Conhecedor de nossas preferências pela literatura distópica, um colega nos indicou alguns livros do escritor norueguês, Knut Hamsun, segundo ele, mais distópico do que Franz Kafka. Não conhecia Knut Hamsun até então. Para compreender a eventual origem dessa literatura de caráter distópico do escritor tcheco, normalmente, procurávamos ler os textos dos escritores que tiveram alguma influência sobre Kafka, a exemplo de Robert Walser, que tem apenas um livro publicado no país, O ajudante. Aprende-se muito com Walser porque ele foi uma espécie de escritor para escritores. Pena que, internado num hospital para tratamento de indivíduos com transtornos mentais, deixou de escrever.
Um episódio inédito ocorrido no estado da Paraíba, no entanto, contingenciou-nos a reler George Orwell, para além do clássico 1984. Assim, enveredamos pela leitura de Na Pior em Paris e Londres, onde Orwell relata as agruras a que fora submetido na cidade luz, quando estava desempregado, morava numa pensão e chegou a passar fome nos momentos mais críticos, relatando a sensação de uma salivação grossa na boca, que ele viria a constatar, posteriormente, tratar-se de algo comum entre as pessoas que são submetidas a essas condições extremas. Mesmo em condições tão adversas, Orwell relata a existência de um porão existente na pensão, onde os moradores se reuniam, que, segundo ele, nem os melhores pubs ingleses conseguia superar em termos de alegria.
Curioso que, diferentemente de Ernest Hemingway, que, construiu sua carreira literária na Paris da década de 20, Orwell não faz referências às suas aprendizagens literárias, o que mostra que, em tais condições, é difícil o sujeito pensar em literatura. Suas referências são a tentativa frustrada de pescar no Sena; lanchar pão com alho nos jardins parisienses, sob os olhares dos jovens que faziam seus picnics; as ruelas que não entram nos roteiros dos turistas; as casas de penhores, onde precisava deixar seus pertences para obter alguns trocados para as refeições e o pagamento do aluguel da pensão.
Rebento de classe média alta americana, Hemingway não encontrou essas dificuldades em Paris. Mantinha uma rede de pessoas bem relacionadas, ligadas às livrarias, editoras, escritores já consagrados, o que contribuiu para a alavancagem de sua carreira de escritor. Paris, na realidade, deu régua e compasso à carreira literária de Hemingway. Orwell sequer faz referência a Montmartre, considerado o bairro dos artistas, escritores e boêmios da cidade.
Mas, voltemos ao caso da Paraíba, para não nos perdermos nas divagações. Naquele estado, o Juizado Especial da Fazenda Pública, aceitou que o cachorro, que atende pelo nome de Pelado, seja o autor de um processo contra agentes públicos que o atenderam numa clínica veterinária do município. O fato nos trouxe à memória a fazenda onde é ambientada a fábula A Revolução dos Bichos, de George Orwell, onde o escritor inglês faz uma crítica aos descaminhos da utopia do socialismo real.
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