Há
alguns anos atrás, quando o camarada Antonio Lavareda (simbiose de
empresário, marqueteiro e apresentador de televisão) fez o favor de
"queimar" a imagem da empresa de pesquisas DAMÉTRICA, junto ao jornal do
Comércio, insinuando que ela tomava partido em favor dos candidatos
petistas, tivemos a oportunidade de travar uma conversa iluminadora com um editor do JC, acerca da metodologia das pesquisas de opinião. O
jornal recifense estava sem um Instituto de Pesquisas confiável, para
realizar as sondagens sobre as candidaturas postas numa iminente
campanha eleitoral para a Prefeitura do Recife. Fomos então falar com o
jornalista sobre a possibilidade do nosso núcleo (o NEEPD) fazer as
pesquisas eleitorais para o periódico da capital. A principal questão
que foi levantada por ele, naquela ocasião, era se a pesquisa era
cem-por-cento exata e resistiria a qualquer contestação dos candidatos
envolvidos naquela eleição. Dizia o editor do JC que o jornal não
poderia correr o risco de contratar e publicar pesquisas eleitorais que
pudessem ser questionadas, inclusive na Justiça Eleitoral. Afinal, a
pesquisa era o produto vendido pela folha e não podia sofrer
contestação, sobretudo aos olhos dos consumidores do jornal.
Foi dito ao ilustre editor que toda e
qualquer pesquisa de opinião (seus resultados) depende do plano
amostral, da magem de erro, do intervalo de confiança, das clivagens de
idade, renda, gênero e do bairro onde ela fôr aplicada. Além da forma
como ela pode ser lida: se a margem de erro for apresentada para cima ou
para baixo. Dessa forma, sempre haveria discrepância entre resultados
de pesquisas diferentes, embora isso não se constituisse numa distorção
metodológica e podia suscitar controvérsias, principalmente dos
candidatos que aparecessem muito abaixo. Além de que havia o fato de
alguns institutos (pouco sérios) venderem "pontos de vantagem" aos
destinatários da encomenda.
Claro que, diante dessa exposição, o
jornalista recuou alegando que a Universidade não sabe fazer nada sério
ou exato, mas sempre produzindo controvérsias e debates. E uma empresa
jornalistica não vendia debates. Vende a certeza das previsões
estatísticas. E contratou um instituto de mercado, cujo nome ela estampa
em suas páginas, como garantia da cientificidade do produto.
Não vamos entrar no mérito dessas
pesquisas produzidas pelo tal Instituto e veiculadas - como verdade -
pelo jornal. Mas queremos aproveitar a deixa para mostrar quão inseguro,
precário e enganoso é esse mercado de previsões eleitorais, intitulado
"pesquisas de intenção de voto". Basta dizer que um dos mais famosas
publicitário brasileiro - Washington Olliveto - não faz esse tipo de
pequisa. As pesquisas de intenção de voto fazem parte do arsenal
publicitário do candidato ou do partido. Elas tem como objetivo avaliar a
situação eleitoral do candidato, naquele exato momento, convencer
doadores em potencial de recursos e capturar o voto dos indecisos, dos
que não cristalizaram a sua intenção de voto. Portanto, este tipo de
investigação é próprio de colegios eleitorais onde há uma enorme
volatilidade e flutuação das preferências eleitorais. Daí as mudanças
repentinas, súbitas do comportamento do entrevistado, também conhecidas
como "soluço". Num ambiente de disputa e polarização eleitoral, é mais
difícil a pesquisa - por si só determinar ou influenciar o
comportamento do eleitor. Essa influência é maior num ambiente de
fragmentação da preferêncial eleitoral e de pouca cristalização da
intenção de voto.
Agora, imagine o cenário eleitoral da
campanha para presidencia da República. O "soluço" produzido pela morte
do ex-governador de PE e que cataputou a candidatura da irmã Marina
Silva para o espaço...exauriu-se. Não há fato novo. A tendencia é de
queda. O outro candidato da oposição não cresce e nem cai. A pesquisa só
pode apurar uma única tendência nesse cenário: é a retomada do
crescimento da candidatura da Presidenta da República. E isso não
necessariamente pelo efeito da propaganda ou dos méritos socialistas
dessa candidata. É simplesmente o retorno à situação inicial da
campanha. Não há nada de novo, nem de extraordinário no atual cenário
eleitoral que justifique outro "soluço". O novo rapidamente envelheceu.
Bastou ver os patrocinadores dessa pseudo-novidade (banqueiros,
agro-pecuaristas, religiosos fundamentalistas). O velho caixa dois se
insinuando por trás da novidade, que aliás não passa de um simulacro de
candidatura, produzindo discursos de conveniência, afagando os agentes
econômicos, explorando o anticomunismo etc.
A rigor, não há nada de novo, numa
campanha como esta. Por isso que aquilo que está aí vai continuar.
Porque o que pode vir é mil vezes pior.
Michel Zaidan Filho é cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco.
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