Prof.Dr. Michel Zaidan Filho
Prof. Mestrando Moisés Peixoto da Silva
Quando o “muro do Berlim” ruiu, talvez apressadamente demais, houve uma
onda de euforia neoliberal que pretendeu retificar a história contemporânea,
extirpando dela as páginas dedicadas à experiência socialista. Numa leitura
canhestra – influenciada por Alexandre Kojeve- da filosofia da História de
Hegel, apareceu um profeta nissei chamado Francis Fukuyama que
prognosticou o fim da História, com isso querendo dizer que a democracia
liberal e a economia de mercado eram o ponto final da evolução política e
social da humanidade. Como disse então Eric Hobsbawn, aquela era uma
profecia de vida muita curta, logo depois veio à guerra do Golfo e a roda da
História continuou a girar.
Agora, apareceu no Brasil um estadista Pernambucano de Belo Jardim
incorporado pela deusa grega Lethe ou Lesmosyne que foi “encostado” no
Ministério da Educação pelo golpe de 2016. Ele fez aprovar mais uma reforma
do Ensino Médio, cuja primeira medida na condição de Encosto Chefe do MEC,
através dela, foi não somente prognosticar, mas promover mesmo o fim da
História, outra vez. O que tem certos políticos para acertar logo a História,
quando detém um pouco de poder nas mãos? – Numa leitura freudiana, o
gesto poderia ser interpretado com o assassinato simbólico dos professores de
História pelo atual ministro. Lembre-se que ele manteve uma polêmica azeda
com seus mestres, na época da Escola Parque do Recife, chamando-os de
“subversivos”. É como se vingasse deles, agora, retirando a disciplina do
currículo do ensino médio. Mas essa seria uma interpretação rasa, superficial.
Há outra interpretação para isso: a mitológica. Ao longo da própria História,
havia também os que desejam o esquecimento para por no lugar da História.
Na Grécia antiga, havia os gregos que fizeram da memória uma deusa
chamada de Mnemósine que se uniu a Zeus gerando nove musas, entre elas:
Clio [história] com a intenção de guardar os segredos do passado, os mistérios
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do além e os grandes feitos dos heróis, por meio do canto das musas. Desse
casamento entre Zeus e Mnemósine, Ele adquire poder sobre os demais
deuses do Olimpo. Sem ela, Ele estaria mais próximo das rochas do que dos
homens, silencioso, insciente do passado, sempre idêntico a si mesmo, sem
planos. Pouco se distinguiria dos seus antepassados. Este casamento também
lhes conferia o dom da imortalidade, pois quem se torna memorável jamais
morreria! Outra função importante da Deusa Memória era a seleção das
informações que seriam transmitidas, por isso existe uma relação entre
Mnemosyne e seu oposto Lethe ou Lemosyne que personificava a deusa do
esquecimento.
Na Grécia Antiga, Lete ou Léthê que em grego antigo literalmente significa
"esquecimento" é também o nome de um dos rios do Hades. Aqueles que
bebessem de sua água experimentariam o completo esquecimento. O estadista
Pernambucano certamente bebeu muito das águas do rio Ipojuca que banha
sua cidade: Belo Jardim ao longo de sua vida. Etimologicamente, "Ipojuca" é
um termo originário da língua tupi antiga: significa "água das raízes podres",
cujo sabor a gente faz de tudo para esquecer. O Rio Ipojuca é o equivalente
pernambucano ao mitológico rio Lete. Ele de tanto beber e se banhar nele ficou
possuído pela deusa do esquecimento; tornou-se seu adepto e por isso sua má
vontade e falta de interesse pelas aulas de História da época da escola parque
do Recife. Mas essa interpretação mitológica também seria insuficiente.
A retirada da obrigatoriedade do ensino de História, no ensino médio, faz parte
de um plano arquitetado pelo lobby dos empresários do ensino, interessados
no aligeiramento do perfil do alunado. Para esses “educadores pragmáticos” a
História não tem a menor serventia para a formação de uma força-de-trabalho
barata e dócil, destinada a um mercado de locação de serviços
desregulamentado. Como, aliás, a Filosofia, a Sociologia e as Artes. Para que
tanta coisa (a formação humanística), quando se trata de produzir “massa de
manobra” para a exploração desse capitalismo (rentista) selvagem? – Deixa
para os filhos da burguesia, da alta classe média, dos herdeiros dos grandes
impérios industriais, que precisam sim de uma formação integral, ampliada, de
perfil crítico, inventivo. E que podem pagar – caro – por isso. É o reforço da
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divisão social entre quem manda e quem obedece. Quem tem e quem não tem
capital social, capital simbólico, capital intelectual.
A história já foi prisioneira de inúmeras práticas discursivas. A mais conhecida
é a história genealógica, de Nietzsche e Foucault. A história, como mera
racionalização de uma vontade de poder ou de potencia. Mas ela não só serve
para isso. A história é vida e não um cadáver embalsamado para contemplação
de eruditos. A história é o domínio dos possíveis, da virtualidade, daquilo que
ainda não é, mas pode vir a ser. É essa a concepção de História que
precisamos. Não a história antiquária, ou a da erudição balofa e vazia. Não a
história como racionalização da epopeia do vencedor. A história que está viva é
a história das nossas utopias, dos nossos sonhos, dos projetos de alteridade
social.
Essa história nenhum avicultor poderá matar ou suprimir. Pode reescrever ao
sabor de suas conveniências políticas. Mas ela sempre viverá, como ideia
reguladora, a guiar o ideal de justiça, de beleza, de verdade dos homens e
mulheres de boa vontade.
Ao acabar com a obrigatoriedade do estudo da
História no Ensino Médio pensam que conseguirão fazer com a maioria do
povo esqueça-se das conquistas sociais das quais foram protagonistas e
beneficiados através dos governos petistas que elegeram através do voto
direto, apesar dos erros cometidos ao longo do seu caminho. Mas, esquecem
se de que, além do fato de que a História sempre viverá e em tempo de
internet, esse esquecimento que estão promovendo é um tiro que sairá pela
culatra, pois, não se apaga da cabeça do povo o que se tornou memorável,
quiçá lendário.
Prof.Dr. Michel Zaidan Filho, Professor-Titular do Centro de Filosofia e Ciências Humanas
da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Prof. Mestrando Moisés Peixoto da Silva, Professor de História do Ensino Fundamental e Médio
da Rede Pública de Ensino de Rondônia e aluno do
Mestrado em História e Estudos Culturais -UNIR/UFRO.
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