pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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sábado, 19 de março de 2022

Que tipo de mudança?

 

Que tipo de mudança?
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(Foto: Ralph Baiker)

 

Maria Rivera Iribarren é deputada constituinte. Advogada ligada à Defensoria Popular, órgão que presta apoio jurídico a movimentos sociais, presa política durante a ditadura militar, Maria Rivera descreve as insurreições de 2019 pelas quais o Chile passou como “manifestações revolucionárias”. Ela não é a única a pensar assim. Marcela Leiva, militante que aparecera no primeiro texto dessa série, havia usado a mesma palavra de maneira enfática.

Não é preciso muito para sentir o peso que uma palavra como essa tem para nós. Da mesma forma, não é necessário muito para lembrar também de seu desgaste e de sua indeterminação. Pois estamos quase que naturalmente dispostos a aceitar que não veremos mais transformações estruturais em formas políticas e modos de produção, a não ser em delírios de certos acadêmicos ociosos.

Ou ainda, que veremos transformações, mas elas não se darão sob a forma de rupturas de estrutura. Ou ainda, que haverá rupturas de estruturas, mas que deveríamos repensar o que entendemos efetivamente por “estrutura” e quais seus pontos de mudança. É certo que todas essas questões fazem parte da compreensão do que está a ocorrer hoje no Chile.

“Eu falaria que as revoltas de 2019 foram o início de uma revolução porque todos diziam que haveria de mudar tudo. Houve uma irrupção violenta das massas que, por um instante, ninguém podia controlar. Como se falava nesse momento: nos tiraram tudo, até o medo”, diz Maria Rivera. Alejandra Bottinelli, professora de literatura da Universidade do Chile, militante com forte participação em grupos ligados ao governo que se inicia no dia 11 de março, tem uma figura concreta para esse descontrole: “Muitos diziam que as manifestações não sabiam para onde iam, que suas pautas eram confusas. Era interessante que, de fato, elas não tinham direção, mas eu falo de direção geográfica. Elas não obedeciam ao trajeto de todas as manifestações em Santiago. Eram mesmo movimentos de corpos sem condução”.

Por essas ironias da história, o resultado da ausência de condução foi conduzir-se exatamente para onde manifestação alguma havia ido. Mover-se sem condução é algo perigoso, pois você pode acabar alcançado o alvo. Como dizia Hegel, o medo do erro muitas vezes esconde o medo da verdade. No caso, a verdade é outro nome para os espaços empresariais e de representação do Capital: “Tudo mudou quando as manifestações se dirigiram para o Costanera Center [o maior shopping center de Santiago, situado no supostamente mais alto edifício da América Latina]. Foi como se uma fronteira tivesse sido ultrapassada. A partir daí, ficou claro para os setores burgueses que seria necessário negociar”, diz Paulo Slachevsky, editor da LOM ediciones, uma das mais importantes editoras de livros de humanidades do país.

Mas se há aqueles que reconhecem uma dimensão efetivamente insurrecional pela qual passou o Chile, é difícil encontrar voz dissonante quando a questão é sobre o que pode o governo que se inicia no dia 11: “o governo de Boric terá aberturas democráticas, mas essas aberturas não resolverão as demandas populares. Podemos escrever uma constituição que é um poema, mas isso não resolve”, diz Maria Rivera.

Se for possível dizer em uma expressão o que move a expectativa de muitos dos atores e das atoras políticas, talvez o melhor termo, aquele que mais apareceu, seja: “Estado solidário”. Luis Mesina, líder sindical que também aparecera no primeiro texto, é um dos que sintetiza o embate falando sobre a “passagem de um Estado subsidiário para um Estado solidário”.

“Estado subsidiário” é o termo que nasce a partir da constituição de 1980 para falar de um Estado radicalmente atrofiado em sua capacidade de assegurar serviços públicos e planejamento econômico. O que talvez explique porque um cartaz onipresente nas ruas de Santiago ainda hoje seja: “vocês transformaram nossas necessidades em seus melhores negócios”.

Manifestações em Santiago, Chile, no dia 8 de março (Fotos: Ralph Baike)

Mas o que tal Estado solidário pode ser, até onde ele pode ir, nada disso está efetivamente claro. Mesmo questões como a educação completamente gratuita não estão no Plano de governo de Boric. Joga-se para a expectativa de modificação desse ponto pela constituição.

Nesse contexto, há aqueles que creem que veremos uma dinâmica de avanços de questões nas quais os movimentos sociais são mais fortes, como as causas ambientas, as lutas feministas e povos originários, um redesenho institucional do país, mas poucas transformações econômicas. Poucas ao menos se comparadas ao nível de radicalidade das exigências do que os chilenos e chilenas chamam de “outubrismo”, ou seja, o horizonte dos movimentos que emergem em outubro de 2019.

“Certamente, vai haver decepção”, diz Marcela Leiva. Menos ainda se lembrarmos o que um governo “reformista” como Salvador Allende implementou: nacionalização da economia do cobre (base das exportações chilenas), estatização do sistema bancário, só para ficar nos dois casos mais exemplares.

Mas se voltamos os olhos aos movimentos mais estruturados, é fácil perceber uma dinâmica de lutas com força hegemônica. Exemplar nesse caso é o movimento feminista. Em 8 de março, 200 mil mulheres pararam o centro de Santiago para marcar o Dia Internacional da Mulher. Em vários momentos, esses movimentos foram os responsáveis por sustentar as dinâmicas de lutas que deram força à insurreição popular. Hoje, ele se mostra claramente como um movimento dotado de transversalidade generacional e rechaço explícito ao horizonte do pensamento conservador, ainda forte no Chile.

Isso não impede de perceber como um dos eixos do ciclo de lutas sociais que agora se desdobram passa pela composição de uma unidade real que não será efetivamente simples. Um exemplo dramático disso ocorreu na própria manifestação de 8 de março, que encontrou com uma outra manifestação que defendia a liberação dos presos políticos de 2019 e que acabou se degenerando em violência e garrafas de vidro voando.

Não são poucos aqueles que temem que “a unidade como valor fundamental” não esteja mais na ordem do dia, com o consequente adiamento infinito das lutas estruturais entre Capital e trabalho, como Daniel Jadue, prefeito de Recoleta e pré-candidato à presidência do Chile pelo Partido Comunista Chileno.

O fato é que as chamadas para as manifestações de 8 de março clamavam para atos: “feministas, antirracistas, anticapitalistas, antifascistas, antiextrativistas”, entre outros. Ou seja, há a consciência do problema. Mas é certo também que alguns temas são mais facilmente integráveis do que outros. E nesse ponto gira toda a tensão dos processos políticos atuais no mundo. Tensão que o Chile parece viver em uma intensidade e urgência ainda maior.

 

Via chilena: a América Latina criando novos caminhos. Durante a semana da posse de Gabriel Boric à presidência do Chile, a Cult fornecerá artigos diários escritos a partir do relatos de ativistas, membros do governo e intelectuais chilenas e chilenos. Um momento importante da história do nosso continente descrito a partir de quem está lá.

Vladimir Safatle é Professor Titular da USP e atualmente fellowship do The New Institute/ Hamburgo.

(Publicado originalmente no site da Revista Cult)

Charge! Duke via O Tempo

 


Editorial: Vamos votar, gente!

 


José Luiz Gomes escreve:


Faz algum tempo que a jovem democracia brasileira tenta sobreviver aos solavancos golpistas. Não temos uma experiência de democracia aprimorada, tampouco consolidada. Impossível construir um modelo de democracia consolidada em meio a tantas desigualdades sociais. Neste contexto, até a democracia política fica irremediavelmente comprometida, embora seja ela a via mais prudente para se enfrentar tais desigualdades sociais e econômicas da população. Essa questão é tão séria que o cientista político polonês, Adam Przeworski, realizou uma exaustiva pesquisa, envolvendo diversos países, para chegar à conclusão de que, dependendo da renda per capita de cada um deles, a partir de um certo escore, a possibilidade de um retrocesso político chega a quase zero. Ou seja, quando a economia funciona - com distribuição de renda - as pessoas tendem a apostar no regime democrático. 

Em essência a estreiteza de nossa elite política e econômica nunca permitiu a construção de um modelo de democracia bem estruturado no país. Para o Brasil, vale a máxima do historiador Sérgio Buarque de Holanda - baseado nos vícios oriundos do modelo de colonização portuguesa - de que a democracia entre nós nunca passou de um grande mal-entendido. Nossa elite ficou muito mal-acostumada com o longo processo de exploração dos negros, em regime de trabalho escravo. O Brasil real e o Brasil oficial continuam cindidos e devem continuar assim pelos próximos anos.  

Mesmo assim, a duras penas, conseguimos construir um espécie de arremedo ou simulacro de democracia, bastante frágil, sujeito a constantes suspiros autoritários, mais identificada institucionalmente no seu aspecto político. Há sempre atores políticos de plantão dispostos a apostarem na via do retrocesso, com ressonância, inclusive junto a alguns segmentos da população, que parecem não dimensionar os horrores produzidos pelos regimes autoritários. Eleições regulares é um dos indicadores de um regime democrático. Eleições limpas, transparentes, dentro de regras bem definidas e respeitadas pelos atores políticos que participam do processo. 

Quando, por alguma razão, os cidadãos e cidadãs eleitores não demonstram algum interesse ou compromisso com o processo democrático, podemos concluir que alguma coisa não vai muito bem. Isso se reflete, naturalmente, naquele contingente que opta pelo voto em branco, anular o voto ou mesmo abster-se de votar. Thomas Traumman, articulista da revista Veja, chama nossa atenção para o problema, a partir de dados levantados por esta última pesquisa da Quaest-Genial, que constatou um razoável número de eleitores que pretendem anular o voto ou mesmo abster-se de votar, no Estado de São Paulo, nas próximas eleições de outubro. 

Eis aqui um dos maiores inimigos da democracia representativa, pois implica dizer que esses eleitores não estão apostando no processo democrático. E, sobretudo no Brasil, por razões bem conhecidas, todos sabemos que o regime democrático precisa ser fortalecido, através de demonstrações da população que indiquem seus acertos e repudiem aventuras obscurantistas. O Estado de São Paulo é o maior colégio eleitoral do país, onde se trava a maior batalha pela confiança dos eleitores em determinadas propostas e, naturalmente, os candidatos que as representam. Vamos às urnas, gente! 

Charge! Via Folha de São Paulo

 


sexta-feira, 18 de março de 2022

Editorial: Fica, Eduardo Leite!



É curioso esse assédio partidário em torno da figura do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite(PSDB-RS). Hoje, eminentes tucanos do bico fino redigiram uma carta dirigida ao governador, lembrando sua trajetória política e pedindo para ele não sair do ninho, num momento político tão delicado como este que estamos vivendo. Não se pode dizer que Eduardo Leite deixou de ter o apoio de ilustres tucanos durante as prévias realizadas pelo PSDB, vencida pelo governador de São Paulo, João Dória(PSDB-SP). 

O fato concreto é que, embora tenha vencido as prévias, há uma indisposição de velhos caciques da legenda com a candidatura de João Dória à Presidência da República. Posso até estar equivocado,mas o seu estilo pode ter detonado sua carreira política. Como já afirmamos aqui num outro momento, a única forma de Dória superar esse imbróglio seria o seu bom desempenho nas pesquisa de intenção de voto, mas, também aqui, ele não vai bem das pernas. Enfrenta um verdadeiro inferno astral, apesar de sua exemplar conduta no momento da crise sanitária, assim como ostentar uma relativa boa avaliação de sua gestão. 

Em alguns momentos, o eleitor até reconhece os seus méritos, mas emite indicadores de que não o desejaria como Presidente da Republica. O mesmo dilema ocorre com o candidato que tem o seu apoio para sucedê-lo no Palácio dos Bandeirantes,Rodrigo Garcia, para o qual ele não consegue uma transferência de votos, compatível, por exemplo, com os índices de sua avaliação como governador. Eduardo Leite, enfim, é aquele queridinho que não venceu as prévias. Acredita-se que também poderia ser viável como opção da terceira via. As pesquisas de intenção de voto até aqui realizadas - onde o nome dele aparece - não confirmam esse hipótese. 

Mas, o futuro dura muito tempo e a Deus pertence, diriam os evangélicos. Um ator político hábil como Gilberto Kassab(PSD-SP) enxergou alguma viabilidade no gaúcho e começou a cortejá-lo para a legenda, principalmente depois do Presidente do Senado Federa, Rodrigo Pacheco(PSD-MG) disistir da candidatura. Embora ainda jovem, o governador Eduardo Leite pretende mesmo candidatar-se à Presidência da República. Apesar dos apelos dos tucanos, a janela oferecida por Gilberto Kassab é bem mais interessante para o governador gaúcho, uma vez que os tucanos tem um cuco no ninho e não conseguem se livrar dele.

Você precisa ler também:

Afinal, para onde caminha o governador gaúcho Eduardo Leite.  


    

quinta-feira, 17 de março de 2022

Editorial: A estratégia petista para conter o avanço de Jair Bolsonaro



O presidente Jair Bolsonaro(PL) vive uma espécie de lua-de-mel com as pesquisas de intenção de voto. É curioso como a última série delas apontem, nitidamente, uma recuperação do presidente, em seu projeto de reeleição. As pesquisas tem indicado que ele cresce majoritariamente na região sul do país, mas as suas taxas de rejeição tambem estão caindo em regiões como o Norte e Nordeste, um tradicional reduto petista. E caindo numa velocidade surpreendente até para o próprio Planalto.Trata-se, concretamente, dos efeitos positivos do Auxílio Brasil para a população pobre,mesmo com alguns entraves econômicos, como alta de preços, níveis de crescimento ainda abaixo do esperado, eventuais efeitos da guerra.

Possivelmente depois das advertências do companheiro Guilherme Boulos, Presidente Nacional do PSOL, Lula convocou seu staff político para dizer que o adversário iria crescer daqui para frente. Como afirmamos no início, é uma espécie de lua-de-mel, sem os incômodos produzidos por aquele pica-pau de Walter Lantz. Um outro dado curioso, observado pelo jornalista Matheus Leitão, de Veja, é que ele pode estar recuperando as ovelhas desgarradas, ou seja, bolsonaristas que haviam abandonado o barco, movidos por algum nível de insatisfação. 

De base identitária bolsonarista, é quase certo que tal migração, ainda que incipiente, havia sido conquistada pelo ex-juiz da Lava-Jato, Sérgio Moro, do Podemos. Nesta última pesquisa da Quaest\Genial, o juiz perde dois pontinhos que podem ter ido parar na contabilidade positiva do presidente Jair Bolsonaro. Isso significa dizer - aparentemente, por enquanto - que pode estar havendo uma tendência de recuperação de seu espaço junto a uma base bolsonarista mais fidedigna - uma vez que os eleitores raízes possivelmente não o abondona - e penetrando no reduto do adversário, ou seja, eleitores pobres,das regiões Norte e Nordeste do país, beneficiários do Auxílio Brasil. 

A solução para se contrapor a essa tendência de crescimento do adversário, de acordo com o staff petista, seria intensificar a campanha, seja lá o que isso signifique. Sugeriu-se, até, um corpo a corpo, já abordado por aqui, o que não seria nada prudente nesses tempos bicudos que estamos vivendo, com uma disputa extremamente polarizada. Vai que um petista bata na porta de um bolsonarista raiz e tente convencê-lo a votar em Lula. Certamente, nesses tempos de intolerância, isso não poderia produzir um bom resultado.


Você precisa ler também:

Uma estratégia arriscada em tempos de polarização política. 


  

Charge! Laerte via Folha de São Paulo

 


Tijolinho: O PT deixa Marília Arraes


A situação da Deputada Federal Marília Arraes tornou-se insustentável no Partido dos Trabalhadores. Na realidade, não é Marília que deixa o PT, mas o PT que deixa Marília, perdendo um dos seus melhores quadros no Estado. Com densidade eleitoral, capilaridade política e trânsito nas instâncias orgânicas do partido, Marília representava a única chance de o PT erquer a cabeça, livrar-se da dependência dos socialistas e construir uma alternativa política à esquerda no cenário pernambucano. Alguém poderia questionar que existe uma figura de proa no partido, com projeção nacional, mas este já cedeu aos apelos imediatos de cargos na máquina, vendeu a alma ao diabo e pinta miséria, segundo dizem, para inviabilizar a guerreira Marília Arraes na máquina da burocracia do partido. 

Infelizmente, o partido perde um quadro importante, orgânico e viável eleitoralmente. Existem várias alternativas para Marília, incluisve a formação de uma chapa "Luluzinha" - como todo o nosso respeito às mulheres - ou seja, formada apenas por mulheres, integrando, quem sabe, Raquel Lyra, Priscila Krause e a própria Marília. Há, inclusive, outras alternativas, como um voo solo como candidata ao Governo do Estado nas próximas eleições estaduais. Em razão do seu espírito de guerreira, aliado à consciência do seu compromisso com as forças progressistas, Marília tenta encontrar uma agremiação política onde continue apoiando o projeto de eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP).

Seu destino ainda é incerto, mas, como informamos, existem várias possibilidades, inclusive o Partido Solidariedade, de Paulinho da Força, mesmo partido do prefeito aqui de Olinda, Professor Lupércio. Até recentemente, o partido era comandado aqui no Estado pelo Deputado Federal Augusto Coutinho, que, certamente, não manteria muitas afinidades políticas com Marília Arraes. Mas isso é muito relativo, se considerarmos o fato de Marília Arraes ter construído pontes políticas com setores conservadores da política pernambucana desde a última eleição que disputou, quando do segundo turno. É uma lição política que ela deve ter aprendido com o avô, Dr.Miguel Arraes. Parece contraditório este dois últimos parágrafos, mas, a rigor, no Estado, ela pode fazer um link com os setores conservadores que poderão apoiar o ex-presidente Lula, a exemplo do PSD. No momento em que escrevo essas linhas, ela está tendo um encontro com o Deputado Federal André de Paula, homem forte de Kassab aqui no Estado. 


Você precisa ler também:

A corrida de obstáculos de Marília Arraes


    

terça-feira, 15 de março de 2022

Editorial: Fracassou o acordo do PT com o PP na Bahia



Através de Gilberto Kassab, o PT havia consturado um grande acordo político na Bahia, discutido, há algum tempo atrás, aqui no blog, a partir de matéria publicada na revista Veja, assinada pelo jornalista José Casado. Uma obra de engenharia política que envolvia renúncias e sacrifícios pessoais de alguns atores políticos, em nome, sobretudo, dos interesses nacionais envolvendo o PSD e o PT. O afago de Lula teria como objetivo trazer o partido de Kassab para encampar o projeto petista ainda no primeiro turno das eleições presidencias de outubro. Se antes isso era importante para o candidato do PT, hoje, tornou-se fundamentalmente importante, diante das dificuldades com as recentes pesquisas de intenção de voto, onde, a cada nova rodada, o presidente Jair Bolsonaro diminui sua diferença em relação ao petista. 

Jogador hábil, Kassab sabe que o apoio que deixa maiores dividendos políticos ocorre no segundo momento, onde o poder de barganha torna-se mais significativo. O apoiador passa a ser sócio majoritário do condomínio do poder. Comenta-se nos escaninhos da política, em Brasília, que a filiação do governador Eduardo Leite(PSDB-RS) ao partido de Kassab é quase certa, assim como sua candidatura à Presidência de República, com o apoio de tucanos do bico fino. 

Nestes dias, o governador estaria em Brasília, ajustando os últimos retoques do acerto. É bom que se diga que Eduardo Leite já foi testado em pesquisas de intenção de voto, sem que conseguisse se sobressair no pelotão da terceira via. Na Bahia, como observou Casado, vale a máxima atribuída ao grande jogador Garrincha, que, numa preleção, teria perguntado ao técnico se ele havia combinado as jogadas com o adversário. Ou seja, faltou combinar com as bases do partido, que rejeitaram veementemente a aliança com um representante do Centrão, João Leão(PP-BA), vice-governador, filiado ao PP, que ficaria no governo pelos próximos meses, com a saída de Rui Costa(PT-BA), que seria candidato ao Senado Federal. 

Caso o acordo fosse materializado, Lula faria barba, cabelo e bigode, algo que desagradava profundamente o Planalto, que tem candidato naquela praça, o Ministro da Cidadania, o pernambucano João Roma. Com um estilo bem semelhante ao avô, uma espécie de referência política, somente em ter aceito o cargo de ministro do governo Bolsonaro, foi o suficiente para um grande desentendimento entre o ministro e o neto de Antonio Carlos Magalhães, ACM Neto, ex-prefeito de Salvador, que move moinhos para retomar o controle político do Estado.   

Charge! Benett via Folha de São Paulo

 


domingo, 13 de março de 2022

Editorial: Diminuem os índices de criminalização do Partido dos Trabalhadores.



O site da revista Veja, em matéria assinada pelos jornalistas Rafael Moraes Moura e Letícia Casado, traz um excelente conteúdo para uma acalorada discussão política, a partir das conclusões de uma pesquisa qualitativa realizada pela Fundação Perseu Abramo. A Fundação Perseu Abramo é uma espécie de braço intelectual do Partido dos Trabalhadores, formada, em sua maioria, por intelectuais com sólida formação acadêmica, o que nos levam a dar credibilidade às análises, certamente conduzidas com a isenção exigida. 

Fazemos aqui essa ressalva, em razão do momento político que estamos vivendo, onde os ânimos estão bastante acirrados. Agora mesmo, abrimos uma postagem nas redes sociais, onde havia uma publicação, no Diário de Pernambuco, de uma pesquisa de intenção de voto no Estado, onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece com 62% das intenções de voto, dando um banho nos adversários, em condições de eleger até um poste aqui na província. Pois bem. Isto já é suficiente para despertar a sanha dos opositores, desacreditando a pesquisa, com agressões ao ex-presidente. Como afirmamos antes, a bílis substituiu o argumento, interditando um debate saudável de ideias. 

Aqui pelo blog, temos mantido o respeito e a isenção necessária a todos os candidatos, seja do campo progressista, seja do campo conservador. A Pesquisa da Fundação Perseu Abramo, de natureza qualitativa, possui um espectro bem mais amplo. Mas, no quesito corrupção na política, objetivava, sobretudo, tentar identificar como o eleitor não ideologizado associava esse problema ao PT, depois do linchamento moral ocorrido por ocasião do Mensalão e do Petrolão. 

A pesquisa aponta que o padrão de associação diminuiu, o que é uma notícia bastante alvissareira para o PT. Agora, vem a má notícia: Os eleitores entrevistados pela Fundação Perseu Abramo, consideram ser esse o maior problema da política brasileira. Os pesquisadores não estão dimensionando corretamente este dado, mas trata-se de um grande problema para o Partido dos Trabalhadores, porque, em última análise, a despeito dos problemas pontuais, até o momento não se sabe de um grande escândalo de corrupção envolvendo o governo de Jair Bolsonaro. Pode-se encontrar aqui mais uma explicação sobre a reação do presidente nas últimas pesquisas de intenção de voto.  

Charge! Jean Galvão via Folha de São Paulo

 






sábado, 12 de março de 2022

Editorial: A lua-de-mel de Jair Bolsonaro com as pesquisas de intenção de voto.



Depois de um certo período, o Planalto passou a comemorar cada nova pesquisa de intenção de voto que é divulgada. O presidente Jair Bolsonaro(PL) vive uma espécie de lua-de-mel com as pesquisas. Os comentários a esse respeito já se tornaram recorrentes, ora apontando as possíveis motivações do eleitorado para a mudança de humor em relação ao governo do presidente, assim como em relação ao rumos da economia, a despeito da carestia e da inflação dos preços de alguns produtos, como os combustíveis, por exemplo.Ou isso não muda nada ou a série de pesquisas realizadas até este momento ainda não conseguiram captar. 

O fato concreto é que o presidente Jair Bolsonaro vem seguindo à risca um script traçado pelos seus assossores políticos e isto está se refletindo favoravelmente nas pesquisas de intenção de voto. Não deve ter sido uma tarefa muito simples para a sua assessoria convencê-lo a mudar de estilo, mas eles estão sendo exitosos nesta missão. Um bom exemplo disso foram seus comentários em relação à fala do Deputado Estadual Arthur do Val(Podemos-SP), que ele considerou "asquerosas". 

Um outro fator que deve estar influenciando bastante os eleitores são os pacotes de bondade ora em curso ou em vias de implantação, como o anunciado pela Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos,  Damares Alves, destinados exclusivamente às mulheres. Como ensinava Maquiavel, o mestre florentino, bondades devem ser feitas em doses homeopáticas. Com a caneta na mão, bem-assessorado e dedicando-se mais à política - como este recente encontro com setores da Igreja Católica, que poderá suprir suas dificuldades parciais com os evangélicos - o fato concreto é que ele vem melhorando seus índices nas pesquisas, o que tem deixado preocupado o staff petista. 

Depois que a primeira IPESPE apontou uma ligeira reação, todas as peqsuisas realizadas em seguida, inclusive a do próprio IPESPE, confirmaram essa tendência, de onde se conclui que teremos uma das eleições mais renhidas e, possivelmente, bastante polarizada, uma vez que, até o momento, a chamada terceira via não apresentou uma candidatura competitiva. Há grandes negociações políticas a esse respeito, mas, concretamente, nada de novo no horizonte político, tampouco nas pesquisas de intenção de voto. Chegou-se a cogitar uma chapa com o ex-presidente Michel Temer(MDB-SP) e o governador gaúcho Eduardo Leite(PSDB-RS). Isso já esstá cheirando a desespero.    

Tijolinho: Paulo Câmara pode concorrer ao Senado



O governador de Pernambuco, Paulo Câmara(PSB), e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP) mantiveram uma longa conversa virtual nesta quinta-feira, 11. No cardápio, naturalmente, o jogo das definições políticas em Pernambuco, onde apenas o candidato ao Governo do Estado, Danilo Cabral(PSB-PE), está sacramentado para disputar o Governo pela Frente Popular. A definição do nome que disputará o senado, assim como compor a chapa governista na condição de vice, estão em processo de negociação. 

Não se trata de uma decisão simples, pois há muitos interesses em jogo, além de um complexo arranjo que sofre influência da conjuntura política nacional. Em tese, PT teria a primazia na indicação do candidato ao Senado Federal, mas corre-se o risco de se indicar um nome sem densidade eleitoral, jogando a Deputada Federal Marília Arraes(PT-PE) nos braços dos adversários, pois ela tem sido muito cortejada pelos opositores. 

Mas, independentemente desses arranjos, o que o morubixaba Lula definir está definido. Isso vale para o PT. Não sei se podemos fazer a mesma afirmação em relação ao conjunto da Frente Popular, que tem muitos pretendentes ao cargo. Certamente sabedor dessas dificuldades é que, segundo dizem,o próprio Lula sugeriu que o governador Paulo Câmara(PSB-PE) dispute o cargo, contrariando os interesses da legenda no Estado. Assim como poderia ocorrer na Bahia, onde o PP poderia ocupar o governo com a saída de Rui Costa(PT-BA), a sugestão de Lula implicaria em 09 meses de gestão para a comunista Luciana Santos(PCdoB-PE), uma eterna aliada do PT.   

Charge! Duke via O Tempo

 


Charge! Via Folha de São Paulo