José Luiz Gomes escreve:
Faz algum tempo que a jovem democracia brasileira tenta sobreviver aos solavancos golpistas. Não temos uma experiência de democracia aprimorada, tampouco consolidada. Impossível construir um modelo de democracia consolidada em meio a tantas desigualdades sociais. Neste contexto, até a democracia política fica irremediavelmente comprometida, embora seja ela a via mais prudente para se enfrentar tais desigualdades sociais e econômicas da população. Essa questão é tão séria que o cientista político polonês, Adam Przeworski, realizou uma exaustiva pesquisa, envolvendo diversos países, para chegar à conclusão de que, dependendo da renda per capita de cada um deles, a partir de um certo escore, a possibilidade de um retrocesso político chega a quase zero. Ou seja, quando a economia funciona - com distribuição de renda - as pessoas tendem a apostar no regime democrático.
Em essência a estreiteza de nossa elite política e econômica nunca permitiu a construção de um modelo de democracia bem estruturado no país. Para o Brasil, vale a máxima do historiador Sérgio Buarque de Holanda - baseado nos vícios oriundos do modelo de colonização portuguesa - de que a democracia entre nós nunca passou de um grande mal-entendido. Nossa elite ficou muito mal-acostumada com o longo processo de exploração dos negros, em regime de trabalho escravo. O Brasil real e o Brasil oficial continuam cindidos e devem continuar assim pelos próximos anos.
Mesmo assim, a duras penas, conseguimos construir um espécie de arremedo ou simulacro de democracia, bastante frágil, sujeito a constantes suspiros autoritários, mais identificada institucionalmente no seu aspecto político. Há sempre atores políticos de plantão dispostos a apostarem na via do retrocesso, com ressonância, inclusive junto a alguns segmentos da população, que parecem não dimensionar os horrores produzidos pelos regimes autoritários. Eleições regulares é um dos indicadores de um regime democrático. Eleições limpas, transparentes, dentro de regras bem definidas e respeitadas pelos atores políticos que participam do processo.
Quando, por alguma razão, os cidadãos e cidadãs eleitores não demonstram algum interesse ou compromisso com o processo democrático, podemos concluir que alguma coisa não vai muito bem. Isso se reflete, naturalmente, naquele contingente que opta pelo voto em branco, anular o voto ou mesmo abster-se de votar. Thomas Traumman, articulista da revista Veja, chama nossa atenção para o problema, a partir de dados levantados por esta última pesquisa da Quaest-Genial, que constatou um razoável número de eleitores que pretendem anular o voto ou mesmo abster-se de votar, no Estado de São Paulo, nas próximas eleições de outubro.
Eis aqui um dos maiores inimigos da democracia representativa, pois implica dizer que esses eleitores não estão apostando no processo democrático. E, sobretudo no Brasil, por razões bem conhecidas, todos sabemos que o regime democrático precisa ser fortalecido, através de demonstrações da população que indiquem seus acertos e repudiem aventuras obscurantistas. O Estado de São Paulo é o maior colégio eleitoral do país, onde se trava a maior batalha pela confiança dos eleitores em determinadas propostas e, naturalmente, os candidatos que as representam. Vamos às urnas, gente!
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