua voz ecoava fundo nos
nossos corações.
#Michel é nossa voz: irrestrita solidariedade a Michel Zaidan.
* Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG
As
afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta
responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a
opinião da instituição
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