José Luiz Gomes da Silva
Confesso que, não raro, fico confuso sobre alguns dados biográficos do sociólogo Gilberto Freyre. Aliás, Gilberto é um ser híbrido em muitos aspectos. Híbrido e certamente complexo, o que suscita algumas interpretações igualmente confusas sobre sua vida e, principalmente sobre a sua obra. Ainda ontem discutíamos por aqui uma polêmica entre ele e o médico Josué de Castro, envolvendo questões relativas à alimentação. Quando as nuvens políticas se fecharam aqui na província, em razão do Estado Novo, ele se exilou em Portugal, um país que tinha todos os motivos para acolhê-lo bem, em razão de suas excelentes relações políticas e acadêmicas com aquele país, inclusive com com intelectuais ligados ao salazarismo. Apesar desse ambiente político favorável, o que se diz é que ele teria enfrentado muitas dificuldades, tendo que ministrar aulas para sobreviver. Foi nesse período que ele teria dado os retoques finais em sua obra clássica Casa Grande&Senzala. Como sempre brinco, apesar de doce, Casa Grande & Senzala foi produzida num momento delicado do seu autor.
Um outro dado curioso que alguns biógrafos relutam em assumir abertamente é o que informa que o sociólogo de Apipucos é filho da fina flor da aristocracia açucareira do Estado, ou, como diria Tobias Barreto, da açucarocracia pernambucana. Ontem li um texto onde a primeira referência da autora é sobre este assunto, confirmando este fato. Seu pai, Alfredo Freyre, era juiz e professor catedrático de economia política da Faculdade de Direito do Recife. Sua família era descendente dos colonizadores portugueses, o que talvez possa informar muita coisa acerca de suas teses sobre o conceito de colonialismo assimilativo, em contraposição ao do tipo segregacionista inglês. O que também reforça essa sua relação com a aristocracia açucareira do Estado, desde suas origens, é o fato de ele passar suas férias em um engenho da família, em São Severino dos Ramos. Sobre suas ligações políticas com esta classe senhorial, creio, dispensa-se os comentários.
O repórter Geneton Moraes Neto certa vez comentou que Gilberto Freyre costumava receber os jornalistas nos jardins da Fundação Joaquim Nabuco. Ali, num bate papo informal, respondia, uma a uma, as perguntas a ele dirigidas, sempre muito cortes, sempre muito solícito. Por vezes, as perguntas envolviam diversos temas, mas, qual não era a surpresa dos jornalistas quando chegavam às redações. Ao fazerem a checagem do material, estavam diante de um artigo muito bem redigido, com argumentos consistentes e uma linguagem bem articulada. Freyre era um homem de uma inteligência ímpar. Comenta-se que até hoje em sua residência existem algumas cartas a ele dirigidas onde se escreve Gilberto Freyre com "i". Quando Dona Madalena Freyre reclamava que ele não abria as correspondência, ele repetia: não é para mim. É para um tal de Gilberto Freyre com "i". Quem gosta muito dessa história é o jornalista Paulo Henrique Amorim. Ainda escrevo uma crônica sobre o assunto, mas antecipo que ela envolve um alto executivo das organizações globo.
Aos 17 anos, Gilberto Freyre saiu aqui da província para estudar nos Estados Unidos, precisamente nas Universidades de Baylor- Columbia, onde tornou-se amigo do professor Franz Boas, que exerceria forte influência sobre ele, inclusive no seu projeto posterior de criação do Museu do Homem do Nordeste. Gilberto ganhou uma bolsa de estudos concedida por entidades ligadas a Igreja Batista à qual sua família pertencia. Aqui, na juventude, era um disciplinado pregador, um missionário, o que nos informava o ex-bispo anglicano Robinson Cavalcanti. Já nos Estados Unidos, Gilberto abandona completamente suas convicções religiosas, o que contingenciou Robinson Cavalcanti a escrever um artigo nos jornais locais fazendo um apelo: Volta ao púlpito, pregador.
Exílio é sempre algo muito ruim. O sociólogo Josué de Castro morreu deprimido, em Paris, tentando voltar para casa, para matar saudade da paisagem e da gente dos bairros alagados do Recife, habitat de seus estudos sobre a fome. Outro dia, publicamos por aqui um belo texto escrito por Paulo Freire, em homenagem à família que o acolheu no Chile. O poema - sim, um poema - invoca as belas paisagens do Recife, com aquele nomes de ruas que mais se parecem um convite ao encantamento, à paixão. Mas, um dado curioso que li recentemente fala de um momento difícil na vida do autor de Casa Grande & Senzala. Creio que a década de 40 tenha sido uma das mais difíceis para Gilberto Freyre, embora no seu finalzinho, em 49, já como Deputado Constituinte, ele tenha conseguido a aprovação do projeto de lei que criou o então Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, hoje Fundação Joaquim Nabuco.
Gilberto sofreu uma brutal perseguição do Estado Novo, embora tivesse uma boa relação com Getúlio Vargas. O problema era o seu "carrasco no Estado", como se referia a Agamenon Magalhães, Getúlio Vargas. Foi preso durante duas vezes, escapou de uma tentativa de assassinato na Pracinha do Diário de Pernambuco e ficou praticamente interditado aqui no Estado. Dessa época há relatos sobre reais dificuldades financeiras do mestre de Apipucos. Para sobreviver, segundo este autor, ele precisava corrigir o Português dos documentos do Porto do Recife, uma atividade que o desagradava profundamente. Apesar de suas dificuldades iniciais - foi alfabetizado antes em Inglês - Freyre, como ele mesmo gabava-se, "dançava" muito bem em língua portuguesa.
Gilberto sofreu uma brutal perseguição do Estado Novo, embora tivesse uma boa relação com Getúlio Vargas. O problema era o seu "carrasco no Estado", como se referia a Agamenon Magalhães, Getúlio Vargas. Foi preso durante duas vezes, escapou de uma tentativa de assassinato na Pracinha do Diário de Pernambuco e ficou praticamente interditado aqui no Estado. Dessa época há relatos sobre reais dificuldades financeiras do mestre de Apipucos. Para sobreviver, segundo este autor, ele precisava corrigir o Português dos documentos do Porto do Recife, uma atividade que o desagradava profundamente. Apesar de suas dificuldades iniciais - foi alfabetizado antes em Inglês - Freyre, como ele mesmo gabava-se, "dançava" muito bem em língua portuguesa.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Gilberto_Freyre
Gilberto de Mello Freyre KBE (Recife, 15 de março de 1900 — Recife, 18 de julho de 1987) foi um polímata brasileiro. Como escritor, dedicou-se à ensaística da ...
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Gilberto Freyre e o Português do Porto do Recife José Luiz Gomes da ...
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4 min atrás - José Luiz Gomes da Silva Confesso que, não raro, fico confuso sobre alguns dados biográficos do sociólogo Gilberto Freyre. Aliás, Gilberto é um ser híbrido em ...Crônicas do cotidiano: Gilberto Freyre e Josué de Castro num ...
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1 dia atrás - Crônicas do cotidiano: Gilberto Freyre e Josué de Castro num encontro na Ilha de Deus Quando se discute a questão da alimentação, sobretudo se tomarmos ...
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