No último final de semana, o Jornal Folha de São Paulo, através de um editorial com o sugestivo título "Ultima Chance", praticamente deu um ultimato à presidente Dilma Rousseff. O jornal da família Frias é uma espécie de porta-voz dos interesses da elite conservadora do país. Como a crise é grande e envolve diversos aspectos, talvez devêssemos dividi-las em pedacinhos para melhor entendê-la. É o que pretendemos fazer, ao discuti-la, durante os próximos dias. Enquanto Dilma era pressionada pela direita a radicalizar esses ajustes de orientação neoliberal, ditados pelo mercado e o grande capital; por outro lado, os movimentos sociais, como o MST, o MTST se colocavam numa trincheira oposta, exigindo da presidente uma mudança substantiva na condução da política econômica, claramente, subtraidora dos diretos da classe trabalhadora. Não sabemos se existe esse termo "subtraidora" mas ele será mantido, por se aplicar bem à situação. Se não existe, acabamos de criar mais um neologismo.
No lema desses movimentos sociais - historicamente identificados com os governos de coalizão petista - a saída seria com o povo e pela esquerda. Dilma fez ouvidos de mouco em relação aos apelos dos movimentos sociais, optando por um alinhamento com os segmentos políticos derrotados nas últimas eleições, que querem apeá-la do poder antes do prazo de validade, que vai até 2018. Nossa identidade com o Governo Dilma permanece, vamos defendê-lo até às últimas consequências, mas não dá para tapar o sol com a peneira, como vejo que alguns petistas estão fazendo aqui pelas redes sociais. Nossa posição é de princípio. O que defendemos intransigentemente, na realidade, é o cumprimento das regras do jogo democrático.O respeito ao Estado Democrático de Direito. Legalmente, não há nada previsto que possa justificar um pedido de impeachment e as próximas eleições presidenciais estão agendadas para outubro de 2018.
Como disse, pretendo abordar cada questão ao seu tempo, estabelecendo um encadeamento didático, facilitando o entendimento dos leitores. Mas, de antemão, já antecipo o grave equívoco do aumento da carga tributária, com a volta do famigerado CPMF, um imposto profundamente impopular. Por outro lado, para o deleite de nossa elite escravocrata, os programas sociais - a despeito das negativas do Governo - serão, sim, atingidos, quebrando um ciclo de enfrentamento das desigualdades históricas no país. Minha Casa, Minha Vida; Pronatec; Bolsa Família, programas sociais importantíssimos, terão dificuldades de apresentarem estatísticas favoráveis nos próximos rankings. Em termos programático, está ocorrendo uma espécie de estelionato eleitoral. Não foi isso o que nos combinamos, dona Dilma Rousseff. Comecei a desconfiar desse processo quando, logo no início do seu Governo, a "vaca começou a tossir", confirmando a tese do filósofo Nietzsche de que toda palavra é uma máscara e todo discurso é uma 'fraude". Seu Governo é de fazer corar o mais renhido tucano. Está mantida a lógica da corda que arrebenta sempre do lado mais fragilizado, dos mais pobres, dos sem teto, dos sem terra, dos assalariados, dos servidores públicos. Mais uma vez o grande capital está blindado.
Alguns desses programas deverão morrer mesmo de inanição, como vem ocorrendo com o Bolsa Família, que não sofre reajustes desde 2014. Afirmamos isso baseados em pronunciamentos públicos de economistas que tiveram relações diretas com as políticas de redistribuição de renda, como é o caso de Marcio Pochmann e Marcelo Neri - profundamente identificados com os projetos de erradicação da pobreza dos governos de coalizão petista - mas pessimistas quanto ao futuro desses programas. Logo no início do Governo Dilma, Marcelo Neri deixou a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, numa atitude numa devidamente esclarecida. Voltou a dar suas aulas na Fundação Getúlio Vargas. Hoje foi a vez do oráculo de Harvard, Roberto Mangabeira Unger entregar o boné. Talvez porque não haja mesmo muita coisa a ser feita com o Brasil, Pátria Educadora.
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