pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: O xadrez político das eleições estaduais de 2018, em Pernambuco: Jarbas conhece o peso dos ardis golpista.
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quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

O xadrez político das eleições estaduais de 2018, em Pernambuco: Jarbas conhece o peso dos ardis golpista.

Resultado de imagem para Jarbas/ulisses guimarães

José Luiz Gomes da Silva

Cientista Político

Há pouco tempo, o Deputado Federal Jarbas Vasconcelos(PMDB) manteve um encontro com o presidente Michel Temer(PMDB). O teor do encontro foi mantido em segredo para a imprensa, mas sabe-se que tratou-se ali sobre o imbróglio do PMDB de Pernambuco, sob ameaça de uma intervenção iminente em sua direção local, com o objetivo de entregar o comando da legenda ao senador Fernando Bezerra Coelho(PMDB). Essa contenda se arrasta há algum tempo, desde que a Executiva Nacional da legenda - comandada nacionalmente pelo senador Romero Jucá - havia decidido lançar o nome do senador pernambucano para concorrer ao Governo do Estado nas eleições de 2018. A questão foi judicializada, permitindo ao grupo liderado por Jarbas obter duas decisões favoráveis em liminares. Mesmo assim, os ânimos da Executiva Nacional não arrefeceram, permitindo uma desenvoltura surpreendente do senador FBC, que agia como um ator que já conheceria o desfecho final do imbróglio. Ontem, em Brasília, durante a Convenção Nacional da legenda, depois de manobras no regimento interno, o senador Romero Jucá praticamente consolidou o processo de intervenção na regional pernambucana, dissolvendo-a e entregando o comando do partido a Fernando Bezerra Coelho. 

Os precedentes das últimas decisões tomadas pelo senador Romero Jucá indicavam que ele iria jogar pesado - e baixo - com os pernambucanos. Não deu outra. Da conversa de Jarbas Vasconcelos com Michel Temer(PMDB) já se poderia extrair uma primeira lição: Segundo comenta-se, Temer teria negado que houvesse mantido algum diálogo com Romero Jucá que apontasse para a possibilidade de uma intervenção no diretório estadual da legenda. Ora, como isso seria possível se os principais nomes do staff político do presidente participou de todas as conversas com o senador Fernando Bezerra Coelho? Logo após esse encontro, escrevemos um longo artigo tratando deste assunto, neste espaço que mantemos dedicado ao monitoramento das eleições estaduais. Naquele artigo, pensávamos que os ponteiros haviam se acertado entre os peemedebistas Jarbas e Michel Temer, que havia prometido manter uma conversa com Romero Jucá sobre o assunto. Pelo andar da carruagem política, cometemos por aqui um erro de avaliação.

Não somos nós que vamos dar lições de política ao ex-governador Jarbas Vasconcelos. Ele conhece os métodos sórdidos dessa gente melhor do que este cronista político. A tendência hoje no partido é a de fortalecimento desse grupo mais afinado com esses métodos. Em certa medida, o PMDB passa por um processo de "depuração" às avessas, ou seja, os atores mais autênticos estão sendo alijados em nome do projeto de poder do grupo mais fisiologista e pragmático, para usarmos aqui um eufemismo. Foi assim com a senadora Kátia Abreu, agora ocorre com Jarbas Vasconcelos e, certamente, o próximo da lista é o senador Roberto Requião. Um bom termômetro dessa tendência é o espaço hoje ocupado na legenda por figuras de proa, diretamente envolvidas nos inquéritos e denúncias da Lava Jato. O azeite desse grupo flui tão bem que até aquele morubixaba maranhense, passou a exercer forte influência na condução política do governo, indicando nomes estratégicos para a Esplanada, como o  Ministro da Justiça e, posteriormente, o diretor da Polícia Federal. Um amigo maranhense nos esclarece que, por aquelas bandas, corre uma lenda de que Sarney não morre, ele se encanta. Deve ter algum fundo de verdade nisso. 

Do alto do seu capital político, acumulado em dezenas de anos de vida pública e militância na legenda, Jarbas Vasconcelos não deixou barato. Subiu à tribuna da Câmara dos Deputados e fez um discurso contundente sobre a manobra do senador Romero Jucá. Jucá é uma dessas figuras emblemáticas da cena política nacional. Outro dia, segundo dizem, tentou tomar um celular de uma cidadã que, indignada, durante um voo, dirigiu a eles algumas palavras pouco amenas. A senadora Kátia Abreu não deixou por menos, citando uma lista de adjetivos que poderia ferir os ouvidos mais sensíveis, ao se referir ao seu processo de expulsão da legenda. Os adjetivos utilizados por Jarbas eu fiz questão de anotar: "Figura medíocre, desqualificada, mesquinha, torpe e desonrada". O danado é que o senador parece anestesiado a esses verbetes. Como se diz por aqui, relaxou, criou anti-corpos. Nenhum desses adjetivos consegue incomodá-lo. Pareceu impassível, afirmou através da assessoria que não responderia ao discurso de Jarbas Vasconcelos, assim como não reagiu às palavras da senadora Kátia Abreu. 

Agora é esperar para ver como as coisas irão se arranjar no PMDB pernambucano. Aliás, voltamos ao MDB, como nos velhos tempos do senhor Ulysses Guimarães, mas apenas na retórica, pois o partido hoje é controlado pela banda podre. Depois dos acontecimentos, é pouco provável uma convivência minimamente civilizada entre os grupos de Fernando Bezerra Coelho e o do ex-governador Jarbas Vasconcelos. Diante das circunstâncias, depois de preservar o seu tempo de TV através do fortalecimento da aliança com o PP, o governador Paulo Câmara(PSB) acena com a possibilidade de receber Jarbas no ninho socialista. A relação entre ambos é muito boa. No passado, Jarbas foi capaz de grandes atitudes de desprendimento para salvaguardar a nova geração de peemedebistas, aliando-se a um grande adversário, o ex-governador Eduardo Campos(PSB). Por outro lado, há de se considerar o seu projeto de voltar ao Senado Federal nas eleições de 2018. Seu engajamento mais efetivo no projeto de reeleição do governador Paulo Câmara, neste momento, ganha um componente a mais, ou seja, ajudar a derrotar o grupo oposicionista, que o apeou do comando do PMDB no Estado. 

Abro aqui um parêntese para lamentar profundamente o ocorrido, embora entenda que fatos dessa natureza são comuns na política, quanto mais neste clima abafado, de ardis, torpezas, rasteiras, todas práticas comuns em momentos de autoritarismo e rupturas institucionais. Como costumo afirmar, golpes se coadunam bastante bem com mediocridade. Como evidencia a foto acima, do CPDOC da Fundação Getúlio Vagas, o PMDB teve um papel importantíssimo no processo de redemocratização do país, do qual Jarbas Vasconcelos participou ativamente. Toda a militância política de Jarbas foi no PMDB, salvo num raro momento em que o partido não lhes deu a legenda para disputar a Prefeitura do Recife, quando tornou-se prefeito pela primeira vez da capital. Naquele momento, migrou temporariamente para o PSB, vencendo as eleição que disputou contra Marcus Cunha(PMDB). Não houve respeito pelo seu passado, pela sua história, tampouco pela sua contribuição ao partido e o seu envolvimento no processo de redemocratização do país, em décadas passadas. É preciso dizer, no entanto, Jarbas, que, ao apoiar processos políticos como o que culminou no golpe perpetrado contra as instituições democráticas - que afastaram a presidente Dilma Rousseff da Presidência da República - de alguma forma você deu a sua contribuição para a erosão da legalidade, ampliando ilegitimidades e manobras escusas da qual você hoje é vítima. A sua experiência política deveria avisá-lo sobre as consequências de subverter direitos e prerrogativas constitucionais em nome de um projeto de poder dos ressentidos, aliados aos interesses da banca, proponentes desta ultrajante agenda ultraliberal.   

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