pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Michel Zaidan Filho: O fim do "soluço" Marina
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quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Michel Zaidan Filho: O fim do "soluço" Marina

 

 
 
Há alguns anos atrás, quando o camarada Antonio Lavareda (simbiose de empresário, marqueteiro e apresentador de televisão) fez o favor de "queimar" a imagem da empresa de pesquisas DAMÉTRICA, junto ao jornal do Comércio, insinuando que ela tomava partido em favor dos candidatos petistas, tivemos a oportunidade de travar uma conversa iluminadora com um editor do JC,  acerca da metodologia das pesquisas de opinião. O jornal recifense estava sem um Instituto de Pesquisas confiável, para realizar as sondagens sobre as candidaturas postas numa iminente campanha eleitoral para a Prefeitura do Recife. Fomos então falar com o jornalista sobre a possibilidade do nosso núcleo (o NEEPD) fazer as pesquisas eleitorais para o periódico da capital. A principal questão que foi levantada por ele, naquela ocasião, era se a pesquisa era cem-por-cento exata e resistiria a qualquer contestação dos candidatos envolvidos naquela eleição. Dizia o editor do JC que o jornal não poderia correr o risco de contratar e publicar pesquisas eleitorais que pudessem ser questionadas, inclusive na Justiça Eleitoral. Afinal, a pesquisa era o produto vendido pela folha e não podia sofrer contestação, sobretudo aos olhos dos consumidores do jornal.
                          Foi dito ao ilustre editor que toda e qualquer pesquisa de opinião (seus resultados) depende do plano amostral, da magem de erro, do intervalo de confiança, das clivagens de idade, renda, gênero e do bairro onde ela fôr aplicada. Além da forma como ela pode ser lida: se a margem de erro for apresentada para cima ou para baixo. Dessa forma, sempre haveria discrepância entre resultados de pesquisas diferentes, embora isso não se constituisse numa distorção metodológica e podia suscitar controvérsias, principalmente dos candidatos que aparecessem muito abaixo. Além de que havia o fato de alguns institutos (pouco sérios) venderem "pontos de vantagem" aos destinatários da encomenda.
 
                            Claro que, diante dessa exposição, o jornalista recuou alegando que a Universidade não sabe fazer nada sério ou exato, mas sempre produzindo controvérsias e debates. E uma empresa jornalistica não vendia debates. Vende a certeza das previsões estatísticas. E contratou um instituto de mercado, cujo nome ela estampa em suas páginas, como garantia da cientificidade do produto.
 
                             Não vamos entrar no mérito dessas pesquisas produzidas pelo tal Instituto e veiculadas - como verdade - pelo jornal. Mas queremos aproveitar a deixa para mostrar quão inseguro, precário e enganoso é esse mercado de previsões eleitorais, intitulado "pesquisas de  intenção de voto". Basta dizer que um dos mais famosas publicitário brasileiro - Washington Olliveto - não faz esse tipo de pequisa.  As pesquisas de intenção de voto fazem parte do arsenal publicitário do candidato ou do partido. Elas tem como objetivo avaliar a situação eleitoral do candidato, naquele exato momento, convencer doadores em potencial de recursos e capturar o voto dos indecisos, dos que não cristalizaram a sua intenção de voto. Portanto, este tipo de investigação é próprio de colegios eleitorais onde há uma enorme volatilidade e flutuação das preferências eleitorais. Daí as mudanças repentinas, súbitas do comportamento do entrevistado, também conhecidas como "soluço". Num ambiente de disputa e polarização eleitoral, é mais difícil a pesquisa  - por si só determinar ou influenciar o comportamento do eleitor. Essa influência é maior num ambiente de fragmentação da preferêncial eleitoral e de pouca cristalização da intenção de voto.
 
                             Agora, imagine o cenário eleitoral da campanha para presidencia da República. O "soluço" produzido pela morte do ex-governador de PE e que cataputou a candidatura da irmã Marina Silva para o espaço...exauriu-se. Não há fato novo. A tendencia é de queda. O outro candidato da oposição não cresce e nem cai. A pesquisa só pode apurar uma única tendência nesse cenário: é a retomada do crescimento da candidatura da Presidenta da República. E isso não necessariamente pelo efeito da propaganda ou dos méritos socialistas dessa candidata. É simplesmente o retorno à situação inicial da campanha. Não há nada de novo, nem de extraordinário no atual cenário eleitoral que justifique outro "soluço". O novo rapidamente envelheceu. Bastou ver os patrocinadores dessa pseudo-novidade (banqueiros, agro-pecuaristas, religiosos fundamentalistas). O velho caixa dois se insinuando por trás da novidade, que aliás não passa de um simulacro de candidatura, produzindo discursos de conveniência, afagando os agentes econômicos, explorando o anticomunismo etc.
                           A rigor, não há nada de novo, numa campanha como esta. Por isso que aquilo que está aí vai continuar. Porque o que pode vir é mil vezes pior.
 
Michel Zaidan Filho é cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco.
 
 
 
   
 

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