Por Mário Benning.
Um ano após o acidente que vitimou o
Ex Governador Eduardo Campos, a poeira já assentou e a comoção, que turvou as
emoções de boa parte do eleitorado pernambucano, desvaneceu. E passamos, nesse
contexto, a ter mais condições efetivas em analisar o seu Governo e o seu
legado, saindo do terreno da emoção e migrando para a razão e a objetividade.
Contudo parece que o núcleo do PSB
estadual, recusa-se a permitir o encerramento do período de luto no Estado.
Exagerando no tom das homenagens e tentando manter um estado de comoção
permanente, objetivando as eleições de 2016 e se brincar até 2018.
A explicação para esse comportamento
doentio, está no vácuo deixado pelo seu trágico falecimento. Afinal ele,
Eduardo, montou um estrutura de poder, um arranjo político, que só poderia ser
operado por ele, e ninguém mais.
Do litoral ao Sertão era patente o
seu objetivo em tornar Pernambuco uma possessão, uma Capitania Hereditária. Não
era um projeto partidário, do PSB, era um projeto pessoal, seu. Se fosse
partidário, ele teria favorecido as diversas lideranças existentes no
partido. Políticos experientes e qualificados, como Fernando Bezerra
Coelho, Danilo Cabral, Tadeu Alencar e João Lyra.
Porém Eduardo escolheu “técnicos”,
leiam-se leigos e dóceis, para ocuparemos principais cargos políticos no
Estado: a Prefeitura do Recife e o Governo Estadual. Para que mesmo afastado da
cadeira e da caneta de Governador, continuasse pairando como um tutor acima dos
eleitos e exercendo o efetivo controle sobre as principais máquinas públicas do
Estado. Os eleitos seriam apenas meros gestores, seguradores da caneta, mas o
poder continuaria em suas mãos. A sombra por trás do trono, o titereiro a
conduzir as suas marionetes.
Contudo com o seu desaparecimento o
sistema começa a ruir, como um castelo de cartas. Já que o sistema engendrado
criou uma situação paradoxal, os que têm liderança, e poderiam nesse momento de
crise oferecer esperanças e alternativas estão afastados do poder. E os
que têm o poder, não comandam, não possuem liderança, como o Governador Paulo
Câmara e o Prefeito Geraldo Júlio.
E nesse vazio, todas as contradições
das gestões de Eduardo Campos estão aflorando, desde o rombo nas contas
públicas no ano passado, o terceiro maior do país. Ao endividamento excessivo
do Estado, que agora cobra o seu preço. Ao uso da máquina para alavancar a sua
campanha presidencial e a do seu sucessor, com a distribuição, a toque de
caixa, de recursos através do FEM. A herança maldita toma corpo, mostrando as
fragilidades da nova política.
E com o barco fazendo água, se
avolumam as primeiras defecções na gigantesca aliança forjada por Eduardo. Com
Jarbas Vasconcelos sinalizando um desembarque da Arca de Noé que se tornou a
frente popular, e a possível disputa pelo comando da Prefeitura do Recife,
minando assim o poder do PSB no Estado.
Com isso a única arma que resta ao
atual quadro dirigente do PSB no Estado, é apelar para que a mística permaneça
viva, apelando para um Eduardismo. Um sebastianismo do século XXI, onde o
herói tragado pela tragédia salvaria e zelaria por todos, aguardando o seu
retorno, nesse caso através de seus familiares.
Com isso, Pernambuco, que sempre foi
considerado um dos Estados mais politizados do país, com embates e disputas
políticas que marcaram época. Poderia perder um dos aspectos mais interessantes
da nossa história recente, um dos poucos Estados a não ter uma dinastia
familiar pairando sobre a política local.
Se a Bahia teve ACM, o Maranhão
Sarney, Goiás os Caiados, Pernambuco parecia blindado a esse tipo de situação.
Porém como diz o ditado popular: não há bem que sempre dure, e mal que nunca se
acabe!
Se o Eduardismo vingar, lograr êxito,
só nós resta solicitar a canonização de Eduardo Campos, e a sua entronização
como Padroeiro de Pernambuco. Para isso bastam apenas à realização de mais dois
milagres, as reeleições de Geraldo Júlio e de Paulo Câmara respectivamente .
Afinal podemos atribuir à vitória na disputa eleitoral do ano passado na sua
conta, o primeiro milagre. Completando assim os três exigidos pelo Vaticano
para a sua canonização.
Pelo menos assim teríamos uma
desculpa para a situação sui generis que ocorreria na política estadual, a
santidade do homem. Já que só assim, explicaríamos como um morto poderia
decidir as disputas políticas. Com os quadros do PSB elevados ao status de
pitonisas, interpretes da vontade do Santo, e sacerdotes do seu culto.
Mário Benning é Mestre em Geografia e
Professor do IFPE/Caruaru.
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