A Procuradoria Geral da República, representada pelo procurador Paulo Gonet, entregou ao Supremo Tribunal Federal a peça acusatória contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, imputando-lhes a condição de ter, supostamente, atentado contra as instituições democráticas do país. Não se fala noutra coisa desde então. O que está sendo julgado, neste momento, é o calhamaço de 272 páginas que compõe a denúncia contra os trinta e quatro implicados numa tentativa de golpe no país. Do ponto de vista técnico ou jurídico sugere-se algumas inconsistências no relatório da PGR, mas, de uma maneira geral, o julgamento é conduzido pelas paixões políticas. Para os petistas, há provas mais do que suficientes para condenar o ex-presidente por uma tentativa de golpe de Estado, assim como para os partidários do ex-presidente, a acusação é uma peça de ficção, elaborada sob o viés político.
Por outro lado, possivelmente com o intuito de sanar dúvidas ou evitar as especulações em torno do assunto, o Ministro Alexandre de Moraes, do STF, quebrou o sigilo dos depoimentos do tenente-coronel Mauro Cid, no curso das investigações sobre a tentativa de golpe de Estado no país. Hoje, dia 20, um jornal traz detalhes do acordo de delação premiada celebrado entre o militar e a Polícia Federal. O jornal desce às nuances sobre o que foi exigido pelo militar, mas preferimos não expor por aqui. Se há questionamentos sobre a formulação da acusação por parte da PGR, como questionar o que está dito no relatório da delação premiada, proferida por um dos atores que esteve no epicentro daqueles acontecimentos?
Há riqueza de detalhes sobre a tessitura da trama golpista, que previa uma sobrevida de 30 anos de trevas e obscurantismo para o país. Cid fala do posicionamento dos atores envolvidos; porque algumas manobras não deram certo; quem se contrapôs ao intento golpista; quem estaria financiando a intentona. O que consideramos interessante é que golpistas contumazes, na hora do aperto da justiça, negam veementemente que tenham aspirações ao regime de exceção. Golpistas se tornam inocentes defensores da democracia. Ai de nossa democracia se depender dessa gente. E, por falar em calhamaço, o general da linha-dura, Sylvio Frota, deixou um livro com 500 páginas escritas sobre o que ele chamava de "Revolução de 1964". Por mais que discordemos dele, neste caso, havia pelo menos algum vestígio de coerência.
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